As celebrações do 114.º aniversário da implantação da República, tiveram lugar este sábado, 5 de outubro, na Praça do Município, em Lisboa, tendo sido assinalado também o centenário da morte de Teófilo Braga.
O catálogo “Teófilo Braga (1843-1924) – No centenário da sua morte”, foi apresentado no Museu da Presidência da República, em colaboração com a Câmara Municipal de Ponta Delgada, e no âmbito das celebrações foi depositada uma coroa de flores no túmulo de Teófilo Braga, no Panteão Nacional.
Segundo a autarquia de Ponta Delgada, “o momento simbólico teve como objetivo reforçar o reconhecimento da sua importância histórica e cultural para Portugal”, sendo que a cerimónia contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e diversas personalidades.
De acordo com nota de imprensa publicada no portal do Governo regional dos Açores, o líder do executivo açoriano, José Manuel Bolieiro, marcou presença e sublinhou a “importância” de evocar a memória de Teófilo Braga, que, nascido em Ponta Delgada, nos Açores, se destacou não só como o segundo Presidente da República Portuguesa, mas também como escritor e poeta, autor de uma vasta obra com mais de 300 títulos abrangendo áreas como a história, a filosofia, o teatro e a poesia.
“Há sempre um açoriano nos grandes momentos transformadores de Portugal. Eu sinto que Portugal pode contar com os açorianos, como sempre contou, e com os Açores”, sublinhou José Manuel Bolieiro.
“Os açorianos em qualquer parte do mundo têm um enorme orgulho na sua portugalidade e serem pertença, com intervenção na formação de Portugal, com influência na capacitação de Portugal”, acrescentou.
“Enquanto açorianos, honramos em Teófilo Braga um português de corpo inteiro, cujo exemplo cívico e dedicação à causa pública são inspiradores”, disse José Manuel Bolieiro.
Também presente, o presidente da câmara de Ponta Delgada, Pedro Nascimento Cabral, registou o trajeto distinto de Teófilo Braga na história de Portugal.
“Homenageamos o político de Ponta Delgada que foi Presidente da República, mas também o pensador reformista que se dedicou à mudança e consolidação de um novo regime político para Portugal”, afirmou, de acordo com comunicado enviado às redações, Pedro Nascimento Cabral.
A iniciativa foi promovida pela câmara de Ponta Delgada, no âmbito do centenário do falecimento de Teófilo Braga, contando com a associação do presidente da República e presidente do Governo regional dos Açores.
Teófilo Braga, nascido na cidade de Ponta Delgada, formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, tendo-se distinguido como político, escritor e ensaísta. No seu percurso político destaca-se a liderança do Governo Provisório formado com a instauração do regime republicano (de 6 de outubro de 1910 a 3 de setembro de 1911) e o exercício do cargo de presidente da República em 1915.
O panteão nacional acolhe e homenageia algumas das mais importantes personalidades da história e cultura portuguesa de todos os tempos, os presidentes da República Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona, os escritores Almeida Garrett, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro e João de Deus, a artista Amália Rodrigues, o Marechal Humberto Delgado e Aristides de Sousa Mendes.
Teófilo Braga, 66 anos, é professor de Física e Química aposentado e um apaixonado pelo mundo natural. É autor do livro “As plantas na Medicina Popular dos Açores” e foi convidado a liderar uma sessão explicativa no quintal Etnográfico da Ribeira Chã para assinalar o dia Internacional dos Museus, a 18 de maio. Esse foi o ponto de partida para uma conversa com o Diário da Lagoa sobre aquilo que mais o interessa.
DL: Como surgiu este gosto pelas plantas?
Sou natural da Ribeira Seca, Vila Franca do Campo. O meu pai era agricultor. Desde criança habituei-me a cuidar das plantas e a ajudá-lo em alguns trabalhos agrícolas, embora na altura, não gostasse muito, mas há qualquer coisa que ficou cá dentro.
DL: Sabemos que os nossos antepassados utilizavam muito as plantas para fins medicinais. Atualmente, esse uso ainda continua a ser feito nos Açores?
Ainda se faz, mas penso que cada vez se usa menos e cada vez as pessoas sabem menos. É uma coisa que se vai perdendo, por isso é que decidi publicar um livro, que tem a indicação de 100 plantas e os seus usos tradicionais, sobretudo os usos medicinais.
DL: E são plantas endémicas e nativas dos Açores?
Não. Quando os povoadores chegaram encontraram um mundo completamente desconhecido para eles. Tiveram que trazer grande parte das plantas que são hoje ainda usadas na medicina popular. Das endémicas dos Açores, só conheço um caso de uma planta que é usada, que é um tomilho endémico.
DL: As plantas têm muitos usos e podem servir para várias coisas mas é preciso ter cuidado, certo?
É preciso ter cuidado no uso das plantas, sobretudo porque as plantas têm contra indicações e efeitos secundários. Mas além disso, o mais perigoso é o facto de a mesma planta ter nomes diferentes em localidades diferentes. Uma planta com determinado nome pode ser benéfica para a saúde, e noutra localidade, com o mesmo nome, ser uma outra espécie completamente diferente e ser muito prejudicial.
DL: Acha que o facto de conhecermos mais as plantas evitaria recorrermos a determinado tipo de fármacos?
Para casos ligeiros isso pode acontecer. Numa dor pontual não é necessário recorrer imediatamente à medicina, mas é sempre um risco. Convém sempre recorrer a um profissional de saúde que seja apto para detectar o tipo de doença e a forma de a tratar.
DL: Mas as plantas podem fazer pequenos “milagres” ou não?
Claro que podem. Grande parte dos medicamentos são feitos à base de plantas. Esse conhecimento é importantíssimo.
DL: Fez um questionário que envolveu 500 pessoas. Que principais conclusões tirou daí?
O questionário foi procurar saber que plantas eram usadas pelas pessoas entre 1988 e 1999. Fiz com a ajuda de alunos meus, da Escola da Ribeira Grande, Escola Antero de Quental, Escola das Laranjeiras. O objetivo foi saber que plantas eram usadas. Plantas com propriedades medicinais nos Açores há muitas.
DL: Quer deixar alguma mensagem aos leitores?
Um apelo para se informarem e conhecerem mais. E também que outras localidades façam o que é feito aqui na Ribeira Chã, que tem um quintal etnográfico com 13 plantas aromáticas. Isto é pioneiro e é o único. Não conheço outra freguesia que tenha um quintal etnográfico e um canteiro com plantas aromáticas e medicinais.
A freguesia da Ribeira Chã, Lagoa, vai assinalar o Dia Internacional dos Museus, na próxima sexta-feira, a 17 de maio, anunciou a Câmara Municipal da Lagoa. O tema central será “Museus para a Educação e Investigação”.
O programa inicia-se pelas 15h30 daquele dia, com uma visita guiada ao Núcleo Museológico da Adega e ao Núcleo Museológico da Agricultura, ambos situados no Quintal Etnográfico freguesia da Ribeira Chã. Os participantes vão ser acompanhados pelos técnicos dos respetivos núcleos museológicos, de acordo com o mesmo comunicado.
A autarquia lagoense destaca do programa a “Conversa no Quintal”»” com Teófilo Braga, “que irá salientar o endemismo açórico e as plantas usadas na medicina popular do Quintal Etnográfico cujo projeto, da autoria do padre João Caetano Flores”, considerado uma «iniciativa pioneira a nível regional”.
Na sua conversa, o autor vai mencionar as plantas existentes no Quintal Etnográfico em 2024 – comparando com as existentes em 2005 – e as suas propriedades medicinais. Assim, os presentes irão conhecer as propriedades do alecrim, arruda, erva-cidreira, erva-príncipe, funcho, hortelã-pimenta, macela, maria-luísa, poejo, entre outras.
Após a visita aos núcleos museológicos e a palestra de Teófilo Braga, os participantes poderão desfrutar de um piquenique ao ar livre, com prova de chá, “proporcionando o usufruto de um momento de convívio e descontração ao ar livre entre todos”.
O evento é dirigido ao público em geral, sem necessidade de qualquer inscrição ou marcação, segundo a autarquia.
Teófilo Braga, professor de profissão, é autor de vários livros, tais como “As plantas medicinais na medicina popular”, ou “«”Árvores dos Açores – Ilha de São Miguel”»”, e possui um mestrado em educação ambiental.