A paixão pela arte de cozinhar começou ainda na barriga de sua mãe, garante, e não tardou até que aos 11 anos de idade começasse logo a trabalhar na restauração quando o pai ficou sem um funcionário no restaurante que geria e, por isso, precisou de quem ocupasse a vaga. Desde então que o talento veio crescendo em José Artur Cabral, 59 anos, que se tornou empresário e chef num percurso que culminou recentemente no lançamento de um livro.
O empresário e chef de cozinha lagoense, natural da freguesia de Santa Cruz, mas a viver nos Estados Unidos da América há mais de uma década, lançou no mês passado, na Lagoa, um livro de culinária e autobiografia, que teve lugar no Convento de Santo António.
Já neste ano de 2024 o chef santacruzense promete dar continuidade à apresentação do livro nos EUA e, inclusive, num périplo pelas Casas dos Açores, no Brasil.
A obra contém 500 receitas em homenagem aos 500 anos da Lagoa como sede do concelho, sendo que para o autor a ideia nasceu quando estava a dar formação na Escola Profissional do Nordeste, onde lecionou durante 11 anos.
DL: Como surgiu a ideia de um livro de receitas?
Lançar um livro parece algo fácil mas não é, é muito complicado. A “Arte de cozinhar com amor” é um livro de 500 receitas. No início a ideia não era esta, mas sim fazer um livro de pensamentos. No entanto, como fui um dos homenageados pela câmara da Lagoa nas comemorações dos 500 anos de elevação a concelho, então, em conversa com o meu filho Rúben, que na altura questionou-me se ia incluir receitas no livro, chegamos à conclusão que o ideal era um livro com 500 receitas, numa retribuição à Lagoa, a minha terra, onde nasci e aos 500 anos. E, assim, o lançamento ficou logo definido que seria numa das escolas que frequentei, ou seja, no Convento dos Frades.
DL: Foi difícil reunir as 500 receitas ou já as tinha guardadas?
O difícil foi escolher, porque eu tenho muitas mais num arquivo desde há muitos anos. Fui sempre escrevendo e arquivando. Eu tenho oito a nove manuais de receitas escritas por mim à mão, por isso fazer uma seleção foi um bocado complicado. Quando comecei a selecionar mais o fotógrafo a parte das entradas, a parte do peixe e das carnes e estávamos a dividir pelo índice, tive que tirar muitas à última da hora porque já estava excedendo as quinhentas. E magoou-me um bocadinho deixar algumas de fora.
DL: Este livro é o concretizar de um sonho?
Sim, a realização de um sonho que vem desde a altura em que dava aulas na Escola Profissional do Nordeste, há cerca de 16 ou 17 anos. Quando dei aulas lá, a escola na altura recebeu um prémio para apoiar um professor num lançamento de um livro. E escolheram-me a mim. Não era para ser um livro de culinária, era um livro técnico sobre o que ensinávamos. E estávamos a trabalhar nisso mas surgiu a possibilidade de emigrar para os Estados Unidos da América e ficou tudo em águas de bacalhau. Mas fiquei sempre com isso na ideia. Foram passando os anos e, por incrível que pareça, a ideia amadureceu quando eu estive doente, num período bastante complicado ao nível de saúde. As ideias começaram a florir e tomei a minha decisão nessa altura.
DL: O título do livro significa que para cozinhar é preciso gostar?
Para cozinhar é preciso amor e gostar muito daquilo que se faz. Às vezes na brincadeira — embora seja uma realidade — a minha mãe dizia “tu nasceste a cozinhar, tu nasceste a trabalhar” porque o meu pai abriu os seus negócios no mês de abril de 1965. E eu nasci no mês seguinte, em maio. Eu penso que o meu amor nasceu aí. Portanto, já veio da barriga da minha mãe.
DL: Quando e porque decidiu ir para os Estados Unidos?
Em 2010. Foi uma decisão repentina. Já tinha tido a hipótese de ir uns anos antes e costumo dizer que foi a maior cabeçada que dei na minha vida, não ter ido logo naquela altura. Quando surgiu o convite estava a dar aulas em três escolas diferentes e eu era o diretor no Hotel Talisman. Eu estava bem cá. Mas fui aos EUA ver o projeto do restaurante, ajudei a elaborar algumas ideias para a cozinha. Trata-se de um restaurante que tem sucesso e eu e o proprietário somos amigos. Anos mais tarde volta a surgir outro convite de um amigo meu de tropa. Depois, já em Boston começaram a surgir outros convites e aceitei posições muito boas em vários restaurantes como Chef e com sucesso. Fui fazendo o meu caminho. Depois estive doente, fiquei melhor e surgiu a hipótese de montar o meu próprio negócio, há cerca de quatro anos. Dez anos depois de ter chegado à América, precisamente no dia 1 de fevereiro de 2020, o ano da pandemia.
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