
Filipe de Oliveira Pinheiro
Especialista em Reumatologia no Hospital CUF Açores
Recentemente foi assinalado o Dia Mundial das Doenças Reumáticas, um grupo de doenças que, apesar de muito frequentes, continuam ainda a ser pouco valorizadas. Estas doenças incluem mais de 200 condições que afetam músculos, articulações, ossos e, em alguns casos, também outros órgãos do corpo. As doenças reumáticas podem surgir em qualquer idade e ter um grande impacto na qualidade de vida, na autonomia, na saúde mental e, por vezes, até na sobrevida do doente.
Quando se fala em “reumatismo”, muitas pessoas pensam apenas em dor nas articulações, mas o universo das doenças reumáticas é muito mais vasto. Envolvem desde problemas de desgaste/mecânicos, como a osteoartrose ou as tendinites; doenças dos ossos, como a osteoporose; síndromes de dor crónica generalizada, como a fibromialgia; e, ainda, doenças autoimunes, como a artrite reumatoide, a espondilartrite ou o lúpus, que ocorrem quando o sistema imunitário, que normalmente nos protege, passa a atacar o próprio corpo, provocando inflamação e danos em vários órgãos.
Os sintomas das doenças reumáticas variam, naturalmente, consoante o tipo de doença, mas há sinais de alerta que não devem ser ignorados: dor persistente nas articulações, sobretudo se for mais intensa durante a manhã ou em repouso e que aliviam com o movimento continuado, associada a rigidez matinal que dura mais de meia hora, inchaço, calor local ou limitação dos movimentos. Também a fadiga inexplicável e o mal-estar generalizado podem ser manifestações iniciais. Perante estes sintomas e/ou sinais, é fundamental procurar um especialista em Reumatologia, já que o diagnóstico precoce faz toda a diferença, permitindo iniciar tratamentos antes que ocorram lesões irreversíveis.
Nas últimas décadas, o tratamento das doenças reumáticas evoluiu de forma extraordinária. A Reumatologia dispõe hoje de terapêuticas inovadoras, incluindo medicamentos biológicos e pequenas moléculas dirigidas a alvos específicos da inflamação, bem como fármacos e técnicas, como as infiltrações, que possibilitam controlar melhor as doenças, reduzir a dor e evitar deformações ou perda de função.
Assim, estas terapêuticas, associadas à prática de exercício físico regular, a uma alimentação e sono equilibrados, à cessação tabágica e ao apoio psicológico, são os pilares essenciais dos tratamentos, sobretudo nas doenças reumáticas crónicas. As abordagens multidisciplinares, que incluem reumatologistas, fisiatras, ortopedistas, psiquiatras, bem como outros profissionais de saúde (enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros), podem ajudar cada pessoa a adaptar-se à sua condição e a viver melhor.
É também importante combater alguns mitos. As doenças reumáticas não são uma consequência natural do envelhecimento, nem um destino inevitável. Muitas delas são doenças crónicas, mas tratáveis, e quanto mais cedo forem identificadas, melhores são os resultados. Viver com uma doença reumática não significa deixar de trabalhar, de praticar desporto ou de ter uma vida ativa – significa aprender a cuidar melhor de si, com acompanhamento adequado e informação correta.
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