“Dormir com as estrelas e acordar com o mar” – é assim que o rapper Shiny se dá a conhecer numa das suas músicas, “Brisa”, em que relata a sua conexão com a natureza dos Açores. “Se não fossem as ilhas, o meu álbum não existia”, partilha em conversa com o Diário da Lagoa. Em fevereiro, lançou as primeiras músicas do seu mais recente álbum, “Em Evol”, que dá continuidade a esta ligação, num processo de evolução pessoal e descoberta artística.
Vicente Brilhante tem 24 anos e é natural de Lisboa. Aos seis meses de idade, visitou pela primeira vez a ilha das Flores e, desde pequeno, que as cascatas e a vegetação do local o admiram. Habituado aos caos da capital, foi na ilha que encontrou a sua liberdade: “Flores sempre foram uma casa para mim. Sentia-me em liberdade, o que não tinha na cidade, porque a minha mãe não me deixava brincar na rua. E ali era o meu paraíso, os meus pais deixavam-me andar para onde eu quisesse.”
Todos os anos, no verão, o artista visita a ilha das Flores. E assim foi desde muito novo. Mais tarde, fez da ilha casa durante dois anos e, hoje em dia, reside em São Miguel – diz que o destino lhe “trouxe à Lagoa”. Nem em Londres, a estudar Finanças, se sentiu tão em casa como por cá, embora tenha sido uma experiência enriquecedora no que toca a aprendizagem. “Não me dou muito bem com o frio, nem com a falta de luz”, admite.
“Adoro estar aqui. Olho para o mar, infinito, e é isso que me inspira. Falo bastante do mar nas minhas músicas e da ligação com os elementos da natureza que nos rodeiam”, realça. Mas Shiny não é o único da família que sentiu essa conexão com os Açores. Também o seu pai, Jorge Brilhante, natural da Ericeira, apaixonou-se pela ilha das Flores, para onde se mudou em 2010. Atualmente, é proprietário do restaurante Maresia, na Fajã Grande. “Diz que é o sítio onde se sente melhor e ele já conheceu o mundo todo”, conta Shiny.
Aliás, apesar de nunca ter estudado música, foi o pai que sempre lhe introduziu a cultura musical. “Desde Bossa Nova, Tom Jobim, Chico Buarque, o próprio Cartola, que eu tenho uma sample numa das minhas músicas do novo álbum”, enumera. Perdia-se nesses sons. “Ele é muito eclético. Cresci a ouvir isso tudo e fez-me criar um leque de melodias dentro de mim”, acrescenta.
De entre milhares de notas guardadas no telemóvel, nasceu o novo álbum de Shiny – “Em Evol”. Inspirado na natureza do arquipélago que o rodeia, simboliza a “constante evolução a que nós somos e devemos ser sujeitos na nossa vida”, conta. Além disso, ao contrário lê-se “Love me” (ame-me, numa tradução literal), o que representa a sua “descoberta do amor próprio”, explica ainda o jovem.
Na capa deste álbum há três pontos principais: de um lado, Lisboa; depois, a ponte da lagoa das Sete Cidades, São Miguel; e, do lado direito, a ilha das Flores. No fundo, o triângulo que faz parte da vida de Vicente Brilhante. “Éden”, “Pico” e “Voo” são algumas das 24 músicas que compõem este projeto, lançado no dia 24 de fevereiro. “Acredito que faltaram alguns meses para ter feito o meu álbum ainda melhor. Se tivesse um orçamento maior, se calhar as pessoas entrariam mais no som”, reflete.
No entanto, reconhece que deu o seu melhor e orgulha-se de todas as pessoas que estiveram do seu lado na criação de “Em Evol”. Sem preocupações relativas às perceções dos outros sobre si, Shiny considera que “só expondo a nossa realidade é que as pessoas se podem identificar com isso”. E sublinha: “Não basta ter talento, tem de se ter visão.”
“Elevar as nossas ilhas é sem dúvida uma das minhas missões”, destaca Shiny. Em 2024, subiu ao palco do festival Monte Verde e já atuou na ilha das Flores e em Lisboa. Daqui a quatro anos, ambiciona estar no Altice Arena. À semelhança do músico madeirense Van Zee, que ganhou muito sucesso nos últimos tempos, acredita que é possível ser ilhéu e ter alcance a nível nacional. “Não tenho dúvidas que vou viver disto. Acredito muito em mim”, acrescenta.
“Se não fossem as ilhas, não existia o meu álbum. Se não fosse a minha experiência nas Flores, em São Miguel e Lisboa, não existia o álbum”, sublinha o jovem artista. E continua: “Tudo o que vem de mim é uma junção das minhas vivências. Todos os artistas deviam incorporar as suas experiências na sua arte.”
Quanto a outros artistas locais, garante estar disposto a colaborar com qualquer pessoa com quem se identifique. “Gosto de dar a mão ao outro. Não sou mais do que ninguém, somos todos indivíduos diferentes e acho que temos de crescer juntos”, declara ao DL. Contudo, sabe que nem todos pensam da mesma forma: “Ficam com receio de se juntar porque podem perder para o outro.”
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