Foram os primeiros romeiros micaelenses a ter a iniciativa de fazer uma romaria na ilha onde se encontra o ponto mais alto de Portugal. O rancho composto por 21 romeiros dos Fenais da Ajuda partiram da ilha de São Miguel rumo à ilha do Pico no passado dia 29 de fevereiro para depois no dia 1 de março fazerem uma romaria, percorrendo 15 igrejas do Pico, ao longo de 40 quilómetros.
À conversa com o Diário da Lagoa (DL), o mestre do rancho dos Fenais da Ajuda, António Moniz Catunto, 59 anos, conta que a ideia partiu do padre Francisco Rodrigues, pároco na freguesia dos Fenais da Ajuda, concelho da Ribeira Grande.
“O ano passado o nosso padre Francisco foi connosco na nossa caminhada e gostou. Quando terminamos a romaria ele disse que ia fazer uma surpresa ao rancho e que nos ia levar à ilha do Pico pois ele viveu sete anos lá e conhece muita gente no Pico. Então, sugerimos que fosse na quaresma”, diz o mestre.
Francisco Rodrigues, 36 anos, é natural da ilha do Faial mas é pároco nos Fenais da Ajuda e outras paróquias, há quatro anos.
Ao DL, diz que levaram como tema de reflexão “Os Dons de Deus” e que “o balanço é muito positivo”, enquanto acrescenta sem hesitar: “tivemos muitos pedidos de Avé Maria, as pessoas aderiram muito à nossa passagem, as missas — tanto na partida como na chegada — estavam com muita gente sobretudo na chegada com muitas pessoas à nossa espera”.
Questionado sobre o impacto que a romaria teve nos picoenses, revela que “sentia-se um respeito enorme pelos romeiros, principalmente na oração da chegada ao Bom Jesus”.
A romaria decorreu no primeiro dia de março, saindo da freguesia de Santa Cruz das Ribeiras até terminar em São Mateus, no Santuário do Senhor Bom Jesus Milagroso.
“Foi um dia só, mas foi espetacular”, assegura António Catunto, enquanto fala de momentos que o marcaram.
“Uma senhora até mandou parar o rancho para nos dar uns biscoitos e bebidas”, conta. “Nas Lajes deram-nos, também, um saco de bananas, depois mais à frente no percurso deram-nos um saco de mandarinas e um bolo de massa sovada. Todos no rancho adoraram e os locais também “, diz o pároco com emoção na voz.
“Até queriam que fizéssemos na ilha toda, mas não podia ser”, lamenta.
Francisco Rodrigues explica que o primeiro dia foi mais turístico, só no seguinte houve a romaria e no último foi cultural. “A ideia foi abranger várias áreas como a tradição, a Fé e a cultura”, revela o padre.
“O nosso objetivo foi ir fazer a romaria ao Pico com o nosso rancho e não com as pessoas locais. Houve quem pensasse que fôssemos com o intuito de fazer surgir romarias no Pico, mas não. O objetivo foi de ir em passeio e dentro desse passeio incluir um dia de romaria até ao Bom Jesus do Pico, o segundo maior santuário da diocese”, explica o pároco natural do Faial.
“Ao chegar ao Pico começamos por visitar a Casa dos Vulcões, depois tivemos um almoço na Escola Secundária das Lajes do Pico, onde houve uma apresentação sobre as romarias aos alunos do terceiro ciclo e secundário”, prossegue.
Depois, no dia 1 de março foi o dia da romaria, em que saíram de Santa Cruz das Ribeiras, sendo o padroeiro o Cristo crucificado, até ao santuário do Bom Jesus.
O dia 2 de março foi dedicado à cultura. “Visitamos o Museu dos Vinhos e o Museu dos Baleeiros, sendo que à noite tivemos um convívio com o Folclore de São Caetano”, conta Francisco Rodrigues.
Quanto ao final da romaria, o padre dos Fenais da Ajuda, descreve que: “a oração que habitualmente fazemos ao Santo Cristo, fizemos na capela do Bom Jesus” enquanto conclui que “as pessoas receberam-nos muito bem.”
Quando regressaram a São Miguel, a 3 de março, o rancho descansou alguns dias para logo no sábado, 9 de março, sair na romaria na maior ilha do arquipélago. Regressaram à sua freguesia no dia 16 de março. O mestre de romeiros garante que não se sentiram cansados e acrescenta: “saímos desta experiência duplamente satisfeitos, pois em São Miguel também correu tudo bem, não há palavras para descrever”.
Questionado sobre a sua experiência como romeiro, conta que faz romaria há 32 anos, “dos quais oito anos como mestre de romeiros”, enquanto diz que “devagarinho, com calma, a gente vai ao longe”.
Sobre a preparação, assegura que “é muito importante numa romaria” e não esconde que “o mais essencial é a missa, todos os dias. Não gosto de um dia em que não vá à missa”.
Quanto ao futuro da romaria, garante que está assegurado na família. “Levei os meus filhos comigo também, um de 19 anos de idade e o outro com 23”, diz António Catunto. “Estou a prepará-los para dar continuidade à tradição, porque não sabemos quando chega a nossa hora de partir deste mundo”.
Para além dos romeiros naturais de São Miguel, na romaria no Pico participaram também três romeiros picoenses, entre os quais o padre José António Neves e o padre Luís Dutra.