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“Temos todas as condições, como já tínhamos antes, para fazer um bom trabalho”

Após a expressiva vitória eleitoral na Lagoa, o presidente socialista destaca o orgulho e o reforço de responsabilidade face ao trabalho desenvolvido. Frederico Sousa assume que o objetivo é avançar com projetos estruturais de longo prazo, como o apoio a pequenos negócios através do “Lagoa Investe” e a criação de um modelo de mobilidade intermunicipal, caso o novo concurso regional de transportes não venha a “expurgar essa necessidade”. O autarca em entrevista ao Diário da Lagoa, sublinha ainda o compromisso com a juventude em áreas como educação, habitação e emprego

Frederico Sousa tem 48 anos e é Engeneiro Cívil de formação © ACÁCIO MATEUS

DL: Os eleitores deram-lhe a razão e o voto de confiança. Como se sente como o candidato que atingiu a melhor votação de sempre do Partido Socialista (PS) na Lagoa?
Primeiro, o orgulho naquilo que foi feito, porque também é um reflexo do percurso até à data. Se não tivesse sido de sucesso, não acredito que os lagoenses dessem o voto de confiança. O reconhecimento por todo o trabalho que foi feito, daí a questão de um voto de confiança renovado e dando um reforço na votação. É sinal de que o intenso trabalho de toda a equipa da Câmara produziu efeitos. Nós queríamos mesmo marcar um ritmo, não em termos estratégicos, mas precisamente de um trabalho distinto, para justificar uma nova energia, uma renovação. Em terceiro lugar, uma nova responsabilidade, e se calhar é essa que pesa mais, não tanto pelos números, pois não se trata de uma competição, mas acima de tudo por ser um facto que nos traz muita responsabilidade para honrar tudo aquilo com que nos comprometemos e que habituamos os lagoenses nos últimos anos.

DL: Esperava uma vitória tão expressiva?
Não estava à espera de uma vitória tão expressiva, confesso que não era relevante para o objectivo, mas nunca escondi que gostava de ter uma maioria confortável para que não fossem bloqueadas as decisões nem em sede de câmara, nem em sede de assembleia. E também, se possível, ter a maioria das freguesias porque, naturalmente, são pessoas em quem temos confiança e uma relação de proximidade, uma visão comum. Portanto, achamos que agora temos todas as condições, como já tínhamos antes, para fazer um bom trabalho, só limitados pela nossa ambição, vontade e capacidade de trabalho. E, claro, pela parte financeira, como é lógico, que não é menos importante.

DL: Em 2021 o PS apresentou cerca de 90 ações previstas para 10 anos. Com este resultado considera que se trata, afinal, de um projeto para mais do que uma década?
Eu diria que os projetos têm de ser vistos a curto, médio e a longo prazo. Se há projetos estruturados como, por exemplo, uma ampliação do Tecnoparque ou um sistema de mobilidade que seja não conjuntural mas estruturante, um projeto de habitação  — e estamos a falar de 200 a 300 habitações —, é natural que quatro anos seja curto. Agora, isso não quer dizer que de quatro em quatro anos não tenha que haver uma renovação e uma adaptação daquelas que são as linhas mestras desse projeto para que seja reavaliado.
Também acredito em ciclos mais curtos e não tenho medo nenhum de dizer isso. Um lagoense quando vota e demonstra o seu apoio, não passa necessariamente um cheque em branco e quer ver resultados, por isso é normal que também se dê uma perspetiva de planeamento estratégico. Às vezes o que falta no país é isto.

DL: A maioria do tecido empresarial na Lagoa é constituído por pequenas empresas. De que forma o “Lagoa Investe” poderá apoiar as pequenas empresas na Lagoa nos próximos tempos?
Esse é um bom exemplo de que nós temos que nos adaptar e renovar. O “Lagoa Investe” é um documento estruturante, já tem alguns anos, foi pensado para alavancar o Tecnoparque, mas entretanto foi evoluindo. Ainda recentemente, no anterior mandato, nós vimos aprovados na reunião de câmara e em discussão pública aquilo que é uma transformação do “Lagoa Investe”, que tinha a necessidade de ter eixos dedicados a pequenos empresários e empreendedores. Nesse sentido, alterámos o programa e agora vai ser possível haver um apoio para a criação de pequenos negócios, pequenas obras e aquisição de equipamentos. Será um apoio complementar àquilo que são os apoios comunitários, que estão muito mais vocacionados e planeados para grandes empreendimentos e investimentos. Portanto, estou convencido que vamos sentir alguma dinâmica nesse apoio.
Claro que temos limitações orçamentais, mas custa-me imenso que alguém que queira ser empreendedor e não o faça porque não tem capacidade financeira. Essa é uma aposta, criar condições não só de atratividade para o concelho como condições de estacionamento para os pequenos negócios e na instalação destes negócios, criar dinâmica e mobilidade. Acima de tudo, temos um pequeno instrumento, à nossa medida, que permite desbloquear aqueles primeiros passos num projeto de empreendedorismo, porque ser empreendedor também custa.

DL: Ao nível da segurança e vigilância, o que é que os lagoenses podem esperar?
Naturalmente, quando se fala de segurança, temos que considerar o reforço da capacidade operacional da própria PSP, que é uma competência nacional, e nisso somos solidários. Há sempre a necessidade, mas a verdade também seja dita, a PSP na Lagoa tem cumprido com os seus deveres e obrigações, não só no que diz respeito à manutenção da segurança e da prevenção rodoviária, mas acima de tudo na investigação criminal. A verdade é que a criminalidade tem baixado em termos percentuais, o que não quer dizer que não haja, pontualmente, problemas de insegurança, como pequenos furtos e violência doméstica, que é comum a todo o território. No caso da Lagoa, temos um índice relativamente mais alto que outros municípios que não são cidades. E eu diria que quanto maior é a cidade, quanto mais cresce, a tendência é que haja um crescimento da criminalidade, mas não de forma proporcional. Relativamente à videovigilância, já iniciamos dois processos formais. Um, na Baía de Santa Cruz, que foi indeferido. E colocámos outro formalmente, há três anos, para o Porto dos Carneiros. Ao fim de dois anos de avaliação, por parte da Comissão Nacional de Proteção de Dados e do Ministério da Administração Interna, também já nos veio o parecer favorável ao indeferimento, mas que ficou suspenso no sentido de, se houver uma alteração das circunstâncias, poder ser retomado. Ou seja, neste momento, qualquer projeto que venha a ser proposto para videovigilância tem passado por esse procedimento de consulta e aprovação. Nós já fizemos dois e não foram aprovados. O que revela que não temos um índice de criminalidade que justifique a videovigilância. Eu diria que é uma perspetiva de copo meio cheio ou copo meio vazio, mas vou encarar como copo meio cheio. Eu acho que é uma boa notícia o facto de ainda não ser possível aprovar sistemas de videovigilância. Mas estamos vigilantes se houver alguma alteração de circunstâncias ou aumento significativo de criminalidade que o justifique.

© ACÁCIO MATEUS

DL: E quanto à proposta da criação de uma Polícia Municipal?
Relativamente à Polícia Municipal, a perspetiva é diferente, não é uma questão de segurança, é uma questão de perceção de segurança e da presença no terreno, porque tem caraterísticas e funções distintas daquela que é a PSP. Portanto, cada vez mais, quando se cresce como cidade e com a introdução de novos elementos de atração e com a dinamização do espaço e comércio local, cada vez mais vai haver viaturas. O turismo e o Alojamento Local também contribuem, assim como a restauração para que haja mais viaturas. E só há três formas de ultrapassar isso. Uma é a disciplina, outra a criação de parques de estacionamentos e, depois, mais meios de mobilidade para limitar o uso do veículo automóvel. Caso contrário, vamos ter sempre um problema de disciplina de trânsito, e as novas dinâmicas, por exemplo, com as trotinetas, motociclos, viaturas de rent-car, estacionamento indevido, viaturas de emergência que precisam de ter vias desimpedidas, tudo isto são desafios que uma cidade vai ter principalmente nos próximos anos. Eu não tenho dúvidas que a disciplina é importante e se nós libertarmos a PSP dessas funções, ou pelo menos ajudarmos e complementarmos nessas funções, melhor. Já em termos de custos, primeiro não há uma urgência, depois tem de ser feita com muita coerência e responsabilidade. Desde que seja feita à nossa medida, com a dimensão útil para o município, parece-me que acaba por ser equilibrado, porque é o nosso objectivo criarmos um projeto que seja sustentável.

DL: A prometida rede de Minibus deverá avançar quando e de que forma?
Eu acho que a ideia foi disruptiva e, acima de tudo, teve um efeito positivo. Foi a primeira vez que um tema mobilizou uma discussão em mais de 80% da população dos Açores em torno de uma temática que não era abordada e que, para mim, parece importante: que é a mobilidade entre Lagoa, Ribeira Grande e Ponta Delgada.
Há um concurso público internacional que está a decorrer relativamente a uma renovação do modelo de transporte de passageiros terrestre em São Miguel, mas que nenhum dos três concelhos conhece. Já pedimos a consulta, pois não conhecemos a frequência e os processos, mas o facto é que esse problema não está resolvido.
Eu acho que, independentemente das cores partidárias, há capacidade de diálogo caso não seja possível resolver essa questão, num curto espaço de tempo, através do novo modelo de transporte de passageiros. Os três municípios têm todas as condições para se sentar, negociar e pensar num modelo alternativo.
Porque o que está aqui em causa é não só a mobilidade dentro dos três concelhos, mas igualmente uma capacidade de redução dos custos para as famílias. Há pessoas que têm um custo, não só com passes sociais, mas acima de tudo com a sua viatura, para ir para um ponto de partida. Podemos minimizar também o impacto do trânsito no próprio centro de Ponta Delgada.
Agora, o modelo pode ser discutido, se é feito através de uma empresa intermunicipal ou não e qual é a frequência, mas isso já são detalhes técnicos que, a avançar, são importantes. A boa notícia seria se realmente o novo modelo de transporte de passageiros viesse expurgar essa necessidade, ficava resolvido a nível regional, mas estamos expectantes. Eu estou sempre disponível para conversar.

DL: O que podem esperar os jovens lagoenses deste executivo?
Um empenho e um compromisso muito sério com o futuro dos jovens. E quando digo jovens, desde os adolescentes aos jovens já com uma família constituída. Desde logo, uma forte presença no âmbito da educação. Nós, se calhar, somos o município que tem uma maior relação com as nossas escolas, seja ao nível básico, integrado e até secundário. Temos uma ótima relação com todos os Conselhos Executivos e apoiamos tudo o que são iniciativas e desafios. Temos projetos disruptivos nessas escolas e depois queremos também fazer parte daquilo que é o futuro desses jovens, seja no ingresso no mercado de trabalho, atraindo novas empresas e novas oportunidades de emprego para que se fixem no concelho, como também criando condições para que possam estudar através do reforço das bolsas de estudante deslocado e de mérito, mas acima de tudo com perspetivas de futuro. E estamos a falar de habitação, mobilidade e apoio social para creches. Ninguém pensa em ter filhos se não tivermos creches e, portanto, a nossa maior responsabilidade é essa. Por outro lado, é indissociável a questão do desporto, queremos afirmar-nos com um município que é amigo do desporto, pois a prática desportiva é essencial. Portanto, educação, habitação, desporto e, acima de tudo, emprego, é o que os jovens podem esperar de nós.

DL: Que presidente deseja ser para os lagoenses em geral e que legado pretende deixar?
Eu diria que gostava que olhassem para mim, daqui a uns anos, da mesma forma que os lagoenses olham, por exemplo, para um presidente como o Eng. Luís Martins Mota.
Acima de tudo alguém que deixou uma marca, perspetivou o futuro e que foi um visionário. É o maior legado que posso deixar. Neste momento, mais do que falar, temos que honrar o voto de confiança expressivo dos lagoenses para que sintam que o seu tempo e confiança neste executivo valeram a pena. Acima de tudo que, mesmo cometendo erros, porque toda a gente comete erros, que as virtudes possam ser muito superiores aos erros e às fragilidades.

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Clife BotelhoDirector

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