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Jorge Rita alerta para os entraves que persistem na economia açoriana

Presidente da Federação Agrícola dos Açores defende uma atualização do programa POSEI com base na inflação e um regime de ajudas para os transportes marítimos. A mecanização e a formação são apontadas como soluções para a falta de mão de obra

Jorge Rita deixa mensagem de incentivo aos jovens agricultores © CLIFE BOTELHO

DL: Tem marcado posição com várias ações ao longo do ano. Trata-se do que prometeu?
Sim. A Associação Agrícola de São Miguel (AASM) e a Federação Agrícola dos Açores, como organizações de reivindicação, têm reivindicações muito fortes neste momento. E, também, estamos em cima dos acontecimentos europeus, que se relacionam com os quadros comunitários de apoio. Seja o que está a terminar ou o que ainda não começou, estamos sempre a trabalhar no que virá a seguir. Tudo isso requer muito trabalho, intensidade, e pressionar aqueles que têm depois a capacidade de negociar na União Europeia (U.E.).

DL: Participou no Fórum das Regiões Ultraperiféricas em Bruxelas. Como correu?
Participo muitas vezes na área da Comissão da Agricultura. Temos sempre que marcar a posição dos Açores de forma firme. Somos uma região ultraperiférica, e o que transmitimos é que os Açores dão mais a Portugal e muito mais à Europa.
A soma da população das regiões ultraperiféricas é de quase seis milhões de habitantes. Essas regiões têm mais habitantes do que alguns países da Europa.
Quando se trata das negociações a nível do programa POSEI, todos nós estamos alinhados, porque queremos uma atualização. O próprio Comissário reconhece que a nossa reivindicação é justa. Todos os programas de apoio para todos os países levam em consideração a inflação, mas o POSEI nunca foi contemplado. Houve um decréscimo que nos custou mais de 30 milhões de euros ao longo do tempo, valor que poderíamos ter recebido se houvesse uma atualização por meio da inflação. O que pretendemos é que, no mínimo, a inflação também seja tida em conta no POSEI. Além disso, queremos um claro reforço não só para o POSEI, mas também para as ajudas diretas a agricultores e pescadores. O que desejamos na Região Autónoma dos Açores é ser mais competitivos em relação aos transportes marítimos. Sem um auxílio do Estado ou da UE, a nossa economia fica completamente estrangulada nos Açores.

DL: De que forma o problema dos transportes marítimos continua a afetar a região?
É o maior problema que nós temos. O que explica o insucesso da nossa economia está muito relacionado com os transportes marítimos. Nós, que importamos e exportamos, sabemos o quanto custa e que isso reduz a nossa competitividade. O que devia ser criado é um regime estatal de ajudas compensatórias, semelhante ao que já existe para os transportes aéreos. Qualquer região ou país, principalmente nós que estamos rodeados pelo mar, depende dos transportes marítimos para praticamente tudo. Já que existe uma discriminação positiva através das ajudas compensatórias para os transportes aéreos, que funcionam plenamente, seria importante que também fossem contemplados com esse tipo de apoios os transportes marítimos. Aí sim, a nossa economia tornar-se-ia competitiva. E, obviamente, isso também se refletiria em tudo o que produzimos.

DL: A mecanização seria uma solução para a falta de mão de obra?
É o caminho, porque não só na área do leite, mas na das hortícolas também pode ajudar. Esse é um caminho que toda a gente já percebeu que vai ter que acontecer, já que a falta de mão de obra é brutal, e não só no nosso setor, é transversal. E isso faz com que o crescimento em algumas áreas não esteja a acentuar-se.

DL: E que balanço faz da transição para a produção de carne?
As pessoas que agora estão na carne estão muito seguras e confiantes. O mercado está favorável, podemos considerar que foi uma aposta ganha e o alerta que nós lançamos sempre aos industriais do leite é para que estejam atentos. Se a carne continuar neste patamar de crescimento, poucos vão querer continuar a produzir leite. Este ano nota-se bem o entusiasmo, porque os produtores têm um perfil diferente de ilha para ilha mas começa a haver alguma especialização na produção da carne. Este tipo de transferência vai ser muito rápida, mais rápida do que se pensa. É o caminho da valorização da carne e é mais uma opção. Isso é excelente.

DL: Fala-se também na importância da formação.
Estamos a fazer parcerias com as escolas de formação e agora temos um acordo com a Universidade dos Açores, que vai abrir um curso. Precisamos que se inscrevam.
Eu sei que há inscrições vindas de fora da região. O que nós pretendíamos também é que os nossos aproveitassem esta oportunidade. Estamos a sensibilizar os nossos associados para a importância que o curso pode ter na agroindústria, nas fabricações e mecanizações. Esta era uma reivindicação de muitos anos. Estamos com a agroindústria e toda a indústria a abraçar esse projeto, porque todos nós precisamos de mão de obra. Quem for formado nestas áreas, começa já a trabalhar.

DL: A AASM celebra 50 anos a 5 de setembro. Que incentivo deixa aos jovens para apostarem na agricultura?
O que eu posso dizer é que a agricultura está no nosso ADN, todas as famílias açorianas têm alguém ligado ao setor. Aos nossos jovens, o que precisamos é de transmitir confiança e segurança. Temos de acabar com o discurso de que esta vida de agricultor não presta, mas para isso é preciso que todos comecem, em conjunto, a ter um discurso positivo e a valorizar os nossos produtos. Se os jovens perceberem que podem ter uma vida confortável e com dignidade, eles avançam.
A modernização das explorações, a mecanização, a digitalização, todo o trabalho que é feito em prol dos jovens, dá-lhes ferramentas que eu não tive no meu tempo, e que os capacita para fazer algo diferente em relação ao que fizeram os pais. No entanto, a melhor ferramenta é fazer com que os jovens percebam que este setor de atividade é importante, que se sintam especiais e tenham orgulho.

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Clife BotelhoDirector

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