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Cancro da Mama: uma doença em mudança!

Luís Bernardo
Especialista em Cirurgia Geral com competência em Senologia
no Hospital CUF Açores

Tradicionalmente, o cancro da mama era associado a mulheres no pós-menopausa. No entanto, uma tendência global e preocupante aponta para o aumento do número de casos em mulheres cada vez mais jovens, abaixo dos 40 ou 45 anos e ainda em idade pré-menopáusica. Estes diagnósticos representam um desafio único pelos aspetos biológicos, clínicos e psicossociais envolvidos.

Estudos em vários países, incluindo Portugal, revelam um aumento ligeiro mas constante da doença em idades abaixo dos 50 anos. As razões não são totalmente claras, mas ligam-se a fatores de risco modificáveis. Muitas vezes, estas mulheres são diagnosticadas em estádios mais avançados da doença, considerando que a mamografia só é recomendada a partir dos 45-50 anos, e que a densidade mamária pode mascarar lesões que, nesta faixa etária, tendem a ser mais agressivas.

Face a esta realidade, há aspetos fundamentais a reter quando falamos em deteção precoce, a começar pela consciencialização: a auto-palpação regular e a atenção a sinais como nódulos, alterações da pele ou do mamilo devem ser valorizadas, mesmo sem antecedentes familiares. Também a Imagiologia tem um importante papel na deteção precoce do cancro da mama, sobretudo em mulheres com forte história familiar ou mutação genética conhecida, uma vez que a ressonância magnética mamária é mais eficaz do que a mamografia ou a ecografia em mamas densas. É também aconselhada a realização de testes genéticos, cada vez mais comuns em doentes jovens, considerando o impacto que estes testes podem ter nas decisões terapêuticas e na prevenção familiar.

Importa também falar da prevenção desta doença oncológica. Reduzir o consumo de álcool, manter um peso saudável, praticar exercício físico regular e promover a amamentação são medidas protetoras. Para mulheres portadoras de mutações, podem ainda ser consideradas estratégias de redução de risco, como a mastectomia profilática, sempre avaliadas em consulta especializada.

Um fator que merece destaque é o tabagismo. Embora a relação entre fumar e cancro da mama tenha sido durante muito tempo discutida, a evidência atual mostra um aumento de risco entre 10% e 15%, sobretudo quando o hábito começa antes do primeiro parto. O tecido mamário jovem, ainda em diferenciação, é mais vulnerável aos agentes cancerígenos. Quanto maior o número de cigarros e o tempo de consumo, maior o risco. Mesmo o fumo passivo aumenta a probabilidade da doença em mulheres expostas desde cedo.

O papel dos cigarros eletrónicos e do tabaco aquecido ainda não está totalmente esclarecido, mas os líquidos usados contêm nicotina e outros químicos nocivos, levantando sérias preocupações quanto à saúde mamária. A recomendação é clara: evitar também estas formas de consumo, especialmente por mulheres jovens.

Embora o risco associado ao tabaco seja inferior ao que se verifica no cancro do pulmão, ele é real e relevante. Deixar de fumar – ou nunca começar -, é uma das medidas mais importantes para reduzir a probabilidade de desenvolver cancro da mama e para melhorar o prognóstico em caso de diagnóstico da doença. Os benefícios de parar de fumar iniciam-se de imediato e aumentam com o tempo.

Em conclusão, mudar aquilo que podemos mudar e vigiar aquilo que devemos vigiar é uma mensagem simples, mas que pode vir a salvar vidas.

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