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Eclipse solar

Victor Hugo Forjaz
Professor Catedrático de Vulcanologia

1 – O mundo científico anda em polvorosa com o próximo 8 de abril quando se efetivará um eclipse total do sol numa faixa aproximadamente de 500 km, do México passando pelos Estados Unidos e terminando no Canadá. Durante horas tardias o dia será noite, porque o satélite da Terra, a Lua, se cruza com a trajetória do nosso Astro-Rei (de difícil estudo, salvo nos eclipses).

2 – O fenómeno tem consequências de diversos tipos, desde as sociais às económicas, das científicas às religiosas e tecnológicas (satélites, comunicações).
Os “media” norte-americanos têm editado obra de consagrados analistas de jornais, revistas e TV. Uns autores comparam entre si os diversos eclipses totais e realçam as particularidades de cada um. Egípcios, aztecas, incas, chineses e japoneses conseguiram montar extraordinárias estruturas de observação. Na China, com colegas de Espanha, visitei um antiquíssimo Observatório-do-Sol equipado com sofisticados equipamentos de estudo não só do exterior solar, mas também de alguns quilómetros da “crosta” solar.
Ali se desenvolvem, em determinados sectores, contínuas explosões de energia, quase inacreditáveis. Ainda não se tem a certeza sobre essa constituição do interior do Sol.

3 – Os egípcios associavam os eclipses totais do sol e da lua a avisos do deus da morte, Anúbis. E eliminavam os moribundos em cremações ritualizadas, por perfumes celestiais. Os chineses são e os aztecas foram os povos com mais entrosados no conhecimento solar. Os aztecas deduziam o aparecimento de eclipses, totais ou parciais do sol e da lua. Os do sol eram antecedidos por sacrifícios de virgens, tal aquando das erupções vulcânicas. Terríveis sacrifícios humanos que tiveram a passividade dos colonizadores espanhóis, sedentos de ouro e de jaspe polido.
Na Idade Média o “apagar” do sol gerava notáveis crendices e o renascer do astro-rei gerava tratados e juras de bondade. Quase tudo de pouca dura. Mas os chineses foram, através de binóculos com lentes cuidadosamente fabricadas, que descobriram a corona solar das explosões do sol. Na época não conseguiam medir o efeito de chegada de “massa” solar invisível ao nosso planeta.

4 – Entretanto a imensa máquina comercial dos Estados Unidos já colocou em marcha a sua fabulosa maneira de saber vender. Desde os óculos escuros que garantem proteção aos olhos aos sacos de pipocas e de salgados que abastecerão umas escassas horas de devotos, voltados para o mesmo ponto do céu. Tudo se vende, desde plásticos a trajos, de gelados solares a panquecas de mel dito solar. É um fantástico circo que inclui viagens por terra, por avião e por balão., tentando acompanhar a faixa de
escuridão.

5 – Muito se poderá hoje narrar sobre o astro que condiciona toda a via terrestre e condiciona todos os restantes astros que o orbitam. Mas, enfim, como escreveu o sábio Teilhard de Chardin – “À escala do Cosmos, só o fantástico pode ser verdadeiro “.

Que o “novo” sol vos traga saúde e sorte.
Ela ainda terá milhões de anos de vida.