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Mãe e filho gerem restaurante com receita que está na família há três gerações

«O Gastrónomo» é o nome que encontramos bem visível no exterior do edifício beje. Trata-se de um restaurante que nos despertou a curiosidade por ter na gerência uma mãe e um filho conhecidos pela simpatia e dedicação enquanto apostam numa receita que guardam na família há três gerações

Gonçalo Reis e Sónia Candeias são os proprietários do restaurante «O Gastrónomo» © DL

Chegamos à freguesia de São Pedro, em Ponta Delgada, pelas 14 horas. O local onde temos encontro marcado cheira bem, a comida. Antes de entrar no restaurante «O Gastrónomo» tivemos que percorrer alguns bons metros a caminhar até darmos com o local onde fomos recebidos por Gonçalo Reis, 26 anos.

Sabemos já que se trata de um negócio familiar, iniciado pelo pai e pela mãe de Gonçalo. Ao Diário da Lagoa (DL), conta que quando ainda frequentava o liceu Antero de Quental já ajudava no restaurante. Nessa altura tentou “avançar nos estudos” mas “não era aquilo que queria”.

Com a pandemia da covid-19 tudo mudou. Desde essa altura “não quis ir embora” porque apercebeu-se que era na luta diária no ramo da restauração que se sente em casa.

Gonçalo explica que o pai, na altura bancário, e a mãe, animadora sociocultural, sonharam «O Gástrónomo». “Era uma espécie de plano B para gerar um rendimento extra, mas correu tão bem que passou a plano A”, esclarece, não escondendo o orgulho no projeto iniciado pelos pais.

“A minha mãe já tinha um negócio neste mesmo sítio. Cresci neste ambiente de chegar a casa tarde, dormir aqui e sem me aperceber fui me habituando. Isto para mim é normal, mas uma pessoa para fazer disto vida tem que gostar, caso contrário esqueçam”, desabafa o agora responsável pelo projeto.

Enquanto aborda alguns clientes seus conhecidos, diz-nos que antes de servirem os clientes há sempre que preparar o restaurante, a cozinha e que quando fecham têm de limpar tudo para o dia seguinte. “Damos por nós e o nosso dia está todo preenchido, chegamos a casa sempre tarde”, lamenta.

Ao DL explica que desde o início que têm uma clientela micaelense regular que vem ao restaurante pelo prato típico da casa, confecionado com uma receita que foi passada à mãe pela avó dela: “os chicharros recheados”.

Apesar do prato mais conhecido no restaurante ser o chicharro, Gonçalo conta que “cada vez mais” têm alargado o cardápio disponível. “Somos muito conhecidos pelo nosso peixe, mas também temos uma carne ótima, a nossa espetada e os nossos bifes”, justifica. Mas no que diz respeito ao mar refere que apostam “no peixe fresco dos Açores” e argumenta: “é das melhores matérias-primas que nós temos”.

“Ao longo dos tempos as mudanças acontecem, nós tentamos adaptar-nos. Tem corrido bem”, assegura com um brilho nos olhos de dever cumprido. Mas não esquece que “a pandemia foi o pior tempo” que viveu e garante que “foram tempos de muita incerteza”. 

“A única coisa que podemos controlar, é dar o nosso melhor”, realça enquanto diz ser igualmente importante “o feedback das pessoas, as críticas online”, diz. “Temos uma boa qualificação no Tripadvisor”, exemplifica.

“Em toda a restauração o turismo é muito importante”, diz, e destaca a importância do “Tripadvisor, Google, tudo o que é rede social” como algo fundamental nos tempos que correm.

No restaurante escutam-se várias línguas, nota-se a presença dos turistas e destaca-se o português e o castelhano. E de repente um: “isto é maravilhoso”, dizem turistas de território continental a provar o chicharro recheado. Entre a conversa com os clientes que elogiam a simpatia. “É preciso gostar para trabalhar nisto”, responde Sónia Candeias aos clientes até que se ouve: “o atendimento é cinco estrelas, já tinha lido sobre a senhora Sónia, é fantástica”.

Decidimos abordar os clientes. Alexandra Santos conta-nos que chegaram de Vila Franca de Xira, “a 20 quilómetros de Lisboa”, específica. Conta-nos que encontrou “O Gastrónomo” porque um conhecido recomendou-o. Quanto ao prato que escolheram, diz: “nós comemos chicharros recheados e é delicioso”.

Novamente sentados à mesa, agora com Sónia Candeias, 46 anos, proprietária do espaço e mãe de Gonçalo, confessa: “é um ramo que não é fácil. Para lidar com o público é preciso gostar muito, pois as pessoas são cada vez mais exigentes e se nós não gostarmos daquilo que estamos a fazer torna-se um sacrifício e ao tornar-se um sacrifício a nossa cara já não é a mesma”, justifica.

Perguntamos, então, como é trabalhar com alguém que viu crescer e assumir a responsabilidade de gerir o restaurante, o filho. A proprietária do estabelecimento faz um silêncio e não esconde as lágrimas que imediatamente começam a descer o rosto. “Oh… mude de assunto”, diz tapando o rosto. Damo-lhe alguns minutos para se recompor. Sónia Candeias suspira, ganha coragem e começa por afirmar convicta que “é um excelente miúdo, bom profissional, já é um profissional”, diz entre soluços.

“Aqui somos uma família”

Revela-se assim orgulhosa do filho enquanto conta que também tem uma filha de 17 anos que por vezes ajuda no restaurante mas que ela “quer ir para outro ramo profissional”. Por isso diz que, no restaurante, o filho é o “braço direito”.

Quanto ao segredo do chicharro recheado conta que “é uma receita da minha avó Zélia Rodrigues”.

“Era uma mulher muito trabalhadora e quando abrimos o restaurante disse-me assim: “Sónia, bifes e carnes há em muitos restaurantes, tens que fazer uma coisa diferente e que puxa muito pela clientela que eu fazia na tasca do teu avô“ e eu perguntei o que era e ela disse: “chicharros recheados”.

Sónia diz que é uma receita que: “dá trabalho de fazer, para quem gosta bem feito. Aquilo é chicharro pequenino, retira-se a espinha do meio e depois é feito com recheio de pão, o resto é segredo”. 

Decidimos pedir para ir à cozinha onde encontramos o chefe Luís Pimentel, 36 anos, que prontamente, logo na primeira abordagem, diz que o restaurante “é a minha casa” e que nele trabalha “desde que abriu”.

Por último, antes de nos despedirmos ainda trocamos umas palavras com Zélia Melo, 45 anos, ajudante de cozinha que nos conta: “ajudo na parte da sala” enquanto diz que gosta de trabalhar no restaurante. “Gosto. A senhora Sónia diz que é preciso gostar, todos dizem o mesmo mas por acaso eu gosto desta profissão e é a única que eu tenho. Sempre estive nesta área, desde os meus 22 anos. Trabalhar noutro sítio? Não quero. Aqui somos uma família”.

Fomos embora com a promessa de voltarmos, como clientes, a um espaço que aposta em servir quem recebe, com simpatia.

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Clife BotelhoDiretor

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