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O poder local e as pessoas: a importância da pluralidade

Rita de Sousa Pereira

Em época de eleições autárquicas, o burburinho e suspense em volta dos candidatos, possíveis coligações e programas políticos é expectável. Este ano não seria diferente, principalmente com a mudança de governo e a crise pandémica.
Juntamente com as europeias, as autárquicas são talvez os atos eleitorais mais subvalorizados, isto se pensarmos no poder das autarquias como o primeiro impacto na vida dos eleitores e as decisões que afetam diretamente o seu quotidiano.

Este ato eleitoral, ao contrário de outros, abrange mais eleitores através da elegibilidade do voto de estrangeiros recenseados. Sendo assim, independentemente da sua nacionalidade, o público-alvo deverá ser sempre quem vive nas respetivas cidades. Resume-se então a importância do papel do poder local na vida dos cidadãos, sendo indispensável pensarmos na comunidade local como um todo.

Na prossecução do bem-estar dos munícipes, a verdade é que, para irmos ao encontro das suas necessidades, importa pensar na representatividade através da pluralidade de candidatos e não apenas no período de campanha como palco de vaidades e rivalidades entre partidos.

No arquipélago, a cobertura mediática de apenas dois partidos mantem-se em quase todas as eleições, prevalecendo a ideia errônea de que apenas estes terão capacidade de salvaguardar o bem-estar dos cidadãos. Preocupa-me a falta de conhecimento em geral, mas principalmente de atenção aos restantes programas políticos, tão ou mais capazes de defender e colmatar as necessidades das pessoas.

Só através da pluralidade de candidatos, de diferentes alternativas e visões para os municípios, celebramos a verdadeira democracia e a ideia de que qualquer pessoa, independentemente de nacionalidade, idade, profissão ou partido, poderá concorrer e ter ideias para melhorar a sua cidade.

O maior exemplo disto, este ano, são as candidaturas do Bloco de Esquerda Açores. Destaco apenas algumas que demonstram a pluralidade, audácia e coragem característica do partido: o Pedro Amaral, um estudante universitário de 19 anos, concorre por Vila do Porto; a Vera Pires e a Avelina Ferreira formam uma dupla competente e atenta por Ponta Delgada; o Guiseppe Grassi, nascido em Itália, é o primeiro candidato pela Madalena, onde vive há 10 anos; o Hugo Bettencourt, de 28 anos, e a Marlisa Furtado, de 26 anos, formam mais uma dupla dinâmica e criativa que quer mudar Angra do Heroísmo; e, sendo este um periódico lagoense, sem esquecer, o Mário Rui Pacheco, que se destaca pela sua proatividade e propostas assertivas.

Estas, e outras candidaturas, carecem de diversos recursos, não terão a mesma atenção mediática, e são muitas vezes desconsideradas e ridicularizadas, mas a estes candidatos não falta dinamismo, força de vontade e a convicção de que se candidatam pelas razões certas.

Escrevia Antero de Quental (no contexto da Questão Coimbrã): “a intellencia dos habeis, dos prudentes, dos espertissimos é muitas vezes cega em lhe faltando uma cousa bem pequena, que se encontra nos simples e nos humildes – a boa-fé.”

Estas candidaturas têm o meu respeito. A política são as pessoas.

 

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