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O Conto de Fadas – Um Punhado de Magia

Cláudia Ferreira
Escritora e biblioterapeuta

Nada é mais aprazível para um criança ou adulto, do que o popular conto de fadas, sendo um importante meio de ensinar valores. Elucidam que a luta contra graves dificuldades na vida é inevitável, mas com afoiteza, o ser humano encontrará forças para superar os dragões. Os contos modernos evitam sobretudo os problemas existenciais, pelo contrário, os contos de fadas apresentam-nos sem rodeios, sendo frequente começarem com a morte de algum ente querido para o personagem principal. Apresentam também a dualidade do bem e o mal, muitas vezes personificado na bruxa ou nas criaturas estranhas.

Os contos de fadas representam, em fantasia, o processo de um saudável desenvolvimento humano, oferecendo uma série de benefícios, desde o desenvolvimento da imaginação ao crescimento interno da criança. São uma forma de arte, daí o seu significado diferir de pessoa para pessoa, podendo variar em momentos diferentes da nossa vida. Eles não pretendem aconselhar o que cada pessoa deverá fazer, mas o que os torna terapêuticos é a possibilidade de cada pessoa encontrar a sua própria solução, identificando-se com os personagens, com base nos seus conflitos internos.

Através de elementos simbólicos, eles embalam sonhos, oferecendo respostas para muitas das questões que habitam em nós. O conto de fadas cogita um futuro colorido, nos ensinando a lutar pelos nossos sonhos e ideais, cuja mensagem é de que Nunca devemos desistir, pois só assim a magia acontece, independentemente de falharmos muitas vezes.

Biblioterapia: a literatura como função terapêutica

Cláudia Ferreira
Escritora e biblioterapeuta

O poder terapêutico da leitura é algo que atravessa o nosso tempo, levando-nos às antigas civilizações: grega, romana e egípcia. Apesar do termo, biblioterapia, ter sido cunhado por Samuel Crothers num ensaio intitulado «A literary clinic», publicado em 1916, podemos dizer que ao longo da história, a leitura foi muitas vezes usada com o propósito de amenizar a dor física e não só.

No século V a.C. o filósofo grego Antifonte abriu um estabelecimento na cidade de Corinto, onde “podia consolar os tristes com discursos adequados”, usando as palavras para este efeito, cujos discursos sedativos o tornaram famoso. Assim sendo, foi pioneiro nesta intenção de cura através das palavras. Já na Abadia Beneditina de São Galo, na Suíça, fundada em 612, é possível ler à entrada da sua biblioteca a inscrição grega Psyché Iatreio que siginifica «Santuário para curar a alma» ou «Farmácia da Alma».

Segundo Clarice Caldin, a biblioterapia é o cuidado com o desenvolvimento do ser humano por meio das histórias, sejam elas lidas, narradas ou dramatizadas. A meu ver, as palavras atuam em nós como poções mágicas que nos permitem refletir, apaziguando certas emoções e criando novas portas de conhecimento. Um encontro de biblioterapia, que poderá ser feito individualmente ou em grupo, pretende ser um espaço de escuta sensível e empática entre os participantes, contribuindo para o exercício de novas perspetivas sobre nós e o mundo que nos circunda.

A biblioterapia nutre a saúde mental e o desenvolvimento pessoal, sendo direcionada a todos os grupos etários. Ao identificar-se com um personagem ou com o enredo narrado, o leitor toma consciência dos seus pensamentos ou comportamentos, encontrando formas de lidar com eles.

Carta aos emigrantes

Cláudia Ferreira
Escritora e biblioterapeuta

De caneta na mão é assim que me dirijo aos emigrantes, que outrora viveram embrulhados no encanto dos Açores. Aqui os pássaros voam com liberdade, os montes são cor de esperança e e os foguetes preenchem o ar. A música embala as ondas do mar, marcando o compasso da vida e o Espírito Santo, acende uma luz em cada casa e em cada coração.

Ser emigrante é saber segurar as lágrimas de saudade, é ter ousadia de buscar novos horizontes e novas esperanças. Para trás, ficaram as tradições, as memórias de infância e metade do vosso coração, mas apesar do oceano que vos separa de casa, serão para sempre filhos dos Açores.

Quando a saudade desponta, o vento crocita o vosso bendito nome, a natureza veste-se de saudade e a calçada da rua chora pelos seus filhos emigrantes. Para muitos passam anos, para outros uma vida, mas os Açores continuam embebidos num choro de saudade pelos filhos que partiram corajosamente, e que antes de seguirem viagem, lavaram o rosto com água salgada. Por sua vez, o mar agitou-se, beijando cada rosto que ali depositava as lágrimas da partida.

Gostaria de trazer-vos para casa, para sossegar a natureza e amansar as ondas que eclodem nas rochas, mas perante a minha incapacidade, ofereço-vos as minhas palavras, sei que são meras e pobres, mas são o que de mais puro carrego no coração.

Por agora despeço-me, homenageando todos os emigrantes audazes, glorificando-os pela magia das palavras que brotam da minha alma. Porque sendo eu, também, açoriana, falo a mesma língua da natureza e percebo cada palavra dita pelo mar, pelo vento e pela chuva. E em cada suspiro e cada murmúrio, a conversa é a mesma: “Que lá longe, em terras distantes, o Espírito Santo, continue a proteger os nossos filhos emigrantes”.