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Grátis? Só as Promessas!

“Quando se promete tudo de graça a todos, acabamos todos sem nada pagando tudo”

Hugo Almeida
Gestor Operacional
Coordenador Iniciativa Liberal Açores

Em cada ciclo eleitoral, e aparentemente o das autárquicas já se iniciou, assistimos ao desfile de promessas feitas pelos mais variados partidos e candidatos, muitas vezes repletas de um único denominador comum: é grátis. Mas o que se apresenta como um presente generoso para o eleitorado esconde um preço alto que todos, sem exceção, acabam por pagar.

Quando um político promete gratuitidade – seja em serviços, apoios, ou infraestruturas – é importante lembrar que o dinheiro para financiar tais medidas não nasce de uma árvore. Ele é retirado dos impostos pagos pela população, das empresas e da economia como um todo. E quanto mais prometem dar, mais pesado se torna o sistema. As verdadeiras vítimas de tais promessas acabam por ser aqueles que produzem, trabalham e empreendem, sufocados por uma carga fiscal exorbitante. Resumindo, o que é “dado de graça” pelo político são apenas algemas com embrulho.

Para agravar a situação, muitas vezes estas promessas exageram na intenção de agradar a todos, mas ignoram a sustentabilidade económica e a complexidade das soluções e, por consequência, comprometem o futuro, colocando um peso nos ombros das futuras gerações que não tiveram sequer a oportunidade de decidir ou tão pouco de se manifestar sobre o tema.

As promessas fáceis têm outra faceta perversa: estimulam a dependência em relação ao Estado. Quando tudo parece estar ao alcance com uma assinatura ou um subsídio, inibe-se o espírito empreendedor e a capacidade de criação de riqueza. Quem paga o preço dessa cultura do “grátis” é a sociedade como um todo, condenada a um crescimento estagnado e à ausência de inovação.

Quando é que rompemos com este ciclo perverso? Políticas que estimulam a liberdade económica, reduzem a burocracia e promovem a responsabilidade individual podem trazer muito mais prosperidade do que qualquer promessa de “oferta gratuita”. A verdadeira riqueza nasce quando as pessoas são livres para investir, construir e crescer sem serem sobrecarregadas pela intervenção excessiva do Estado.

Cabe ao eleitor olhar além das palavras e exigir propostas concretas, sustentáveis e alinhadas com os princípios de uma economia que privilegia o esforço e a criação de valor. Não é fácil resistir ao encanto das promessas gratuitas, mas apenas assumindo esta postura é que se poderá construir uma sociedade realmente livre, onde o progresso não dependa da boa vontade do poder público, mas da iniciativa de cada cidadão.

Grátis? Que fiquem só as promessas, porque os resultados dependem de trabalho, dedicação e liberdade para criar. É fácil, eficaz e Liberal.

Olhar A Poente

Alexandra Manes

 

Quando cai o dia para dar lugar à noite seguinte, e o incrível lusco-fusco ganha contornos únicos, entre o azul da manhã e o breu noturno, observo o crepúsculo da hora, através da paisagem que se ensimesma à frente de onde estou, do Porto Judeu para os Ilhéus das Cabras. Tomo a liberdade de perguntar a um grupo de pessoas que observa aquela visão ao meu lado. Questiono sobre que imagens associam à silhueta daquelas duas ilhotas irmãs, flutuando ao sabor da chegada da escuridão. E, numa questão de segundos, alguém responde, invocando a literatura e a ode literária, representada pelo chapéu do nosso querido Principezinho.

Essa tinha sido, também, a minha perceção, mas a minha primeira reação passou por questionar a lógica de pensamento subjacente a tal afirmação. Mas recuei, permitindo-me abalizar o que sentia na minha experiência profissional e no meu desenvolvimento pessoal. Nem sempre é de explicações que precisamos. Quantas vezes não precisamos apenas de uma oportunidade para pensar? Quantos dias da nossa caminhada não seriam mais fáceis se nos fosse dada a liberdade para sentir e ser sem ter que justificar quem somos?

Enfrentar esses desafios é um trabalho hercúleo, tantas vezes injustamente esquecido, e frequentemente abafado pelo barulho do trânsito e da azáfama da vida que se convencionou como quotidiana. Assim sinto o esforço do Sérgio Nascimento, e reconheço nele um mérito que me apraz valorizar nas primeiras linhas de 2025.

Sérgio foi (e sempre será) um dos dinamizadores da instituição “Olhar Poente”, organização que abre caudais de igualdade para todos os rios que correm da cabeça de crianças e adolescentes. Ali, as diferenças são apenas pontos de partida para a construção de pontes que ligam cada um desses rios, e forma um grande oceano com a sua complexidade inerente, mas assente na moral e no reconhecimento mútuo.

“Olhar Poente” celebrou recentemente quinze anos de existência, com a liderança do Sérgio e com uma equipa preparada, que é a sua maior aliada no desenvolvimento de um projeto visionário e inovador. Congregou trabalhadoras e trabalhadores, pais e mães de uma comunidade em expansão, edificando um sonho comum, de familiaridade pedagógica, verdadeiramente fora da caixa a que nos fomos habituando. Aquela é uma equipa que prepara e foca a inclusão com uma genialidade operacional que merece verdadeiro destaque.

Cada criança que por ali passa vai abandonar os conceitos adultos de discriminação e distinção classista. Cada pessoa que ali renasce, sabe que não é a cor de pele, nem a religião, muito menos a proveniência social, que nos separa. O que nos une é a liberdade do nosso pensamento, onde não é preciso motivo para justificar o que o nosso olhar interpreta em cada paisagem que observa.

“Olhar Poente” dinamiza um trabalho de valorização individual para a construção do coletivo. Aposta na formação, na qualificação e coesão da equipa, compreendo que essa construção permanente é essencial para o sucesso das múltiplas respostas necessárias para cada desafio que se levanta. A cooperação é o pilar fundacional para que cada criança entenda a comunidade em união e perceba que esse é o principal caminho para responder ao futuro.

Reconheço um esforço digno, partindo da freguesia da Vila Nova, na ilha Terceira, para abarcar grande parte do concelho da Praia da Vitória, criando espaços de aprendizagem onde o lúdico e o pedagógico se misturam e comungam em harmonia. Não falamos de caixas para acolher crianças, enquanto os encarregados de educação trabalham. Não se trata de uma prisão improvisada, na senda do que se ouve discutir em sede política. Trata-se de uma interação permanente, entre adultos e crianças, onde quem aprende também ensina.

A “Olha Poente” tem vindo a promover trabalho em vários projetos paralelos, conseguindo a criação de mais de sessenta postos de trabalhos, e de onde destaco «SOS Casa»,«Babysitting & Animação de Eventos», entre outros. Acrescem parcerias que permitiram aprofundar conhecimentos e promover partilhas em iniciativas como a da realização do «1.ºCongresso Insular Olhar o Futuro», que juntou especialistas nas áreas da Educação e da Saúde.

Recebeu várias distinções, entre elas a do Prémio «Healthy Workplaces», única existente nas Regiões Autónomas, e o Selo Protetor da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens, entregue pela primeira vez nos Açores.

Não me restam dúvidas acerca do mérito do trabalho promovido pela “Olhar Poente”, que foi agora novamente reconhecida, desta vez pela Junta de Freguesia da Vila Nova, enquanto entidade de mérito e excelência.

Num recente ato eleitoral, democrático, foram eleitos os novos órgãos sociais da instituição. Desta vez, caberá a uma mulher – Sandra Serpa -, o cargo de Presidente e a Francisco Melo o de Vice-Presidente.

Reconheço publicamente a determinação, força e dedicação da Sandra, a qual envolveu-se com esta instituição desde o seu início. O conhecimento, o pragmatismo, empenho e a sensibilidade em questões sociais do Francisco, bem como a disponibilidade de toda a equipa, estando convicta acerca do futuro da “Olhar Poente”, da continuação e expansão desta instituição.

É-me impossível mencionar todas as pessoas que fazem parte desta equipa por uma questão de espaço, mas Marina, Vânia, Josefa, Fabiana, Carlota, Gabriel, Valdemar e restantes, o V. trabalho é a felicidade de muitas famílias.

Ao Sérgio, que sempre reconheceu o esforço da equipa de trabalho, retomo as palavras de Antoine de Saint-Exupéry, para agradecer tudo o que foi feito, e afirmar que foi um espelho deste seu belíssimo pensamento: “As pessoas crescidas têm sempre necessidade de explicações. Nunca compreendem nada sozinhas e é fatigante para as crianças estarem sempre a dar explicações.”

Obrigada. Um abraço, para o Sérgio, para a Sara e para o Manuel, afinal foi a partir de um sonho familiar que tudo isto se concretizou.

Feliz 2025!

O ano da gratidão

Daniel Gonçalves
Escritor e formador

 

Começo agradecendo a oportunidade de escrever neste estimado veículo de comunicação outra vez. Fim de ano é sempre uma época de reflexão. Colocamos numa balança, ou deveríamos colocar, tudo o que aconteceu de bom e não tão bom em busca de um ano melhor, procurando concertar ou adaptar aquilo que pudermos. O que não podemos mudar deveríamos deixar para trás e buscar caminhos novos, pois, se queremos resultados diferentes, devemos tomar decisões diferentes. Mas, no balanço deste ano tenho muito mais a agradecer. Isto que quero compartilhar com vocês.

Como em primeiro lugar está sempre a minha família, a felicidade foi tremenda por ver nascer em outubro a nossa filha mais nova Ana Lua, mas, há sempre partes não tão boas. Apesar do excelente atendimento no Hospital de Angra, o parto foi complicado e tive medo de perder a mulher da minha vida e minha filha. Mas, no fim tudo foi benção e fui à Serreta a pé agradecer, o que me permitiu um maravilhoso momento de agradecimento e conexão com o meu amado Deus.

Quanto ao trabalho, estamos a fazer “horas do conto” na livraria Lar Doce Livro. Temos a liberdade de fazer algo que adoramos e do nosso jeito. Não apenas contar histórias com música e diversão, mas a ensinar de forma pedagógica e lúdica, não só as crianças, mas os pais a lidar com os sentimentos e dilemas da criação dos filhos. Esta prática nos enriquece e mantém acesa a chama do sonho de um dia ter nosso próprio ATL pedagógico, mas esses são planos para um futuro mais distante. O importante é ver minha esposa realizada ao fazer algo que ama e sabe fazer muito bem e ver as famílias entretidas e transformadas após cada sessão. Fica aqui um muito obrigado ao Joel Neto e sua esposa Marta pela oportunidade.

Vamos a mais uma parte não tão boa. Ainda estamos a tentar validar nossos diplomas de licenciatura e mestrado para dar aulas nas escolas. Fico muito intrigado em saber que estou quase a terminar o doutoramento em história, poderei ser professor na Universidade e dar aula para professores, mas meu diploma não pode ser usado para dar aula para as crianças. Acho que as leis servem à sociedade e sei que estão precisando de professores nos Açores, poderiam ao menos validar minha experiência profissional em escolas de excelência para poder concorrer em pé de igualdade nas vagas do Bepa. São lutas que devemos combater.

O livro infantil “nem de cá, nem de lá”, que escrevi com o apoio da CRESAÇOR, do Governo Regional e da Casa dos Açores do Rio de Janeiro (CARJ) foi e ainda é um sucesso, está a correr as escolas do arquipélago e ensinar a importância da emigração para as crianças açorianas como algo que faz parte do nosso ADN. De forma lúdica, os professores de cidadania têm agora um material didático para fazer chegar uma mensagem importante para o futuro dos Açores, de que somos todos imigrantes e emigrados, que devemos receber bem a todos nesta terra e lembrar que fomos para toda parte do mundo. Isso faz parte de nós. Falando em livro, acabo de terminar o próximo, sobre as sete décadas da Casa dos Açores do Rio de Janeiro, que teve o apoio financeiro da Câmara de Angra do Heroísmo e o apoio institucional da CARJ. Um lindo projeto que será lançado no ano que vem.

Ainda sou o açoriano com mais cargos institucionais pro bono no mundo. Sigo como Conselheiro da Diáspora, como Diretor de Relações Institucionais da Casa dos Açores do Espírito Santo e como Secretário da Associação dos Emigrantes Açorianos, cargos que me permitem representar os açorianos imigrantes no Brasil e os Emigrantes retornados para cá, não sou mais “Nem de Cá nem de lá” como no título do meu livro, sou de cá e de lá (próximo livro que vou escrever). Contudo, desde novembro não sou mais Diretor Cultural da CARJ, após 15 anos, o que me deixou pensativo… estou mesmo a deixar minha antiga vida para trás para assumir o meu lugar aqui na terra dos meus antepassados que escolhi viver e amar.

Este ano pudemos criar, a pedido do Centro de Qualificação e Emprego dos Açores, a mando do Dr. Acir, a quem também devo agradecer, o projeto AUTONOMIA. É maravilhoso ver seus frutos chegarem a todas as ilhas, ajudando os usuários do RSI a despertar qualidades e competências inatas, descobrirem-se menos dependentes do governo, valorizar seu contributo para a sociedade, acreditar novamente em si. É lindo ver a transformação de alguns que só precisaram de uma espaço seguro para se abrir, partilhar suas histórias (na maioria muito difíceis) e voltar a sorrir.

Por fim, o nosso trabalho na Rede Valorizar. Dar cursos de empregabilidade é transformador, não só para os alunos, principalmente para nós. Vê-los desabrochar, ter gosto em aprender novas técnicas, refazerem não só os currículos, mas a vida e construir um futuro melhor para suas famílias. O trabalho é árduo, mas realizador. Agradeço a “chefinha” Claudia por todo o apoio e confiança em nós. Agradeço o convívio e a amizade da Rute, Manuela, Carla e Leocádia. Sem vocês não conseguiríamos nos estabelecer aqui. A oportunidade de um emprego é muito importante, mas a amizade e o cuidado é que nos fortalecem.

O emprego na Rede levou-me a um convite da Cáritas para dar formações no estabelecimento prisional. Lá eu tento levar não só conhecimento, mas esperança. Mas, quem saiu ganhando fui eu. Em uma área profissional que não permite acumular tesouros, relembrei os motivos pelos quais sou apaixonado por educação e pelo seu poder transformador. Recentemente encontrei um ex-aluno recém liberto. Estava cheio de vida, reinserido na sociedade. Espero, de coração, que todos eles não sejam julgados por nós. Pois já passaram pelo julgamento do tribunal, pagaram sua pena e conquistaram um lugar de equidade ao nosso lado.

Termino por onde comecei, pelo mais importante. Agradeço a tudo que minha esposa Monique aceitou enfrentar, a minha filha Maria Flor por todo o amor que me dá, a minha mãe que veio nos apoiar, aos meus sogros pelo mesmo esforço. Agradeço todo o acolhimento que tive da minha família de cá, dos tios, primos e sobrinhos, e aos novos e verdadeiros amigos. Sem vocês nada faria sentido. Não conseguiríamos e nem teríamos vontade de conseguir. Obrigado a todos por todo este belo 2024. Foi incrível poder fazer tantas coisas, experenciar tantas outras, crescer como profissional e como ser humano. Obrigado aos Açores e aos açorianos por nos acolher. E um 2025 mais maravilhoso ainda para todos nós.

O tempo costurado de vivências

Cláudia Ferreira
Escritora e biblioterapeuta

Gosto de pensar que as palavras conseguem mudar o mundo, ou melhor, o mundo de quem se permite transformar e de quem ousa submergir nas páginas dos livros. Já vejo 2024 de malas prontas para o passado. É certo que até ao dia 31 de dezembro, muitas vivências ainda surgirão, porque ainda existem linhas por preencher, mas a verdade, é que cada ano que passa é um capítulo que se fecha nas nossas vidas.

2024, foi o ano em que saí dos bastidores, onde muito se trabalha, e voltei a dar voz pela literatura e pela escrita, tendo recebido alguns convites que me fizeram ter ainda mais certeza que este é o meu caminho. Quem escreve, necessita de se refugiar numa espécie de floresta perdida, onde só existe o autor e o seu mundo imaginário. Porém, é nesta alienação que temos a possibilidade de recriar o que magicamos, pois a arte para ser verdadeira, tem que ser sentida por quem a produz, para poder fazer sonhar quem a contempla.

Também foi o ano em que passei a colaborar com o Diário da Lagoa, que desde logo me desafiou a partilhar a minha individualidade literária, onde posso promover a leitura, a biblioterapia e outros temas do meu interesse. Ler, é antes de tudo, desbravar novos caminhos e expandir horizontes. O hábito de ler formado desde cedo poderá ser um caminho às elucidações, permitindo um maior discernimento crítico, criando leitores de opiniões próprias que não aceita o mundo que lhe é impingindo pela sociedade. Ler, para mim, será sempre o nosso maior ato de liberdade, sendo uma ferramenta primordial para o ser humano poder posicionar-se no mundo.

A leitura tem inúmeros benefícios para o nosso desenvolvimento, sendo um deles a função terapêutica, que admite a possibilidade de a literatura proporcionar a pacificação das emoções. E é aqui que entra a biblioterapia, podendo-se dizer que é uma terapia por meio da leitura de textos literários, que resulta numa introspeção para o crescimento emocional e um melhor entendimento das emoções.

A biblioterapia é um projeto em maturação que iniciei este ano, onde tive a possibilidade de dinamizar alguns encontros sobre esta temática, cujo feedback dos participantes fizeram-me sorrir o coração. É algo ainda novo por cá e com forte potencial para criar raízes em quem participa. Quanto a isso, é um projeto que pretendo dar continuidade. O diálogo é o fundamento da biblioterapia, onde o pluralismo interpretativo dos comentários aos textos apresentados, permite que cada um manifeste a sua verdade e com ela ter a sua visão do mundo.

Também tive a possibilidade de regressar às minhas raízes, a convite da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, onde apresentei uma biografia histórica, Amélia de Leuchtenberg – Imperatriz do Brasil e Duquesa de Bragança, da autoria da investigadora Cláudia Thomé Witte. Igualmente gratificante foram os convites que surgiram por parte da livraria Letras Lavadas, um sítio onde se inspira a paixão pelo conteúdo literário.

Aproveito para agradecer a todas as pessoas pela confiança depositada em mim e no meu trabalho, mas também agradeço à vida, por todas as vivências que culminaram em aprendizagens. Termino estas linhas, deixando no ar uma réstia de esperança para 2025. “Não tenho a certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar” (Vincent Van Gogh).

Natal a milhas de casa

Afonso Montalto Cambim
Secretário Coordenador da JS Angra do Heroísmo
Membro do Secretariado Regional da JS Açores

Para muitos estudantes açorianos deslocados no continente, o Natal é mais do que uma época festiva. É uma oportunidade rara de regressar a casa, abraçar a família e reconectar-se com os amigos. No entanto, para um jovem estudante em Lisboa, como eu, este ano, esse regresso parece mais um sonho distante do que uma realidade alcançável.

A política de mobilidade aérea, outrora um alívio para nós, tornou-se um fardo. O teto máximo de 600 euros imposto no Subsídio Social de Mobilidade significa que, para além do custo já elevado da vida em Lisboa, somos agora obrigados a enfrentar a possibilidade de suportar despesas adicionais que excedem, muitas das vezes, a capacidade financeira dos nossos pais. Entre rendas exorbitantes, despesas universitárias e o orçamento apertado de um estudante, 900 euros por uma passagem de ida e volta é simplesmente incomportável. E, mesmo com o reembolso, o sistema exige que seja pago o valor total no momento da compra, algo que muitas famílias não conseguem suportar.

Este modelo de mobilidade, que deveria garantir igualdade de acesso às viagens, falha redondamente em momentos de maior procura, como o Natal. A falta de voos disponíveis agrava ainda mais a situação. Planeei com meses de antecedência, mas os lugares esgotaram-se rapidamente e, com isso, os preços dispararam. Este preço atualmente praticado não é comportável para a maioria das famílias Açorianas e os estudantes que se encontram deslocados não podem ser forçados a abdicar de passar o Natal com a sua família.

A situação não é apenas uma questão económica. É um ataque direto ao nosso direito à mobilidade e, em última análise, ao nosso direito de estar com as nossas famílias em momentos importantes. Somos estudantes que, mesmo a milhares de quilómetros de casa, carregamos os Açores connosco. Devemos ser vistos como um investimento no futuro do arquipélago, e não como um número estatístico a ser ignorado em nome de políticas mal concebidas.

Ficar longe de casa neste Natal é uma realidade que eu, e muitos outros estudantes açorianos, podemos ser forçados a aceitar. Mas esta situação não pode continuar a repetir-se. Pedimos apenas o que nos é de direito: a possibilidade de regressar ao nosso lar, ao nosso refúgio, sem que isso signifique sacrificar o pouco que temos. O espírito de Natal, afinal, começa com a esperança de que as coisas podem e devem melhorar. Esperemos que o próximo ano nos traga essa mudança tão necessária.

Uma Paz Podre: O Peso das Dependências na Juventude Açoriana

Paula Catarina Andrade

A problemática das dependências nos Açores, particularmente o consumo de Novas Substâncias Psicoativas (NSP) entre os jovens, expõe uma realidade inquietante: uma “paz podre”. Por detrás da aparência de estabilidade, esconde-se um sistema que falha em responder a um problema que cresce silenciosamente. Apesar das estruturas institucionais e das promessas políticas, a eficácia das intervenções tem sido insuficiente.

Este não é apenas um problema das autoridades; é um problema da sociedade civil como um todo. A solução passa pela superação de interesses partidários, que frequentemente paralisam ações conjuntas e integradas. As dependências não podem ser tratadas como armas de arremesso político, mas como uma emergência coletiva, que exige uma resposta articulada entre o governo, organizações não-governamentais, a comunidade científica e os cidadãos.

Nos Açores, a juventude encontra-se numa situação de vulnerabilidade alarmante. As NSP, acessíveis e produzidas clandestinamente, capturam jovens à procura de formas de aliviar a pressão social e emocional. Infelizmente, em vez de oferecer uma saída, estas substâncias reforçam o ciclo de marginalização e deterioração da saúde mental. Este problema afeta diretamente o maior ativo da Região: o seu capital humano. Se os jovens, que representam o futuro, não forem protegidos e capacitados, o desenvolvimento social, económico e cultural dos Açores ficará comprometido.

A aposta na qualificação da juventude e na criação de condições que favoreçam a sua fixação na região é crucial. Melhorar as condições de vida passa, não só, por proporcionar mais oportunidades de emprego e educação, mas também por assegurar infraestruturas de apoio, redes de saúde mental eficazes e medidas de incentivo para que os jovens construam o seu futuro nos Açores. É imperativo criar um ambiente onde a juventude não só se sinta valorizada, mas também segura e integrada.

Ao mesmo tempo, há uma desconexão entre as políticas regionais e os instrumentos financeiros disponíveis, como os fundos comunitários e os planos de ação da União Europeia. Apesar de existirem recursos específicos para o combate às dependências, os Açores têm falhado em utilizá-los de forma eficaz. Isto demonstra que o problema não é apenas técnico, mas também político, marcado por uma aparente despriorização deste flagelo social.

A Direção Regional de Prevenção e Combate às Dependências e a Task Force Açores simbolizam os esforços regionais. Contudo, enfrentam limitações graves, desde a escassez de recursos até à falta de poder executivo para implementar mudanças significativas. Estas estruturas acabam muitas vezes reduzidas a meras entidades consultivas, incapazes de transformar recomendações em ações concretas.
Enquanto isso, a opinião pública observa, cada vez mais descrente, o fracasso das políticas existentes. Os jovens dependentes enfrentam listas de espera para acesso a Comunidades Terapêuticas, muitas vezes fora da região, e os programas de reintegração social são fragmentados e insuficientes. Não existem planos verdadeiramente integrados, nem o compromisso político necessário para implementar ações consistentes.

Urge superar a lógica das partidarizações e adotar uma abordagem concertada e integrada. Não é apenas uma questão de tratar as dependências, mas de prevenir, educar e reintegrar. É preciso apostar na formação de equipas multidisciplinares, reforçar as Redes Locais de Intervenção e priorizar a aplicação de fundos comunitários.

Além disso, é essencial retomar iniciativas como o inquérito escolar sobre comportamentos de risco, criando uma base de dados atualizada para ações de prevenção. Programas de duplo diagnóstico para jovens entre os 14 e os 30 anos devem ser implementados com urgência, abordando tanto as dependências como os transtornos de saúde mental.

A sociedade açoriana precisa de despertar para o facto de que este problema não será resolvido sem o envolvimento ativo de todos. A “paz podre” que prevalece nos Açores, sustentada por promessas vazias e soluções adiadas, só poderá ser transformada em progresso se houver vontade política e social de agir.
Se os jovens continuarem a ser negligenciados, a capacidade dos Açores de reter talento, inovação e dinamismo estará seriamente em risco. É tempo de construir um futuro onde os jovens não sejam apenas números em listas de espera ou vítimas da inação. Este é o desafio coletivo que a nossa geração deve enfrentar, sem divisões e com uma determinação renovada. A juventude açoriana merece mais do que promessas; merece ações concretas, integradas e eficazes, que devolvam esperança e assegurem um futuro digno para toda a região.

Solavancos de 24

Maria Chaves Martins
Licenciada em Direito

Estamos no último mês do ano de 2024 e é altura de fazer um célere balanço. Desde cedo ouvimos que a história é cíclica – que o é, e momentos históricos tendem a repetir-se, daí ser importante estudar e pensar os acontecimentos.

Assim, diria que o ano de 2024, tal como os seus antecessores, trouxe acontecimentos negativos e positivos, não só a nível regional, como a nível nacional e mundial.

Salvo melhor opinião – que todos têm e um “viva” à democracia por isto – diria que o incêndio do HDES foi o acontecimento mais negativo deste ano e talvez da década para a Região. Quanto tempo vamos levar a recuperar deste trágico evento e de que forma? Vamos aproveitar este trágico evento para o converter em algo “positivo”, tornando o Serviços Regional de Saúde altamente competitivo com recurso a tecnologia de ponta, atraindo profissionais altamente qualificados em colaboração com a Universidade dos Açores ou vamos estar reféns do habitual triste fado? Atento o histórico, volvidos sete meses há pouca esperança de um fenómeno “fénix” nesta matéria.

Em paralelo, diria que o incêndio na Madeira foi o evento mais negativo a nível nacional, sem prejuízo dos malfadados incêndios que decorram em Portugal continental. Para além da perda de património natural e da morte de animais, esse acontecimento deixou clara a importância de um serviço regional de proteção civil robusto que cumpra efetivamente a sua missão, altamente dependente dos bombeiros.

Por isso, é inevitável não lamentar a decisão dos partidos que compõem o Governo Regional dos Açores em chumbar a proposta do PAN/Açores para criação de um estatuto profissional para os bombeiros dos Açores. Apesar de ser cada vez mais evidente a importância da Proteção Civil, sobretudo com o avançar das alterações climáticas, parece existir uma tendência para negar o óbvio.

Por outro lado, é impossível negar o desencanto da vitória de Trump e do que este representa, e o quão percetível se tornou o facto de os EUA serem um negócio. Prova disso são as nomeações do futuro Presidente que tenta, a todo o custo, evitar a fiscalização do Senado.

É, também, difícil negar o impacte positivo dos jogos olímpicos deste ano: os mais ecológicos de sempre. Foram plantadas árvores para reduzir o calor da cidade, os menus eram sobretudo vegetarianos e veganos, onde eram utilizados produtos locais, como forma de reduzir a pegada de carbono. A par disso, apostou-se na energia renovável, sobretudo eólica e solar, e cerca de 95% das infraestruturas foram melhoradas e são reutilizáveis. LA pretende replicar – efeito contágio positivo. Oxalá tivessem tido a mesma obstinação com o rio Sena.

Por fim, não nos podemos esquecer que 2024 foi um ano de eleições em Portugal Continental, Madeira e Açores. Governos que caíram em 2023 e ressurgiram em 2024, mais ou menos estáveis. Nessas três frentes ganhou a democracia pluralista cada vez mais fragilizada por pensamentos com tiques ditatoriais nada progressistas, salvo as raras excepções de partidos, que defendem a natureza e o combate à emergência climática, o bem-estar animal, a igualdade de género, entre outros assuntos progressista que nos incitam a olhar para o futuro, como é o caso do PAN, representado nas três principais assembleias do país.

Não se deve colocar remendo velho em pano novo

Rúben Cabral
Deputado pelo PSD na ALRAA

O ano de 2024 na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores é um ano atípico, com a discussão de 1 Programa de Governo (PG) e 2 Planos e Orçamentos.

O primeiro Plano e Orçamento (PO) discutido, foi o que levou ao fim da governação em regime de duodécimos por consequência do maior partido da oposição ter votado contra o Orçamento para 2024 no fim do ano anterior.

Este ano, os partidos da coligação aprovaram diplomas importantes para os açorianos e muito mais podia ter sido feito, no entanto o PS que afirmava que a coligação ia ficar refém de “facistas” do Chega, sempre que teve a oportunidade de contribuir para aprovar medidas que não são de direita ou de esquerda – e que são importantes para os Açores –, optou pelo bota-abaixo. Preocupa-me, por isso, que no passado o PS não tenha demonstrado cultura democrática e que não perceba para que serve o parlamento. Os governos de maioria socialista eram uma espécie de proprietários únicos dos organismos públicos e quando o GRA de José Manuel Bolieiro apareceu com uma liderança que promove o diálogo, o PS mostrou-se incapaz de corresponder, sendo que falta ainda confirmar o que acontecerá com a sua nova liderança socialista, embora os sinais não sejam animadores.

Um sinal, triste, é o facto de Cristina Calisto, vice presidente do PS/A, que enquanto autarca nunca colaborou com o GRA de coligação, não mostrar sinais de mudar esse comportamento. Assim, ao assumir o seu lugar no parlamento sem mudar o seu comportamento em 180 graus, será só mais uma deputada no meio de 22.

Este comportamento promove a instabilidade, pois foi o PS que perdeu eleições e em vez de avançar para soluções novas nas suas propostas, passa a vida a fazer contas com um passado que eles próprios criaram. Isto provoca também desgaste, porque obriga a discussões presas ao passado em vez de avançar com ideias para o futuro.

Já no que diz respeito à Lagoa, 2024 não foi atípico somente pelas 3 eleições realizadas. O PO 2024 contemplava duas rúbricas absolutamente inéditas e especiais para o concelho, como a reconstrução da EBI de Lagoa e da requalificação da orla costeira da baía de Santa Cruz, o famoso e absolutamente necessário pontão.

No caso da escola, está em causa a conceção do projeto da construção de um estabelecimento de ensino novo. Já em 2024, foi apresentado o estudo prévio do projeto e foi informada a possibilidade das obras iniciarem no fim de 2025. Um compromisso inédito do GRA, tendo em conta que os governos anteriores insistiram em colocar remendos numa escola que se queria nova mas que deixou os utilizadores expostos ao amianto – substância com graves consequências para a saúde  –  até finais de 2020.

Relativamente à baía de Santa Cruz, após 24 anos de Câmara e de GRA da mesma cor e de várias promessas impossíveis de executar por serem discordantes do PDM, finalmente aquela zona vê inscrita uma rubrica para a conceção do projeto de construção de um pontão que protege a terra do mar e que vai oferecer condições para mais e melhores atividades lúdicas e económicas.

Por último, de realçar que ambos os debates e votações – PG e PO, realizaram-se sem qualquer deputado lagoense na bancada do PS, responsabilidade única e exclusiva deste mesmo partido, pois Cristina Calisto foi eleita para o cargo de deputada, mas a serventia ao PS continua mais forte do que o compromisso com os lagoenses e micaelenses em geral.

Aliás, pelo PS de Cristina Calisto a Lagoa continuaria a não ter a sua escola nova ou o pontão na baía de Santa Cruz, pois votaram sempre contra o PO.

24.2% representa pessoas

Alexandra Manes

A taxa de risco de pobreza permanece a mais alta do país. Não vale a pena dizer que baixou em 2023, quando quase um quarto das pessoas que moram nos Açores continuam à beira da fome e da falência. Não vale de nada virem os políticos anunciar que estão a conseguir baixar os números, quando se fala em dormir ao relento, e quando ir às compras é contrair dívidas.

A pobreza, o risco da mesma, e as consequências nefastas para a nossa sociedade, são reflexo de décadas e mais décadas de ingerência, mas são também o resultado de uma estratégia de perpetuação das classes baixas. Ao populismo, interessa manter uma fatia da população no limiar da desgraça, para poder vender votos a troco de um apoio ao medicamento ou de uma redução ilusória da idade da reforma, que pode bem só chegar no dia de São Nunca, de tarde.

Recuemos ao começo do ano passado. O escritor Joel Neto anunciou uma obra que alertava para a realidade da pobreza insular. Jénifer, ou a princesa de França. Interessante novela sobre as consequências de se viver pobre, num bairro imaginário, que poderia ser um de muitos que preenchem a realidade do nosso arquipélago. Um encontro entre o olhar de uma classe média cada vez mais elitizada, e uma criança inocente, vítima de ter nascido na casa errada, que só queria ser feliz.

Existem muitos mais casos desses do que gostaríamos de imaginar. Joel também foi vítima de uma política sistémica, de se varrer os pobres para debaixo do tapete. Foi agastado por alguns ataques infelizes, mas aguentou-se e manteve a sua postura de denúncia da arruinada realidade de algumas partes das nossas belas ilhas.

Contra amigos e camaradas de outros tempos, sublinhe-se. Não muito diferente foi a recente atitude de Paulo Jorge Ribeiro, num artigo de opinião publicado no Diário Insular, e que não posso deixar de elogiar, por não baixar os braços contra o extremar do neoliberalismo económico e moral. É de neoliberalismo que falamos.

Mais de um ano depois de Jénifer, um relatório do Serviço Regional de Estatística dos Açores, remete para os tais 24.2%, de pessoas em risco de pobreza, anunciando que se baixou cerca de 2%, que é como quem diz que não se baixou quase nada, e que ainda estamos muito longe da média nacional. E mesmo essa média não é famosa, nem deve ser motivo de orgulho. Basta haver uma família em risco de pobreza, para ser demasiado. E isso, começa nos gabinetes de gestão.

Politicamente falando, o neoliberalismo é um cancro que se espalha entre as altas estruturas do poder, e impede que sejam tomadas posições verdadeiramente úteis para o desenvolvimento de uma sociedade igualitária. É a partir desses tumores que a imoralidade se espalha à educação e à cultura, promovendo-se uma separação de classes, onde uns podem ter tudo, e outros não devem ter nada. Na saúde, essa distinção caminha para a sua construção, com a constante conversa de que precisamos de rever o sistema nacional. Pois precisamos! Precisamos de lhe dar condições para atender a todas as pessoas que precisam dele.

A pobreza é uma doença, daquelas que convém que não haja cura, para se poder continuar a vender medicação cara. Os partidos do arco da atual governação batem-se publicamente pelo apoio aos mais necessitados, mas depois reúnem à porta fechada com os grandes empresários, para organizar uma estratégia que mantenha uma boa parte das açorianas e dos açorianos amarrados a essa algema que é o mercado e a famosa mão invisível.

A coligação quer convencer o arquipélago com papas e bolos, mas os planos que afirmam preparar já deviam estar a ser aplicados e nem sequer são conhecidos. O que foi conhecido foi a sua postura perante os mais necessitados, votando a favor da tenebrosa medida do partido do senhor Ventura, para impedir que os mais pobres tenham acesso por igual à educação das suas crianças, construindo uma nova sociedade de classes, desde o nascimento, passando pela Creche, e até à prematura morte dos que vivem debaixo do risco dos tais 24.2%.

Não conheço a Jénifer, mas conheço demasiadas Jéniferes. Cresci numa ilha com problemas de igualdade económica e social. Cruzei-me com muitas outras realidades parecidas, em todas as ilhas dos nossos Açores. Vejo-a aumentar, com o cancro a espalhar-se entre nós. As gravatas que nos comandam assim o desejam. Mas não nos esquecemos de votar e de continuar a lutar, porque é preciso não esquecer o cântico negro, e saber que não é este o caminho pelo qual queremos ir.

Vamos falar sobre VIH/SIDA?

Maria João Pereira
Farmacêutica

De novembro azul a dezembro vermelho, a cor deste mês recorda-nos uma luta que transcende décadas: a consciencialização sobre o VIH/SIDA.

No dia 1 de dezembro comemora-se o Dia Mundial do Combate à SIDA, uma oportunidade para refletirmos sobre os avanços e desafios no combate à infeção pelo VIH.

Nos anos 80, quando a infeção pelo VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) foi descoberta, esta era considerada uma sentença de morte, devido ao desenvolvimento do Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, designado de SIDA. Hoje em dia, felizmente, essa realidade mudou devido aos avanços na ciência. Contudo, ainda há dois conceitos que geram confusão na sociedade: a diferença entre VIH e SIDA.

Ter uma infeção pelo VIH é diferente de ter SIDA. O VIH é um vírus com capacidade de atacar as células que defendem o nosso organismo contra infeções, deixando-o mais debilitado. A SIDA é o último estágio da infeção pelo VIH, em que as células capazes de nos defender de infeções deixam de conseguir proteger o nosso organismo e começamos a desenvolver novas infeções – as infeções oportunistas – infeções pouco comuns em indivíduos com o sistema imunitário saudável. Aquando do descobrimento do VIH, a deteção da infeção era muito tardia e daí que grande parte dos indivíduos infetados pelos VIH já tinham desenvolvido SIDA – é, em parte, que daí resulta a confusão entre os dois conceitos.

Atualmente, devido ao desenvolvimento em saúde e consequentemente ao desenvolvimento de terapêuticas dirigidas ao vírus, as pessoas infetadas com o VIH (designadas de seropositivas) têm uma vida perfeitamente normal e uma esperança média de vida semelhante à população no geral. Um indivíduo seropositivo que cumpra o regime terapêutico consegue diminuir a carga viral do vírus a níveis indetetáveis, o que significa que o vírus se torna intransmissível através de relações sexuais. A infeção pelo VIH passou de ser considerada uma doença terminal a uma doença crónica.

Apesar de todos os avanços em saúde e tecnologia, continua a haver novos casos diagnosticados diariamente.

Não, não é uma doença que só afeta “grupos de risco” mas sim comportamentos de risco. Nunca é demais alertar para as vias de transmissão, entre as quais, a relações sexuais sem o uso de preservativo, partilha de agulhas, transmissão de mãe para filho durante a gravidez, parto ou amamentação (quando não há acompanhamento médico), acidentes com materiais corto-perfurantes (no caso de profissionais de saúde, por exemplo). Por outro lado, o VIH não se transmite pelo toque, beijos, espirros, por partilha de talheres ou roupa de cama, partilha de quartos de banho ou piscinas, nem pelo contacto da pele intacta com fluidos corporais da pessoa seropositiva ou transfusões de sangue (atualmente, todo o sangue é testado antes de se realizar uma transfusão).

Ainda assim, o estigma persiste. Falar sobre o VIH/SIDA sem preconceitos é essencial para educar a população, desmistificar mitos e combater a discriminação. A informação é a nossa maior ferramenta de prevenção e apoio.

Neste dezembro vermelho deixo-vos um convite à reflexão: vamos transformar o medo e o preconceito em conhecimento e empatia. Juntos, podemos construir uma sociedade mais informada, inclusiva e solidária.