O Dia Mundial do Livro foi assinalado na Biblioteca Municipal Tomaz Borba Vieira, no passado dia 23 de abril, com apresentação ao público do fundo de José Martins Garcia. Trata-se de uma doação feita por Pedro Queiroz — nascido no Porto, filho de mãe açoriana e com ligação à Lagoa —, que tinha uma relação familiar e de amizade com o escritor açoriano. A Biblioteca tem agora disponível ao público mais de 500 espécies bibliográficas da coleção particular de Martins Garcia.
Aquando da apresentação do fundo ao público, houve uma intervenção por parte de Pedro Queiroz que contou com uma plateia de cerca de três dezenas de pessoas. O portuense com raízes na Lagoa disse que optou por doá-las à Biblioteca Municipal Tomaz Borba Vieira, “com vista a preservar a ligação à terra que passou a ser sua e que tanto o inspirava”. Pedro Queiroz conta que passava sempre as suas férias “com a minha mãe e também com ele, pelo que tinha contacto próximo” passando a ser seu amigo. “O melhor legado que poderia ser feito era homenagear com esta doação à Biblioteca da Lagoa para que todos possam sentir o impacto da insularidade e formas intensas de viver os Açores”, diz.
Pedro Queiroz contou, ainda, ao Diário da Lagoa (DL) que a decisão de doar a coleção prendeu-se também com a vontade de facilitar o seu acesso à população local. “No Dia Mundial do Livro surge este grande dia, que é a razão da minha visita. Homenagear esta boa iniciativa da Câmara Municipal da Lagoa em abrir um fundo específico para esta obra. Fico orgulhoso e é, para mim, um privilégio. Acho que os desejos, quer da minha mãe, quer de José Martins Garcia, estão realizados, porque veem aqui um projeto de continuidade”, explica Pedro Queiroz.
O escritor e professor Urbano Bettencourt também marcou presença no evento como orador, sendo que na obra “O amanhã não existe”, destaca a inquietação insular e a sátira na narrativa de José Martins Garcia. Na sua obra, o escritor e professor refere que Martins Garcia é um “homem e autor que domina a língua portuguesa, capaz de subvertê-la, explorá-la até aos seus limites e, ao mesmo tempo, capaz de construir um imaginário surpreendente”.
Para Urbano Bettencourt, que falava ao DL, no final da apresentação, “é uma iniciativa importante e curiosa, porque é uma sala em que se encontram as artes plásticas e as letras, ou seja, o fundo Tomaz Borba Vieira e o fundo José Martins Garcia. É bom que seja nesta biblioteca, da Lagoa, à qual Martins Garcia, de algum modo está ligado, porque viveu ligações afetivas e pessoais”.
O professor lembra que José Martins Garcia “foi um escritor que teve sempre no seu horizonte uma luta pela liberdade, contra a injustiça, contra a tirania, contra as ditaduras, quer nos tempos da ditadura do Estado Novo, quer, depois, nos tempos conturbados do pós 25 de abril. Portanto, ele cobriu, com a mesma liberdade de pensamento e de espírito, os dois tempos”, motivo pelo qual faz sentido a iniciativa acontecer aquando das comemorações dos 50 anos do 25 de abril, considera Urbano Bettencourt.
O fundo está agora inserido na sala em que se encontra o fundo de Tomaz Borba Vieira, patrono da Biblioteca Municipal e é composto, na sua grande maioria, por monografias pertencentes às áreas da Filosofia, Psicologia e Literatura. Estão presentes várias obras da sua autoria, nomeadamente nas áreas da análise crítica e estudos literários sobre Fernando Pessoa, David Mourão e Vitorino Nemésio, teoria da literatura, contos, romances e poesia. As obras estarão disponíveis para consulta ou empréstimo aos utilizadores da biblioteca na sala de leitura.
O Dia Mundial do Livro será assinalado na Biblioteca Municipal Tomaz Borba Vieira, na próxima terça-feira, 23 de abril, pelas 14h30, com a disponibilização ao público do fundo de José Martins Garcia, anunciou autarquia lagoense. Este fundo é fruto de uma doação feita por Pedro Queiroz que tinha uma relação de amizade e familiar com o escritor açoriano.
Na sequência da doação, a Biblioteca irá disponibilizar ao público mais de 500 espécies bibliográficas da coleção particular de José Martins Garcia.
Aquando do evento, na próxima terça-feira, haverá uma intervenção por parte de Pedro Queiroz, mais intimista e afetiva, que partilhou com Martins Garcia “muitos bons diálogos e tertúlias”. Em nota de imprensa enviada pela autarquia ao jornal, Pedro Queiroz refere que optou por doá-las à Biblioteca Municipal Tomaz Borba Vieira, na Lagoa, “com vista a preservar a ligação à terra que passou a ser sua e que tanto o inspirava. Passava sempre as minhas férias com a minha mãe e também com ele pelo que tinha contacto próximo e com o tempo passei a ser também seu amigo. O melhor legado que poderia ser feito era homenagear com esta doação à Biblioteca da Lagoa para que todos possam sentir o impacto da insularidade e formas intensas de viver os Açores”.
Segue-se uma conversa com Urbano Bettencourt intitulada «José Martins Garcia: o homem e os livros». Urbano Bettencourt, é licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa e doutorado em Estudos Portugueses pela Universidade dos Açores. Na sua obra “O amanhã não existe”, resultante da dissertação que defendeu na Universidade dos Açores para obtenção do grau de doutor em Estudos Portugueses, foca em especial a inquietação insular e a sátira na narrativa de José Martins Garcia.
Nesta obra, Urbano Bettencourt refere que Martins Garcia é um “homem e autor que domina a língua portuguesa, capaz de subvertê-la, explorá-la até aos seus limites e, ao mesmo tempo, capaz de construir um imaginário surpreendente”.
O fundo ficará inserido na sala em que se encontra o fundo de Tomaz Borba Vieira, patrono da Biblioteca Municipal e é composto, na sua grande maioria, por monografias pertencentes às áreas da Filosofia, Psicologia e Literatura. Estão presentes várias obras da sua autoria, nomeadamente nas áreas da análise crítica e estudos literários sobre Fernando Pessoa, David Mourão e Vitorino Nemésio, teoria da literatura, contos, romances e poesia. Uma das obras mais antigas é datada de 1947 e é da autoria do poeta francês Jean-Paul Sartre intitulada Baudelaire. As obras estarão disponíveis para consulta ou empréstimo aos utilizadores da biblioteca na sala de leitura.
José Martins Garcia nasceu na Criação Velha, ilha do Pico, a 17 de fevereiro de 1941 e faleceu em Ponta Delgada a 3 de novembro de 2002. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, tendo lecionado no Liceu da Horta, na Faculdade de Letras de Lisboa e na Brown University, em Providence, nos Estados Unidos da América. De volta aos Açores, na Universidade dos Açores, foi o responsável pela introdução da cadeira de literatura açoriana, nos planos curriculares das licenciaturas em Línguas e Literaturas Modernas, da qual também foi docente. Ocupou os cargos de vice-reitor e foi diretor da revista Arquipélago-Línguas e Literaturas, tendo terminado a sua carreira académica como professor catedrático.
Martins Garcia é um dos mais importantes escritores do século XX, com dimensão nacional. As obras literárias da sua autoria são maioritariamente dedicadas à ficção, nomeadamente romance e conto, abordando igualmente poesia, teatro e o ensaísmo, sendo que neste domínio destaca-se a importância os seus estudos sobre Vitorino Nemésio, Fernando Pessoa e David Mourão-Ferreira.