Um grupo de alunos da Universidade dos Açores realizou hoje autonomamente uma bênção das pastas, em Ponta Delgada, no que consideram ser um “forma de resistência” depois de o evento oficial ter sido adiado pelas devido à covid-19.
Durante a manhã de hoje, a igreja de Nossa Senhora de Fátima, na freguesia de São José em Ponta Delgada, recebeu vários alunos do último ano do curso de Educação Básica da Universidade dos Açores (UAc), que decidiram realizar de forma autónoma a cerimónia da bênção das pastas.
A representante da turma, Júlia Teixeira, revelou à agência Lusa que estava prevista a presença de 19 alunos, cada um podendo trazer seis familiares.
A estudante avançou que alguns dos familiares vieram do exterior da ilha de São Miguel, sobretudo da ilha do Corvo e da Terceira, porque é “importante” ter a “família junta” nesta ocasião.
“É só curso de Educação Básica, sentimos a necessidade de reservar um dia para finalizar este ciclo e não faria sentido se o fizéssemos sozinhos. Vamos fazê-lo com todas as questões de segurança”, afirmou.
A 16 junho, a Associação Académica da Universidade dos Açores anunciou estar inconformada com a decisão da direção regional de Saúde em cancelar a cerimónia tradicional da bênção das pastas devido à pandemia da covid-19.
Perante a decisão, os alunos de Educação Básica organizaram a sua própria cerimónia, em conjunto com o pároco da igreja. Até as leituras e as músicas da missa foram “adaptadas ao gosto e ao curso” dos alunos.
“É uma forma de resistência. A verdade é que a missa da bênção da Associação Académica sofreu alguns percalços. Nós temos todas as questões de segurança e não sentimos que a nossa segurança iria ser colocada em causa”, assinalou.
Quase todos os alunos vestiam o traje oficial da UAc e todos usavam máscara, tal como os familiares que eram convidados a desinfetar as mãos antes à entrada da igreja.
“Tomamos todas as medidas de segurança. Temos os bancos assinalados, temos desinfeção, todos temos máscaras, avisamos todos os familiares que era necessário trazer máscara e sentar só um certo número pessoas por bancos”, assegura a aluna Graça Gata, de 22 anos.
A estudante diz compreender a decisão da Autoridade de Saúde em cancelar a cerimónia tradicional da bênção das pastas organizada pela Associação Académica, mas critica as “contradições” nas medidas de controlo da pandemia.
“Sei que iria ser uma bênção com muitas pessoas, é impensável fazer uma cerimónia com quase 800 pessoas, mas não concordo que continue a haver comunhões e crismas e outras cerimónias com igual número de pessoas que não tenham sido canceladas”, afirmou.
O estudante Pedro Botelho, de 20 anos, trouxe os pais, os irmãos e a cunhada à cerimónia, o “mínimo de pessoas possível” devido à pandemia da covid-19.
“Sinto-me seguro porque temos todas as condições de segurança, como distanciamento, desinfeção e máscaras. Tentámos ao máximo assegurar isso para a realização desta bênção”, realçou.
O aluno também compreende a decisão de cancelar a outra cerimónia da bênção das pastas, advogando que a “constante indignação” dos estudantes deve-se às “incoerências” da Autoridade de Saúde.
Cármen Franco, mãe de uma das alunas, disse estar orgulhosa por estar na bênção das pastas da sua filha, um “momento importante” para os estudantes, que está organizado com “todos os cuidados de segurança”.
Cármen Franco refere que trouxe outros cinco familiares ao evento – “apesar de existirem mais familiares que gostavam de estar presentes” – e diz que o adiamento da cerimónia da bênção das pastas “mexeu com a cabeça” dos alunos.
“Isso tudo mexeu com a cabeça das pessoas. Os pais iriam ser todos testados e os alunos também. Portanto, acho que não houve justificação para adiar. O espaço também era grande. Não devia ter sido cancelado, mas pronto. Agora ainda bem que esses alunos decidiram arranjar uma alternativa”, apontou.
A cerimónia da bênção das pastas, destinada a todos os alunos finalistas da academia, decorre habitualmente num templo religioso, mas este ano, devido à pandemia da covid-19, estava inicialmente marcada para 20 de junho no estádio de São Miguel, em Ponta Delgada.
A Associação Académica adquiriu 980 testes rápidos contra a covid-19 para testar todos os participantes, que teriam obrigatoriamente de usar máscara durante a cerimónia, estando prevista a presença máxima de 750 pessoas.
Depois de a decisão da Autoridade de Saúde em adiar o evento, a Associação Académica açoriana ainda apresentou um novo plano de contingência que previa a realização do evento noutro concelho (Vila Franca do Campo), mas a intenção voltou a ser rejeitada.
Hoje, à agência Lusa, a Associação Académica da Universidade dos Açores demarcou-se do evento realizado pelos alunos de Educação Básica.
Fonte oficial da associação avançou ainda que a Autoridade de Saúde ainda não confirmou a realização da tradicional bênção das pastas para os dias 10 ou 11 de julho, datas avançadas aquando do adiamento.
Rui Pedro Paiva – Lusa/ DL
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