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Voz do Passado – A imprensa lagoense antiga | 16

A VARANDA DO NAUFRÁGIO NA PONTA DA GALERA – CALOURA / A.PAU
[Fotos de 1938 e 1968 durante as Festas de Nª Sª das Dores, na Caloura]

Tantas vezes subi aquelas escadas para lhe tocar e debruçar-me nela. Assim que ali chegava vinha-me ao pensamento as histórias antigas que eu ouvia da boca do primo Quintiliano, nos serões de família sentados à mesa da sala de jantar da sua casa nos belos e calmos anos 60s.

Recordo-me daquele ambiente, rodeado de antigas recordações distribuídas pelos móveis e paredes ocupadas por uma colecção de pratos pintados por José Maria Rebelo (irmão de Domingos Rebelo, que viveu na casa de Tibério Batista em A. Pau).

Sentado ao lado da minha madrinha de baptismo, Maria do Carmo Vieira, como era apreciador de histórias, eu ouvi meu pai fazer perguntas sobre o naufrágio dum barco que naufragara em frente à ponta da Galera (Caloura – Água de Pau), carregado de madeira.

Ao primo Quintiliano a história foi-lhe contada a bordo dum barco, quando ia de viagem de S. Miguel para Lisboa, para depois apanhar navio para Manaus, no Brasil, para onde emigrara no fim do séc. XIX.

Desconhecendo em que ano se deu o naufrágio, porém, segundo constava, ao primo Quintiliano, algumas embarcações dos pescadores da Caloura dirigiram-se aonde o navio naufragara, para recuperar a madeira que ficara à tona d’água em frente da ponta da Galera.

Mas, segundo ele, foi o seu tio padre Manuel Inácio Vieira quem ficara com partes da varanda da famigerada embarcação que depois foi adaptada para o balcão desta sua casa no Portinho da Caloura [ que viria a ser casa de apoio a banhos], conforme se vê na foto. O mesmo padre a quem é atribuída a iniciativa da construção do molhe ou cais da Caloura,

Posteriormente, os seus herdeiros mantiveram esta varanda e a Junta Geral também, bem como a Câmara Municipal de Lagoa até 2009, ainda eu por lá andava como vereador e vice-presidente. Depois deteriorou-se a varanda e a CML em obras de beneficiação daquele espaço, retirou-a.

Mil naufrágios documentados tornam o mar dos Açores num “museu subaquático”, com “cápsulas do tempo” já visitáveis através de mergulho, mas que o Governo Regional quer potenciar, criando em 2017 centros interpretativos em terra. Eu aplaudo a iniciativa.

Falando ainda de naufrágios, anotei ainda nas minhas pesquisas que a 3 de Janeiro de 1651, naufragou na Ponta da Galera o galeão português da Armada do Brasil, São Pantaleão. Deste naufrágio resultaram cerca de 300 mortos, salvando-se 30 pessoas que se recolheram em Água de Pau. Em 1864 naufragou também na Ponta da Galera a escuna Alfred.

NAS FOTOS durante as Festas de Nª Sª das Dores na Caloura, na terceira semana de Setembro, a família sempre se juntava na casa ou prédio do primo Quintiliano Vieira.

1ª EM CIMA: 15.09.1938 – da esq. p. direita – Professora Lurdes Vieira e marido António Inácio Vieira, Mestre José Luís Germano e a Professora Leonor Octávia Vieira ; Maria do Carmo Vieira [minha madrinha de batismo]; Letícia Brígida Lima Vieira e sua mãe Dona Jacintinha e a outra filha, Professora Lurdes Vieira e o marido, Maximínio Duarte Vieira,que também foi presidente da Câmara Municipal de Lagoa.
[O fotógrafo – Quintiliano Augusto Vieira, máquina Kodak com tripé articulado, fabricada em Rotchester, EUA]

2ª EM BAIXO: 17.09.1968 – da esquerda p/ direita – António Inácio Vieira e esposa Fátima, Maria Lia [minha mãe]; Sofia Medeiros R M Mateus [Veber Mateus]; Lina Manuela[minha irmã] com o nosso cãozinho «Joli»; Maria do Carmo Santos;Joana Homem; José Tobias e RoberTo MedeirOs.
[O fotógrafo: Manuel Egídio de Medeiros, máquina portátil Kodak]

RoberTo MedeirOs – natural da Vila de Água de Pau, terra de muitas histórias.

(Artigo publicado na edição impressa de junho de 2018)

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