A sala chama-se Doing e tem duplo sentido: “é uma mistura de doing com o som das molas ‘doing doing’, é como se fosse uma oficina criativa de pôr as mãos na massa”, começa por explicar Carolina Ferraz. É licenciada em Ciências do Ambiente e técnica superior no Expolab – Centro de Ciência Viva, localizado no Tecnoparque, no Rosário, Lagoa. É ela que guia o Diário da Lagoa (DL) pelos três pisos do espaço.
A sala Doing fica a poucos metros da entrada principal e nela estão todo o tipo de materiais: tubos de cartão, fita cola, caixas de ovos ou pequenos circuitos eléctricos. Tem várias mesas de madeira — construídas com paletes —, e bancos espalhados pelo espaço. Tudo para que crianças e adultos possam, de forma autónoma, fazer ciência com as próprias mãos. “As famílias vêm para aqui, pegam nos materiais e vão para uma bancada. Nós tentamos não interferir muito com as visitas para as pessoas estarem à vontade, experimentarem, testarem, errarem, mas estamos sempre aqui para prestar apoio”, garante a responsável. Muitos dos materiais disponibilizados são reutilizados ou iriam para a reciclagem, caso não viessem parar a este ateliê do Expolab.
“Queremos que quem nos visite seja protagonista”, assegura Carolina.
O Expolab é o único Centro de Ciência Viva dos Açores e um dos quatro centros da rede regional da ilha de São Miguel, a par do Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores (OVGA), igualmente localizado na Lagoa, do Observatório Astronómico de Santana (OASA), na Ribeira Grande, e do Observatório Microbiano dos Açores (OMIC), situado nas Furnas.
Explorar a biodiversidade, sob as suas várias formas, é a principal bandeira do Expolab. Em 2021, este centro de ciência recebeu mais de 12 mil visitantes. Mas em 2019, antes da pandemia entrar no arquipélago, esse número era superior a 23 mil. Quem os visita são sobretudo alunos do primeiro e segundo ciclo: “temos muita dificuldade em atrair alunos do secundário”, lamenta Carolina Ferraz. O transporte, muitas vezes, é um problema, quando não é assegurado pelas entidades públicas, mas o número de infeções devido à covid-19 os isolamentos tem sido o grande entrave às visitas. No dia em que o DL visitou o centro, estava agendada a visita de uma turma de uma escola da ilha, mas à última da hora, acabou por ser cancelada. Ainda assim, o centro prossegue com o trabalho e atividades sobretudo direcionadas para os mais jovens.
No espaço trabalham uma dezena de colaboradores de várias áreas. O Expolab é gerido pela Sociedade Afonso Chaves, uma associação não governamental e sem fins lucrativos com estatuto de utilidade pública desde 2004.
Os três laboratórios do Expolab, todos com anfiteatro, acabam por ser os ex-libris do espaço. É neles que as turmas ou até mesmo qualquer pessoa que visite o espaço, pode explorar a vida em laboratório. “As visitas espontâneas têm, na entrada, uns kits, umas caixinhas, em que vem todo o material e todo o protocolo em que a pessoa escolhe a atividade, vai com a caixinha para o laboratório e faz. São coisas super simples que as crianças a partir dos dois ou três anos conseguem fazer”, assegura ao DL, Carolina Ferraz.
Espalhados pelos três pisos estão ainda várias exposições. Logo no piso de entrada, “Porque somos como somos?” é simultaneamente pergunta e mote para a exposição, que mesmo não sendo permanente, está no Expolab há vários meses. Resulta de um consórcio de três centros de ciência viva do continente e “é uma explicação de como é que foi a evolução das espécies desde o início de tudo, como foi a formação da terra, como temos esta diversidade enorme, são módulos de experimentar”, explica a técnica superior que conduziu o DL pelo Expolab.
Na piso menos um, o tema dos oceanos é dominante. Tem também elementos ligados à física e à matemática, mas a exposição sobre o lixo marinho salta à vista. Em diferentes painéis explicativos, fala das causas e do impacto que tem no meio ambiente tendo resultado de um projeto de literacia dos oceanos financiado pelo Fundo Azul.
No primeiro piso, está todo o universo ligado às novas tecnologias: uma impressora 3D e as respetivas impressões em três dimensões das ilhas dos Açores, por exemplo, e até de pessoas. “Este aqui é o senhor Duarte da recepção”, explica Carolina Ferraz, mostrando uma pequena figura de plástico verde. “Faz-se o scan da pessoa, passa-se para o programa e a impressora imprime, temos montes de solicitações”, assegura. Para além da impressora a 3D, há também óculos de realidade virtual ou experiência de realidade aumentada, tudo na chamada “Tech Room”.
Apesar de não ter muitos anos, o edifício do Expolab apresenta infiltrações e “o financiamento para as obras, sim, é um problema”, revela Carolina Ferraz. Para além disso, a responsável também gostaria que fosse mais fácil mais alunos de outros concelhos visitarem o Expolab: “muitas vezes a deslocação de outros concelhos mais longínquos não é fácil. No nordeste vamos nós lá fazer as atividades mas às vezes queremos trazê-los e é muito complicado”, diz. As visitas para as turmas são gratuitas. As famílias com filhos até aos 17 anos pagam cinco euros. Os bilhetes individuais são dois euros e as crianças até aos seis anos têm entrada gratuita num autêntico mundo com quase tudo por descobrir.
Sara Sousa Oliveira
Reportagem publicada na edição impressa de março de 2022
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