O Parque Terra Nostra foi alvo de obras de modernização, num investimento de 6,6 milhões de euros em novas infraestruturas e na renovação da imagem do jardim botânico.
O parque dispõe agora de novos balneários, bilheteiras, espaço de exposição, loja, acessos e iluminação cénica noturna que foram inaugurados este sábado, 1 de junho. Segundo nota de imprensa enviada às redações pelo grupo hoteleiro açoriano Bensaude Hotels Collection, as novas infraestruturas “acrescentam valor às componentes botânica, turística, arquitetónica e lúdica do Parque”.
A modernização e conservação têm como objetivo “reforçar o papel do Parque Terra Nostra como ponto de referência botânica e ambiental a nível global”.
“As infraestruturas foram construídas em plena harmonia com o jardim e a paisagem natural dos 12,5 hectares do Parque”, refere o grupo hoteleiro açoriano.
Foi lançado também um novo site que pretende refletir a nova imagem e que inclui uma biblioteca botânica com informações detalhadas sobre as diversas espécies de plantas existentes no Parque Terra Nostra, as suas caraterísticas e habitats naturais.
O Parque Terra Nostra passa a dispor de balneários cobertos por uma longa abóboda que abre em arcada para o jardim. Tem ainda um novo espaço de bilheteiras, exposição e loja, totalmente envidraçado. Para esta área, o responsável pelo projeto de arquitetura, Pedro Maurício Borges, “optou por uma construção inserida dentro da vegetação, ao invés de uma construção isolada”.
O uso de betão a lembrar pedra pomes “é inspirado nos vulcões gasosos das Furnas, aproximando a obra dessa geologia”.
O projeto de iluminação cénica noturna está a cargo do arquiteto Luís Ribeiro. Ao todo, são mais de 230 pontos de iluminação equipados com tecnologia LED, alimentados por cerca de 5.900 metros de cabos elétricos, instalados subterraneamente em cerca de 2.300 metros de valas.
“A sua implantação e construção incluiu medidas especiais de proteção e foi permanentemente acompanhada pelas equipas de jardineiros do parque e de construção e fiscalização, e pelo projetista, minimizando qualquer impacto na estrutura das raízes da valiosa vegetação existente”, salienta o grupo hoteleiro.
O Parque Terra Nostra inaugurou também uma nova imagem e logotipo. “O objetivo é modernizar a projeção do Parque Terra Nostra a nível nacional, mas também em mercados como os EUA, Canadá, França, Reino Unido e Suíça”, explica o grupo proprietário do jardim botânico.
A marca passa a contar com uma nova linha de merchandising de vestuário, acessórios, banho, utilities, papelaria e arte, inspirados na natureza.
Localizado no Vale das Furnas, concelho da Povoação, trata-se de um jardim botânico e mata com 12,5 hectares com um tanque termal que atrai turistas de todo o mundo. O tanque é alimentado por uma nascente de água vulcânica a cerca de 42oC e está repleto de água rica em ferro e outros minerais, proporcionando uma sensação de relaxamento.
A rede hídrica termal que abastece o tanque é a mesma que enche dois jacuzzis, que rodeados de vegetação são outro ponto de contacto com a natureza envolvente. No jardim e mata existem ainda 1.800 espécies botânicas.
Traduzido para o português, “Nine Dots” significa “Nove pontos”. Estes nove pontos simbolizam as nove ilhas do arquipélago dos Açores. Com uma arquitetura sofisticada através de elementos distintos da arquitetura açoriana, o hotel pretende realçar a beleza dos Açores através de obras literárias, da gastronomia, da paleta de cores e de quadros de artistas com mais de 100 anos. “O Nine Dots é um hotel diferente”, realça Paulo Araújo, diretor-geral do Nine Dots Azorean Art Boutique Hotel, 33 anos, natural de Braga, ao Diário da Lagoa (DL). Conta que desde tenra idade a hotelaria está presente na sua vida. É licenciado em Turismo, mas confessa que a sua maior formação surge ter vivido e crescido dentro de um hotel. “A minha mãe trabalhava num hotel, não tinha com quem me deixar e eu acabava por acompanhá-la ao trabalho”, diz. Ao ter conhecimento do projeto do hotel e posteriormente conhecer os respetivos donos, Catarina Simão e Tiago Saraiva, foi natural e entusiasmante a vinda para os Açores. “Identifiquei-me rapidamente com este projeto e tinha medo de ficar arrependido de não acompanhá-lo e de não vir”, nota o diretor que na altura exercia funções num hotel em Marrocos.
A arte dos Açores está presente em muitos recantos do hotel. O acervo cultural do Nine Dots engloba obras de artistas açorianos de renome nacional e internacional. Este hotel não é só um alojamento, é também arte e cultura. “Um hóspede que aqui entra vai sair muito mais rico culturalmente do que aquilo que entrou”, afirma Paulo Araújo. De beleza e riqueza estão as paredes do hotel cheias, estando presentes artistas como Domingos Rebelo, António da Costa, Natália Correia, Antero de Quental, Vitorino Nemésio, Tomaz Borba Vieira, entre outros. Através de livros de primeiras edições, de obras originais e do objetivo futuro da realização de exposições temporárias no hotel, Paulo Araújo, confiante, diz: “não conseguimos encontrar isso em mais nenhum alojamento”.
Para além de querer promover artistas locais e fazer exposições com artistas açorianos emergentes, um dos principais propósitos do hotel é ter pessoas com o conhecimento necessário para conseguir explicar todo o conceito das obras presentes. Através de uma equipa jovem com cerca de 50 funcionários, este hotel espera ser um acréscimo de valor para a ilha de São Miguel. O diretor-geral do Nine Dots acredita que o que o espaço tem de diferente é a capacidade de surpreender. “Existem muitos pontos neste hotel que não estamos habituados a ter enquanto hóspedes de uma hotelaria clássica em vários destinos”, diz.
Através do restaurante, bar e centro de bem estar, pretende-se chegar a toda a comunidade. O restaurante “ETC. Osteria Bar” traz consigo influências da cozinha italiana com o propósito de confecionar pratos tradicionais com produtos locais. O bar com esplanada pretende ser um local de convívio onde os clientes possam desfrutar de momentos ao ar livre, saboreando a variedade de cocktails que o bar oferece. “Fica o convite para virem. Queremos ser um hotel, restaurante e um bar próximo da sociedade”, diz o entrevistado curioso, para descobrir a perceção das pessoas ao entrar neste espaço.
A Lagoa está presente no Nine Dots através de um painel de azulejos na casa de banho do restaurante e produzido pela Cerâmica Vieira. Não há mais nenhum trabalho da fábrica, mas “há paredes em branco” e por isso, Paulo Araújo salienta que é necessário perceber o que fazer do espaço, dando “a oportunidade para que ele cresça por si próprio”.
Estando num destino como os Açores, a sustentabilidade é algo prioritário. A certificação ambiental está no top de prioridades deste ano para o hotel. Com isto, nascem alguns programas como o GO BEYOND. Sendo uma unidade hoteleira num destino que preza a sustentabilidade, “não podíamos ser só mais um hotel a reduzir ou a tirar o plástico dos quartos, tivemos de ir mais além”, refere o responsável. A Zouri Shoes é uma marca portuguesa que utiliza plástico dos oceanos para fazer as suas sapatilhas. Através de uma parceria, o Nine Dots recolheu o plástico existente nas praias de São Miguel e todo o staff do hotel utiliza Zouri Shoes. O projeto regional MUSA AÇORES pretende potenciar o uso da bananeira dos Açores e criar peças artesanais. Neste sentido, os cestos para a fruta que estão nos quartos são feitos das fibras secas do caule e das folhas da bananeira, conseguindo dar outra vida à árvore. Potenciar a comunidade e economia local também é outra prioridade e por isso, existem parcerias com alguns artesãos como é o caso de Luís Caetano, Mestre Paivinha, Oficina 26 e a Cerâmica Vieira. As peças de cerâmica do Nine Dots, especialmente do “ETC.” são produzidas pelos utentes e colaboradores do projeto Mãos que Criam. Este projeto pertence ao instituto São João de Deus – Casa de Saúde de São Miguel e destina-se a pessoas com problemas mentais ou comportamentos aditivos.
Segundo Paulo Araújo, em qualquer grupo hoteleiro, uma varanda virada para a rua principal do hotel, seria um quarto. Tendo em conta que o Nine Dots tem uma profunda ligação à arte e cultura açoriana e como grande parte desta cultura está ligada à religião, decidiu-se fazer diferente. “Em Maio esta rua transforma-se e se há traço cultural que nós não podíamos deixar de ter era este espaço”, acrescenta. A Varanda do Santo Cristo está localizada num espaço amplo e será o local para a vista da procissão em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que passa pela rua dos Mercadores, e para as exposições temporárias do hotel.
Por ser um hotel que nasce da transformação de edifícios antigos, muita coisa foi modificada, porém existem vários elementos do estabelecimento que continuam a marcar presença desde o seu início. Houve um grande aproveitamento de rocha que foi encontrada na escavação da cozinha, a escadaria até ao segundo andar, pelo grande valor arquitetónico que tem, é original. Para além disso, houve tratamento e preservação de madeiras, bem como a utilização de madeiras que foram retiradas na demolição bem como foi preservada a porta de entrada do edifício.
Após uma década de uma longa e minuciosa preparação, o hotel Nine Dots está pronto para receber os seus primeiros hóspedes e visitantes. “Trouxemos os Açores para dentro do hotel e agora faltam as pessoas”, destaca Paulo Araújo.