Nasceu na freguesia de São Roque, em Ponta Delgada, em 1971, naquela que considera ter sido a “pior época do Estado Novo”. Foi na freguesia onde cresceu que ganhou o gosto pelas romarias, pela música e pelo Espírito Santo, e entre as histórias que nos conta confessa que: “tenho muitas histórias que tropeço nelas, pois grande parte da minha vida não a planeei”.
A entrada que considera “mais a sério” no mundo da política aconteceu a meias com o seu amigo Paulo Gusmão devido à admiração pelo antigo líder do CDS-PP, Manuel Monteiro. Mas é em 2005 que José Pacheco se muda para a Ribeira Chã, na Lagoa, e inicia um projeto pessoal enquanto designer gráfico. Depois do CDS-PP, passou pelo PPM e mais tarde esteve no PSD/Lagoa como independente e é quando estava de saída do partido com o qual diz não se identificar que recebe o telefonema de Diogo Amorim Pacheco do Chega.
DL: Como reagiu quando descobriu que iria ser deputado pelo Chega?
Eu nunca quis ser deputado na vida, mas eu preparei-me durante meses e acreditava. Já o Carlos Furtado não acreditava. E eu até disse a ele que íamos eleger em São Miguel, na compensação e se corresse bem até podíamos eleger na ilha Terceira. Eu acreditava nisso. Mas na Terceira também nos correu mal e só mesmo perto das eleições percebemos onde estávamos metidos. Mas a vida é assim mesmo.
DL: Que balanço faz do primeiro mandato?
Foi bom, eu preparei-me. Aprendi desde muito novo que um dos maiores perigos da política é o deslumbramento. Estou sempre a dizer isso aos meus colegas. O pior não é errar ou dizer uma asneira, é deslumbrar-se. Há que ser sempre muito humilde. E peço a Deus, todos os dias, para que me dê essa força. Eu gosto tanto da minha terra que eu podia ser deputado nacional e eu não quis. Tive muitas oportunidades na minha vida de sair daqui.
DL: Acredita que é possível o Chega alcançar o poder?
Eu acho que tudo é possível. Não nos podemos pôr em bicos de pés, mas se amanhã me baterem à porta a dizer que vou ser presidente do Governo regional, então, sim senhor. Eu nunca virei as costas a um desafio. Mas se me perguntarem se quero ser presidente do Governo? Não. Também nunca quis ser deputado. Mas se me disserem que é esta a minha missão, então pronto. A política é madrasta e muito má para as pessoas, por isso encaro a política com muito humor, com muito jogo de cintura.
DL: De que forma, enquanto deputado e lagoense, pode contribuir para a Lagoa?
É possível na medida em que tenho até contribuído. Não faço grande bandeira disso até por uma questão de alguma reserva. Se eu começar a falar demasiado das coisas que vou puxando para a Lagoa, a certa altura vão dizer que vou puxar para mim próprio, mas não. Há uma história sobre as luzes do Pisão. Isso levou-me dias a decidir se eu punha ou não no compromisso com o Governo anterior. Foi das poucas coisas que eles cumpriram. Eu achava que aquilo estava devasso e que precisava de iluminação, porque não tinha e era uma coisa simples e barata de se fazer. E já está.
Há mais coisas que tenho visto mas prefiro sempre não falar nisso porque sou deputado dos Açores. Não puxo para minha ilha nem para a minha freguesia, nada. Agora quando eu ando por cima dos problemas doi-me a alma e vou fazendo isso mais discretamente. Sou lagoense sou, adoptado, mas não quero que pensem que sou o deputado da Lagoa, pois sou deputado dos Açores. Foi sempre esse espírito que eu tive e, aliás, eu disse aos meus colegas que aqui no nosso grupo parlamentar não há deputados das Flores, nem da Terceira nem de São Miguel, aqui há deputados dos Açores. Mas, sejamos honestos intelectualmente, se nós estamos a ver as coisas com mais frequência porque moramos e passamos nos sítios é natural que nos chame mais atenção. Por exemplo, no outro dia chamaram-me atenção para o estado de uma estrada em que outrora passava muito mas atualmente não. Que é aquela que liga a Vila Franca do Campo à Achada das Furnas. Ligaram-me duas ou três pessoas sobre isso e têm razão. No dia a seguir tive uma reunião com José Manuel Bolieiro e disse-lhe que já tinha ido ver a tal estrada e realmente tem que se fazer alguma coisa. Eu acho que é assim que se deve estar na política.
DL: O que é que falta à Lagoa?
A Lagoa tem um problema grave. O empresário Norberto Ponte uma vez disse uma coisa muito engraçada que eu fixei. A Lagoa precisava de ter uma Torre Eiffel. Ou seja, a Lagoa não tem nada icónico. Quase todos os concelhos têm algo, mas a Lagoa não tem. É muito dormitório, na periferia de Ponta Delgada. Sempre teve boa restauração, mas não se pode criar artificialmente coisas icónicas. Caiu-se muito no ridículo, por exemplo, com festivais como o “Lagoa Com Vida” que era copiar o que os outros fazem e fazer concorrência, deu prejuízo.
Por exemplo, o Império de São Pedro eu já disse à presidente da Câmara Municipal que no meu entender, e mesmo o de Ponta Delgada, que nunca devia ser a autarquia a organizar. Teria que existir uma comissão independente. É uma concorrência desleal aos outros impérios que fazem como podem. É desleal e desvirtua. O poder político nunca deve estar na Igreja nem a Igreja deve estar no poder político. Isso desvirtua o que é o Espírito Santo.
DL: Considera a Fábrica do Álcool icónica?
Eu não acho. Tenho todo o respeito pelo património e penso que se pudermos fazer algo de positivo, sim, mas não vamos fazer daquilo a Torre Eiffel porque nunca vai ser. Acho que se vai enterrar ali milhões e vai-se fazer experimentalismos. Nunca se esqueçam do Parque Tecnológico do qual se falava que ia ser mas neste momento já não é.
DL: Como encara o crescimento do Tecnoparque na Lagoa?
Acho que devíamos esquecer a parte da tecnologia, que até pode lá estar, e transformavamos aquilo num parque multiusos com algum ordenamento paisagístico. Penso que se prenderam muito a um conceito que nunca funcionou nem vai funcionar. Está lá o Nonagon mas quem lá vai percebe que aquilo é nada.
DL: E a freguesia onde reside, a Ribeira Chã?
A Ribeira Chã tem sofrido um desinvestimento há dezenas de anos. Até fui lá candidato e na altura já explicava isso aos miúdos que tocavam música comigo. Se nós não criarmos habitação vocês vão desaparecer todos daqui. E eles desapareceram todos de lá. É normal pois temos que criar âncoras. Eu tive projetos para aquela zona. Um deles era criar um parque de campismo. Não quer dizer que é a solução, é uma das soluções. Ali tínhamos o espaço certo, temos miradouros e praias. É das coisas mais fáceis de fazer porque há lá muito espaço. Eu acho que também há uma falta de vontade. Temos uma vereadora que mora na Ribeira Chã, ela não vê o que falta? Ninguém se preocupa com nada, a Ribeira Chã está completamente esquecida.
Aquela visão que o padre Flores teve de fazer de um pequeno lugar, um Centro Cultural Urbano, essa visão ninguém a percebeu e deixaram morrer.
Há uma que vou guardar para a minha vida que foi o esforço pessoal que eu tive para criar os Filhos da Terra e que é a única coisa que vou agradecer à Cristina Calisto que foi ter-nos arranjado um espaço que estava abandonado e fechado por capricho. De resto eu dizia tantas vezes que não queríamos dinheiro, queríamos era tocar.
DL: Como encara o facto de Cristina Calisto suspender o mandato de deputada?
Eu acho que isso não se deve fazer, isso é enganar as pessoas. Não foi só ela, houve uma data de autarcas e isto é do pior que a política tem. Por isso é que as pessoas não acreditam na política. Então eu digo que agora eu vou ser deputado, vou defender vocês todos. No dia a seguir, sou eleito e digo que estava a brincar e que afinal vou para a câmara porque afinal não vou para o governo? Nunca tive nada contra a Cristina Calisto, até fico com pena. Mas acho que o PS está há demasiado tempo na Lagoa e eu gosto muito da mudança.
DL: Nas legislativas nacionais o Chega aparece como terceira força política na Lagoa. Como vê isso?
Isso vale o que vale, porque já ando nisto há algum tempo e sei que as coisas às vezes não são assim tão lineares. Agora traz-nos grande responsabilidade. Eu acho que temos uma autarquia extremamente fraca e que não faz ideia para onde caminha ou o que está a fazer e o que quer para o futuro. Gere o dia a dia como um cata vento e isto é preciso dizer às pessoas. Como é que se conseguem perpetuar no poder? Comprando os votos. São as latas de tinta, são as obras em casa, são as festaloras. Isso não enche a barriga a ninguém e muito menos garante o futuro aos nossos filhos. Esses senhores quando saírem vão deixar zero na Lagoa.
DL: A nível regional, como é que encara este novo ciclo político? Vai chegar ao fim do mandato?
Pode chegar, mas não depende de mim, depende deles. E eles sabem disso e essa conversa já tivemos. Neste momento, se me perguntarem “as coisas estão a correr bem?”, “estão excelentes, não estão bem, estão ótimas”. Tem havido um diálogo constante, não só com o presidente do governo. Eu acho que eles aprenderam alguma coisa. Penso que eles também tinham um problema (ou dois) complicado chamado CDS-PP. O Artur Lima e Paulo Estêvão entalaram isso tudo. Eu e o Paulo Estêvão andamos mais brigados, mas um dia destes fazemos as pazes. Eu sou amigo do Paulo há muitos anos mesmo. Já nos conhecemos há muitos anos. Não podemos casar uns com os outros, temos é que nos respeitar.
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