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Presidente da Casa dos Açores de Ontário diz que é preciso “evitar que a cultura açoriana desapareça”

Em entrevista ao Diário da Lagoa (DL), no Canadá, Suzanne Maria Cunha fala sobre os desafios, preocupações e planos para o futuro da casa mais açoriana da província de Ontário

Suzanne Maria Cunha (à esq.) com a estudante universitária colaboradora do DL Beatriz Leite (à dir.) © BEATRIZ MACEDO/ DL

Suzanne Maria Cunha é presidente da Casa dos Açores do Ontário há 10 anos. É filha de pais açorianos mas nasceu no Canadá sendo professora do primeiro ciclo. O seu mandato como presidente da Casa dos Açores chega ao fim no próximo ano. Conta que passou, enquanto estudante, “25 verões em São Miguel para poder sentir o que era ser açoriana” e que foi “criada como açoriana”, porém diz que “viver a açorianidade é diferente de ser criada”.

A última vez que foi aos Açores foi há dois anos, no Conselho Mundial das Casas dos Açores. Este ano como presidente do Conselho Mundial das Casas dos Açores estará de regresso ao arquipélago açoriano para representar a Casa e os açorianos, “talvez no final do ano.”

DL: De que forma a Casa dos Açores do Ontário contribui para preservar a cultura açoriana na comunidade?
Anualmente realizamos a semana cultural em outubro/novembro, é uma oportunidade para celebrar, dar conhecimento da história e das tradições açorianas e da cultura açoriana. Fazemos também noites de cantorias, as danças do carnaval e danças da Páscoa à moda da Terceira. Tentamos em épocas festivas fazer os típicos alimentos como malassadas e a massa sovada.

O padroeiro da casa é o Divino Espírito Santo, realizando quatro festas durante o ano em preparação para as grandes festas em junho. Todas estas atividades e tradições que a Casa dos Açores de Ontário tenta manter são a ideologia base da casa que procura envolver açorianos emigrantes relembrando o que é ser açoriano.

A maioria dos sócios desta casa são seniores, pelo que tenho tentado apelar a que os mais novos se envolvam mais neste grande projeto que é a Casa dos Açores.

DL: Nos últimos anos a emigração açoriana para o Canadá tem aumentado ou diminuído? Que tipo de apoio a Casa dos Açores oferece aos novos emigrantes?
A necessidade de emigrar para o Canadá e para a América já não tem as mesmas dimensões que tinha no passado. No entanto, há sempre pessoas que procuram ir para o Canadá. Alguns dos novos emigrantes que chegam procuram a Casa dos Açores e esta direciona-os para outras instituições que os possam integrar nas comunidades, com abrigos, com a emigração, etc. A Casa dos Açores promove a parte histórica e cultural.

DL: De que forma a Casa promove a ligação entre a comunidade açoriana no Ontário e a sua terra natal?
Para além das diversas atividades que remontam ao sentimento de ser açoriano, a Casa dos Açores tem também uma proximidade com o Governo dos Açores e também com a Associação de Emigrantes Açorianos. Quando alguma destas instituições pede para a Casa dos Açores divulgar algo, a Casa dos Açores dá a oportunidade de partilhar não só nas redes sociais mas também na semana cultural ou em qualquer outro evento onde haja representação dos Açores. Estamos abertos a parcerias, sugestões, ideias e também sempre abertos a que, para além de informar sobre certos assuntos, possam ser informados sobre alguns assuntos, plataformas e eventos que a Casa dos Açores não tenha conhecimento.

DL: Quais são os principais desafios que a instituição enfrenta atualmente?
Atrair pessoas mais novas. Não podemos desprezar os mais velhos porque têm um papel fundamental. No entanto, também têm que estar abertos aos mais novos e têm realmente trabalhado para chegar à comunidade mais juvenil. E os mais jovens que não podem colocar os mais idosos de parte. Temos criado eventos para as duas comunidades em separado de modo a que chamam as diferentes faixas etárias mas também realizamos eventos que misturem estas duas ‘’comunidades’’ como é o caso da noite de serenatas.

DL: Quais são os seus planos para o futuro da Casa dos Açores?
O futuro é um pouco indeciso e incerto. Não só porque o meu mandato está a chegar ao fim mas também porque o futuro é algo que não se consegue prever. No entanto, acredito que os principais objetivos para o futuro serão chamar os mais jovens. Temos o programa da terceira idade que se realiza uma vez por semana e agora tencionamos criar um espaço para os mais jovens. Temos também a esperança de que no próximo ano, se tudo correr bem, que o grupo que já tem inscrito no seu ‘’Youth Group’’ e que consigamos realizar um passeio aos Açores, idealmente pelas nove ilhas.

DL: Que mensagem gostaria de deixar para a comunidade açoriana aqui em Ontário?
É importante que se lembrem das suas raízes. Houve muitas famílias que não trouxeram experiências positivas dos Açores, no entanto, os Açores não tiveram culpa. Foram situações daqueles tempos e que não estão relacionadas com a beleza do arquipélago. Os Açores não são apenas as Sete Cidades e a Lagoa do Fogo, há muito mais por descobrir e conhecer. Devem sentir-se orgulhosos de serem açorianos. Não sou açoriana de nascença mas não tenho receio nenhum em dizer que sou. Coloquem as experiências negativas para trás e tentem descobrir os Açores da atualidade.

DL: E que mensagem gostaria de deixar aos açorianos que vivem nos Açores?
Procurem ser mais açorianos. Da mesma maneira que os emigrantes devem sentir orgulho de ser açoriano, os residentes nos Açores também devem senti-lo. Não é só o que está para além das ilhas que é bom, também há muito que é bom nas ilhas dos Açores que podem descobrir e sentir orgulho. Ensinem aos filhos e as gerações mais novas a cultura açoriana, o que é ser açoriano e mesmo a história dos Açores. É preciso não deixar que as histórias morram e evitar que a cultura açoriana desapareça.