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Torneio Pauleta com apoio de 15 mil euros da autarquia de Ponta Delgada

Evento vai contar ainda com uma vertente solidária através da criação de uma corrida onde o dinheiro das inscrições vai reverter a favor da Seara do Trigo

© CM PONTA DELGADA

O torneio Pauleta Azores Soccer Cup vai receber um apoio financeiro de 15 mil euros da Câmara Municipal de Ponta Delgada, anunciou esta quarta-feira, 30 de maio, a autarquia do maior concelho do arquipélago dos Açores.

Na conferência de apresentação do torneio, no Complexo Desportivo Pedro Pauleta, o vice-presidente da autarquia de Ponta Delgada, Pedro Furtado, disse que a autarquia reconhece “a importância do torneio”.

“Temos consciência que os orçamentos de há 10 anos não são os mesmo de hoje em dia. Temos que tentar ir ao encontro daquelas que são as necessidades orçamentais de quem promove eventos desta ordem e calibre. Estamos perante um torneio com um nível de qualidade humana e técnica que poucos se aproximam”, afirmou Pedro Furtado.

“Este torneio tem ainda outra componente de relevo: a promoção turística do concelho”, acrescentou o autarca.

Segundo a Câmara Municipal, no ano passado a autarquia fez um investimento recorde, na ordem dos 750 mil euros, no apoio a eventos desportivos.

Na décima edição do Pauleta Azores Scoccer Cup, que vai ter como tema “Enjoy the Game”, está prevista a participação de 170 jogadores e mais de 200 elementos do staff e equipa técnica.

Como novidade, o torneio vai contar com uma vertente solidária através da criação de uma corrida/caminhada onde o dinheiro das inscrições vai reverter a favor da Seara do Trigo, uma IPSS que presta serviços terapêuticos, pedagógicos e assistenciais a jovens com deficiência mental. A prova decorre do dia 1 de junho.

O torneio decorre de 8 a 9 de junho e vai ter a participação do Paris Saint Germain, Escola de Futebol Pauleta, Raptors FC, Sporting Clube de Portugal, Sport Lisboa e Benfica, Futebol Clube do Porto, Club Sport Marítimo, Sport Clube Lusitânia, Clube União Micaelense e Azor Sports Club.

“A minha maior alegria é ver as crianças a correr atrás de uma bola”

Abriu uma escola de futebol na ilha de São Miguel que já conta com 400 atletas. Pedro Resendes, mais conhecido como Pauleta, aposta na formação dos mais novos há quase duas décadas. Em entrevista ao Diário da Lagoa, falou do seu longo e importante percurso no mundo do futebol, nacional e europeu e do que espera para o futuro

Pedro Resendes tem 50 anos e nasceu na freguesia de S. Roque, na ilha de S. Miguel © ACÁCIO MATEUS

DL: Como começou o seu percurso no futebol, recorda-se?
Perfeitamente. Ainda há coisa de um mês ou dois estive aqui com a pessoa com quem tudo começou, o senhor João Bosco, foi na comunidade de jovens de São Pedro quando eu tinha nove anos. Eu jogava futebol na rua com os meus amigos, como toda a gente. Através de um amigo fomos experimentar a comunidade de jovens de São Pedro. Lá o senhor João Bosco era o treinador, o presidente, o roupeiro, fazia tudo, levava-nos no carro dele, num Citroen de dois cavalos. Nessa altura era aos nove anos que se começava.

DL: Quando ainda jogava nos Açores, sonhava em jogar num clube da primeira liga?
Sempre tive a ambição de ser jogador de futebol. A partir do momento em que saio do F.C. Porto e venho para cá, pensei que isso não fosse possível. O segundo objetivo era aquele que todos os açorianos tinham naquela altura, que era jogar num clube da terceira divisão e trabalhar durante o dia. Trabalhava numa empresa de distribuição e à noite jogava no Santa Clara, joguei no Operário, no Angrense, União Micaelense, seis meses cada um, até que apareceu a oportunidade de ir para o Estoril através de um amigo meu.

DL: Como foi a sua passagem pelo Operário?
Foi muito importante. O Operário é um clube pelo qual eu tenho um carinho muito especial. Foram dois anos maravilhosos em todos os aspetos. Conheci colegas maravilhosos com quem fiz amizades fantásticas, jogávamos um futebol que não sei se o Operário voltou a jogar, fazíamos muitos golos, o estádio na Lagoa estava sempre cheio. 

DL: Como foi a experiência na primeira liga de Espanha no Salamanca?
Na minha carreira foi sempre tudo muito rápido. Eu era um miúdo que dois anos antes estava a trabalhar nos Açores a acartar caixas, jogava futebol em campos rolados e dois anos depois estava na primeira divisão do campeonato espanhol, como melhor marcador e a subir de divisão da liga espanhola. 

DL: Depois de Espanha, segue-se a França com o Bordéus. Como foi essa transição?
Foi uma opção de conhecer outro campeonato. Eu tinha acabado de ser campeão pela Corunha, que tinha comprado mais dois avançados. Aparece o Bordéus depois de um jogo que eu faço na Letónia, com a seleção. A proposta e as condições eram muito melhores do que as que eu tinha, era uma oportunidade de experimentar outro campeonato e foi uma opção.

DL: A sua ligação ao Paris Saint Germain ainda se mantém?
Sim, trabalho com eles várias vezes no ano, sou embaixador do clube, faço várias ações. Já se passaram 15 anos mas essa ligação ficou bastante forte, foi o clube onde passei mais anos, tenho um carinho por eles bastante especial e felizmente essa ligação continua.

DL: Depois vem a fase em que decide terminar a carreira no Desportivo de São Roque. Como é que se dá essa decisão?
O meu filho estava a jogar no Desportivo de São Roque quando veio para cá foi para os iniciados do clube e depois juvenis. O São Roque fazia a formação toda mas não tinha equipa sénior. Então eu disse ao Emanuel, o presidente da altura: “olha, vou-vos ajudar a fazer uma equipa sénior.” Para ajudar eu disse-lhe, “eu faço um jogo”. Depois faço três golos no primeiro jogo, entusiasmei-me um bocadinho, depois veio mais um jogo, quando dei por mim já ia para o terceiro jogo mas sabia que não era para continuar, era para dar aquele empurrão ao São Roque. Fomos três gerações: o meu pai, eu e o meu filho a jogar no clube da nossa terra.

Pauleta defedende que o “desporto e a educação têm de andar de mãos dadas” © ACÁCIO MATEUS

DL: Como é que surge a escola de futebol Pauleta?
Quando era miúdo, treinava no Relvão, em espaços muito reduzidos, as condições eram muito fracas na altura. À medida que fui atingindo certos patamares, sempre disse que gostava de abrir uma escola de futebol aqui. Falei com o Vítor Simas, que conheci no Operário e com que tenho uma amizade muito forte e disse-lhe: “olha vamos abrir uma escola, ficas tu responsável pela escola”. E foi esse o primeiro passo. Vamos fazer já 20 anos de existência em agosto de 2024.

DL: Está satisfeito, passados todos estes anos?
Sim, estou muito satisfeito. Olhamos para o projeto que vemos aqui e temos dois campos sintéticos, bancada, ginásio, salas, com todas as condições que acho que um miúdo tem que ter para fazer desporto. Felizmente nós temos essas condições e o sucesso está à vista. Para além das condições, tens de ter pessoas com capacidade para liderar essas crianças e aqui nunca fui atrás do verdadeiro treinador de futebol, mas da parte mais pedagógica, professores formados em educação física e desporto e isso tem sido muito importante. Temos tido um aumento de atletas, este ano chegámos às 400 inscrições. Nos Açores não há nenhum clube de futebol com esse número. Eu não estou aqui para formar jogadores nem para fazer novos ‘Pauletas’, como se dizia na altura, para mim isso é o menos importante. Se amanhã sair algum jogador da nossa escola, fico satisfeito. Depois daí juntamos a Fundação Pauleta a esse projeto, que era algo em que eu já fazia ações a nível individual. Com a Fundação, já fizemos ações nas ilhas todas, já fomos aos Estados Unidos, continente, e é uma forma de os miúdos verem o outro lado que é o solidário. 

DL: Não pensa criar uma equipa de futebol sénior?
Nunca devemos dizer nunca. Ainda não conseguimos abrir juniores. Traçamos um objetivo que passa por ter duas equipas de iniciados, duas equipas de juvenis para depois podermos abrir os juniores, porquê? Porque assim não vamos buscar ninguém a outros clubes. Quem quiser ficar, as nossas formações, continua. Mas sabemos que naquela idade dos 17/18 anos os miúdos vão praticamente todos para a universidade e só com uma equipa de juvenis, passando para juniores se consegue arranjar o número de jogadores suficientes para abrir o escalão acima. Em relação aos seniores, não me passa pela cabeça. A minha ideia é só mesmo a formação. 

DL: A minha geração e as anteriores cresceram a ver e a ouvir falar do Pauleta. Mas há muitas crianças de agora que não. Olhando para todo o seu percurso, que mensagem deixa aos mais novos?
A minha mensagem é sempre a mesma, é que eles se divirtam, que façam o que gostam, que estudem, que sejam bons alunos. As duas coisas — o desporto e a escola — podem-se conciliar. O desporto e a educação têm de andar de mãos dadas.

DL: Sente-se orgulhoso?
Sim, orgulhoso, de consciência tranquila e com o sentimento de dever cumprido. A minha maior alegria é ver as crianças a correr atrás de uma bola, saber quando têm de entrar em campo, quando é que têm de sair, a saber ouvir o treinador. Sinto um orgulho enorme em ver as crianças a fazer desporto porque são o futuro.