
Cerca de duas dezenas de alunos e dois professores da Pace University de Nova Iorque, Estados Unidos, encontram-se nos Açores para a realização de um documentário sobre a Viola da Terra.
Este projecto inserido nos “Pace Docs”, desloca-se a um país, anualmente, numa visita de estudo prática para desenvolvimento de um documentário acerca de determinado local, produto ou herança cultural. Sob a orientação dos professores, são os alunos que têm a tarefa de montar o material técnico, recolher as imagens, o áudio, preparar os conteúdos das entrevistas e, no regresso a casa, proceder à pós-produção de finalização do documentário.
Em 2025 a escolha para o “Pace Docs”, intitulado “Harmony of the Azores” foi a Viola da Terra, com um trabalho de campo de decorre em São Miguel e Terceira, de 16 a 20 de Março. O documentário tem a noite de estreia, em Maio, num Anfiteatro em Nova Iorque para o público em geral.
Os alunos já visitaram o Museu Municipal de Vila Franca do Campo e a sua exposição de Violas e “A Arte do Violeiro”, a oficina do Luthier Hugo Raposo e a Exposição “Viola da Saudade”, no Museu da Ribeira Grande, dedicada a Miguel de Braga Pimentel.
Tiveram, ainda, a possibilidade de concretizar uma entrevista com o músico e professor açoriano Rafael Carvalho, no salão nobre da Junta de Freguesia da Fajã de Baixo, que explicou o contexto e caraterísticas da viola bem como o seu percurso pessoal, terminando com um pequeno momento musical. Assistiram a uma aula de uma das turmas da Escola de Violas da Fajã de Baixo, registando momento musical com os alunos mais velhos da escola e colocando algumas questões sobre a sua iniciação no instrumento, e estiveram com tocadores e cantadores do rancho folclórico Santa Cecília para um serão musical.
Na ilha Terceira irão ter contacto com a viola de 15 cordas e continuarão a desenvolver entrevistas com diversos tocadores de Viola da Terra e, ainda, professor e alunos do curso de Viola da Escola Tomás de Borba (antigo Conservatório de Angra). Está agendada uma receção ao grupo pelo presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo na tarde do dia de chegada à ilha.

A relação de João Ponte com a música começou muito cedo. Aos cinco anos, já se destacava no Coro Vozes de Maria, onde iniciou a sua formação artística. Esse foi apenas o primeiro passo de uma jornada que o levaria a explorar diferentes instrumentos e técnicas vocais. Além do coro, também se dedicou ao estudo do trompete no Conservatório e ao piano.
João sempre teve um ambiente familiar favorável à música. Cresceu num contexto em que a igreja e o coro desempenhavam um papel central, o que o motivou a buscar mais. “A música sempre foi um hobby para mim, uma maneira de fugir à realidade, de me desconectar”, revela. Embora nunca tenha visto a música como uma profissão no início, o talento e a dedicação começaram a dar frutos.
Durante a semana, é formador na Escola Profissional de Nordeste, tendo já passado por diversos estabelecimentos de ensino. É também professor de canto e técnica vocal e de coro na Academia de Música da Povoação. Nos fins de semana, é organizador de eventos. Para além destas atividades, aposta na sua carreira como solista, participando em vários eventos. É também membro de várias academias e instituições culturais, nomeadamente a academia Musical de Lagoa.
Além da sua formação na música, João também investiu na sua educação académica. A sua paixão pela comunicação era evidente desde os tempos de escola, quando começou a escrever um blog. João, inicialmente, sonhava ser hospedeiro de bordo. No entanto, a sua vida tomou rumos diferentes. Após licenciar-se em Comunicação Empresarial, no Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, em 2019 seguiu para o mestrado em Comunicação, Redes e Tecnologias, também no Porto. Porém, nunca abandonou a música. Ainda em 2016, frequentou o Conservatório de Vozes e Artes Performativas do Porto, no Curso de Canto e Técnica Vocal.
Foi nesse ambiente que João começou a integrar diversos coros, como o Coro Litúrgico Universitário do Porto, o Magma Gospels, Vocare Gospel Choir, entre outros. Esses projetos deram-lhe visibilidade como intérprete e abriram portas para a sua carreira solo.
Foi também naquela cidade do norte que o cantor açoriano teve oportunidade de ser por duas vezes protagonista do musical “Beauty and the Beast”, apresentado no auditório da Biblioteca Almeida Garrett, destaca João Ponte.
A atuação em 2023, como solista na gala de aniversário do Jornal LusoPresse, em Montral, no Canadá, foi também outro momento importante na sua carreira, mas no seu portfólio constam dezenas de atuações como cantor.

Para o jovem tenor lagoense, a música é uma forma de liberdade: “a música significa poder ser livre. Posso criar o que quiser, sem ter que seguir uma linha rígida”, afirma. Esse desejo de liberdade é o que o impulsiona a explorar diversos estilos e formatos dentro da música, como ópera e musicais.
João também se destaca no teatro musical, uma área que começou a explorar mais recentemente, em parte graças ao trabalho com a professora Isabel Maia e o diretor Paulo Ferreira. “Foi aí que as portas realmente começaram a se abrir para mim no meio artístico”, comenta.
Quando questionado sobre com que área mais se identifica, João Ponte responde de forma sincera: “não me conseguiria desprender de nenhuma delas. Vivo da música, mas o trabalho como formador dá-me uma segurança financeira.” Acredita que o equilíbrio entre as várias atividades é o que o permite viver de forma mais intensa e gratificante.
João Ponte observa na sua carreira multifacetada como uma forma de se manter em constante evolução: “não tenho um único caminho. A música, os eventos, o ensino, tudo isso ajuda-me a crescer e a desafiar-me”.
Apesar da sua idade, o jovem cantor diz-se grato por tudo o que conseguiu até aqui e pela oportunidade de explorar tantas áreas: “em 26 anos, já fiz tanta coisa, e sou muito grato por isso”.
O cantor também reconhece a responsabilidade que essa notoriedade traz. A ligação com sua cidade é forte, e ele sente que tem de representar a sua comunidade de forma digna. “Ser natural do Rosário tem me dado muito peso nos ombros, mas no bom sentido. Sinto que tenho uma responsabilidade para com a minha terra”, afirma. É também a Lagoa que lhe tem proporcionado várias oportunidades na música, destaca ainda o cantor.
Com um futuro promissor pela frente, João Ponte continua a viver a música como uma verdadeira forma de expressão e liberdade.

É na Associação Musical de Lagoa (AML), um dos seus locais de trabalho, que Cármen Subica nos recebe para falar sobre a sua história. A professora e maestrina é natural da Lagoa, tem 45 anos e à pergunta, “Quem é Cármen Subica?”, responde, com certeza: “o meu nome é música”.
Cármen diz que a música “esteve sempre presente” na sua vida: “já havia na minha casa quando eu nasci”, confessa. O seu pai, Humberto Subica, antigo maestro da Banda Filarmónica Lira do Rosário, introduziu, desde cedo, a música na vida dos seus filhos e, foi aos seis anos de idade, que Cármen iniciou o seu percurso musical, acompanhando o seu pai na banda. “A banda foi a minha primeira escola e eu ia sempre atrás do meu pai com o meu trompete”, diz. Fez parte da banda durante 30 anos, assumindo a sua direção durante um ano, sendo a primeira mulher a ocupar esta posição. A sua vida profissional preenchida, assim como a sua vida pessoal, levaram Cármen a tomar a decisão de não continuar. “Mas hoje em dia, quando ouço uma banda, sinto logo vontade de ir tocar, embora talvez já não saiba”, revela ao DL.
A vida académica na música inicia-se, oficialmente, quando tinha dez anos, mas “por acaso”. Ao acompanhar o seu pai ao Conservatório Regional de Ponta Delgada (CRPD), onde o objetivo inicial era o de lá inscrever a sua irmã, Cármen afirma que acaba também por ser matriculada. Começa com o trompete, por ser o instrumento que “tocava na banda” e, após dois anos, muda para piano. Só mais tarde escolhe entrar no canto, “porque também gostava muito de cantar” e explica que foi esta a área que decidiu completar, quando teve de decidir entre as duas. Relata que conciliar “a escola do ensino regular” e o “curso no Conservatório” foi feito com “muito esforço”, mas que acabou por conseguir fazê-lo. “É interessante, porque eu acho que o destino esteve sempre traçado”, acrescenta com a convicção de que terá tomado as decisões certas. Em 2001, ano em que termina o Curso Complementar de Canto no Conservatório, ingressa na Escola Superior de Música de Lisboa. Revela que o mais desafiante na construção da sua carreira musical foi “o estar lá” [em Lisboa]. Foi “com muito sacrifício” dos seus pais e confessa que, nos primeiros tempos, sentia-se “muito sozinha”. “Eu acho que só não vim embora, porque tinha vergonha de voltar e desiludir os meus pais”, admite, fazendo também questão de agradecer o apoio que recebeu da “família e professores”.
Após terminar, em 2005, uma licenciatura de quatro anos, regressa a São Miguel e começa “logo a ensinar”. Em 2006, torna-se maestrina do Orfeão Nossa Senhora do Rosário (ONSR). A sua vida como docente inicia-se a dar aulas de música em escolas de ensino regular e algumas aulas de piano a crianças no CRPD, “mas em horário incompleto”. Em 2007, ano de inauguração da AML, começa, também, a fazer parte desta, onde dá aulas de piano e de canto. Passou por algumas escolas de São Miguel e, só após alguns anos, é que se tornou “efetiva” no Conservatório, onde, atualmente, ensina coro e canto, sendo este o seu “trabalho oficial”.

Cármen confessa que não é fácil conciliar uma agenda tão preenchida. “Às vezes, só tenho tempo de dizer boa noite à minha filha e tenho de retirar muito tempo da minha vida pessoal”. Com um horário exigente, divide-se entre o Conservatório, os ensaios do Orfeão, onde o “coro” depende inteiramente das suas “indicações” e das responsabilidades na Associação Musical, cuja direção também integra. A maestrina realça que gostaria que o público que vê o “produto final” dos projetos musicais, tivesse a noção “dos sacrifícios” que fazem aqueles que estão por detrás: “acho que isso precisa de ser um bocadinho valorizado”. No entanto, refere que a paixão pelo seu trabalho faz tudo “valer a pena”. “Eu sou muito feliz naquilo que faço. Por vezes chego cansada, mas tenho tanta sorte”, conta ao DL, enquanto sorri ao lembrar-se que o cansaço parece desaparecer a partir do momento que começa a dar aulas. A docente afirma que gosta “muito de ensinar a música” e, apesar de, por vezes, compor “algumas músicas” no âmbito do seu trabalho, acredita que o ensino “é aquilo para o qual foi feita”.
Recorda alguns momentos importantes da sua carreira, destacando um concerto “no final da pandemia”, onde relembra o resultado positivo apesar da ansiedade de já não cantar “há muito tempo”. Destaca, ainda, o concerto que deu no Canadá, em novembro de 2023, ao lado de João Ponte. Ambos promovidos pela Câmara Municipal de Lagoa, à qual expressa o seu agradecimento.
Quanto a planos futuros, afirma não os ter em concreto, preferindo poder “agarrar” nos projetos que surgem, sendo um destes o “concerto de Ano Novo” no qual participará, a 3 de janeiro. “Se me deixarem fazer aquilo que faço, eu já sou feliz. Não me via a fazer outra coisa”, conclui.

O Teatro Faialense, na ilha do Faial, vai receber o concerto do Marcos Fernandez Trio, que explora a música do mundo latino, gypsy-jazz e ainda composições originais do galego Marcos Fernandez, que faz casa na ilha do Pico há vários anos, segundo nota enviada pela associação MiratecArts.
Acompanhado pelo contrabaixista Nuno Mendes e o guitarrista Bernardo Alves Macedo, o trio transporta a audiência por sons conhecidos de outras eras. O projeto musical, que estreou este verão no “Música no Forte” nas Lajes do Pico, atravessa o canal para o seu primeiro concerto no Teatro Faialense, dia 30 de dezembro às 21h, lê-se.
Marcos Fernandez formou-se no Conservatório Superior de Vigo, nos anos 80, e na década seguinte obteve Licenciatura Superior em Música Contemporânea, no Ateneo Jazz de Madrid, Orquestração e Arranjos de Jazz Latino, no Instituto Superior de Arte em Cuba, e Mestrado em Gypsy Jazz, no Conservatório de Amsterdão.
A sua carreira profissional levou-o a palcos e estúdios com Plácido Domingo, Rafael Basurto Lara, César López, Suzanna Lubrano, entre outros. Como professor de música moderna liderou um estúdio escolar em Santiago de Compostela, no Ateneo Jazz de Madrid e foi diretor do Conservatório ESMAT, em Cabo Verde. Desde 2019 vive na ilha do Pico onde concilia o trabalho como professor e concertos ao vivo, explica o mesmo comunicado.
Para este projeto de trio, Marcos junta em palco Nuno Mendes, o músico, compositor, multi-instrumentista mais conhecido como Contrabaixista colaborador de vários projetos, e Bernardo Alves Macedo, o jovem picaroto que faz parte de mais grupos musicais na ilha, incluindo o Grupo das Chamarritas da Silveira, Grupo da Casa do Povo das Ribeiras, e Grupo Amigos das Tradições, lê-se ainda.

No passado sábado, dia 30 de novembro, o Centro Natália Correia, na Fajã de Baixo, recebeu o IX Encontro de Escolas de Violas de São Miguel.
O evento, produzido desde 2005 pela Associação de Juventude Viola da Terra, tem o intuito de demonstrar o trabalho que as escolas de violas da ilha vão desenvolvendo ao longo do ano letivo, incutindo, ao mesmo tempo, a partilha musical e o convívio entre as diversas escolas e realidades de ensino, segundo nota enviada pela AJ Viola da Terra.
A anfitriã foi a Escola de Violas da Fajã de Baixo, fundada em 2008 por iniciativa do presidente do Grupo Folclórico da Fajã de Baixo, António Feliciano. Atualmente, a escola conta com 15 alunos, dos 12 aos 78 anos. A Escola apresentou-se, inicialmente, com três turmas, tendo finalizado com três peças em conjunto, com 11 alunos da Escola que marcaram presença, lê-se ainda.
Seguiu-se a Classe de Conjunto de Viola da Terra do Conservatório Regional de Ponta Delgada, fundada em 2011 por iniciativa do professor Rafael Carvalho. A classe de conjunto de Viola da Terra formou-se com o objetivo de ser um complemento ao ensino da turma de instrumento e, ao mesmo tempo, para fomentar nos alunos um ensino e repertório para além do tradicional. A
A Classe de Conjunto do Conservatório apresentou-se com quatro alunos de Viola da Terra, estando a cargo do professor Ricardo Melo desde o ano letivo de 2022/2023, mas mantendo a essência da sua génese de proporcionar aos alunos desafios musicais para além do tradicional, com um repertório que começou com duas modas tradicionais e culminou com duas adaptações de repertório “clássico” para a viola da terra, explica a mesma nota.
A finalizar, participou a Escola de Violas da Ribeira Quente, fundada em 1994. Atualmente, a escola tem como formador de viola da terra José Braga, antigo aluno de Rafael Carvalho na Ribeira Quente, e tem como formador de violão César Carvalho, que aprendeu os primeiros acordes com o seu pai. A Escola de Violas da Ribeira Quente fez a sua primeira participação no Encontro de Escolas de Violas uma vez que teve a sua atividade suspensa durante alguns anos, tendo sido retomada em 2022, em colaboração com o ressurgimento do Grupo Folclórico São Paulo, apresentando-se em palco com 9 tocadores: quatro de viola da terra e cinco de violão, lê-se ainda.
O IX Encontro de Escolas de Violas foi uma produção da Associação de Juventude Viola da Terra, com o apoio da Direcção Regional da Cultura. Foi uma coprodução com a Câmara Municipal de Ponta Delgada através do Centro Natália Correia e teve o apoio logístico da Junta de Freguesia da Fajã de Baixo e Junta de Freguesia da Ribeira Quente.

A Associação Musical de Lagoa vai promover a 11.ª edição do Festival de Bandas Filarmónicas António Moniz Barreto. O evento decorrer no dia 30 de novembro, pelas 17h00, no Auditório Ferreira da Silva, na vila de Água de Pau, segundo nota enviada pela Câmara Municipal da Lagoa.
O festival vai também assinalar o 17.º aniversário da Associação Musical de Lagoa, constituída a 30 de novembro de 2007 com o objetivo de divulgar a cultura musical no concelho, nomeadamente através da sua Academia de Música.
O festival pretende homenagear António Moniz Barreto, músico lagoense que pertenceu às duas bandas filarmónicas da cidade de Lagoa, “tendo deixado um grande legado musical, como compositor e pela sua paixão pelas bandas filarmónicas”, lê-se. Cultivou o seu conhecimento musical, de forma autodidata, tendo começado a tocar flautim com oito anos. Já com 18 anos, regeu a Sociedade Filarmónica Lira do Rosário, durante 43 anos, “tendo efetuado um trabalho meritório, nas composições de várias marchas fúnebres, graves, canções, ordinários, fantasias e rapsódias. Pertenceu, também, à Sociedade Filarmónica Estrela D´Alva, onde permaneceu três anos, até à sua morte, em 1978”, lê-se ainda, no mesmo comunicado.
A 11.ª edição do festival vai contar com a participação das três bandas do concelho: Sociedade Filarmónica Lira do Rosário, da Sociedade Filarmónica Estrela d´Alva e Sociedade Filarmónica Fraternidade Rural de Água de Pau. A banda convidada deste ano vai ser a Filarmónica de Nossa Senhora dos Remédios da Bretanha.
O evento vai ser precedido de um desfile das bandas filarmónicas, pelas 16H00, com saída da igreja de Nossa Senhora dos Anjos, passando pela Praça da República, Largo do Santiago e Casa do Povo de Água de Pau.

Encontramo-nos com Ana Paula Andrade no Conservatório Regional de Ponta Delgada numa tarde de sol. Enquanto procuramos uma sala disponível para a entrevista, com corredores repletos de histórias e de música, tanto crianças como antigos alunos paravam a professora para abraçá-la e eram, assim, recebidos com um sorriso rasgado e brilho nos olhos. Ao Diário da Lagoa (DL), começa por dizer que se considera “uma pessoa realizada”. Nasceu, em 1964, em Ponta Delgada, e desde cedo que sonhava ser pianista, tendo concluído o curso geral de música no Conservatório Regional para depois voar até Lisboa para estudar no Conservatório Nacional. Após cinco anos de estudos, regressou à sua ilha para uma carreira de sucesso. Desde 1989 que é professora de piano e análise e técnicas de composição no conservatório, onde também desempenhou o cargo de presidente do conselho executivo de 2004 a 2019, sendo também responsável pelo coro infantil desde 2003.
Ao nosso jornal recorda o seu percurso, reflete sobre o ensino e alerta para a necessidade de se investir na música para sermos “cidadãos mais completos”.
DL: É por gosto que está no ensino da música?
Sou uma pessoa muito feliz, sinto-me abençoada pela vida e por tudo o que tenho conseguido ao longo dos anos. Cada vez mais sinto que é um privilégio trabalhar naquilo que gosto. Claro que há condicionantes, pois no ensino há mais regras do que quando somos um artista que vive especificamente da arte. E tem que existir essa disciplina, mas estou dentro da área da música, onde gosto de ensinar e de estar rodeada de alunos, inclusive de antigos alunos que depois voltam para fazer uma visita e que depois dizem que nós professores fomos importantes para eles. Tudo isto faz com que seja uma vida muito cheia, repleta e rica.
DL: Na casa da sua avó havia um piano. A presença do instrumento influenciou-a?
Vivíamos com a minha avó e o piano estava lá, penso que foi decisivo. Na família não tínhamos profissionais da música, mas a música estava sempre presente. Antes de entrar para o conservatório fazia experiências no piano. A minha mãe perguntava-me sempre se eu queria ir para o conservatório e eu dizia que não, apesar de gostar e ir a concertos e das tais experiências, mas só aos nove anos é que ingressei no conservatório. Também pelo que me contou a minha professora de iniciação musical e de piano na altura, a dona Natália Silva — que foi uma das pessoas mais importantes na minha vida —, eu dizia sempre que queria ser pianista.
DL: Conseguia conciliar o ensino regular com o ensino artístico?
Sim. Na altura, entre 1970 e 80, existiam menos professores e alunos, a questão é que hoje em dia os alunos têm muitas mais atividades e ficam muito dispersos. Na minha geração não, pois quase não víamos televisão, nem havia jogos de computador, o que nos permitia ficar mais focados. Atualmente é mais difícil captá-los, sendo que há exceções e de uma maneira geral acredito que estejam aqui por gosto mas sinto que a aprendizagem do instrumento exige uma experiência, dedicação e organização extrema e os alunos hoje em dia estão muito dispersos por inúmeras atividades.
DL: Depois decidiu ir para Lisboa. Deixar a família, a realidade de uma ilha, para ir estudar e viver na capital foi um choque?
Foi um choque muito grande, não era como hoje em dia em que há internet. Lembro-me de chegar na varanda do lar e desatar a chorar. Mas tive a felicidade de encontrar uma colega daqui que já estava a estudar no conservatório nacional e que me acolheu. Depois fomos viver juntas noutra casa e aí iniciei uma vida nova. Fui abençoada porque os meus pais nunca me colocaram qualquer entrave, pois aceitaram a decisão e fui também muito apoiada pela minha professora Natália Silva. Era para ficar três anos em Lisboa e acabei por ficar cinco. Durante esse tempo tive igualmente a oportunidade de trabalhar para me sustentar e fiz dois cursos, tendo concluído em 1988.
Recordo-me que o que mais custou foi voltar para Lisboa depois do primeiro Natal. Liguei para a minha professora de piano, porque queria voltar para São Miguel e ela disse-me: “nem pensar, a tua vida é aí”. Dou graças a Deus por isso, pois os professores do ensino artístico são muito mais do que professores, são família.

«(…) quando vemos estes resultados
ANA PAULA ANDRADE
sentimos que é possível
(…) é preciso ter talento, trabalhar muito,
ter espírito de entrega,
acreditar que se é capaz.
Se é esse o desejo, nunca desistam,
é preciso é crer.»
DL: Ao chegar ao conservatório regional verificamos que está cheio de alunos. Há um aumento de inscrições no ensino artístico. Como encara este facto?
Fico muito feliz. Aliás, sempre defendi que o ensino artístico e a cultura estão ligados. Tem que ser obrigatoriamente parte integrante da vida de um cidadão o mais cedo possível. Nem todos podem integrar o ensino especializado, nem conseguimos receber toda a gente, mas no ensino regular sempre foi obrigatório a partir do segundo ciclo, o que é muito tarde. Todos os alunos deviam ter, desde o pré-escolar, um professor do ensino artístico específico da área. Para mim é um triângulo entre educação, cultura e ensino artístico. Tudo isto é que faz com que as pessoas possam tornar-se cidadãos mais completos. Pelo que me apercebi, o aumento pode levar a que se abranja o ensino artístico no primeiro ciclo, o que é excelente, pois revela a sensibilidade e o reflexo de que mudança passa exatamente por essa formação. Temos cerca de 500 alunos no conservatório, mas não podemos pensar que todos vão ser músicos. Se 50 forem músicos profissionais, temos 450 que vão ser um público culto e mais sensível.
DL: Tem um projeto junto de uma escola. Pode contar-nos mais sobre a iniciativa?
Nos últimos anos, temos apostado muito em projetos em parceria com escolas do ensino regular para sensibilizar as crianças. 
Eu tenho o projeto “Cantando é que a gente se entende” há cinco anos na Escola dos Milagres, na freguesia da Covoada, porque sempre gostei de alargar a música para fora de portas. É uma escola pequena, consigo numa manhã abranger todos os alunos. Não queria deixar ninguém de fora e tenho crianças desde o pré-escolar até ao quarto ano. É tão gratificante chegar lá e questionarem-me: “professora, vamos ter música hoje?” É a alegria deles ao perceberem que a música faz parte da formação e da escola, é isso que tenho pena que não exista em todas as escolas.
DL: Tocou em concertos no Coliseu Micaelense, no Canadá e nos Estados Unidos da América, entre outros. São boas recordações?
Muito boas recordações. Podia ter optado por ficar no continente, mas quando cheguei a Lisboa já pensava em regressar à minha terra. Sempre gostei do conservatório regional, é a minha segunda casa e família, por isso quis sempre continuar o projeto das minhas professoras. Quando cheguei cá havia falta de professores, por isso fiquei logo empregada. E, depois, ir tocar a Toronto várias vezes ou tocar como solista com a orquestra na Universidade de Massachusetts são oportunidades que se calhar no continente não conseguia. Aconteceu através das nossas comunidades e pelo facto de ter voltado para os Açores.
DL: É a professora que é hoje devido aos professores que a marcaram?
Sem dúvida. Nós procuramos o exemplo dos nossos professores e só tive bons exemplos. Quando tenho alguma situação mais delicada penso no que elas fariam se estivessem no meu lugar. Sou hoje em dia aquilo que sou graças aos meus professores. Em Lisboa também tive professores que me marcaram: o professor Christopher Bochmann, a Melina Rebelo e o compositor Joly Braga Santos. Inclusive fiquei mais um ano em Lisboa para trabalhar com ele — comemora-se este ano os 100 anos do seu nascimento. Foi tão marcante para mim esse último ano em que acabei por ficar quase como aluna privada dele. Aprendi imenso. Foi um compositor com um percurso fantástico que tem que ser divulgado. Os nossos professores são uma dádiva, temos um bocadinho esse dever de prolongar o que nos transmitiram.
DL: Considera que investir no ensino da música torna os açorianos mais felizes?
Sem dúvida. Eu costumo dizer que a música é boa em qualquer momento, até nos tristes podemos encontrar conforto. Obviamente que uma pintora dirá a mesma coisa e eu acredito que sim, pois todas as áreas artísticas são importantíssimas. Mas acho que é mais fácil chegar a todas as pessoas, mais rapidamente, através da música. E já se tem investido muito na cultura, mas há sempre muito mais a fazer. A minha preocupação é que haja oportunidade para todos desde pequeninos. Temos aqui cerca de 500 alunos, temos projetos que abrangem mais escolas ainda, há as filarmónicas que são excelentes escolas de música, mas custa-me ainda que exista alguns sítios onde a música não chega. Há muitos talentos escondidos e às vezes vemos crianças com muito talento e os pais não têm sensibilidade para perceber que devem ajudar, ou seja, tem que partir também do apoio dos pais, os professores não podem fazer isso sozinhos. Tentamos sensibilizar, mas alguns pais não sentem que é importante. Se houver um investimento total no ensino artístico desde cedo, cobrindo toda a gente sem exceção, muitos mais talentos vão aparecer.
DL: Para concluir. É possível um jovem açoriano sonhar com uma carreira artística?
Sim, cada vez mais. Nós temos muitos antigos alunos espalhados pelo mundo e alguns em lugares de destaque. Estamos num meio tão pequeno mas quando vemos estes resultados sentimos que é possível e que tivemos a capacidade de lhes dar as asas para voarem. Obviamente que depende da aspiração de cada um, é preciso ter talento, trabalhar muito, ter espírito de entrega, acreditar que se é capaz. Se é esse o desejo, nunca desistam, é preciso é crer.

A diretora e professora Ermelinda Medeiros recebeu o Diário da Lagoa (DL) e falou-nos sobre o modo de funcionamento da Associação, os desafios que carrega e a paixão de ensinar a música, que diz só nos “acrescentar mais” enquanto seres humanos. É com o seu coeso corpo docente, de 15 profissionais, a vontade de aprender dos seus alunos, o incentivo dos pais e o fundamental apoio da Câmara Municipal de Lagoa que tem vindo a registar um crescimento exponencial de ano para ano.
O funcionamento da AML determina-se por “várias valências”, assim como pelo desenvolvimento de “vários projetos”, tendo como foco principal a academia musical. A sua oferta consiste em duas vertentes: o curso livre e o curso curricular. Funciona “quase como uma escola” e abre portas a todas as idades, contando, atualmente, com uma faixa etária abrangente: dos três aos 79 anos de idade. “Já temos um grande leque etário, mas a nossa ideia é alargar e também diversificar os instrumentos.”, explica Ermelinda.
A formação musical, a música na infância, o ensino de instrumentos como o piano, guitarra e percussão e, ainda, as aulas de ballet, são algumas das modalidades disponíveis na Associação. “Os nossos alunos vêm para aqui para aprender e ao ritmo de cada um”, assegura ao DL.
Acolher as diferentes idades na academia musical abrange desafios diferentes, assim como o ensino da própria música, que “não exige só talento, mas muita prática”. Os mais pequenos, que englobam a maioria dos alunos inscritos, “têm o mundo todo para descobrir” e vêm com a inquietação de perceber o que mais os fascina dentro da área musical. Já os adultos que lá chegam, têm ideias mais claras daquilo que desejam fazer. A verdade é que a música tem uma grande importância para todos, “é uma área da vida tão importante, que só nos completa em todas as valências”, declara a professora. “e é por isso que temos o trabalho individual de aprendizagem e temos o conjunto. A música também trabalha o relacionamento.”

A professora Ermelinda refere a sua particular paixão em trabalhar com crianças “porque é a alegria nos olhos, é tudo pela primeira vez”. Refere que os desafios da sua profissão são compensados pela “injeção de vida” que os seus alunos lhe dão. Na Associação Musical, os docentes trabalham com amor por aquilo que fazem, explica-nos com orgulho a diretora, porque “a aprendizagem é uma fatia muito importante da nossa vida”. “Compete-nos a nós ir alargando o horizonte das crianças. Os pais já perceberam que isto é importante”, acrescenta.
A AML já conta com alunos que decidiram seguir uma carreira profissional na música. “Para a academia é um orgulho saber que estes alunos já passaram por aqui.”, diz.
A academia presta ao público as chamadas audições, onde procura que os seus alunos saiam da sua zona de conforto, do hábito de tocar apenas para os professores e pais. A apresentação ao público é só para aqueles que se sentem confortáveis em fazê-lo, “nós não os obrigamos, mas incentivamos”. Estar em palco e ter uma comunicação aberta é, também, algo a que a Associação Musical presta atenção. Não consideram que o seu objetivo seja a criação de espetáculos, exceto quando se trata do ballet, porque “já tem um caráter mais de espetáculo, com luzes, som e adereços”, mas que seja uma forma dos seus alunos saírem da sua zona de conforto e demonstrarem a sua caminhada.
No passado dia 14 de setembro, a AML realizou um atelier musical gratuito para aqueles que desejavam experimentar algum instrumento e/ou a classe de ballet. Os docentes demonstraram-se disponíveis, durante esta manhã de sábado, para guiar as crianças e adultos que os visitaram, pelos diversos instrumentos. O DL esteve presente e registou o entusiasmo de algumas das crianças. A pequena Valentina demonstrou grande interesse pelo violino, enquanto a Alice, assim como o Mateus, desejam começar a aprender piano. Era todo um mundo novo para estas crianças que declaram gostar “muito de música”.
É no dia um de outubro que a Academia Musical inicia este ano letivo. A quantidade de responsabilidades da construção de mais um ano de trabalho não é fácil, revela a professora, enquanto explica que a formação dos horários é um dos processos mais desafiantes “porque também dependemos da disponibilidade dos professores e dos alunos, daquilo que eles têm”.
A diretora indica-nos, como ideias finais, que o seu sonho, e o de todos os outros professores, é que a Associação se mantenha e cresça, ainda mais, ganhe mais notoriedade, melhores condições e que os seus alunos “levem a música para a vida”, conclui.

Este ano, as ilhas de Santa Maria, São Miguel, Terceira, São Jorge e Pico já apresentaram programação para celebrar o Dia da Viola da Terra, segundo nota de imprensa da associação MiratecArts.
Em Santa Maria, quarta-feira, é no Atlântida Cine Centro Cultural com uma exposição dedicada à viola, mesa redonda “A Viola da Terra, tradição e entidade”, subindo ainda ao palco os jovens marienses, Engengroaldenga, lê-se.
São Miguel, no dia 2, com a Associação de Juventude Viola da Terra, que leva a exposição “Violas dos Açores” ao Auditório Municipal da Povoação, aliada a um concerto musical que inclui Raquel Dutra, Duo Toadas e convidados. O programa continua, no dia 5, na ilha verde, com o concerto “2 Corações – A Viola que nos Une” no Teatro Ribeiragrandense, promovido pela Fundação INATEL. O músico Rafael Carvalho leva a viola por várias escolas da ilha e o construtor Hugo Raposo está com a sua oficina de portas abertas no centro de Ponta Delgada.
A ilha Terceira, através da Sons do Terreiro – Associação Cultural, celebra o dia com trabalho didático no Conservatório Regional de Angra do Heroísmo, estendendo o programa para o dia 4, com “Roda de Viola”, o encontro de tocadores de Viola, na sede do Grupo de Baile da Canção Regional. Ainda no dia 11, no Auditório António Dacosta, na Escola Tomás de Borba, acontece o concerto do duo mariense Engengroaldenga, explica a mesma nota.
O construtor Raimundo Leonardes participa na programação escolar na EBI do Topo, e a sua oficina, localizada nesta freguesia em São Jorge está de portas abertas a partir das 15h00 no dia 2 de outubro, para acolher os mais curiosos.
Na ilha do Pico, o Festival Cordas arranca a 1 de outubro, com convite a todos os tocadores de Viola da Terra participarem no evento de abertura, na Biblioteca Auditório da Madalena; dia 2 é dedicado a visitas às escolas por Marcos Fernandez e a Viola dos dois corações. No dia 5, o Auditório da Madalena acolhe a Viola Terceirense de Bruno Bettencourt, entre outras manifestações de celebração com a Viola da Terra, conclui o comunicado da MiratecArts.
Desde 2019 que se comemora o dia 2 de outubro como o Dia da Viola da Terra, tendo sido oficializado em 2023 por Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

O Teatro Micaelense celebra o Dia Mundial da Música, a 1 de outubro, com o Conservatório Regional de Ponta Delgada (CRPD) e com um filme-concerto de Ryuichi Sakamoto, de acordo com nota enviada pelo Teatro Micaelense.
O espetáculo começa pelas 18h00, com “Música & Diálogo” com o Conservatório Regional de Ponta Delgada, “que se une ao Teatro Micaelense para celebrar a música e o seu valor como poderosa ferramenta na educação, inclusão e bem-estar emocional”, lê-se.
Segundo o mesmo comunicado, nesta primeira parte, vai ser possível desfrutar de pequenos momentos musicais, interpretados por alunos e professores do CRPD, e de um espaço propício ao diálogo, onde a audiência vai ser desafiada a refletir sobre a importância do ensino da música no desenvolvimento e transformação da sociedade. Este encontro vai culminar com um momento musical comunitário onde todos têm a oportunidade de participar. A entrada é gratuita, mediante levantamento de bilhete na bilheteira o Teatro Micaelense.
Às 21h00, é exibido o filme concerto “Ryuichi Sakamoto – Opus”. A 28 de março de 2023, o compositor japonês Ryuichi Sakamoto faleceu, depois de uma batalha contra o cancro. Nos anos que antecederam a sua morte, Sakamoto não pôde tocar ao vivo. Tanto os concertos como as longas digressões mundiais eram demasiado desgastantes. Apesar disso, no final de 2022, Sakamoto reuniu as suas forças para deixar ao mundo um último concerto: apenas ele e o seu piano, lê-se,ainda, na mesma nota.
Com curadoria do próprio Sakamoto, as vinte peças escolhidas narram sem palavras a sua vida através da música. A seleção abrange toda a sua carreira, do período da Yellow Magic Orchestra às bandas-sonoras de filmes ou ao seu álbum mais meditativo, 12. ” Ryuichi Sakamoto – Opus”, realizado pelo seu filho, Neo Sora, é uma celebração da vida e o canto definitivo do cisne do querido mestre. Os bilhetes têm um preço de 4 euros e estão à venda na bilheteira ou online.
O Dia Mundial da Música comemora-se anualmente a 1 de outubro. Esta data foi instituída em 1975 pelo International Music Council, uma instituição fundada em 1949 pela UNESCO, com o objetivo de promover esta arte em todos os sectores da sociedade, divulgar a diversidade musical e incentivar a partilha de experiências.