A Associação de Estudos Políticos e Internacionais da Ásia (APISA) realizou o seu oitavo congresso em Chiang Mai, a 19 e 20 de Setembro, e coube-me a mim, em nome do Fórum Democrático da Asia do Sul, uma das instituições organizadoras, fazer a abertura do segundo dia de trabalhos.
Em primeiro lugar, desdramatizei o progressivo declínio do Atlântico Norte e a afirmação do Pacífico Ocidental como sintoma do declínio ocidental e reequacionei o desafio como o da possível e preferível democratização da China ou a capacidade das emergentes democracias regionais fazerem face ao seu expansionismo.
Em segundo lugar lembrei que a agressividade territorial tanto da China como da Rússia resultam do presente entendimento sino-russo – que contrasta com o seu violento afrontamento dos anos cinquenta aos anos setenta – e são o produto típico de regimes autoritários que procuram no conflito externo fuga para a incapacidade de fazer face aos seus desafios internos.
Em terceiro lugar frisei que a grande mudança ocorrida neste terço de século foi o surgimento e desenvolvimento do jihadismo como fator geopolítico mundial de primeiro plano na sequência da revolução islâmica iraniana, e a tripla aliança que esta construiu tacitamente com a Rússia e a China como a mais dramática e palpável ameaça à paz mundial.
A cega fé ocidental na transformação mecânica da prosperidade económica em democracia política na China, a incompreensão das oportunidades históricas abertas com a queda do império soviético e a incapacidade de perceção do perigo do fanatismo islâmico colocaram-nos numa situação de grande fragilidade.
Um grande esforço de construção de pontes com as populações desses países tem de ser acompanhada com uma grande firmeza perante a agressividade dos seus líderes.
A doutrina monetarista que vingou a partir dos anos setenta do século passado e que tudo sacrificou no altar sagrado do dinheiro abalou fortemente a coesão interna ocidental e conduziu o sistema monetário internacional à beira da implosão, com consequências geopolíticas potencialmente devastadoras.
O Atlântico, e a Europa em particular, têm lideranças incapazes de fazer frente aos desafios com que estamos confrontados, e é na reinvenção da democracia que está a ser feita a partir de países menos prósperos, entre os quais a Índia de Naranda Modi que se encontram as nossas principais esperanças.
O mundo precisa de uma nova aliança pela democracia formada não na base do respeito pelas leis do dinheiro mas antes valores da humanidade, aliança onde se consiga reencontrar a base para um entrosamento duradouro e geopoliticamente global entre as velhas e as novas democracias baseada numa nova construção económica, ambiental e monetária internacional.
O tempo urge para a sua construção. Só essa aliança pode barrar o caminho ao pacto dos reciclados autoritarismos comunistas com o Califado fanático, e nos pode reabrir horizontes de liberdade, paz e progresso.
Bruxelas, 2014-09-25
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