O estado da saúde da população portuguesa, nas primeirasdécadas do séc. XX, não era dos melhores. As condições de higiene e sanidade, associada à falta de socorros eficazes, faziam com que a taxa de mortalidade ainda fosse muito elevada. Várias eram as doenças que se desconhecia a causa ou o nome. Às doenças infeciosas, juntava-se o desequilíbrio alimentar por escassez de comida ou excesso de bebida. A rede hospitalar era pouca mas, as classes populares frequentá-la-iam se não resultasse, primeiro, um remédio caseiro ou se fossem extremamente pobres e a burguesia e a aristocracia faziam-se tratar em casa, com exceção da necessidade de uma cirurgia.
Como a maioria das casas não dispunha de casa de banho, as pessoas lavavam-se parcialmente e, normalmente em dias festivos é que tomavam banho completo. Mas, eram propagandeados muitos produtos de higiene como, sabões e sabonetes, pastas de dentes, loções e tónicos, pós-de-talco, águas-de-colónia, cremes e perfumes ou utensílios como pentes,escovas, esponjas, limas e tesouras para unhas.
No caso do concelho lagoense, as questões da higiene e da saúde pública eram uma preocupação crescente no início do século XX. Em relação aos profissionais de saúde, havia enfermeiro, subdelegado de saúde do concelho e farmacêutico, que para os indigentes os serviços prestados eram gratuitos. Em 1913 surge a proposta da criação de um lugar de parteira devido ao perigo deste serviço ser entregue a pessoas incompetentes e sem qualificação, normalmente habilidosas ou familiares da mulher que estaria para ser mãe.
Em relação ao acompanhamento médico, aparecem casos descritos como sendo negligência, relatados na imprensa da época pois, muitas vezes, era o Cura chamado em vez de um profissional de saúde ou mesmo sendo este convocado, em situações de indigentes, como não advinha proveito monetário, a urgência não imperava.
A Câmara Municipal da Lagoa, em consonância com as outras municipalidades, lançava medidas a fim de exterminar os ratos pois, além de ruinosos para a agricultura, eram perigosos transmissores de doenças contagiosas, como a peste bubónica. Os regulamentos e posturas camarárias contemplavam a caça aos ratos, sendo estipulado um prémio para aqueles que apresentassem um maior número de caudas. A população lagoense era afetada por outras doenças contagiosas e pestilentas que preocupavam as autoridades políticas locais e obrigavam-nas a tomar medidas, como o caso de tifoides, em que o município teve de se prevenir com desinfetantes e medicamentos para os indigentes, por estes serem atacados em maior número. A causa poderia ser a inquinação das águas em alguns encanamentos que, por se encontrarem abertos, recebiam dejetos.
Devido à propagação de doenças sexualmente transmissíveis, em 1911, o Governador Civil informou que o Regulamento Policial de Ponta Delgada determinava tudo o que seria possível fazer a bem da “higiene pública no que respeita à repressão e à regulamentação da prostituição” e que o Código Administrativo dispunha de regras de como devia ser organizado o registo e a matrícula das toleradas, “visto que nesse concelho há, com prejuízo da saúde pública, mulheres que fazem vida pela prostituição”.
Em 1918, tal como por toda a Europa, os periódicos informavam sobre a epidemia da influenza pneumónica, que alastrava na Ilha.
No jornal A República, de 30 de outubro, foi publicado um artigo referindo que “na Lagoa a epidemia grassa também numa forma assustadora” tendo sido estabelecido um hospital provisório no Convento dos Frades. O mesmo periódico, seis dias depois, informou que na Lagoa ficou “montado um posto hospitalar, no edifício do Teatro”.
Na imprensa lagoense, do início do século XX, surgiram várias críticas dirigidas à Câmara sobre a falta de higiene. A título de exemplo, em 1914 decidiu-se retirar, de onde se encontravam, “dois urinóis de ferro por serem impróprios para a higiene moral pública” decidindo-se escolher outro local para esse fim. O subdelegado de saúde apontou, como principal razão, o facto de passarem por baixo dos mesmos urinóis encanamentos de água de fontes públicas, “feitos de barro ordinário sujeitos a infiltrações que adulteram e prejudicam a pureza das águas que são o principal elemento para a vida e para a limpeza e higiene”.
Em suma, o concelho lagoense, paralelamente aos pensamentos e às ações de um país que pretendia dar sinais de modernidade e progresso, debatia-se diariamente com carências e necessidades inerentes ao espaço e às vivências das suas gentes.
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