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A culpa não é tua

Júlio Tavares Oliveira

Muitas vezes, ouvimos falar de relações positivas, ou menos positivas, e de como essas relações, por facto bem assente, contribuem, bastante, para a nossa «cura interior» como parte intrínseca desse mesmo processo. Também é facto definido que as nossas relações, quando envolvem pessoas diferentes (e somos todos, todos, todos diferentes), podem – ou não – envolver e desenvolver traumas consigo, o que, de si, explica, também o nosso comportamento – ou o comportamento que teremos – com outros seres humanos também eles diferentes e especiais à sua maneira.

Pára e pensa comigo, agora: estás rodeado ou rodeada por que tipo de pessoas neste preciso momento? Que tipo de «vibe» ou energia emanam elas mesmas? Será que chocam, ou não, contigo? A quem tiveste a tendência de te ligar ao longo dos anos e como te afetaram, emocional e comportamentalmente, essas ligações? E quem era mais próximo a ti quando passaste por um acontecimento traumático significativo na tua vida?

Um trauma é um ponto sem retorno, sempre, garanto-te: não voltas ao que eras antes. Não voltas ao teu estado original. Mas, aí, também há que entender – e tu tens de perceber bem isso – que as coisas que te aconteceram, na infância, na adolescência, a semana passada, e que te magoaram profundamente, não são, não foram, não serão culpa tua. Tu não tens culpa de teres nascido, como digo, nas circunstâncias em que foste trazida ao mundo como criança; nem tiveste culpa – enquanto gente humana – de alguém ter, a dado momento, decidido fazer-te mal – ou de teres estado, enquanto homem ou mulher, ou criança, no sítio errado à hora errada.

O trauma – qualquer trauma – não é uma culpa ou uma responsabilidade tua.

Perceber isso é extremamente importante para podermos, enfim, caminhar firmes sobre os nossos próprios pés, seguros.

Quando finalmente entendermos que não somos, invariavelmente, responsáveis pelos nossos traumas – de infância ou da nossa adolescência – seremos capazes, mais capazes, de iniciar e de contemplar a nossa própria cura interior. Éramos, afinal, apenas crianças – apenas adolescentes – tão capazes de entender o mundo como de soletrar sílaba a sílaba devagarinho – ou de fazer contas de somar e de subtrair, apenas, e com enorme dificuldade matemática. Quem éramos nós, senão apenas – e só – meras crianças incapazes, indefesas, inofensivas cujo infortúnio bateu à porta?

Quando tirarmos o fardo existencial dos nossos ombros seremos, autenticamente, mais capazes de viver e, também, de estar vivos – o trauma, repito, não é culpa tua. É, daí, importante substituir «crenças negativas» por uma «afirmação positiva» nas nossas vidas, e convicções, tal como: «Fiz o melhor que podia e agora estou bem e em segurança».

Pensa comigo: ninguém pode mudar o seu passado. Mas podes escolher fazer do teu futuro um lugar melhor – e mais leve.

João de Melo oferece “Lisboa” à biblioteca municipal do Nordeste

© ACÁCIO MATEUS

A noite clara de lua cheia iluminou o serão cultural no Centro de Atividades Culturais do Nordeste para a apresentação do livro “Longos versos longos”, do documentário “A infância é eterna num escritor” e, ainda, em jeito de surpresa, a entrega por parte de João de Melo do seu mais recente livro, “Lisboa”, obra que será apresentada em junho, na feira do livro da capital portuguesa.

Foram cerca de duas horas de cultura genuína e singela que cativaram os presentes. Ao seu jeito, João de Melo abordou temas que dizem muito aos açorianos, detendo-lhes a atenção pela excelência do seu discurso e por ser um escritor cujas características, entre as quais a simplicidade, agrada a todos.

Desde logo, a entrega do livro “Lisboa”, cuja apresentação oficial apenas acontecerá dentro de alguns dias, e que já se encontra patente no edifício da biblioteca municipal do Nordeste.

Recebido por Marco Mourão, vice-presidente da Câmara Municipal do Nordeste, João de Melo foi acompanhado numa visita às novas instalações do espaço, na qual se encontra uma estante dedicada ao escritor com todas as obras por ele publicadas, às quais agora se junta “Lisboa”.

“Este último livro surge como pagamento da dívida à cidade onde vivo e vivi a maior parte da minha vida, como sendo a cidade da razão, porque a emotiva continua a ser de ilhéu”, explicou o escritor.

Antes disso, participou na sessão cultural organizada pelo município, de apresentação pública do testemunho audiovisual de um dos escritores mais aclamados da literatura atual, conduzido pela professora Susana Goulart Costa, da Universidade dos Açores.

A sugestão de recolher o testemunho partiu da professora e foi acolhido pelo município, tendo sido gravado na casa onde viveu o escritor, na freguesia da Achadinha, no qual João de Melo dá a conhecer ao público as experiências de vida que moldaram as suas obras, sendo composto de uma segunda parte cuja data de exibição será oportunamente anunciada e que será feita na Casa João de Melo.

O documentário “A infância é eterna num escritor”, serviu de inspiração para que o município do Nordeste convidasse outros dois escritores a juntarem-se a João de Melo noutro momento cultural da sessão, designadamente, a professora Paula de Sousa Lima e João Pedro Porto, para um debate à volta das vivências pessoais na produção literária.

A sessão foi aberta pelo presidente da autarquia, António Miguel Soares, que salientou a “grande aposta que a autarquia tem feito na divulgação da Casa João de Melo, atraindo várias iniciativas de artistas, estudantes e grupos locais, que encontram naquele espaço um local onde podem apresentar trabalhos, estudar, ler, conviver e conhecer um pouco da história e cultura do Nordeste, da Achadinha e do escritor João de Melo”.