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O que não pode ser normal

Sara Sousa Oliveira
Diretora

Quando ia a caminhar numa das ruas da Lagoa e me deparei com uma máscara largada junto a um passeio, parei, voltei a olhar, agarrei no telemóvel e fotografei. A imagem é a capa da edição deste mês do Diário da Lagoa (DL). Arrojámos ao dedicar uma capa inteira à tal nova normalidade. Tudo mudou desde que a última edição impressa do DL viu a luz do dia. Os tempos são difíceis e um jornal local pequeno com uma equipa ainda mais pequena começou desde logo a sentir os efeitos da pandemia. Por causa do estado de emergência e de todas as restrições e consequências que trouxe a covid-19, o jornal não foi impresso. Durante os meses de março e abril, produzimos apenas a versão digital que ficou disponível no nosso site e redes sociais e foi enviado a todos os nossos subscritores.

Em dois meses e meio de confinamento, chegamos a milhares de leitores e o nosso site bateu o recorde de cliques, reflexo da necessidade que os leitores sentiram de serem informados durante um dos períodos mais críticos do último século. Enquanto veículo que informa, debatemo-nos, dia após dia, com o desafio permanente de continuar o nosso trabalho com rigor, honestidade e respeito pela ética e deontologia do jornalismo. Não desistimos, nem queremos desistir de mostrar quem deve ser mostrado. Na edição especial deste mês, com mais páginas do que é habitual, compilámos os trabalhos de março e abril que continuam a dever ser lidos por todos sobretudo pelos leitores que não chegam ao digital.

Nesta edição, falámos com quem está na linha da frente do combate à pandemia. São profissionais de saúde da Lagoa que, dentro e fora do concelho, fazem a sua parte para que todos fiquemos bem. Ouvimos uma enfermeira que faz os testes covid-19, um farmacêutico que nunca parou enquanto a cidade estava em casa, um pneumologista que nos explica o que andamos todos a falar e uma psiquiatra que nos ajuda a perceber como aquilo que não conseguimos ver tem consequências por demais visíveis na saúde de todos.

Pela primeira vez em 72 anos, o Clube Operário Desportivo foi obrigado a parar por causa de uma pandemia. Sem jogos e sem treinos durante várias semanas, a equipa, à semelhança de todas as outras, foi obrigada a continuar a trabalhar de outra forma, planeando o que se segue.

E as viagens, como serão? O lagoense que já deu várias voltas ao mundo conta-nos como foi e como acha que será viajar daqui para a frente.

As escolas fecharam, mas nem por isso, quem colabora com o jornal, se fechou com elas. Aos professores que passaram a dar aulas a partir de casa e adicionaram mais tarefas às várias que já tinham, mantendo a colaboração connosco, o nosso obrigado. A eles, aos nossos cronistas, e a quem nos apoia, que de forma solidária e empenhada, nos ajudam a construir um jornal do zero, a cada edição. Com os eventos suspensos, as festas canceladas e toda uma nova forma de funcionar em sociedade, os desafios são ainda maiores.

As consequências da pandemia já começam a pesar em muitos setores e em muitas famílias que precisam, mais do que nunca, de quem lhes dê a mão. A Presidente da Junta de Freguesia da Ribeira Chã contou-nos que viu pessoas a chorarem depois de lhes ter entregue um cabaz com comida. O inimigo é mesmo invisível.

Nesta edição quisemos conhecer quem arregaçou as mangas, abriu as máquinas de costura e arranjou as alternativas sustentáveis que o mercado não conseguiu garantir quando faltavam máscaras, elas que são agora a nova normalidade dos espaços fechados aonde vamos. A máscara descartável que encontrei abandonada no chão não foi a única. Nas redes sociais, multiplicaram-se os desejos de que deveríamos tirar lições do confinamento, severo, que muitos viveram. Aprendemos nós alguma coisa?

Editorial publicado na edição impressa de junho de 2020

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