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Remédios da Bretanha: onde existia uma rua resta a certeza de que a procissão não passa lá este ano

Parte da rua da Covilhã desapareceu há mais de seis meses numa derrocada e continua à espera de uma solução que ninguém sabe quando virá. Naquela freguesia do concelho de Ponta Delgada a procissão sai no primeiro fim de semana de agosto mas este ano está impossibilitada de fazer o trajeto habitual

Moradores recordam que a rua caiu no ano passado, duas semanas antes do Natal © DL

Partimos da Lagoa rumo aos Remédios, no concelho de Ponta Delgada, no final de uma manhã de sol para ir escutar os locais e verificar o problema que se prolonga há vários meses e que leva a população local a sentir-se esquecida.

Em dezembro de 2023, duas semanas antes do Natal, a rua da Covilhã, os Remédios da Bretanha, na costa norte da ilha de São Miguel, viram parte da rua desaparecer. As fortes chuvas terão dado o empurrão final, não tivessem já os moradores alertado para o que podia acontecer.

Depois de cerca de 40 minutos e quase 36 quilómetros de viagem, estacionamos junto à igreja onde já era visível algumas obras na rua. Descendo a pé fomos ao encontro da derrocada, parando aqui e acolá para falar com moradores que foram desabafando mas pedindo anonimato, até que encontramos Gilberto Homem, 63 anos, que vive naquela rua há 30 anos e que aceitou dar o seu testemunho.

Perguntamos se a causa teria sido as chuvas, prontamente atira que: “aquilo já tinha começado antes”.

“Há uns cinco anos uma máquina escavou aquela barreira para limpar o terreno. Foi aí que o caminho começou a abrir devagar. Depois caiu a primeira parte, foi caindo aos bocados e enquanto a água descia pelas terras ia descosendo, foi aos poucos”, assegura ao DL.

Gilberto acrescenta, ainda, que os veículos que ali chegam “têm de dar a volta”. E nós aqui, para ir à farmácia, temos de ir pela igreja, a farmácia fica do lado de lá”.

Da outra margem, na casa que se encontra à beira da derrocada, avistamos Paulo Benjamim, 55 anos. Foi ele quem escavou as escadas que vemos numa ladeira junto à derrocada.

Paulo vem ao nosso encontro pelas escadas que permite a alguns moradores chegar a onde a estrada agora não alcança. “Fiz as escadas e meia dúzia de pessoas usam”, conta ao DL.

“Venha comigo, vou mostrar”, diz o morador que insiste em guiar-nos pelas escadas até sua casa depois de termos estado à conversa com uma dezena de locais que preferiram o anonimato, porém todos lamentando que se sentem esquecidos.

Paulo conta-nos que anda atarefado desde que aconteceu a derrocada a tentar minimizar estragos na sua moradia.

A Câmara Municipal de Ponta Delgada iniciou obras de desvio do curso da água. As obras que Paulo lamenta que tenham demorado mas que lhe dão o sentimento de alguma segurança. Questionado se a sua casa está em risco, para, hesita, mas assegura “agora não, porque já desviaram o curso das águas”.

Porém começa por mostrar que o terreno acima da sua casa está a ceder e a cair-lhe no quintal.

“Atrás da minha casa a terra está a cair, estou há três dias a tirar a terra e ainda não acabei”, enquanto mostra o local. Entre a simpatia convida-nos a ficar mais um pouco para tomar algo, mas temos de partir. Connosco na rua a observar, entre um aceno de adeus desabafa “a procissão este ano não passa aqui quando sempre passou aqui”. Voltamos pelas escadas cravadas na terra para o outro lado da freguesia.

Na assembleia extraordinária do passado dia 21 de junho, Pedro Nascimento Cabral disse que a rua da Covilhã “é o caso com mais urgência [do concelho]” para de seguida justificar que está estimado gastar na obra “cerca de 700 mil euros para pôr as coisas como estavam, mais seguras naturalmente”.

Fazendo nota de todas as obras que são necessárias em todo o concelho, o autarca realça que “estas coisas levam o seu tempo” e que na autarquia não gostam “de maneira nenhuma da forma como aquilo está, do tempo que está a levar para poder fazer face e responder à necessidade premente da população dos Remédios da Bretanha que necessita de ter mobilidade”.

Já a presidente da Junta da Freguesia dos Remédios, Joana Ernesto, na assembleia usou da palavra e disse:

“Tenho um problema muito grave nas ruas da freguesia, nomeadamente na Covilhã. É uma zona que neste momento está praticamente fechada. Por um lado não tenho via, pelo outro está a decorrer obras que espero que terminem no fim da próxima semana como foi dito ainda este mês”, começa por reforçar.

Presidente da Junta reitera que se trata de “um caso urgente que está a afetar e a limitar a vida das pessoas” © DL

“todas as freguesias que estão longe
de Ponta Delgada estão esquecidas,
mas isto não é de agora”

Joana Ernesto

Joana Ernesto diz que reconhece que “não é de um dia para o outro” que a obra ficará concluída mas alerta que as moradias “estão a ficar em risco” e questiona “qual é a medida que a câmara municipal vai tomar para prevenir que as famílias não fiquem sem as suas moradias?”.

Em declarações ao DL antes do fecho desta edição, Joana Ernesto refere que a Câmara Municipal de Ponta Delgada foi alertada por um morador de que aquela zona estava a ficar em perigo, “pois o morador conseguiu verificar que por baixo da rua já tinha uma derrocada”. 

“No dia 15 de dezembro fui contactada pelas 18 horas pela engenheira Isabel Juromito a informar-me que tinham estado na zona e que realmente a rua estava em perigo e, por isso, iam colocar umas grades de proibição de passagem na zona perto do passeio” revela. 

“Não levou muitos dias para haver a primeira derrocada que levou o muro, o passeio e um pouco da rua”, lamenta.

“Eu tenho noção que estas coisas demoram” mas reitera que se trata de “um caso urgente que está a afetar e a limitar a vida das pessoas”, enquanto diz acreditar que “com insistência e vontade” se pode abreviar a obra.

“Na minha opinião de cidadã, todas as freguesias que estão longe de Ponta Delgada estão esquecidas, mas isto não é de agora”, lamenta.

O DL contactou a câmara municipal de Ponta Delgada mas a autarquia não respondeu às questões colocadas pelo nosso jornal sobre o caso.

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Clife BotelhoDiretor

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