Novo edifício do Nonagon com duas valências pioneiras nos Açores
Segundo edifício localizado no Tecnoparque, no Rosário, está em fase de testes e faz com que a Lagoa passe a ter o maior parque tecnológico dos Açores. Novidades do novo espaço foram apresentadas ao Diário da Lagoa (DL) pelo diretor regional da Ciência e Tecnologia, Flávio Tiago

Fez questão de nos mostrar o edifício em primeira mão e de ser ele próprio a conduzir a visita do DL ao segundo e novo edifício do Nonagon – Parque de Ciência e Tecnologia de São Miguel, junto ao Hospital Internacional dos Açores.
No interior, cheira a novo. As pinturas estão concluídas, os acabamentos também. Há luz natural em todos os compartimentos. Está quase tudo pronto para abrir mas, nesta altura, o edifício está a ser alvo de uma série de testes antes de poder abrir portas, estando a inauguração prevista para o último trimestre do ano.
A obra de 6 milhões e 601 mil euros foi financiada em 85 por cento por fundos europeus, tendo sido o restante assegurado pelo Governo regional. Demorou quatro anos a ficar concluída, com uma pandemia pelo meio, a guerra na Ucrânia e uma crise inflacionista, que não dá sinais de abrandar.
O diretor regional da Ciência e Tecnologia, Flávio Tiago, mostra-nos a ampla sala dedicada ao cowork, um espaço de trabalho partilhado por várias pessoas ou empresas. Ela ocupa uma fatia considerável do último andar do lote 32, com vista de mar. Para além dele e de todos os outros espaços destinados às empresas, que queiram pagar por eles, o novo edifício traz duas novidades aos Açores. Ambas prometem fazer a diferença no trabalho que desenvolve uma parte das empresas de base tecnológica instaladas na Lagoa.
DL: O Nonagon vai ter um fab-lab. O que é isso?
É um espaço, um laboratório que permite às empresas modelarem, construírem, testarem, fazerem todas as atividades de interação em fases iniciais do processo que estão a desenvolver. Isto para testarem um determinado produto, um determinado circuito e algumas componentes também eletrónicas, é um espaço que será comum às empresas. Todas as empresas que estão no Nonagon, tanto neste edifício como no outro, terão a oportunidade de ter este espaço também para poderem e desenvolverem os seus projetos na área das telecomunicações, na área da robótica, na área da eletrónica. Ou seja, permite que as empresas tenham este espaço de teste e este espaço como se fosse uma mini fábrica, digamos assim. É um laboratório-fábrica.
DL: Isso é muito importante para o lançamento de novos produtos, uma espécie de antecâmara de produção.
Exatamente. Vai permitir testar e não avançar logo com uma lógica de produção mais abrangente, testar antes e ver como tudo funciona.
DL: O que está previsto para este novo espaço?
Ele tem capacidade para alojar 20 a 30 empresas, com áreas que podem chegar aos 300 metros quadrados. Para além disso, e para além da questão do fab-lab, teremos condições para ter um espaço cowork e aí a flexibilidade é muito superior. Dependendo do cowork e afins facilmente conseguirão trabalhar aqui mais de 250 pessoas, com alguma facilidade. Também se está a trabalhar num projeto de computação de alto-desempenho que também está disponível neste edifício. Vai ter equipamento diferenciador que também permite às próprias empresas, à academia ter uma ferramenta de trabalho que seja atrativa.
DL: É algo pioneiro nos Açores?
Em termos de computação de alto-desempenho, sim, claramente.
DL: Consiste em quê?
É um sistema com uma capacidade de processamento enorme para grandes quantidades de dados. Cada vez se fala mais do big data e afins, portanto, a ideia é termos regionalmente essa capacidade, que depois é partilhada. E essa capacidade não se restringe em termos geográficos e estará disponível para toda a região.
DL: Prevê-se que esteja disponível quando?
Estará disponível mais durante o ano de 2024, acredito eu.
DL: Os espaços disponíveis neste edifício já estão alugados? Quando será lançado o concurso público para permitir isso?
Acreditamos que durante o quarto trimestre deste ano os concursos possam ser lançados com a expectativa de, até ao final do ano, ou mais tardar até o início do próximo ano, já poderem existir empresas a trabalhar aqui.
DL: Com a conclusão deste edifício, este passa a ser o maior parque tecnológico dos Açores?
Em termos de dimensão, sim será.
DL: Considera que há pouco investimento privado nos Açores?
Os números mostram — vou falar essencialmente em investimento privado na área de investigação e desenvolvimento — que as empresas investem menos em investigação e desenvolvimento.
DL: Porque acha que isso acontece?
Por vezes, isto tem a ver com as estatísticas oficiais, e eu penso que por vezes as próprias empresas fazem processos de investigação e inovação que não chamam dessa forma, não os consideram esse tipo de investimentos. Registar esse investimento e declará-lo em termos fiscais, sem dúvida nenhuma, é vantajoso. Por outro lado, é o próprio ciclo de crescimento das próprias empresas. Acredito que vamos entrar num ciclo em que claramente esse crescimento vai acontecer porque o próprio mercado exige que as empresas invistam e tenham características mais inovadoras e possibilitem essa vertente.
DL: Na sua opinião, qual é a principal mais valia deste novo espaço para o concelho da Lagoa e para a ilha?
Este espaço é atrativo não só para a Lagoa, para a própria ilha, mas também para os Açores no seu todo, uma vez que permite atrair e consolidar algumas empresas que estão a desenvolver projetos nos Açores. Eu posso dizer, inclusive, que algumas empresas que estão na Nonagon neste momento têm colaboradores que estão a trabalhar em Santa Maria, estão a trabalhar no Pico e isto funciona como uma espécie de rede e de base. Esta vertente dos parques de ciência e tecnologia que consegue concentrar quer a realidade da investigação e inovação, como a realidade académica, das tecnologias de informação permite precisamente este alavancar e este concentrar. É um modelo que tem sido muito estudado e trabalhado a nível internacional e tem vindo a dar os seus frutos.
DL: Prova disso é o edifício da Nonagon que já não dá quase para as encomendas. Depois prevê-se que este edifício não demore a ficar completo. Prevê avançar para um terceiro nesta zona?
É sempre possível fazer uma expansão. Desde que haja vontade de investimentos privados nesse sentido.
Sara Sousa Oliveira
Entrevista publicada na edição impressa de maio de 2023