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Gustavo Louro venceu o seu primeiro rali com apenas 19 anos e aos 50 recorda uma carreira de sucesso

Gustavo Louro diz que “o patamar do campeonato dos Açores de ralis em termos gerais está demasiado elevado”. Em entrevista ao DL, o piloto terceirense revela a admiração por Horácio Franco e recorda outros tempos

Gustavo Louro, 50 anos, ganhou o campeonato dos Açores de rali por 6 vezes © CORTESIA CLUBAUTO

Nasceu na freguesia da Conceição, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, em janeiro de 1974. Tem 50 anos feitos e ao longo da sua carreira de piloto ganhou o Campeonato dos Açores de Rali por seis vezes, tendo conquistado o primeiro rali com apenas 19 anos de idade. Os anos que se seguiram de uma longa carreira deixam saudades ao piloto e memórias. Teve como adversários pilotos como Horácio Franco, Licas Pimentel, Fernando Peres, Ricardo Moura, Bruno Thiry e Yves Loubet. 

DL: Como surge na sua vida a paixão pelo rali?
Cresci no meio dos carros, deste o tempo do meu avô que a minha família tinha oficinas e foram representantes de marcas de automóveis. Depois passou para o meu pai e para mim. Estivemos sempre ligados aos automóveis.

DL: Com apenas 19 anos conquistou a sua primeira vitória num rali com um carro inferior aos seus adversários. Como alcançou esse feito?
Os 19 anos era a idade mínima para se poder correr em ralis na altura e tínhamos que ter um ano de carta de condução. No primeiro ano, em que tirei a carta, fiz de carro zero em algumas provas e, depois, com 19 anos fiz a primeira prova do campeonato dos Açores de ralis aqui na Terceira. Foi interessante porque foi com a idade de 19, com o número 19 nas portas, sendo que vencemos por 19 segundos. Preparamos muito bem as coisas, tínhamos essa possibilidade e um carro de treinos muito semelhante ao de prova, um Renault 5 GT Turbo.

DL: Como conseguiu alcançar os seis títulos de campeão dos Açores?
Com muita dedicação, trabalho, esforço pessoal e financeiro, bem como com bons patrocinadores. Ao longo da minha carreira de 20 anos sem interrupções — nos seguintes tive interrupções —, tivemos a sorte e conseguimos estar mais ou menos no topo com carros da geração atual, dentro do que era possível ombrear de igual para igual com os outros pilotos concorrentes nos Açores.

DL: Qual era o piloto que mais admirava?
Dos mais aguerridos e com uma vontade e paixão muito grande foi o Horácio Franco. Para além da nossa amizade pessoal, foi um dos pilotos com quem gostei mais de correr e com quem tive momentos bonitos. Mas, claro, também tive outros concorrentes como o Licas Pimentel, o Fernando Peres e, numa fase final da minha carreira, apareceu o Ricardo Moura mas não tive muitas oportunidades de correr com ele. Foram estes os mais difíceis de bater.

DL: E dos pilotos estrangeiros?
Foram vários. Lembro-me do ano em que ficamos em segundo lugar da geral no rali dos Açores, em que nesse ano ganhou o piloto belga Bruno Thiry, que era muito bom na altura. Também cheguei a apanhar o Yves Loubet.

DL: Há alguma história que o tenha marcado mais?
Pela negativa, um Sata Rallye Açores em que podíamos ter vencido mas na penúltima classificativa — estávamos a liderar a prova com Fernando Peres em segundo lugar —  tivemos uma saída de estrada, na Tronqueira, onde caímos cerca de 30 metros. Felizmente não nos aconteceu nada, embora o carro tenha ficado um bocadinho destruído. Foi triste, pois podia ter vencido o rali na geral. Pelo lado positivo, principalmente o primeiro título, porque foi difícil mas conseguimos.

DL: Na altura existia rivalidade entre São Miguel e Terceira?
Sempre existiu e penso que vai continuar, no desporto principalmente. No que me diz respeito sempre me senti bem em São Miguel, sempre fui acarinhado por muitas pessoas, talvez porque tenha aparecido numa altura em que era muito novo e tentei sempre gerir as coisas desportivamente de uma forma clara e honesta. Nunca tive problemas com os meus adversários e acabei na altura por fazer família em São Miguel. Fiz grandes amigos, sempre fui muito bem recebido.

© CORTESIA CLUBAUTO

“Neste momento o patamar do campeonato de ralis
em termos gerais está demasiado elevado
para a nossa dimensão e poder económico.”

GUSTAVO LOURO

DL: Como encara a situação atual e o futuro do rali nos Açores?
Na minha opinião, neste momento o patamar do campeonato de ralis em termos gerais está demasiado elevado para a nossa dimensão e poder económico. Basta verificar que nos últimos anos há apenas dois pilotos, duas equipas que podem vencer o campeonato. Ou é um ou é o outro, porque o nível está muito acima do normal para a região. Se, por exemplo, acabassem com as quatro rodas motrizes para nivelar o campeonato todo a duas rodas, se aparecesse dez pilotos com hipóteses iguais a tentar vencer uma prova, penso que se ganhava a nível competitivo e desportivo. Talvez aparecesse novos valores.
Quanto ao futuro, sinceramente não vejo nada de muito positivo. Existem poucos pilotos com capacidade financeira. E, depois, toda a logística que é correr nos Açores, pois sai muito mais caro do que correr no Campeonato Nacional devido ao grande problema das deslocações das viaturas e de toda a estrutura. Se não existir um apoio por parte dos clubes e Governo regional, acho que será muito complicado.

DL: Não pensa em regressar ao ralis? 
A tempo inteiro é praticamente impossível. Primeiro, porque já não tenho nem 20, nem 30 anos. E, depois, em termos de estrutura é muito difícil porque é preciso patrocinadores muito fortes, carros que custam muito dinheiro hoje em dia. É muito complicado neste momento regressar a tempo inteiro.

DL: Como encara a situação atual e o futuro do rali nos Açores?
Na minha opinião, neste momento o patamar do campeonato de ralis em termos gerais está demasiado elevado para a nossa dimensão e poder económico. Basta verificar que nos últimos anos há apenas dois pilotos, duas equipas que podem vencer o campeonato. Ou é um ou é o outro, porque o nível está muito acima do normal para a região. Se, por exemplo, acabassem com as quatro rodas motrizes para nivelar o campeonato todo a duas rodas, se aparecesse dez pilotos com hipóteses iguais a tentar vencer uma prova, penso que se ganhava a nível competitivo e desportivo. Talvez aparecesse novos valores.
Quanto ao futuro, sinceramente não vejo nada de muito positivo. Existem poucos pilotos com capacidade financeira. E, depois, toda a logística que é correr nos Açores, pois sai muito mais caro do que correr no Campeonato Nacional devido ao grande problema das deslocações das viaturas e de toda a estrutura. Se não existir um apoio por parte dos clubes e Governo regional, acho que será muito complicado.

DL: Não pensa em regressar ao ralis?
A tempo inteiro é praticamente impossível. Primeiro, porque já não tenho nem 20, nem 30 anos. E, depois, em termos de estrutura é muito difícil porque é preciso patrocinadores muito fortes, carros que custam muito dinheiro hoje em dia. É muito complicado neste momento regressar a tempo inteiro.

DL: Mas se pudesse regressava?
Nunca digo que não a nada e, sinceramente, ainda tenho esse bichinho cá dentro, gosto muito de correr e, por isso, há cinco anos atrás fiz dois ou três ralis. E no ano passado também fiz um. E sempre que surge uma oportunidade com a empresa Clubauto, nós avançamos e estamos sempre prontos a dar o nosso melhor. Se me fizessem um convite, se as condições fossem minimamente parecidas com as dos pilotos da frente, eu aceitava de bom grado.

DL: Se encontrasse um jovem de 19 anos que ambicione ser um Gustavo Louro, o que lhe diria?
Que acredite em si mesmo, primeiro que tudo. E que se reúna, se possível, de bons parceiros e confie nas pessoas certas.