Encontramo-nos com Ana Paula Andrade no Conservatório Regional de Ponta Delgada numa tarde de sol. Enquanto procuramos uma sala disponível para a entrevista, com corredores repletos de histórias e de música, tanto crianças como antigos alunos paravam a professora para abraçá-la e eram, assim, recebidos com um sorriso rasgado e brilho nos olhos. Ao Diário da Lagoa (DL), começa por dizer que se considera “uma pessoa realizada”. Nasceu, em 1964, em Ponta Delgada, e desde cedo que sonhava ser pianista, tendo concluído o curso geral de música no Conservatório Regional para depois voar até Lisboa para estudar no Conservatório Nacional. Após cinco anos de estudos, regressou à sua ilha para uma carreira de sucesso. Desde 1989 que é professora de piano e análise e técnicas de composição no conservatório, onde também desempenhou o cargo de presidente do conselho executivo de 2004 a 2019, sendo também responsável pelo coro infantil desde 2003.
Ao nosso jornal recorda o seu percurso, reflete sobre o ensino e alerta para a necessidade de se investir na música para sermos “cidadãos mais completos”.
DL: É por gosto que está no ensino da música?
Sou uma pessoa muito feliz, sinto-me abençoada pela vida e por tudo o que tenho conseguido ao longo dos anos. Cada vez mais sinto que é um privilégio trabalhar naquilo que gosto. Claro que há condicionantes, pois no ensino há mais regras do que quando somos um artista que vive especificamente da arte. E tem que existir essa disciplina, mas estou dentro da área da música, onde gosto de ensinar e de estar rodeada de alunos, inclusive de antigos alunos que depois voltam para fazer uma visita e que depois dizem que nós professores fomos importantes para eles. Tudo isto faz com que seja uma vida muito cheia, repleta e rica.
DL: Na casa da sua avó havia um piano. A presença do instrumento influenciou-a?
Vivíamos com a minha avó e o piano estava lá, penso que foi decisivo. Na família não tínhamos profissionais da música, mas a música estava sempre presente. Antes de entrar para o conservatório fazia experiências no piano. A minha mãe perguntava-me sempre se eu queria ir para o conservatório e eu dizia que não, apesar de gostar e ir a concertos e das tais experiências, mas só aos nove anos é que ingressei no conservatório. Também pelo que me contou a minha professora de iniciação musical e de piano na altura, a dona Natália Silva — que foi uma das pessoas mais importantes na minha vida —, eu dizia sempre que queria ser pianista.
DL: Conseguia conciliar o ensino regular com o ensino artístico?
Sim. Na altura, entre 1970 e 80, existiam menos professores e alunos, a questão é que hoje em dia os alunos têm muitas mais atividades e ficam muito dispersos. Na minha geração não, pois quase não víamos televisão, nem havia jogos de computador, o que nos permitia ficar mais focados. Atualmente é mais difícil captá-los, sendo que há exceções e de uma maneira geral acredito que estejam aqui por gosto mas sinto que a aprendizagem do instrumento exige uma experiência, dedicação e organização extrema e os alunos hoje em dia estão muito dispersos por inúmeras atividades.
DL: Depois decidiu ir para Lisboa. Deixar a família, a realidade de uma ilha, para ir estudar e viver na capital foi um choque?
Foi um choque muito grande, não era como hoje em dia em que há internet. Lembro-me de chegar na varanda do lar e desatar a chorar. Mas tive a felicidade de encontrar uma colega daqui que já estava a estudar no conservatório nacional e que me acolheu. Depois fomos viver juntas noutra casa e aí iniciei uma vida nova. Fui abençoada porque os meus pais nunca me colocaram qualquer entrave, pois aceitaram a decisão e fui também muito apoiada pela minha professora Natália Silva. Era para ficar três anos em Lisboa e acabei por ficar cinco. Durante esse tempo tive igualmente a oportunidade de trabalhar para me sustentar e fiz dois cursos, tendo concluído em 1988.
Recordo-me que o que mais custou foi voltar para Lisboa depois do primeiro Natal. Liguei para a minha professora de piano, porque queria voltar para São Miguel e ela disse-me: “nem pensar, a tua vida é aí”. Dou graças a Deus por isso, pois os professores do ensino artístico são muito mais do que professores, são família.
«(…) quando vemos estes resultados
ANA PAULA ANDRADE
sentimos que é possível
(…) é preciso ter talento, trabalhar muito,
ter espírito de entrega,
acreditar que se é capaz.
Se é esse o desejo, nunca desistam,
é preciso é crer.»
DL: Ao chegar ao conservatório regional verificamos que está cheio de alunos. Há um aumento de inscrições no ensino artístico. Como encara este facto?
Fico muito feliz. Aliás, sempre defendi que o ensino artístico e a cultura estão ligados. Tem que ser obrigatoriamente parte integrante da vida de um cidadão o mais cedo possível. Nem todos podem integrar o ensino especializado, nem conseguimos receber toda a gente, mas no ensino regular sempre foi obrigatório a partir do segundo ciclo, o que é muito tarde. Todos os alunos deviam ter, desde o pré-escolar, um professor do ensino artístico específico da área. Para mim é um triângulo entre educação, cultura e ensino artístico. Tudo isto é que faz com que as pessoas possam tornar-se cidadãos mais completos. Pelo que me apercebi, o aumento pode levar a que se abranja o ensino artístico no primeiro ciclo, o que é excelente, pois revela a sensibilidade e o reflexo de que mudança passa exatamente por essa formação. Temos cerca de 500 alunos no conservatório, mas não podemos pensar que todos vão ser músicos. Se 50 forem músicos profissionais, temos 450 que vão ser um público culto e mais sensível.
DL: Tem um projeto junto de uma escola. Pode contar-nos mais sobre a iniciativa?
Nos últimos anos, temos apostado muito em projetos em parceria com escolas do ensino regular para sensibilizar as crianças.
Eu tenho o projeto “Cantando é que a gente se entende” há cinco anos na Escola dos Milagres, na freguesia da Covoada, porque sempre gostei de alargar a música para fora de portas. É uma escola pequena, consigo numa manhã abranger todos os alunos. Não queria deixar ninguém de fora e tenho crianças desde o pré-escolar até ao quarto ano. É tão gratificante chegar lá e questionarem-me: “professora, vamos ter música hoje?” É a alegria deles ao perceberem que a música faz parte da formação e da escola, é isso que tenho pena que não exista em todas as escolas.
DL: Tocou em concertos no Coliseu Micaelense, no Canadá e nos Estados Unidos da América, entre outros. São boas recordações?
Muito boas recordações. Podia ter optado por ficar no continente, mas quando cheguei a Lisboa já pensava em regressar à minha terra. Sempre gostei do conservatório regional, é a minha segunda casa e família, por isso quis sempre continuar o projeto das minhas professoras. Quando cheguei cá havia falta de professores, por isso fiquei logo empregada. E, depois, ir tocar a Toronto várias vezes ou tocar como solista com a orquestra na Universidade de Massachusetts são oportunidades que se calhar no continente não conseguia. Aconteceu através das nossas comunidades e pelo facto de ter voltado para os Açores.
DL: É a professora que é hoje devido aos professores que a marcaram?
Sem dúvida. Nós procuramos o exemplo dos nossos professores e só tive bons exemplos. Quando tenho alguma situação mais delicada penso no que elas fariam se estivessem no meu lugar. Sou hoje em dia aquilo que sou graças aos meus professores. Em Lisboa também tive professores que me marcaram: o professor Christopher Bochmann, a Melina Rebelo e o compositor Joly Braga Santos. Inclusive fiquei mais um ano em Lisboa para trabalhar com ele — comemora-se este ano os 100 anos do seu nascimento. Foi tão marcante para mim esse último ano em que acabei por ficar quase como aluna privada dele. Aprendi imenso. Foi um compositor com um percurso fantástico que tem que ser divulgado. Os nossos professores são uma dádiva, temos um bocadinho esse dever de prolongar o que nos transmitiram.
DL: Considera que investir no ensino da música torna os açorianos mais felizes?
Sem dúvida. Eu costumo dizer que a música é boa em qualquer momento, até nos tristes podemos encontrar conforto. Obviamente que uma pintora dirá a mesma coisa e eu acredito que sim, pois todas as áreas artísticas são importantíssimas. Mas acho que é mais fácil chegar a todas as pessoas, mais rapidamente, através da música. E já se tem investido muito na cultura, mas há sempre muito mais a fazer. A minha preocupação é que haja oportunidade para todos desde pequeninos. Temos aqui cerca de 500 alunos, temos projetos que abrangem mais escolas ainda, há as filarmónicas que são excelentes escolas de música, mas custa-me ainda que exista alguns sítios onde a música não chega. Há muitos talentos escondidos e às vezes vemos crianças com muito talento e os pais não têm sensibilidade para perceber que devem ajudar, ou seja, tem que partir também do apoio dos pais, os professores não podem fazer isso sozinhos. Tentamos sensibilizar, mas alguns pais não sentem que é importante. Se houver um investimento total no ensino artístico desde cedo, cobrindo toda a gente sem exceção, muitos mais talentos vão aparecer.
DL: Para concluir. É possível um jovem açoriano sonhar com uma carreira artística?
Sim, cada vez mais. Nós temos muitos antigos alunos espalhados pelo mundo e alguns em lugares de destaque. Estamos num meio tão pequeno mas quando vemos estes resultados sentimos que é possível e que tivemos a capacidade de lhes dar as asas para voarem. Obviamente que depende da aspiração de cada um, é preciso ter talento, trabalhar muito, ter espírito de entrega, acreditar que se é capaz. Se é esse o desejo, nunca desistam, é preciso é crer.
A diretora e professora Ermelinda Medeiros recebeu o Diário da Lagoa (DL) e falou-nos sobre o modo de funcionamento da Associação, os desafios que carrega e a paixão de ensinar a música, que diz só nos “acrescentar mais” enquanto seres humanos. É com o seu coeso corpo docente, de 15 profissionais, a vontade de aprender dos seus alunos, o incentivo dos pais e o fundamental apoio da Câmara Municipal de Lagoa que tem vindo a registar um crescimento exponencial de ano para ano.
O funcionamento da AML determina-se por “várias valências”, assim como pelo desenvolvimento de “vários projetos”, tendo como foco principal a academia musical. A sua oferta consiste em duas vertentes: o curso livre e o curso curricular. Funciona “quase como uma escola” e abre portas a todas as idades, contando, atualmente, com uma faixa etária abrangente: dos três aos 79 anos de idade. “Já temos um grande leque etário, mas a nossa ideia é alargar e também diversificar os instrumentos.”, explica Ermelinda.
A formação musical, a música na infância, o ensino de instrumentos como o piano, guitarra e percussão e, ainda, as aulas de ballet, são algumas das modalidades disponíveis na Associação. “Os nossos alunos vêm para aqui para aprender e ao ritmo de cada um”, assegura ao DL.
Acolher as diferentes idades na academia musical abrange desafios diferentes, assim como o ensino da própria música, que “não exige só talento, mas muita prática”. Os mais pequenos, que englobam a maioria dos alunos inscritos, “têm o mundo todo para descobrir” e vêm com a inquietação de perceber o que mais os fascina dentro da área musical. Já os adultos que lá chegam, têm ideias mais claras daquilo que desejam fazer. A verdade é que a música tem uma grande importância para todos, “é uma área da vida tão importante, que só nos completa em todas as valências”, declara a professora. “e é por isso que temos o trabalho individual de aprendizagem e temos o conjunto. A música também trabalha o relacionamento.”
A professora Ermelinda refere a sua particular paixão em trabalhar com crianças “porque é a alegria nos olhos, é tudo pela primeira vez”. Refere que os desafios da sua profissão são compensados pela “injeção de vida” que os seus alunos lhe dão. Na Associação Musical, os docentes trabalham com amor por aquilo que fazem, explica-nos com orgulho a diretora, porque “a aprendizagem é uma fatia muito importante da nossa vida”. “Compete-nos a nós ir alargando o horizonte das crianças. Os pais já perceberam que isto é importante”, acrescenta.
A AML já conta com alunos que decidiram seguir uma carreira profissional na música. “Para a academia é um orgulho saber que estes alunos já passaram por aqui.”, diz.
A academia presta ao público as chamadas audições, onde procura que os seus alunos saiam da sua zona de conforto, do hábito de tocar apenas para os professores e pais. A apresentação ao público é só para aqueles que se sentem confortáveis em fazê-lo, “nós não os obrigamos, mas incentivamos”. Estar em palco e ter uma comunicação aberta é, também, algo a que a Associação Musical presta atenção. Não consideram que o seu objetivo seja a criação de espetáculos, exceto quando se trata do ballet, porque “já tem um caráter mais de espetáculo, com luzes, som e adereços”, mas que seja uma forma dos seus alunos saírem da sua zona de conforto e demonstrarem a sua caminhada.
No passado dia 14 de setembro, a AML realizou um atelier musical gratuito para aqueles que desejavam experimentar algum instrumento e/ou a classe de ballet. Os docentes demonstraram-se disponíveis, durante esta manhã de sábado, para guiar as crianças e adultos que os visitaram, pelos diversos instrumentos. O DL esteve presente e registou o entusiasmo de algumas das crianças. A pequena Valentina demonstrou grande interesse pelo violino, enquanto a Alice, assim como o Mateus, desejam começar a aprender piano. Era todo um mundo novo para estas crianças que declaram gostar “muito de música”.
É no dia um de outubro que a Academia Musical inicia este ano letivo. A quantidade de responsabilidades da construção de mais um ano de trabalho não é fácil, revela a professora, enquanto explica que a formação dos horários é um dos processos mais desafiantes “porque também dependemos da disponibilidade dos professores e dos alunos, daquilo que eles têm”.
A diretora indica-nos, como ideias finais, que o seu sonho, e o de todos os outros professores, é que a Associação se mantenha e cresça, ainda mais, ganhe mais notoriedade, melhores condições e que os seus alunos “levem a música para a vida”, conclui.
Este ano, as ilhas de Santa Maria, São Miguel, Terceira, São Jorge e Pico já apresentaram programação para celebrar o Dia da Viola da Terra, segundo nota de imprensa da associação MiratecArts.
Em Santa Maria, quarta-feira, é no Atlântida Cine Centro Cultural com uma exposição dedicada à viola, mesa redonda “A Viola da Terra, tradição e entidade”, subindo ainda ao palco os jovens marienses, Engengroaldenga, lê-se.
São Miguel, no dia 2, com a Associação de Juventude Viola da Terra, que leva a exposição “Violas dos Açores” ao Auditório Municipal da Povoação, aliada a um concerto musical que inclui Raquel Dutra, Duo Toadas e convidados. O programa continua, no dia 5, na ilha verde, com o concerto “2 Corações – A Viola que nos Une” no Teatro Ribeiragrandense, promovido pela Fundação INATEL. O músico Rafael Carvalho leva a viola por várias escolas da ilha e o construtor Hugo Raposo está com a sua oficina de portas abertas no centro de Ponta Delgada.
A ilha Terceira, através da Sons do Terreiro – Associação Cultural, celebra o dia com trabalho didático no Conservatório Regional de Angra do Heroísmo, estendendo o programa para o dia 4, com “Roda de Viola”, o encontro de tocadores de Viola, na sede do Grupo de Baile da Canção Regional. Ainda no dia 11, no Auditório António Dacosta, na Escola Tomás de Borba, acontece o concerto do duo mariense Engengroaldenga, explica a mesma nota.
O construtor Raimundo Leonardes participa na programação escolar na EBI do Topo, e a sua oficina, localizada nesta freguesia em São Jorge está de portas abertas a partir das 15h00 no dia 2 de outubro, para acolher os mais curiosos.
Na ilha do Pico, o Festival Cordas arranca a 1 de outubro, com convite a todos os tocadores de Viola da Terra participarem no evento de abertura, na Biblioteca Auditório da Madalena; dia 2 é dedicado a visitas às escolas por Marcos Fernandez e a Viola dos dois corações. No dia 5, o Auditório da Madalena acolhe a Viola Terceirense de Bruno Bettencourt, entre outras manifestações de celebração com a Viola da Terra, conclui o comunicado da MiratecArts.
Desde 2019 que se comemora o dia 2 de outubro como o Dia da Viola da Terra, tendo sido oficializado em 2023 por Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.
O Teatro Micaelense celebra o Dia Mundial da Música, a 1 de outubro, com o Conservatório Regional de Ponta Delgada (CRPD) e com um filme-concerto de Ryuichi Sakamoto, de acordo com nota enviada pelo Teatro Micaelense.
O espetáculo começa pelas 18h00, com “Música & Diálogo” com o Conservatório Regional de Ponta Delgada, “que se une ao Teatro Micaelense para celebrar a música e o seu valor como poderosa ferramenta na educação, inclusão e bem-estar emocional”, lê-se.
Segundo o mesmo comunicado, nesta primeira parte, vai ser possível desfrutar de pequenos momentos musicais, interpretados por alunos e professores do CRPD, e de um espaço propício ao diálogo, onde a audiência vai ser desafiada a refletir sobre a importância do ensino da música no desenvolvimento e transformação da sociedade. Este encontro vai culminar com um momento musical comunitário onde todos têm a oportunidade de participar. A entrada é gratuita, mediante levantamento de bilhete na bilheteira o Teatro Micaelense.
Às 21h00, é exibido o filme concerto “Ryuichi Sakamoto – Opus”. A 28 de março de 2023, o compositor japonês Ryuichi Sakamoto faleceu, depois de uma batalha contra o cancro. Nos anos que antecederam a sua morte, Sakamoto não pôde tocar ao vivo. Tanto os concertos como as longas digressões mundiais eram demasiado desgastantes. Apesar disso, no final de 2022, Sakamoto reuniu as suas forças para deixar ao mundo um último concerto: apenas ele e o seu piano, lê-se,ainda, na mesma nota.
Com curadoria do próprio Sakamoto, as vinte peças escolhidas narram sem palavras a sua vida através da música. A seleção abrange toda a sua carreira, do período da Yellow Magic Orchestra às bandas-sonoras de filmes ou ao seu álbum mais meditativo, 12. ” Ryuichi Sakamoto – Opus”, realizado pelo seu filho, Neo Sora, é uma celebração da vida e o canto definitivo do cisne do querido mestre. Os bilhetes têm um preço de 4 euros e estão à venda na bilheteira ou online.
O Dia Mundial da Música comemora-se anualmente a 1 de outubro. Esta data foi instituída em 1975 pelo International Music Council, uma instituição fundada em 1949 pela UNESCO, com o objetivo de promover esta arte em todos os sectores da sociedade, divulgar a diversidade musical e incentivar a partilha de experiências.
Nos próximos dias 8, 9 e 10 de agosto, a Orquestra Sinfónica Juvenil de Lisboa vai atuar em três locais distintos de Ponta Delgada, completando assim mais um estágio artístico no concelho, segundo nota de imprensa da autarquia.
Os concertos vão ter lugar, respetivamente, na Igreja de Nossa Senhora da Apresentação nas Capelas (20h30), no Largo do Coreto nas Sete Cidades (20h00) e, por último, no centro histórico de Ponta Delgada (21h00).
Há mais de 30 anos que, no decorrer do verão, a Orquestra Sinfónica Juvenil realiza formações na Região Autónoma dos Açores.
A organização deste evento está, simultaneamente, a cargo da autarquia e da Associação de Antigos Alunos do Conservatório Regional de Ponta Delgada.
Christophe Bochmann é o maestro titular da orquestra, já tendo arrecadado altas distinções como é o caso da Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura e o título de Officer of the Order of the British Empire, concedido pela Rainha Isabel II.
Segundo o seu site oficial, a Orquestra Sinfónica Juvenil é hoje reconhecida por ser uma instituição direcionada para a vertente músico-pedagógica, desempenhando um papel importante na formação de jovens.
Tendo nos seus quadros 70 elementos de diversas escolas de música de Lisboa, o seu repertório inclui mais de 800 obras criadas entre o século XVII e o século XXI.
Desde a sua fundação, em 1973, já aturam em paises como a Grécia, China, Macau, Índia e Espanha.
O Salão Nobre da Junta de Freguesia da Fajã de Baixo recebeu o “Sarau Musical – Viola da Terra e Banjo”, no passado dia 30 de Abril. O Serão iniciou-se com a apresentação da Escola de Violas da Fajã de Baixo, com a participação de 12 alunos, divididos por 4 turmas, tendo começado os mais novos, Alice e Rodrigo, de 11 anos, e finalizado com a “turma sénior”, segundo nota remetida pela Associação Viola da Terra
O convidado da noite foi Matt Morelock, músico profissional, compositor, produtor de eventos, natural do Tennessee, que apresentou o Banjo, tocou e cantou algumas músicas tradicionais e originais e falou das técnicas de execução. Para além disso, tocou uma peça com o “jaw harp” (berimbau de boca), refere ainda o comunicado.
A fechar o serão, o músico juntou-se ao professor Rafael Carvalho, responsável pela Escola de Violas da Fajã de Baixo, para tocarem algumas peças em duo. Desde o nosso “Pezinho Velho” e “Fado Corrido”, passando por “Rocky Top”, uma das músicas mais conhecidas do estado de Tennessee, e ainda um original.
Segundo a Associação Viola da Terra, “esse duo, quase improvisado, de Viola da Terra e Banjo, terá sido, provavelmente, a primeira vez que aconteceu numa apresentação em palco, com a nossa Viola a continuar o seu percurso de abraçar outros instrumentos que nos visitam como tem acontecido, especialmente, na última década e meia. Neste caso, aproveitando a visita à Ilha, por parte do músico dos Estados Unidos e a sua disponibilidade para fazer uma apresentação para alunos e público em geral”.
Para a associação, “estes eventos têm essa importância fundamental de motivar os alunos a se empenharem na sua apresentação musical e a trazerem outros músicos e outras sonoridades que os ajudem a crescer no seu percurso musical. Tem sido esse o propósito e missão da Associação de Juventude Viola da Terra desde a sua fundação e que contou, mais uma vez, com a importante colaboração da Junta de Freguesia da Fajã de Baixo”.
A Escola de Violas da Fajã de Baixo vai agora preparar a sua apresentação de final de ano lectivo que deve decorrer no início de Junho, revela a associação. A par da Escola de Violas da Ribeira Quente, são estas as duas escolas de São Miguel direcionadas para o ensino da Viola da Terra, conclui a mesma nota.
Luís Paulo Moniz, 31 anos, é funcionário da Secretaria Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública. Mas é no tempo que lhe sobra que se sente realmente realizado. É maestro da Filarmónica Estrela D’Alva da freguesia de Santa Cruz, na Lagoa, e músico desde os oito anos na banda onde começou por tocar saxofone. É também professor de acordeão e saxofone na Associação Musical de Lagoa e foi maestro da Orquestra da Lagoa no âmbito das comemorações dos 500 anos do concelho, uma experiência que diz ter sido “muito bonita e uma mais-valia sobretudo para os jovens”.
O interesse pela música surge por influência do pai que era saxofonista e tenor. Luís Paulo está, assim, na Estrela D´Alva há 23 anos, dos quais quatro como maestro.
O antigo maestro, Paulo Gordo, quando regressa à sua terra natal faz o convite ao músico lagoense porque considerava que se tratava de “uma das pessoas com mais formação na filarmónica para dar continuidade ao seu trabalho”.
O atual maestro da Estrela D´Alva cumpriu formação no Conservatório de Ponta Delgada, entre os seus 11 e os 19 anos.
“Foi um pouco difícil conciliar os estudos, mas consegui”, diz Luís Paulo Moniz, ao Diário da Lagoa (DL), quando confrontando com o grau de dificuldade em conciliar o ensino regular com o musical.
Luís já compôs várias músicas para a filarmónica, as chamadas “marchas graves, de desfile” e outros arranjos musicais.
É autor da marcha “Homenagem a Santa Cruz” e de um tributo ao presidente da Assembleia da Estrela D’Alva, António Augusto Borges. Na gaveta tem “mais marchas que ainda não saíram” e que “estão guardadas”, conta ao DL.
Relativamente ao balanço que faz dos quatro anos de maestro diz que é “muito positivo” e que “houve crescimento tanto a nível musical como a nível de jovens na filarmónica” que muitas vezes desafiava a experimentar o mundo da música ao cruzar-se com eles na rua.
Atualmente a banda de Santa Cruz é composta por 18 jovens, entre outros músicos mais velhos como o presidente da banda, João Arruda, o músico Carlos Raimundo e o seu contramestre António Ventura.
Para este ano, avizinha-se muito trabalho com “as domingas do Espírito Santo” e outras procissões que se começam a realizar até ao verão, época alta das atuações da filarmónica.
Vão participar nos tradicionais impérios, nas marchas populares e em setembro a Estrela D´Alva vai realizar uma viagem à ilha da Madeira num intercâmbio com a banda de Santa Cruz da Madeira.
Ao nível de apoios para as filarmónicas no concelho diz: “não nos podemos queixar, tanto em relação à Junta de Freguesia como à Câmara Municipal”. Da autarquia explica que a filarmónica recebe “cinco mil euros, o que é muito bom comparado com outras autarquias. A nossa vê as nossas filarmónicas como escolas. Somos instituições centenárias”, sublinha o maestro.
Enquanto maestro, a sua preocupação e desafio “passa por tentar tirar os jovens de casa, onde passam muitas horas ao computador e outros em maus caminhos”. Luís Paulo diz que é importante os jovens socializarem e revela-se “otimista” porque estão a trabalhar em conjunto e enquanto grupo estão a “ganhar uma nova vida”.
Questionado sobre o que falta ainda fazer, diz que a “sede precisa de uma reforma” e que já fizeram um “pedido à Secretaria das Obras Públicas” porque precisam de “fazer um tratamento acústico do espaço”.
As fardas são também outro desafio em termos de investimento porque “os jovens estão em crescimento e depois no ano seguinte as fardas já não servem, sendo difícil de gerir”.
Por fim diz que “aprender a tocar um instrumento musical é uma arte e uma das melhores coisas que existem”. Para o maestro lagoense “nunca é tarde para aprender” pois “a música faz parte de todos e saber tocar é melhor ainda porque é uma linguagem universal.” Quando questionamos sobre a possibilidade de experimentar outros voos, remata sem hesitar e com um brilho nos olhos: “já recebi convites mas estou na minha banda do coração, não a troco por nada”.
Inserido nos 50 anos das comemorações do 25 de abril, a câmara da Lagoa irá realizar esta quinta-feira, 21 de março, o seu segundo evento no Cineteatro Lagoense Francisco d’ Amaral Almeida. Segundo a autarquia, a iniciativa surge de uma parceria com a Associação de Fotógrafos Amadores dos Açores (AFAA).
O programa é composto pela apresentação do filme «25 de abril de 1974 – quinta-feira», da autoria de Alfredo Cunha e com música de Rodrigo Leão criada para o momento. Após a projeção do filme, haverá um momento de conversa com o autor, onde os presentes poderão colocar perguntas ou fazer partilhas com o fotojornalista. Após este momento o palco do Cineteatro Lagoense recebe o momento musical «Cravos na Voz», pelo Grupo de Cantares Tradicionais de Santa Cruz, onde ecoarão várias músicas relacionadas com o 25 de abril.
A autarquia da Lagoa e a AFAA, em comunicado, sublinham que “acreditam que este será um evento marcante, que dá a oportunidade de os presentes privarem com um dos grandes nomes da fotografia do nosso país, responsável por algumas das fotografias mais marcantes do dia da Revolução, sendo da sua autoria a fotografia icónica de Salgueiro Maia.” Por outro lado, ao incluir no programa um momento musical protagonizado pelo Grupo de Cantares de Santa Cruz, a autarquia lagoense diz que se reforça “a importância que a música teve como forma de intervenção, além de envolver um grupo local num evento que se quer com e para a comunidade.”
Alfredo Cunha nasceu em Celorico da Beira, em 1953. Em 1970, iniciou a sua carreira profissional em fotografia e, em 1971, entrou no jornal «Notícias da Amadora». Desde então, tem colaborado com muitas publicações, como «O Século», o «Público» ou o «Jornal de Notícias», tendo exercido em algumas o cargo de editor de fotografia. Foi fotógrafo oficial dos presidentes da República Ramalho Eanes e Mário Soares, recebendo a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, em 1996. É autor das séries fotográficas dedicadas ao 25 de Abril de 1974 e à descolonização portuguesa, entre outras. Já publicou dezenas de livros de fotografia e apresentou dezenas de exposições, tendo recebido vários prémios e distinções pelo seu trabalho.
O Grupo de Cantares Tradicionais de Santa Cruz (GCTSC) foi fundado a 26 de dezembro de 1996, surgindo a partir de uma iniciativa espontânea de um grupo de santacruzenses, por altura das festividades natalícias. O seu objetivo inicial foi dar um colorido especial ao Natal na Lagoa, promovendo a tradição antiga de desejar boas festas natalícias a amigos e familiares. A 14 de abril de 2000, deu-se a formalização do grupo, aquando da sua constituição como associação. Atualmente, o grupo é composto por 40 elementos, tendo como diretor Artístico Álvaro Cabral e presidente Fernando Jorge Moniz. Todos os anos, o GCTSC promove um concerto no âmbito das comemorações do 25 de abril, evocando músicas de intervenção.
A banda açoriana Crossfaith regressa aos palcos para comemorar os seus 20 anos. Vai apresentar-se em concerto ao lado dos Morbid Death, a 22 de março, no Teatro Ribeiragrandense.
Este evento dará arranque à “Tour Crossfaith 20 anos”, que conta com o lançamento oficial do videoclip do single “GraveDiggers,” transmitido pela primeira vez no concerto, e com a participação especial dos “Morbid Death”, que este ano também comemoram os seus 34 anos, segundo nota enviada à redação.
Sobre a “Tour Crossfaith 20 anos”, Rui Sousa, membro dos Crossfaith, conta ao Diário da Lagoa que a banda tem já alguns concertos confirmados, e que a intenção é passar por todos os concelhos de São Miguel, e fazer alguns (concertos) “possivelmente fora da ilha.”
Revela ainda que o grupo tem novas músicas na manga e um novo álbum que ainda não foi lançado. “Queremos ver se nos últimos concertos da tour lançamos o álbum,” revela Rui Sousa, “ou, na pior das hipóteses, no início do próximo ano”.
Fundada a 2 de fevereiro de 1887, a filarmónica Estrela D’Alva é a instituição mais antiga da cidade da Lagoa, mas a longevidade da banda de música não faz perigar a sua sobrevivência a médio/longo prazo, pois a estrutura está alicerçada no binómio experiência/juventude.
Dos seus cerca de cinquenta músicos, muitos são jovens, mas também existem alguns mais antigos, como o presidente e músico, João Arruda, que recentemente completou as bodas de ouro de união à Estrela D’Alva.
Tinha apenas sete anos quando começou a tocar e nem precisou de se inspirar no filme ‘A fuga das galinhas’ para perceber que na banda estava ‘A fuga das vacas’.
“Fui pelas mãos de meu pai que era sócio da filarmónica. Naquela altura os pais levavam os filhos. Comecei naquelas lides aos sete anos”, recordou, reforçando a convicção de algo que já sabia ir gostar: “Antes de ir para a filarmónica já gostava daquilo porque meu pai tinha lavoura e era uma maneira de ao domingo não ir para as vacas”.
João Arruda começou por “tocar trompa” e mais tarde passou para trombone de vara, “instrumento que toco até hoje”, disse, orgulhoso, pois foi trombone de vara que tocou na Banda Militar quando ingressou no serviço militar obrigatório. “Foi uma fase da minha vida que para aperfeiçoar e a partir daí não mais mudei de instrumento”.
Fiel ao trombone de vara e à filarmónica Estrela D’Alva. “Nunca a troquei por outra”, assumiu, embora “de quando em vez tenha dado algum apoio noutras filarmónicas, o que ainda hoje acontece”, acrescentou.
De músico a presidente foi um instante. “Fui presidente durante quatro anos numa primeira fase, mas por motivos de saúde tive de parar. Voltei há cinco anos para a presidência. E aqui estou, a levar uma vida dedicada à música e dedicada também a todas as lides que uma filarmónica encerra”.
Todo esse trabalho foi reconhecido através da homenagem que lhe foi prestada e que o deixou “orgulhoso” porque “é um sinal de que as pessoas estão satisfeitas com o trabalho desenvolvido pela equipa que lidero, onde cada um dá o melhor de si. Sinto-me lisonjeado por isso”, disse.
Com 50 anos de casa, João Arruda já viveu de tudo na filarmónica e é com propriedade que opta por não traçar planos a longo prazo. “É muito complicado projetamos a longo prazo porque as pessoas estão cá por carolice e os jovens, a maior parte deles, estão de passagem porque ingressam no ensino superior, vão para fora e depois não têm como dar continuidade. Outros também têm trabalhos que não lhes permitem manter a regularidade desejada. Por isso, vamos andando dia a dia e projetamos o futuro a curto prazo”.
Uma coisa é certa: as dificuldades fazem parte da história da Estrela D’Alva. “Uma filarmónica é como uma família: tem momentos bons, outros menos bons, mas os bons superam os menos bons. Há alturas que as pessoas estão mais viradas para as filarmónicas, noutras alturas nem tanto, mas isso depende muito de como as coisas evoluem. Lembro-me que quando entrei estava a emigrar muita gente e as filarmónicas perderam músicos. Depois veio o futebol e houve nova dispersão. Agora estão a voltar porque há muitos jovens com mais formação, formação musical, que veem nas filarmónicas um complemento à aprendizagem”, vincou.
Apesar da evolução dos tempos, João Arruda não esconde a saudade dos tempos antigos. “Antigamente não tínhamos muita escola, aprendíamos com os senhores de mais idade e ia para casa do senhor Manuel Piques aprender solfejo. Os senhores António Correia, Manuel da Ponte e João Medeiros Gata eram os de mais idade com quem aprendíamos música na filarmónica. Naquele tempo saíamos de manhã e regressávamos à noite. Era diferente porque fazíamos vários serviços ao longo do dia e havia muitos convívios. Era também uma forma de conviver. Recordo também com saudade a festa de Nossa Senhora da Estrela, que ainda fazemos. São recordações lindíssimas”.
Com ele também está António Ventura, igualmente homenageado pelos 50 anos de dedicação à Estrela D’Alva. Música e contramestre, é outra referência histórica da banda. “Comecei na filarmónica Estrela D’Alva aos dez anos e quando fui aprender música era uma forma de poder sair de casa. Meus pais nem queriam que fosse, mas como ia um grupo de quatro ou cinco da escola, lá deixaram”, recorda António Ventura.