“A riqueza de um pais, duma região ou de uma ilha, concelho ou cidade, é um reflexo de vários fatores, sendo o mais importante a sua população”, considera a historiadora Susana Goulart, que falava sobre o passado, presente e futuro da Lagoa.
Quantos somos, onde estamos e o que pudemos fazer foram questões abordadas pela historiadora, no âmbito das comemorações do 2º aniversário da elevação a Cidade da Lagoa.
Segundo Susana Goulart, a Lagoa tem mostrado um crescimento continuado, sendo que no séc. XVI, existiam neste concelho cerca de 2 mil pessoas, em meados do séc. XIX já eram cerca de 5 mil. Por volta de 1930 na Lagoa já residiam cerca de 10 mil pessoas, e nos últimos sensos na Lagoa já residiam cerca de 14 mil habitantes, sendo a Lagoa o concelho que tem a maior densidade populacional, de todo o arquipélago.
Um crescimento que surge dos progressos efetivos, e desenvolvimento em termos da vida privada e pública.
Até ao inico do séc. XX a mortalidade era elevada, não só em adultos mas também com elevada taxa de mortalidade infantil.
Por outro lado, e face às más condições públicas, foi feito um grande esforço tecnológico industrial para que fosse feita uma melhoria neste sentido.
Um progresso que chegou também à água potável à população, tendo sido nos fontanários fundamentais, situação de melhoria verificada na primeira metade do séc. XX.
Face aos melhoramentos, a população aumentou, tornou-se mais saudável, e garantiu a sobrevivência dos mais novos, refere a historiadora.
Nos dados estatísticos dos últimos sensos de 2011, é possível verificar o volume da população jovem na Lagoa, sendo que cerca de ¼ da população tem menos que 14 anos.
Um crescimento populacional que permitiu consolidar a Lagoa, e foi também ajudado pela localização geográfica do município.
Despois da entrada em 1986 de Portugal à Comunidade Europeia, Portugal duplicou o número de cidades, de 88 para 158, tendo a Lagoa sido criada em 2012, contribuindo assim para que sejam 159 o número de cidades portuguesas.
Segundo a historiadora, esta dignificação de vila a cidade, foi um corolário de todo um longo processo, e que foi demarcado pelo Rei Dom João III, faltando oito anos para que Lagoa assinale os 500 anos de vila.
Há 492 anos, a 11 de abril a Lagoa iria beneficiar de outro acontecimento, Dom João III dignificou a Lagoa em abril, veio a ser desenvolvida em 1593 e nos anos subsequentes, devido à catástrofe em Vila Franca do Campo.
O séc. XVIII e XIX, a Lagoa tinha uma forte ligação com outros portos da região, cinco na totalidade, sendo o Porto dos Carneiros o porto de ligação. Uma centralidade, que segundo a historiadora, fez com que se tenha percebido que a Lagoa tenha ganha um protagonismo político no séc. XVII e XVIII.
“Aquilo que hoje é designado pelo Associação de municípios da ilha de São Miguel, foi inventado no séc. XVII, altura em que na Lagoa, todos os presidentes de câmara se juntavam, para enviar os manuscritos ao governo nacional, queixando-se dos elevados impostos”, recordou.
Por outro lado, segundo Susana Goulart, o destino económico deste concelho foi marcado pela sua debilidade agrícola, não tendo terrenos propícios ao setor primário.
A excelência da Lagoa foi nomeadamente na produção vinícola. Não muito setor primário, mas neste, o vinho era uma mais-valia, destacou.
Numa segunda atividade primária importante, foi a pesca, com destaque para o Porto dos Carneiros, onde os Irmãos da Confraria de São Pedro Gonçalves tinham uma atividade dinâmica.
Segundo Susana Goulart, terá sido esta frágil apetência lagoense para o setor primário, que permitiu o desenvolvimento do setor secundário, tendo-se tornada conhecida como “Vila Operária”.
Assim surgem as fábricas de rações, que vêm desde o séc. XVIII, XIX e primeira metade do séc. XX, moinhos de água, com destaque para os 20 moinhos de água localizados em Água de Pau, e dois de vento localizados já na Lagoa, quatro fornos de cal, cerâmica e álcool, tendo sido este setor desenvolvido duma forma eficaz.
Em estatísticas de 1890, 75% da exportação e São Miguel era álcool, sendo a fábrica de álcool da Lagoa uma capacidade e importância socia-económica importante. Desenvolvimento industrial atraiu novas tecnologias das quais a mais importante era a luz elétrica.
Perante tudo isto, segundo a historiadora, no futuro, a Lagoa deve potenciar a sua herança, sendo um sitio pequeno onde facilmente se chega a todo o lado, é central na sua geografia, e com um historial e inovação no âmbito do setor secundário.
Ao nível dos desafios futuros, Susana Goulart destaca duas áreas que devem ser alvo de uma reflexão séria.
Em primeiro lugar, na área da saúde, nomeadamente na gerontologia, visto que a tendência é para uma população mais idosa, sendo que, atualmente, a esperança de vida é de 76 anos de idade nos homens e feminina cerca de 82 anos, e a Lagoa reflete esta tendência. Nos sensos de 2011, havia 566 idosos com mais de 75 anos, destas 320 são mulheres, e 246 homens.
Segundo Susana Goulart, este envelhecimento, que tende a ser mais volumoso nas décadas que se seguem, é um grande desafio para o município.
Ainda na área da saúde, diz a historiadora que é necessário dar mais atenção às doenças urbanas, o caso da psiquiatria e da psicologia, sendo que número de doenças mentais está a aumentar.
Por outro lado, a historiadora salienta a área das tecnologias da comunicação, onde há a necessidade de saber usar a informação, sabe esperar pelos resultados e trabalhar em equipa, sendo a Lagoa terá um futuro promissor, que são fundamentais, segundo a historiadora.
“Ter saúde e saber comunicar no mundo e com o mundo, aprece-me de facto a grande lição que se poderá partilhar com as gerações futuras, naquilo que foi o passado, o presente e o futuro da lagoa”, disse.
DL
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