Lídia Meneses, 44 anos, designer de comunicação e natural do Porto é cofundadora da Mythica – marca de dermocosmética inovadora, criada para o cuidado da pele, tendo como essência o leite de burra proveniente da ilha Graciosa. “Conheci o Marcos Couto numa exposição de óleos essenciais e produtos naturais na Alemanha”, começa por contar Lídia. Marcos Couto, empresário terceirense, é o fundador da Asinus Atlanticus, empresa criada em 2013 para produzir leite de burra. “Fê-lo pela propriedade do leite relacionada ao sistema nervoso, por ser prescrito a quem tem problemas de ansiedade e por corresponder 98% ao leite materno humano”, conta. “Ele começou com 40 e já vai em 150 burras”, garante a entrevistada. Ao projeto adiciona-se João Marques, que é quem trata da contabilidade.
O primeiro contacto de Lídia com o leite de burra nasce de uma necessidade familiar, mas fascinada pelo tema, durante a pandemia, a designer de comunicação, encontrou no projeto Mythica um desafio criativo. “Lembro-me de ter lido, enquanto estudava, que a Cleópatra se banhava no leite de burra” e, desde esta lembrança, a Mythica ganha destaque preponderante na vida de Lídia. Ao experimentar os produtos, começou a dar contributos decisivos para a identidade visual, olfativa e até na formulação das fragrâncias, descobrindo uma sensibilidade única para o detalhe. O envolvimento cresceu e Lídia não ficou apenas com o papel de designer: tornou-se investidora e co-criadora.
Desde 2023 a marca vende cinco produtos com fragância de Aloe Vera. A loção corporal, que se encontra esgotada, o creme de mãos, o creme facial de dia e de noite e o shower gel que se descobriu que funciona como shampoo e amaciador, sendo um produto 3 em 1. Com esta descoberta a Mythica tem um novo tipo de público-alvo: a hotelaria. E com uma nova fragrância: o figo.
A marca ganhou dois prémios German Brand Award 2024, um pela sustentabilidade, devido ao uso de plástico biodegradável nas embalagens e o outro pelo branding. No logótipo está presente a identidade açoriana, vê-se uma burra e um conjunto de flores, representando as hortênsias dos Açores. O nome Mythica relaciona-se com as lendas açorianas, “há tantas lendas que ainda não se contaram sobre os Açores. E isso fez com que me lembrasse do nome Mítico”, nome que facilmente se assemelha a Místico e o “Místico” revela a cor da marca: a cor roxa, que está associada a algo místico ou misterioso.
Inicialmente o objetivo da marca seria vender para negócios, “sobretudo para farmácias ou lojas de produtos naturais, onde se encontram clientes com uma pele mais sensível, mas infelizmente as farmácias estão inundadas de produtos internacionais”, diz. “Estes produtos são açorianos, vêm do paraíso e contêm um super ingrediente açoriano, é impossível que não sejam bons”.
Apesar da resistência em Portugal, a Mythica tem encontrado reconhecimento além-fronteiras e no setor do turismo. Hotéis de referência como o Octant ou a Senhora da Rosa já incorporaram a Mythica nos seus espaços de bem-estar, e o Casino de Ponta Delgada também apostou nos produtos açorianos. A Fábrica do Chá da Gorreana tornou-se parceira estratégica, levando a marca até ao público estrangeiro que visita os Açores. Os produtos estão disponíveis para compra online e em algumas lojas na ilha de Santa Maria, Terceira e São Miguel, como por exemplo, na Perfumaria Eliana Abreu ou no HL Nutri Store.
Para Lídia, o desafio está em mudar mentalidades: “O mais triste é que o nosso produto é mais valorizado por estrangeiros do que pelos próprios açorianos. Falta-nos autoestima, mas acredito que isso vai mudar. Se não apoiarmos o que é nosso, arriscamos perder marcas e criadores de enorme valor.”
“Os Açores têm tudo para ser referência mundial em produtos naturais. Só precisamos de acreditar em nós próprios”, conclui Lídia.
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