Desde cedo ligou-se à política por ser a política o assunto mais falado em casa. Francisco César, 46 anos, nasceu em Lisboa e veio para São Miguel com três anos. É economista, adepto fervoroso do Sporting, presidente do PS Açores e deputado na AssembleIa da República. Numa breve história pelo seu percurso, conta-nos o que pensa do presente e do futuro da região, não esquecendo o passado.
DL: O seu pai está ligado à política, sempre viveu num ambiente familiar ligado à política. Como é que foi crescer nesse ambiente?
Desde que me lembro, atuo neste ambiente. Eu cresci no meio de campanhas políticas, desde miúdo. O meu pai e a minha mãe conheceram-se na política. A minha mãe trabalhava no PS Nacional e o meu pai estava aqui no PS regional e conheceram-se. Nas reuniões, eu ficava na reunião, sentado, a ouvir, caladinho, na altura. Fiz um estúdio de rádio na minha casa em que eu lia os manifestos políticos do partido e gravava, compunha música. Gravava tempos de antena e a minha mãe gozava comigo, porque eu chamava aquilo de rádio Feteiras, porque na altura os meus pais tinham uma casa nas Feteiras.
DL: E era lá que fazia isso?
Sim, a política acabou por ser uma coisa natural. A minha casa sempre foi uma casa cheia de livros. E hoje, tanto que assim seja, também, para o meu filho.
DL: Nunca se sentiu obrigado a ler?
Antes do contrário, eu gostava. Eu até acho que os meus pais preferiam que eu não me tivesse metido nisso. Eu acho que é o sentimento de qualquer pai, porque eu próprio, eu olho para o meu filho, que vai fazer 13 anos, e vamos ver… Isto da política tem a sua graça, mas dói, não é fácil. A política implica nos sujeitarmos a um escrutínio e a uma apreciação da parte de terceiros, que é, ao mesmo tempo, gratificante, mas é também muito cruel.
DL: Como é que se protege a família disso?
Isto é um processo. Os meus pais, e eu, fui particularmente afetado pela questão da família na política. E isso dói, ou seja, as pessoas fazem uma valorização dos outros com base em pressupostos ou preconceitos que as pessoas têm em relação aos outros. E nós somos sempre julgados. Tento proteger a minha família, através de um bom núcleo familiar.
DL: Quem é o homem por detrás do político?
Essa é das perguntas mais interessantes, mas, no entanto, das mais difíceis. Eu verdadeiramente gostava de ter sido economista. Economista, ou seja, praticar. Eu sou muito impaciente. Mas eu sou profundamente normal nas minhas coisas. Gosto de ler, gosto de sair, até gosto de cantar. Mal. Eu sou muito distraído, as pessoas não sabem. Eu, às vezes, desligo. É uma das coisas boas que consigo. E estou no meu mundo, com o meu filho, a fazer a minha vida, com a minha família. Gosto de fazer praia, gosto de fazer boxe, gosto de fazer exercício físico, gosto de ir ao supermercado. Gosto de fazer aquilo que as pessoas normais gostam de fazer. E gosto de experimentar coisas novas.
DL: Quais são os principais desafios da região?
O primeiro desafio que nós temos é o desafio do conhecimento, da qualificação. Eu costumo dizer, o comboio da competitividade já saiu. Há muito tempo, nestas regiões, e a locomotiva dos Açores ainda está no apeadeiro. E, portanto, para nós conseguirmos lá chegar, temos que colocar a qualificação dos açorianos como uma prioridade. O mercado interno é bom que funcione, mas não dá para sobreviver. O meu receio é que as grandes empresas não apostam no internacional. Como é que isso é possível? Em primeiro lugar, nós temos de ajudar as nossas empresas a apostar. Tem que haver uma sensibilidade. Nós temos de lhes diminuir o risco da aposta. Mas, sobretudo, nós temos de trazer empresas para cá.
DL: O mar é o futuro?
O mar é um dos setores. O mar, a energia. O primeiro de todos é o conhecimento. Porque a única forma é que nós não temos continuidade territorial. A região pode entrar numa situação quase de insolvência ou de resgate financeiro. Eu acho que se apostar na economia e se tiver cuidado com o orçamento, eu acho que isto é possível resolver.
DL: Qual é a posição do PS face ao hospital modular?
A opção neste momento é o da construção de um hospital novo, mas o que é um hospital novo? É alterar 80% do que está e acrescentar mais outro tanto. Quem paga isto? Quem sustenta? Nós neste momento não temos capacidade financeira para suportar o atual Serviço Regional de Saúde. Não temos. Todos os hospitais são subfinanciados. Quem o diz é o Governo, não sou eu. Todos os hospitais são subfinanciados. Portanto, se nós duplicarmos o tamanho do hospital, alguém acha que ele vai ficar mais barato?
As decisões que são tomadas, são tomadas em nome do povo, porque nós somos os seus representantes. Quando tomamos uma decisão que poderá comprometer o Serviço Regional de Saúde, ou pelo menos, tem um impacto tão grande do ponto de vista do Serviço Regional de Saúde na comunidade. Isto não pode ser discutido por técnicos. Os técnicos dão os seus pareceres, mas quem decide são os políticos. Porque os políticos são os únicos num sistema democrático que estão mandatados para o fazer. Porquê? Porque aos técnicos ninguém vai pedir contas. Os estudos técnicos podem achar muita coisa, mas é a democracia quem decide, são os responsáveis políticos e representantes do povo. Mas tenho esperança, senão eu não estava aqui.
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