Administrador executivo da Bensaude Distribuição, Carlos Filipe Medeiros, 52 anos, faz parte do Grupo Bensaúde desde 2007. É mariense e licenciado em Gestão de Empresas, pela Universidade dos Açores. Antes de chegar ao grupo açoriano, passou pela Câmara de Comércio, Melo Abreu e, a trabalhar muitos anos no continente português, pela Coca Cola.
Em entrevista ao nosso jornal, após o encontro “Açorianíssimo – frutas e legumes”, promovido pela Bensaúde Distribuição com os seus produtores e parceiros, Carlos Medeiros revela as novidades sobre o investimento no concelho da Lagoa e próximos projetos em São Miguel.
DL: Em que consiste a Bensaúde Distribuição?
A Bensaude Distribuição é uma área de negócio que engloba tudo o que é o sourcing regional e tudo o que o tem a ver com a indústria que estivemos a montar nos últimos tempos, relacionada com a exportação, as fábricas, como os Centros de Fabrico dos Açores (CFA).) Temos também salas de desmancha em outras ilhas. Na indústria, trabalhamos muito a exportação e também o consumo interno para as nossas lojas Continente nos Açores.
Em relação ao sourcing, trabalhamos muito com o setor primário e com os produtores de frutas e legumes, de bovinos, e ainda pescadores. Em relação à indústria, nos CFA trabalhamos na desmancha de carne de bovino e suíno.
Temos também uma cozinha industrial, de economia circular e combate ao desperdício, onde trabalhamos os excessos e os legumes e frutas “feios”.
Para além destas componentes, temos aquela a que chamamos o nosso pilar de inovação, que tem a ver com o research e development. Temos cerca de 19 marcas e 220 produtos que nós próprios desenvolvemos, com parceiros.
Depois temos as nossas lojas, que são os 28 Continentes e Meu Super dos Açores. Para o ano serão cerca de 30. Vamos abrir um Continente em Ponta Delgada no ano que vem.
Também trabalhamos na área grossista, a nossa quinta vertente. Fazemos o abastecimento ao mercado Eureca. Sou a pessoa que tem de coordenar tudo isso.
DL: Que balanço faz do encontro “Açorianíssimo de frutas e legumes”?
Este é o primeiro encontro do “Açorianíssimo” e o primeiro de frutas e legumes. É o primeiro encontro que fazemos, de forma estruturada, nos Açores, sobre a nossa identidade regional. No Grupo Bensaúde, na área da distribuição, trabalhamos com essa identidade para tratar tudo o que é regional, desde a sustentabilidade, à dinâmica, produtores, produtos e serviços. O “Açorianíssimo” é regional do início ao fim.
Foi uma iniciativa interessante e com as pessoas certas tudo se faz. Temos 47 produtores e estas são as pessoas certas. Percebemos que são verdadeiros parceiros. Conseguimos ter um encontro destes, com esta abertura, e conseguimos fazer mesas e debater temas importantes para criarmos mais valor e para preenchermos três objetivos. O evento que realizamos obedeceu exatamente a isso e criou caminhos para o conseguirmos.
O primeiro objetivo é reduzir importações. Nas nossas lojas, toda a carne fresca é açoriana. Noventa e nove por cento do leite UHT é açoriano. Há um princípio que temos de manter em relação à sustentabilidade económica e social e ao respeito pela sociedade. Queremos desafiar os nossos produtores para cada vez mais produzirmos nos Açores e importar o menos possível.
O segundo objetivo, que foi o tema mais debatido nos painéis e nas mesas redondas do evento: temos de ter uma valorização cada vez maior da cadeia de valor dos frescos, das frutas e legumes. Temos de colhê-los rapidamente. Até chegar à comercialização, tem de ser um processo muito bem organizado. Temos de ter o processo mais eficiente, que neste momento não temos, mas vamos ter. Um dos objetivos dessa reunião é conseguirmos criar pontes para alcançarmos isso.
O terceiro objetivo tem a ver com algo que vi neste encontro. Vi muitas pessoas novas. Mesmo os nossos parceiros mais antigos vinham com filhos e com alguém para seguir o seu negócio. Isto é muito bom, porque mostra a sustentabilidade do setor agrícola e isso para nós é muito importante.
A Bensaúde Distribuição acredita muito no setor primário, na carne, frutas e legumes, também.
DL: Que importância têm os produtores para o grupo Bensaude?
Os produtores são parceiros. O futuro tem a ver com certificações, boas práticas, eficiência. Os nossos parceiros são fundamentais, porque eles são 46% do que compramos localmente de legumes e vamos ultrapassar os 50%. Nas frutas, o caminho é mais longo. Vinte e cinco por cento de tudo o que compramos é regional.
“Os nossos parceiros são fundamentais,
CARLOS FILIPE MEDEIROS
porque são 46% do que compramos
localmente de legumes e vamos
ultrapassar os 50%”
DL: Na Lagoa, o Continente está em obras desde julho. Qual vai ser o resultado final?
O Continente da Lagoa vai crescer e tornar-se muito moderno. Talvez, em termos de lojas de São Miguel, seja a mais moderna, à data. Até ao final do ano queremos ter a parte do Continente, a que chamamos primeira fase, pronta, com mais 500 metros quadrados de área de venda e com uma área de restauração impecável. O Continente da Lagoa vai ter uma área de restauração e cafetaria interessantíssima. Toda a linha de caixas vai ser atualizada, com tudo o que são automatismos. Vai ter o Continente Siga, em que o cliente faz a compra com o QR code.
Temos coisas a acontecer e vamos ter um resultado final muito interessante no Continente da Lagoa: muito maior, mais moderno e atualizado, com uma área lindíssima de frescos e de restauração.
Numa segunda fase, que vem logo a seguir, vamos incorporar lojas de centro comercial. Vamos trazer as nossas insígnias, como a Worten, Note, Sportzone, e criar ali o conceito de galeria comercial. Vamos ter também outros parceiros externos que vão compor ainda mais o ramalhete da nossa galeria adicional. Vamos ter oito ou nove lojas adicionadas ao Continente. Vai ser uma combinação muito interessante.
Até dezembro vamos concluir a fase do Continente e depois, no próximo ano, durante cerca de oito meses, vamos acabar a próxima fase. A galeria comercial da Lagoa será muito maior do que, por exemplo, a das Capelas ou dos Arrifes.
Agradecemos às pessoas da Lagoa pela paciência que têm tido. Ao fazer uma obra relevante e manter a loja aberta, sei que estamos a perder um pouco de vendas, devido aos constrangimentos, mas os clientes continuam a ir.
DL: Porquê esta renovação e aposta na mais jovem cidade açoriana?
A Lagoa tem um potencial enorme. Temos um plano de expansão muito bem delineado. A Lagoa é um lugar muito importante para nós. É uma cidade que está a crescer de uma forma bastante interessante. Um Continente de 1.500 metros quadrados de área de venda já não era suficiente, tem de ser 2.000.
É um investimento interessante que temos ali para a Lagoa, porque o concelho merece.
Garantidamente que a Lagoa e todos nós vamos ficar mais ricos. A Lagoa vai ficar mais rica em poder de escolha e de compra. Os lagoenses não vão precisar de se deslocar a Ponta Delgada para fazer uma outra compra, porque vai ter ali as insígnias certas.
DL: O grupo tem vindo a crescer cada vez mais, faz parte da estratégia da Bensaúde Distribuição expandir para fora da região?
Felizmente estamos a crescer. Dei exemplos que estamos a fazer interna e externamente. Quando fazemos uma fábrica, para trabalhar e valorizar matéria prima regional e exportar, já estamos a trabalhar para fora dos Açores. Quando estamos a abrir uma loja ou queremos moldar um Continente, como no caso do da Lagoa, em uma galeria comercial, estamos a trabalhar de uma forma interna. É um compósito de crescimento, quer interno, quer externo.
DL: Estão presentes em todas as ilhas?
Em relação ao retalho e às lojas, estamos presentes em cinco ilhas: São Miguel, Santa Maria, Terceira, Faial e Pico. Em outras áreas, como na grossista, é de Santa Maria ao Corvo. Compramos animais nas Flores, por exemplo. Indiretamente, estamos presentes em todas as ilhas nesse aspeto.
Temos também o primeiro e único marketplace online dos Açores, o “N9V” e através deste conseguimos chegar às nove ilhas. É mais uma vertente da nossa componente de research e development.
DL: Há alguma novidade sobre novos investimentos da Bensaúde Distribuição que possa revelar?
Sobre investimentos para 2025, vamos abrir um Continente Bom Dia, uma loja de conveniência, no novo retail park em Ponta Delgada. Vamos abrir essa loja no próximo ano.
Estamos a desenvolver também um projeto relacionado com um parque de acabamento de bovinos, em São Miguel. Estamos a identificar um local, o projeto já está a ser pré-concebido e queremos ver se o arrancamos no próximo ano. É uma forma também de valorizarmos matéria prima e raças dos Açores, para suportar a exportação da CFA. Estamos a falar de um parque para 2.000 animais.
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