A câmara da Lagoa celebrou um novo contrato de arrendamento com a Sociedade Filarmónica Lira do Rosário, tendo em vista a disponibilização do piso superior da sede para o Orfeão de N. Sra. do Rosário, na freguesia do Rosário, na Lagoa.
Segundo nota de imprensa enviada às redações esta terça-feira, 8 de outubro, pela autarquia lagoense, a assinatura do contrato de arrendamento decorreu entre a presidente do Município, Cristina Calisto, e a presidente de direção da Sociedade Filarmónica Lira do Rosário, Catarina Rego Rodrigues.
O contrato foi celebrado por um período de três anos e será renovável, caso nenhuma das partes se oponha, por iguais períodos.
A autarquia explica, ainda, que o contrato tem como objetivo continuar a facultar três salas ao Orfeão de N. Sra. do Rosário — que completa este mês 30 anos de existência —, para as suas atividades assentes na promoção da música coral e, igualmente, para fomentar a participação cívica e cultural dos seus associados.
De acordo com o comunicado, o executivo camarário reuniu com toda a direção e órgãos sociais da filarmónica, para tomar conhecimento das atividades realizadas, dos projetos para o futuro e dos constrangimentos que sentem. A ocasião serviu, também, para uma visita a todo o edifício, onde se manifestou a necessidade de algumas obras de beneficiação do espaço.
Fundada em 1861 pelo padre Jacinto Félix Machado, a filarmónica Eco Edificante, da vila do Nordeste, está a celebrar o 163.º aniversário com a particularidade de ser a mais antiga banda de música de São Miguel e a que funciona ininterruptamente desde a data da fundação.
Desde há seis que tem Daniel Caceiro como maestro, elemento que tem trabalhado com um grupo jovem e ambicioso no desejo de evoluir. “As filarmónicas são os conservatórios do povo, são um núcleo que, para além de se fazer música, fazem-se amizades. São uma segunda família para todos”, começou por situar.
“Ao nível da evolução, posso falar das pessoas que vi crescer, não só como seres humanos, mas como músicos. Isso sim, é uma grande recompensa para quem se encontra à frente, não só a nível artístico, como direção logística”, acrescentou.
Daniel Caceiro chegou à Eco Edificante por sugestão do anterior maestro. “A oportunidade foi sugerida pelo Carlos Freitas, que na altura estava de volta ao continente e deu o meu nome à direção da banda. Fui contactado, aceitei o desafio proposto e por lá fiquei até agora”, recordou.
Para além de ser maestro na Eco Edificante, é músico militar, sublinhando que “nós temos um papel fundamental no desenvolvimento das bandas filarmónicas na ilha de São Miguel. A maioria dos maestros das nossas filarmónicas ou são ou foram membros da Banda Militar dos Açores”.
Num concelho pequeno como o Nordeste que mantém em atividade três filarmónicas, como é que se consegue motivar os músicos, principalmente os jovens? A resposta saiu pronta: “Primeiro é preciso gostar de música, pois ninguém motiva uma pessoa a quem a música não lhe diga nada. O Nordeste tem uma tradição grande nas bandas, onde muitas pessoas passaram ou ainda se encontram nestas, pelo que por vezes é mais fácil colocar alguns jovens na escolinha de música por influência de familiares ou amigos que já tocaram na banda”.
E acrescentou: “Todos sabemos que, atualmente, com a grande diversidade dada aos jovens, tem mesmo de se gostar de música pois dá trabalho ser músico. A sorte de tocar bem dá muito trabalho. E projetos não nos faltam…”.
Portanto, a adesão dos jovens não tem sido uma dificuldade e é “determinante para manter a atividade da filarmónica”, realçou Daniel Caceiro, realçando a importância de se manter uma “escola de música consistente em funcionamento, com elenco competente a dar formação para que os jovens adquiram boas bases para ajudar na sua progressão e motivação.”
Natural da Figueira da Foz e a residir no concelho da Lagoa, Daniel Caceiro é um apaixonado pela ilha de São Miguel, pelos seus costumes e tradições. Iniciou a vida militar na Banda Sinfónica do Exército, passando ainda pela Orquestra Ligeira do Exército antes de ingressar no 37.º Curso de Formação de Sargentos (2008).
Em 2010, quando finalizou o curso, veio para os Açores, tendo ingressado na Banda Militar dos Açores. Regressou ao continente em 2016, com a certeza de que se tinha fechado um ciclo, mas em 2017 voltou à ilha, desta vez por opção própria, onde se mantém desde então. Durante estes anos já dirigiu a Banda Fundação Brasileira e a Filarmónica Triunfo.
Atualmente, detém o posto de sargento-ajudante músico e dirige a filarmónica Eco Edificante, do Nordeste.
A filarmónica Imaculada Conceição, da Lomba da Fazenda, concelho do Nordeste, organizou, nas instalações da Casa do Povo da Lomba da Fazenda, um workshop de aperfeiçoamento musical tendo em vista o reforço dos conhecimentos e competências dos seus executantes, muitos deles jovens.
Durante quatro dias, os músicos da filarmónica Imaculada Conceição trabalharam com vários formadores, nomeadamente Adelino Areias (trompete), Eduardo Brito (saxofone), Hugo Bento (clarinete) e Dina Hernandez (flauta transversal), apresentando-se em concerto na noite de domingo, sob a batuta do maestro Luís Afonso.
A iniciativa a cargo da filarmónica, em parceria com a junta de freguesia, insere-se nas comemorações do centenário de elevação da Lomba da Fazenda a freguesia, efeméride que terá o ponto alto das comemorações no mês de fevereiro de 2025.
O vice-presidente da Câmara Municipal do Nordeste, Marco Mourão, marcou presença no evento, acompanhado pelo vereador Flávio Soares, pelo presidente da Junta de Freguesia da Lomba da Fazenda, Rafael Moniz Vieira e pela presidente da filarmónica, Rosa Arruda.
A Filarmónica Lira do Rosário, com sede na freguesia de Nossa Senhora do Rosário, na Lagoa, celebra este sábado, 20 de abril, o seu 104º aniversário.
A data será comemorada com uma missa solene na igreja de Nossa Senhora do Rosário, às 19 horas, e depois, com a abertura do primeiro Festival de Filarmónicas Mestre Humberto Subica, às 20 horas, na principal praça da mais jovem cidade açoriana.
O festival conta com a participação das três bandas do concelho da Lagoa: a banda anfitriã Lira do Rosário, a Estrela D´Alva da freguesia de Santa Cruz e a Fraternidade Rural da vila de Água de Pau.
Às 21 horas a banda aniversariante irá também prestar homenagem a membros da sua filarmónica. Pelas 22 horas será a vez do grupo “Brunim do Acordeão e Amigos” atuar, finalizando-se a iniciativa às 23 horas com a atuação do DJ Paulo F.
Na praça haverá, ainda uma barraca de bebidas, doces e petiscos. Em nota publicada nas redes sociais, a Lira do Rosário salienta que “é com enorme alegria” que convidam “toda a população para as comemorações”.
Luís Paulo Moniz, 31 anos, é funcionário da Secretaria Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública. Mas é no tempo que lhe sobra que se sente realmente realizado. É maestro da Filarmónica Estrela D’Alva da freguesia de Santa Cruz, na Lagoa, e músico desde os oito anos na banda onde começou por tocar saxofone. É também professor de acordeão e saxofone na Associação Musical de Lagoa e foi maestro da Orquestra da Lagoa no âmbito das comemorações dos 500 anos do concelho, uma experiência que diz ter sido “muito bonita e uma mais-valia sobretudo para os jovens”.
O interesse pela música surge por influência do pai que era saxofonista e tenor. Luís Paulo está, assim, na Estrela D´Alva há 23 anos, dos quais quatro como maestro.
O antigo maestro, Paulo Gordo, quando regressa à sua terra natal faz o convite ao músico lagoense porque considerava que se tratava de “uma das pessoas com mais formação na filarmónica para dar continuidade ao seu trabalho”.
O atual maestro da Estrela D´Alva cumpriu formação no Conservatório de Ponta Delgada, entre os seus 11 e os 19 anos.
“Foi um pouco difícil conciliar os estudos, mas consegui”, diz Luís Paulo Moniz, ao Diário da Lagoa (DL), quando confrontando com o grau de dificuldade em conciliar o ensino regular com o musical.
Luís já compôs várias músicas para a filarmónica, as chamadas “marchas graves, de desfile” e outros arranjos musicais.
É autor da marcha “Homenagem a Santa Cruz” e de um tributo ao presidente da Assembleia da Estrela D’Alva, António Augusto Borges. Na gaveta tem “mais marchas que ainda não saíram” e que “estão guardadas”, conta ao DL.
Relativamente ao balanço que faz dos quatro anos de maestro diz que é “muito positivo” e que “houve crescimento tanto a nível musical como a nível de jovens na filarmónica” que muitas vezes desafiava a experimentar o mundo da música ao cruzar-se com eles na rua.
Atualmente a banda de Santa Cruz é composta por 18 jovens, entre outros músicos mais velhos como o presidente da banda, João Arruda, o músico Carlos Raimundo e o seu contramestre António Ventura.
Para este ano, avizinha-se muito trabalho com “as domingas do Espírito Santo” e outras procissões que se começam a realizar até ao verão, época alta das atuações da filarmónica.
Vão participar nos tradicionais impérios, nas marchas populares e em setembro a Estrela D´Alva vai realizar uma viagem à ilha da Madeira num intercâmbio com a banda de Santa Cruz da Madeira.
Ao nível de apoios para as filarmónicas no concelho diz: “não nos podemos queixar, tanto em relação à Junta de Freguesia como à Câmara Municipal”. Da autarquia explica que a filarmónica recebe “cinco mil euros, o que é muito bom comparado com outras autarquias. A nossa vê as nossas filarmónicas como escolas. Somos instituições centenárias”, sublinha o maestro.
Enquanto maestro, a sua preocupação e desafio “passa por tentar tirar os jovens de casa, onde passam muitas horas ao computador e outros em maus caminhos”. Luís Paulo diz que é importante os jovens socializarem e revela-se “otimista” porque estão a trabalhar em conjunto e enquanto grupo estão a “ganhar uma nova vida”.
Questionado sobre o que falta ainda fazer, diz que a “sede precisa de uma reforma” e que já fizeram um “pedido à Secretaria das Obras Públicas” porque precisam de “fazer um tratamento acústico do espaço”.
As fardas são também outro desafio em termos de investimento porque “os jovens estão em crescimento e depois no ano seguinte as fardas já não servem, sendo difícil de gerir”.
Por fim diz que “aprender a tocar um instrumento musical é uma arte e uma das melhores coisas que existem”. Para o maestro lagoense “nunca é tarde para aprender” pois “a música faz parte de todos e saber tocar é melhor ainda porque é uma linguagem universal.” Quando questionamos sobre a possibilidade de experimentar outros voos, remata sem hesitar e com um brilho nos olhos: “já recebi convites mas estou na minha banda do coração, não a troco por nada”.
Fundada a 2 de fevereiro de 1887, a filarmónica Estrela D’Alva é a instituição mais antiga da cidade da Lagoa, mas a longevidade da banda de música não faz perigar a sua sobrevivência a médio/longo prazo, pois a estrutura está alicerçada no binómio experiência/juventude.
Dos seus cerca de cinquenta músicos, muitos são jovens, mas também existem alguns mais antigos, como o presidente e músico, João Arruda, que recentemente completou as bodas de ouro de união à Estrela D’Alva.
Tinha apenas sete anos quando começou a tocar e nem precisou de se inspirar no filme ‘A fuga das galinhas’ para perceber que na banda estava ‘A fuga das vacas’.
“Fui pelas mãos de meu pai que era sócio da filarmónica. Naquela altura os pais levavam os filhos. Comecei naquelas lides aos sete anos”, recordou, reforçando a convicção de algo que já sabia ir gostar: “Antes de ir para a filarmónica já gostava daquilo porque meu pai tinha lavoura e era uma maneira de ao domingo não ir para as vacas”.
João Arruda começou por “tocar trompa” e mais tarde passou para trombone de vara, “instrumento que toco até hoje”, disse, orgulhoso, pois foi trombone de vara que tocou na Banda Militar quando ingressou no serviço militar obrigatório. “Foi uma fase da minha vida que para aperfeiçoar e a partir daí não mais mudei de instrumento”.
Fiel ao trombone de vara e à filarmónica Estrela D’Alva. “Nunca a troquei por outra”, assumiu, embora “de quando em vez tenha dado algum apoio noutras filarmónicas, o que ainda hoje acontece”, acrescentou.
De músico a presidente foi um instante. “Fui presidente durante quatro anos numa primeira fase, mas por motivos de saúde tive de parar. Voltei há cinco anos para a presidência. E aqui estou, a levar uma vida dedicada à música e dedicada também a todas as lides que uma filarmónica encerra”.
Todo esse trabalho foi reconhecido através da homenagem que lhe foi prestada e que o deixou “orgulhoso” porque “é um sinal de que as pessoas estão satisfeitas com o trabalho desenvolvido pela equipa que lidero, onde cada um dá o melhor de si. Sinto-me lisonjeado por isso”, disse.
Com 50 anos de casa, João Arruda já viveu de tudo na filarmónica e é com propriedade que opta por não traçar planos a longo prazo. “É muito complicado projetamos a longo prazo porque as pessoas estão cá por carolice e os jovens, a maior parte deles, estão de passagem porque ingressam no ensino superior, vão para fora e depois não têm como dar continuidade. Outros também têm trabalhos que não lhes permitem manter a regularidade desejada. Por isso, vamos andando dia a dia e projetamos o futuro a curto prazo”.
Uma coisa é certa: as dificuldades fazem parte da história da Estrela D’Alva. “Uma filarmónica é como uma família: tem momentos bons, outros menos bons, mas os bons superam os menos bons. Há alturas que as pessoas estão mais viradas para as filarmónicas, noutras alturas nem tanto, mas isso depende muito de como as coisas evoluem. Lembro-me que quando entrei estava a emigrar muita gente e as filarmónicas perderam músicos. Depois veio o futebol e houve nova dispersão. Agora estão a voltar porque há muitos jovens com mais formação, formação musical, que veem nas filarmónicas um complemento à aprendizagem”, vincou.
Apesar da evolução dos tempos, João Arruda não esconde a saudade dos tempos antigos. “Antigamente não tínhamos muita escola, aprendíamos com os senhores de mais idade e ia para casa do senhor Manuel Piques aprender solfejo. Os senhores António Correia, Manuel da Ponte e João Medeiros Gata eram os de mais idade com quem aprendíamos música na filarmónica. Naquele tempo saíamos de manhã e regressávamos à noite. Era diferente porque fazíamos vários serviços ao longo do dia e havia muitos convívios. Era também uma forma de conviver. Recordo também com saudade a festa de Nossa Senhora da Estrela, que ainda fazemos. São recordações lindíssimas”.
Com ele também está António Ventura, igualmente homenageado pelos 50 anos de dedicação à Estrela D’Alva. Música e contramestre, é outra referência histórica da banda. “Comecei na filarmónica Estrela D’Alva aos dez anos e quando fui aprender música era uma forma de poder sair de casa. Meus pais nem queriam que fosse, mas como ia um grupo de quatro ou cinco da escola, lá deixaram”, recorda António Ventura.