Greve dos Jornalistas: há um mês gritaram os que dão voz a toda a sociedade
Mais de 70 pessoas, entre jornalistas e apoiantes, estiveram em concentração em Ponta Delgada, no dia da greve geral dos jornalistas que registou uma adesão, na região, de 42 por cento. Quiseram chamar à atenção para a deterioração das condições de trabalho da classe profissional. O Diário da Lagoa esteve a ouvir alguns jornalistas
“Povo, escuta, jornalistas estão na luta” e “a liberdade não se escreve sem jornalistas” foram algumas das frases que se “gritavam” na concentração, no Jardim Antero de Quental, em Ponta Delgada, em dia de greve geral dos jornalistas: a única nos últimos 40 anos. Na cidade açoriana, 14 de março foi um dia de sol, o que por sua vez contrasta com a “névoa” que paira sobre o setor do jornalismo.
Jornalistas e apoiantes apelavam à atenção da sociedade civil para os baixos salários, precariedade, sobrecarga laboral, horas extraordinárias não remuneradas, entre tantos outros problemas que afetam a classe. De acordo com o sindicato, a crise no jornalismo é um problema de toda a sociedade.
O Diário da Lagoa (DL) esteve a ouvir e a dar voz aos jornalistas presentes na concentração para conhecer os seus problemas e reivindicações.
Marta Silva, presidente da Direção Regional dos Açores do Sindicato dos Jornalistas que discursava na concentração, disse: “As pessoas têm de perceber que a informação só faz sentido se for de qualidade, de confiança e credível, e isso só se consegue com órgãos de comunicação fortes. O problema reside, principalmente, na questão do financiamento.”
“Não faltam razões para fazermos greve,” diz Nuno Martins Neves, que vestia uma t-shirt com um dos motes da greve: “a liberdade não se escreve sem jornalismo.” O jornalista do Açoriano Oriental explicava que “as condições do nosso trabalho têm se deteriorado nos últimos anos e agravaram-se com a inflação, em que, à conta de não termos aumentos salariais, estamos a perder poder de compra”.
O jornalista aponta ainda os casos de profissionais que recebem abaixo do salário mínimo: “temos pessoas com salários muito baixos e sei que nos outros órgãos de comunicação social (OCS) há pessoas a ganhar abaixo do salário mínimo, pessoas com vínculos laborais muito precários, falsos recibos verdes”.
Inês Linhares Dias, da Antena 1 Açores, com a mesma frase ao peito, considera por sua vez que “é preciso que as pessoas percebam que a deterioração da qualidade do jornalismo está também intimamente ligada à deterioração das condições de trabalho e laborais dos jornalistas”. A jovem jornalista defende que “damos vozes a tantas lutas, está na hora de ouvirem a nossa voz também”.
Inês Linhares Dias, que faz também parte da direção regional do Sindicato dos Jornalistas, descreve a situação de muitos profissionais do setor: “sei o que nos passa pela cabeça quando o dinheiro não estica, quando as horas se esgotam no trabalho e sobra muito pouco para o resto, quando nos deitamos na cama a pensar no trabalho e não vemos esse esforço reconhecido. Continuamos a fazer isto por paixão, mas é preciso que seja mais do que isso. É um trabalho que já não compensa há muitos anos, mas é preciso reverter isso”, considera.
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