Um destes dias, aproveitava uns minutos de sol brilhante e céu azul, com o som do mar em fundo, acompanhado de um “café sem princípio” que deixo arrefecer… Por perto, dois jovens conversavam numa mesa próxima, da mesma esplanada e não era necessário estar com grande atenção para perceber o que diziam, parecendo até que se queriam fazer ouvir. Entre outras coisas, e porque passava um carro de campanha eleitoral, o tema foi parar às eleições! E não deixou de ser curiosa a forma como abordaram o ato eleitoral. Não tinham ainda decidido se iriam ou não votar, pelo que percebi, mas concordavam que o ato eleitoral estava a necessitar ser seriamente repensado! As palavras não foram propriamente estas, mas gostavam de ver o processo eleitoral também disponível no seu Smartphone, ou no computador, numa aplicação segura! Se assim fosse, diziam com grande convicção, então votariam!
Não deixa de ser curioso! Parece que toda a vida, que todos os atos, que todos os serviços têm que estar na palma da mão, à distância de um clique para que cada um os execute de forma natural e espontânea, seja pela necessidade de corresponder à execução de um serviço ou para a satisfação de um momento de lazer. Mas talvez seja realmente essa a tendência num tempo em que tudo anda à volta das novas tecnologias e todas são ou devem ser SMART (inteligentes). Na verdade, cada vez mais este termo entrou nas nossas vidas! Os telemóveis, as televisões, os equipamentos domésticos, os carros e até as cidades são, ou podem ser, Smart. Desde os trabalhos de casa de cada aluno, ou até mesmo às próprias aulas, até às operações bancárias ou serviços públicos diversos, tudo se pode desenrolar na palma da mão e em qualquer lugar. Será este um dos passos decisivos que ainda falta dar para que, a avaliar pelo exemplo daqueles dois jovens, se comece a reduzir verdadeiramente os valores da abstenção e que se assista a uma nova atitude de envolvimento de cada cidadão, mais novo ou mais velho, comprometido com as decisões e ações cívicas?
Não é de hoje ou de ontem, mas temos vindo a assistir cada vez mais à convocação das escolas, ou da atividade das escolas para corresponder a um conjunto de ações que formem objetivamente para a Cidadania! Na verdade, um conceito cada vez mais arredado da nossa sociedade e que carece de uma ação específica no plano educativo formal. Esta necessidade configura uma importante preocupação, sobretudo se pensarmos que as dinâmicas destes conteúdos moldam o que vai ser a formação e vivência cívica das gerações que se seguem.
Seria desejável que o desenvolvimento destas aprendizagens em torno da Cidadania acontecessem também, e sobretudo, no contexto das vivências quotidianas. Contudo, os exemplos nem sempre são os melhores e abundam os que vão em sentido contrário. Poder-se-á dizer, e ouvimo-lo muitas vezes, que vivemos num país livre, mas… não pode valer tudo! As nossas gerações mais novas, em crescimento, em formação, podem ser sistematicamente bombardeadas com um conjunto de ensinamentos ou sensibilizações, mas num ápice tudo se desfaz com os exemplos que infelizmente abundam e chegam até cada um quase em direto.
Num tempo claramente marcado pelo desenvolvimento das tecnologias, dos equipamentos e princípios SMART, parece mesmo que toda a inteligência passou para os equipamentos e abandonou os seus utilizadores. Será que estamos a precisar de retroceder um pouco para se empreender a aventura da procura da “inteligência perdida”
Ferramentas SMART, sem utilizadores SMART… não podem dar bom resultado! Contudo, elas poderão ser um caminho ao serviço da sociedade para ajudar em tanta coisa!
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