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Prova de levantamento de pesos na Lagoa com dezenas de espetadores

Evento contou com as presenças dos açorianos Válter Tapia, Carlos Corrêa e Tiago Costa, atuais campeões do mundo na categoria -140kg, -100kg e em -75kg, respetivamente

Válter Tapia, campeão do mundo na categoria -140, foi um dos participantes. Atleta levantou 315 Kg © D.R.

Tem o nome de Powerlifting o que, em tradução livre, significa levantamento de pesos. A prova regressou ao ginásio Gym4you na freguesia de Nossa Senhora do Rosário, cidade da Lagoa, no passado dia 19 de março. O evento sofreu uma paragem devido à pandemia covid-19.

A prova, aberta ao público em geral e a todos os interessados, adeptos da modalidade, atingiu pela primeira vez os 22 inscritos e viu os amantes da modalidade encherem o ginásio.

O Clube de Powerlifting dos Açores, organizador da prova, fundado na Lagoa, ainda antes da pandemia, realiza assim a terceira prova no arquipélago açoriano. Em declarações ao Diário da Lagoa (DL), o proprietário do ginásio e responsável pelo clube, Pedro Barros, explicou-nos que a competição é dividida por género, feminino e masculino, sendo que depois dentro de cada género, existem as categorias por peso e idade. 

“Nunca vi tamanha camaradagem”

O atleta e co-fundador do clube açoriano, Válter Tapia, 40 anos, salienta a participação de “pessoal novo com curiosidade, a maior parte a treinar cá, no ginásio, vão-nos vendo, ganharam aquele bichinho para experimentar e gostaram”. Diz que treina todos os dias, exceto ao fim de semana, e “até não poder mais” vai continuar na modalidade.

Um dos estreantes na prova foi Miguel Bettencourt, 42 anos, que quando se preparava para abandonar o ginásio fez questão de sublinhar: “nunca vi tamanha camaradagem. Sempre levantei pesos no ginásio. Desde há três anos atrás é que me meti nisto. E é a primeira vez que participo na prova e adorei. O que acontece noutras competições é cada um por si e aqui não. Até eu ficava nervoso de ver quando os outros não conseguiam”. 

Já Jessica Furtado, 29  anos, nos femininos, conta que atingiu os seus recordes pessoais e que “era isso que queria”. “Os 150 kg só fiz uma vez na semana passada e hoje saiu de tiro”, assegura. “Vou tentar ir aos 160 ou 170 kg no nacional de levantamento e tentar chegar perto dos 80 kg de supino. Estou a treinar há duas semanas simplesmente porque tenho uma hérnia lombar e tive que parar”, remata a atleta lagoense.

“Só não conseguimos ir mais longe e a outros países mais vezes por falta de apoios. O que torna muito dispendioso para cada atleta são as as passagens, as estadias, o transporte, a alimentação e o valor da inscrição em cada prova, mesmo que sejam divididas as despesas entre todos”, lamenta Jessica.

A atleta viu ainda o marido, Pedro Furtado, na categoria -90Kg, ganhar a inscrição para o campeonato Ibérico, em Valladolid, Espanha, em peso morto.

Outro dos atletas que ganhou a inscrição no nacional foi João Pires, 28 anos, natural do Rosário, na Lagoa, que treina e faz ginásio há cerca de 15 anos. 

“É a minha primeira prova de powerlifting. Agora vou ao nacional. Sinto-me emocionado, sinto-me orgulhoso, é um resultado que não estava à espera. Como estou ciente que vou ao nacional claro que vou tentar ao máximo, vou melhorar a minha carga máxima e vou lutar por isso”, diz o atleta entusiasmado.

O evento promovido pelo Gym4you contou com as presenças de Valter Tapia, Carlos Corrêa e Tiago Costa, atuais campeões do mundo nas categorias de -140kg, -100kg e em -75kg, respetivamente, sendo que Corrêa detém também o título de campeão nacional na mesma categoria. A prova teve também a participação de Fábio Medeiros, campeão nacional em -82,50 kg e, ainda, Hugo Sousa que competiu na categoria -82,5 kg no campeonato nacional onde conquistou o quarto lugar.

“Quem ganha nesta prova, tem direito a participar no nacional com inscrição já paga pela federação”, assegura Pedro Barros.

O proprietário do Gym4you explica que a prova primeiro “começa o aquecimento que dura meia hora para depois começarem o primeiro movimento. Depois de iniciarem o primeiro movimento cada atleta tem quatro tentativas em que começam com uma margem mínima de peso a levantar e podem ir subindo gradualmente”.

Na prova estiveram, também, os jurados Sandro Eusébio, presidente do World Powerlifting Congress Portugal, igualmente responsável pela Pro League, e Carla Carneiro, também jurada.

Ao DL, Sandro Eusébio disse que o clube açoriano está “bem forte” e que “é sempre um gosto estar aqui porque o clube é bom, a terra é bonita”. Quanto à prova, no final defendeu que “superou as expetativas” e que “os atletas estão num nível bom”. Assinalando que “há alguma falta de conhecimento a nível de regras e técnicas”, mas que “estão excelentes”.

Apurados e anunciados os resultados, o responsável pela organização disse ao DL que “ao nacional vão três atletas, João Pires, Pedro Furtado, Jessica Furtado e depois vai haver o campeonato Ibérico em Espanha e aí vão mais”, explica Pedro Barros.

A assistir à prova encontramos Nelson Furtado, 29 anos, que se deslocou da vila das Capelas. Questionado pelo DL o que acha como adepto, diz que: “acompanho porque gosto, é uma prova que dá para perceber que é preciso muito trabalho e dedicação”.

Prova foi organizada pelo Clube de Powerlifting dos Açores e contou com 22 inscritos © D.R.

Modalidade com vertente inclusiva

A prova ficou marcada ainda pelos atletas da categoria de Adaptado, com as presenças de Raquel Saraiva e de Wilson Raposo que mostraram resiliência e como a modalidade é inclusiva.

Ao Diário da Lagoa, Wilson, de 21 anos, diz que gosta da modalidade, que “não foi difícil” e que está motivado a participar já na próxima que vierem a realizar. A mãe do atleta natural do Cabouco, Maria Raposo, explica que o filho  tem uma doença degenerativa que o atirou para uma cadeira de rodas e, por isso, foi-lhe recomendado o ginásio como complemento à fisioterapia. 

No entanto, Maria Raposo alerta que antes de Wilson começar a treinar no ginásio Gym4you, frequentou o Aquafit. “Vem a pandemia e os instrutores foram  proibidos de ter contacto com os utentes. Fui lá para saber como ficaria a situação do Wilson, tendo em conta que eles sabiam que o Wilson necessitava de apoio para entrar e sair, para mudar de uma máquina para outra, e esse apoio foi-nos negado. Maria Raposo lamenta que o filho não tenha tido acesso àquilo que precisa: “por lei qualquer edifício, hoje em dia, tem que ter no mínimo uma rampa, e no Aquafit não tinha e continua a não ter”. 

Contactada pelo Diário da Lagoa, a câmara municipal de Lagoa, gestora do ginásio Aquafit, através do vereador do Desporto, Nelson Oliveira, explica que “há cerca de um ano” a autarquia comprou “uma cadeira trepadora com a formação de todos os técnicos na operação desse equipamento. A cadeira está preparada para nessas circunstâncias, tanto com as cadeiras dos próprios utentes caso seja necessário ou mesmo para aqueles que têm uma mobilidade mais reduzida”.

Questionado se a autarquia dispõe então de uma forma de trazer o utente desde o exterior até ao interior, Nelson Oliveira responde: “sim, desde o acesso exterior para o interior do ginásio, como na eventualidade e na perspetiva de aceder às casas de banho ou aos balneários que também têm uma escadaria interior. A cadeira serve para ambos os trajetos. No caso das piscinas tem um elevador para essas situações e que é usado para situações de multi dependências”.

Consulte os resultados da prova, clicando, aqui.

Clife Botelho

Reportagem publicada na edição impressa de abril de 2023

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