Padre André Furtado
Hoje damos início à semana maior na vida do cristão: a Semana Santa. Hoje, com fé, recordamos a entrada de Jesus em Jerusalém. O povo estendia mantos e ramos, aclamando: “Hossana ao Filho de Davi!” Mas é o mesmo povo que gritará: “Crucifica-o!” Como é frágil a esperança baseada em triunfos humanos! Como é inconstante o coração humano quando não se ancora no amor verdadeiro!
No Evangelho da Paixão contrastam-se dois tipos de esperança: a esperança superficial — a dos homens que esperavam ver milagres fáceis, soluções rápidas, gestos espetaculares, uma vida facilitada (tão presente nos dias de hoje) — e a esperança silenciosa e fiel de José de Arimateia, que aguardava o Reino de Deus com humildade e coragem, oferecendo até o seu túmulo a Jesus.
Diante da Cruz, as falsas esperanças caem por terra, e só permanece a esperança que nasce do amor. Cristo não desceu da Cruz. Não Se salvou a Si mesmo para provar o Seu poder. Permaneceu firme, por amor a nós. Mostra-nos que a verdadeira esperança não evita a cruz — passa por ela e transforma-a. Por isso, a esperança verdadeira é aquela que se purifica na dor, se fortalece no sofrimento e se ancora no Coração trespassado de Jesus.
A narrativa da Paixão apresenta-nos um Cristo sereno, compassivo, que perdoa até mesmo na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Jesus não perde a Sua identidade, mesmo diante da dor e da injustiça. Ensina-nos a permanecermos fiéis, mansos, humildes e firmes no amor, mesmo nas situações mais difíceis.
E há personagens na Paixão que também nos interpelam:
• Pedro, que O nega por medo, mas depois chora amargamente;
• Pilatos, que reconhece a inocência de Jesus, mas lava as mãos;
• Simão de Cirene, que ajuda a carregar a cruz;
• As mulheres de Jerusalém, que choram por Ele;
• O bom ladrão, que, na última hora, se entrega à misericórdia de Deus.
Todos nós estamos ali. A Paixão não é apenas um relato antigo: é o espelho da nossa atual humanidade.
Na vida, experimentamos continuamente tudo isto: momentos de exaltação e alegria, e outros de prostração e desalento. Por vezes, parecem predominar estes últimos.
Mas é então que intervém o ânimo da fé e a palavra de Jesus, que o sustenta: “Coragem! Eu venci o mundo.” (Jo 16, 33). Sim, a esperança é impossível de apagar, porque constitui a força que une o divino e o humano, a elevação do homem até Deus e a familiaridade de Deus com a pessoa.
Olhamos para o nosso mundo e parece que só vemos o mal em estado puro: atrocidades, destruição de vidas e da natureza. Sem a esperança, o cenário é sombrio. O relato da Paixão do Senhor parece continuar a reescrever-se na história da humanidade: condenação de inocentes, prepotência dos poderosos, banalização ou normalização do mal, indiferença de tantos, o aparente silêncio de Deus, atentados contínuos contra a vida humana… Tudo parece condenar e fazer desaparecer a esperança, levando-nos à desistência. E muitas vezes o nosso silêncio, em situações que deveríamos condenar e contrariar, é uma arma que mata.
Mas não! Basta de vivermos constantemente agarrados às esperanças mundanas, que nos fazem procurar a Deus apenas quando o mundo nos cai aos pés. Ancoremo-nos na esperança que não se apaga: este Deus que está presente em todos os momentos da nossa vida. Não façamos de Deus um deus ocasional.
Ancoremo-nos na esperança que não se apaga. Ela é:
– a virtude das mulheres e dos homens que fazem projetos e participam na Criação,
– que sonham e plantam a novidade da graça;
– o estímulo para meter mãos à obra e transformar os rastos de destruição numa primavera de vida;
– o garante de que, da cruz ensanguentada, surgirão raios de luz, da ressurreição e vida nova que nenhum túmulo poderá encarcerar.
Ela, de facto, anima a fé nos tempos humanos e fortalece a caridade.
Na Cruz, tudo ganha novo sentido:
O medo transforma-se em confiança;
A escuridão, em luz;
A derrota, em vitória;
A morte, em vida.
Do alto da Cruz, Jesus diz a cada um de nós: “Hoje estarás comigo no Paraíso.”
É esta promessa que sustenta a nossa fé, mesmo quando tudo parece perdido. Porque quem espera em Cristo Crucificado nunca está só. Quem Se entrega a Ele encontra força, mesmo na fraqueza.
Por isso, irmãos: “ancoremo-nos e esperancemo-nos” — nas palavras, nos gestos, nas dores e nas alegrias.
A cruz é dura, mas a Páscoa vem!
Tal como a primavera chega depois do inverno, a alegria virá depois da cruz.
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