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“Quando vou aos Açores, vou quase a sentir que vou para casa”

Artista natural do continente esteve na Ribeira Grande a animar novos e graúdos

«Tio Óscar» é o alter-ego de Óscar Ribeiro, num projeto musical que alia a diversão a uma componente educativa © ACÁCIO MATEUS
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«Tio Óscar» é um projeto musical focado no público infantil que alia a diversão e animação a uma componente educativa. Ao longo do espetáculo as crianças e pais são embalados num ambiente sonoro em interação constante com o artista. Óscar Ribeiro é quem assume o alter-ego de «Tio Óscar», fazendo uso da sua experiência educativa e formativa, mantendo sempre presentes os valores fundamentais da infância. Já esteve várias vezes em São Miguel, tendo atuado recentemente, no passado dia 11 de dezembro, no Teatro Ribeiragrandense. Além de inúmeras presenças e concertos em Portugal continental, desde o seu lançamento estabeleceu parcerias além fronteiras que resultaram na internacionalização da sua música em diferentes comunidades educativas. Destacam-se Brasil, Itália e Cabo Verde como destinos habituais de intercâmbio e ações de voluntariado. O Diário da Lagoa (DL) esteve à conversa com o músico. 

DL: Quantas vezes já veio atuar em São Miguel?
É talvez a quinta vez que venho a São Miguel. Nas outras edições tenho andado mais pelas escolas e pelas instituições, quer em Ponta Delgada, quer na Lagoa também e depois na Ribeira Grande, isto sempre em animação em contextos infanto-juvenis e com formação aos professores e educadores.

DL: Dá formação aos professores?
A minha formação base é Educação de Infância e depois trabalho na área de formação e animação. A minha formação de base permite isso e é dentro destes âmbitos que eu gosto de me intitular de “brincador musical”, porque a brincar vamos passando os valores, quer às crianças, quer a quem está com elas.

DL: Esteve recentemente no Teatro Ribeiragrandense e notou-se que há uma vertente pedagógica nos seus concertos. 
Sim, permanentemente. O meu foco é realmente a mensagem, passo por um modo lúdico e didático, mas que chega às famílias, daí a própria abordagem. Isso também foi um bocadinho influenciado pelo pós-covid, pois antes iam todos os meninos ao palco e eu fazia questão de os levar, mas depois levo uns, não levo outros. Agora o foco tem sido sempre levar os adultos que estão com as crianças, porque acabam por realmente perceber o ser criança, o manter-se criança, porque já foram e esquecem-se de como é bom ser criança. Convém as pessoas recordarem-se da importância de brincar. Às vezes pode não ser bem conseguido e percebido por toda a gente, mas há essa intencionalidade educativa em todos os temas. A própria coreografia, tudo isto é pensado neste sentido.

DL: O que achou da plateia na Ribeira Grande? 
A plateia foi formidável, à semelhança das outras experiências que tenho tido em São Miguel e na própria Ribeira Grande. 

DL: Foi a primeira experiência numa sala de espetáculos?
Nos Açores, num espaço fechado, foi a primeira vez. Foi o Teatro Ribeiragrandense que abriu as portas dos teatros ao «Tio Óscar». Tenho a agradecer a confiança, naturalmente. Espero que tenha sido fundamentada e que não estejam arrependidos, ainda que num formato reduzido, pois não foi a banda toda. Tenho a esperança de poder voltar com outros registos, pois temos registos para bebés, famílias, intergeracional, para seniores. Quero manter a marca «Tio Óscar», mas não temos que infantilizar a música, não temos que catalogar para que ela seja ouvida, mas sim trabalhada e sentida por todas as idades. É um bocadinho nesse contexto que eu trabalho.

DL: E depois vai conquistando a plateia. É propositado?
É propositado. Se reparar, não há grandes luzes, não há trancinhas. Nada contra, mas não há a necessidade de ir por aí. Para isso temos outros bonecos, outras vertentes, outras marcas que trabalham nesse colorido e nessa fantasia toda. Eu acho que nós conseguimos levar essa fantasia à mesma de outro modo e conseguimos levar a outro tipo de público. A ideia é transmitir uma música de qualidade, não infantilizada e que dê espaço para passarmos valores.
Se não abonecarmos demasiado, as pessoas ficam com essa dúvida: “epa, mas afinal, ele nem tem a dicção perfeita, não canta nada de especial, mas mexeu comigo”. Garanto-lhe que não consigo tocar nada de extraordinário, mas posso fazer quatro minutos que as pessoas vão do riso ao choro e conseguem ir para casa a pensar melhor.

DL: Inclusive consegue levar os pais ao palco e pô-los a cantar também. 
Sim, alguns redundantemente: “ah e tal, não quero”. Mas lá foram. Se esteve no espetáculo todo ou parte dele, reparou que senhoras foram ao palco completamente atordoadas, não sabiam para o que iam e eu pu-las a ler, e fizeram aquelas macacadas no chão, ou seja, as pessoas também estão sedentas de serem incluídas, de participarem.

DL: Vimos que os pais levaram os filhos para eles se divertirem, mas acabaram também por se divertir. É esse o objetivo?
É esse o objetivo e é isso que me paga, essa reação. E ao passar-me esse testemunho é sinal que as pessoas verbalizam isso, que sentiram e que foram para casa a pensar. Não interessa ter público por ter, para massificar, para dizer que se tem. Fiquei completamente rendido ao carinho dos miúdos que vieram, alguns de Ponta Delgada, outros de freguesias vizinhas.

DL: Não eram só da Ribeira Grande.
Não, houve gente que veio de fora e para mim, sei que são 15 km mas vieram com um propósito e num dia em que estava aquele temporal todo. E com bilhete dado, porque também há aquela situação de: “epa, também não perco dinheiro, não vou” e foram. Para mim, foi um carinho especial, muito agradável. Aliás, costumo dizer, quando vou aos Açores, vou quase a sentir que vou para casa, com saudades de casa. Venho [para o continente] com vontade de voltar. É complicado mas é o que nos faz continuar a gostar de ser artistas.

DL: E como artista, tem sido fácil ou difícil depois de uma pandemia?
Tem sido, como eu costumo dizer, rústico. Tem sido complicado, porque as pessoas também se habituaram a outras coisas, mas o online para nós não funciona, embora durante muito tempo, pela questão da formação também, teve de funcionar. Aulas online, cursos, resultaram muito bem.  Mas a mim, pessoalmente, falta-me o toque, faltam-me as pessoas. Cada oportunidade que eu tenho de voltar a palco, seja um palco dessa dimensão, sejam maiores, ou seja mais pequenos ou num contexto de sala de aula, ou uma turma nova que se conheça, para mim é fantástico. Nem sempre conseguimos dar aquilo que vendemos. Também o que não é visto não é lembrado e ao darmos recebemos imenso.

DL: E regressar aos Açores? 
Eu tinha o compromisso de ter estado em duas escolas, o Colégio do Castanheiro e o São Francisco Xavier, no início de outubro, mas como tive uma missão de voluntariado em Cabo Verde com o «Tio Óscar», não fui. Conto voltar na Primavera. Pode ser que haja alguém que ao ler esta notícia se lembre.

Por Clife Botelho

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