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“Eu acredito e sinto que o Nordeste está na moda”

António Soares recebeu o Diário da Lagoa (DL) nos Paços do Concelho da vila do Nordeste e diz-se preparado para dar continuidade a um desafio para o qual considera ser necessário ter um “espírito de missão”. Lidera um concelho onde “existe uma proximidade muito grande” para com a população

António Soares tem 50 anos e é presidente da câmara municipal do Nordeste desde 2017 © HUGO MOREIRA

Numa manhã nublada partimos da cidade da Lagoa, ilha de São Miguel, com entrevista marcada para outro ponto da ilha de São Miguel, muito além das delimitações do concelho lagoense. Com o objetivo de continuar a aprofundar o conhecimento sobre outros concelhos, fomos além da freguesia mais próxima da Lagoa naquele concelho, a Salga. Já na vila do Nordeste, encontramos um dia de sol sob um céu azul e uma afluência de turistas que nos fez acrescentar uma pergunta à entrevista.

À nossa espera, António Miguel Borges Soares, 50 anos, presidente da câmara municipal daquele concelho, recebe o DL. A viagem, tranquila, culmina assim com a receção de um presidente sorridente e descontraído que começa por contar o seu percurso na política.

Ao jornal da Lagoa, António Soares recorda que começou na política “com 14 a 15 anos de idade”, na Juventude Social Democrata, por influência do seu pai, que foi presidente de junta durante 14 anos. É na junta da Lomba da Fazenda, freguesia para onde foi residir depois de casar, que integra pela primeira vez um executivo, como secretário, realizando dois mandatos e mantendo-se no cargo por 16 anos, até sentir que tinha apoio para concorrer à câmara municipal. O antigo agente bancário preparava-se assim para mudar a sua rotina diária e as prioridades.

Pela dimensão do concelho afirma: “nós conhecemos as pessoas praticamente todas, existe uma proximidade muito grande”. O autarca explica que percebeu, “desde a primeira hora que era um grande desafio e que a responsabilidade é totalmente outra, mas também percebia o sentimento das pessoas, e foi assim este caminho”, conta. 

Foi assim que foi eleito em 2017 e reeleito depois para o segundo mandato. “Quem sabe se não irei ao terceiro”, avança, mas realçando que tem “sempre presente que a população é quem manda e aquilo que a população definir será aquilo que a gente há de aceitar”. 

“Tem sido um projeto de muito desafio, como é facto, a câmara do Nordeste está em reequilíbrio financeiro mas eu comprometi-me desde o início que era possível continuar a cumprir religiosamente com a dívida, aproveitando fundos comunitários e, também, com algum cuidado fazendo algumas obras. Mantendo o nosso património que é importantíssimo. Tem sido esse o objetivo, pelo menos até agora”, esclarece António Soares.

DL: O que é mais difícil? Ser bancário ou ser presidente da câmara?
Eu não diria difícil, eu diria desafiante. A minha anterior profissão era também muito desafiante, com objetivos, com metas e com grande responsabilidade. Neste caso aqui, é também da mesma forma, mas nós procuramos ouvir sempre mais de 50 por cento da população. Por vezes há situações que eu até gostaria que fossem de outra forma, mas a população é que manda e decide. Eu procuro ir sempre ao jeito daquilo que entendemos ser melhor para o concelho. Para além disso, acabamos por ter uma assembleia bastante coesa, todas as juntas de freguesia são do PSD. Nós fazemos algumas reuniões para definir estratégias também com o presidente da assembleia, acabamos por trabalhar aqui num bloco e em conjunto. O que no meu entender tem tido sucesso porque se não a população não me teria reeleito para o segundo mandato.

DL: São nove freguesias, 4.369 habitantes, 101 quilómetros quadrados. É difícil gerir essa dispersão?
É, porque todas as juntas de freguesia — e é o papel deles — estão sempre a puxar para a sua freguesia, para o melhoramento de infraestruturas. Portanto é difícil conjugar todos esses esforços. Agora, o que nós temos feito, e tem sido na minha opinião um sucesso, é na preparação de cada orçamento, nos reunimos com cada executivo de todas as freguesias e acabamos por ter um compromisso com aquilo que se vai executar durante o ano do orçamento. Temos aproveitado ao máximo a questão das candidaturas dos fundos comunitários porque fica muito mais fácil conseguir os 15 por cento do que o valor na totalidade. 

DL: Com a questão da inflação têm surgido mais pedidos de apoio e de ajuda?
Neste momento temos vários regulamentos aprovados na área social, tem acontecido alguns pedidos do fundo de emergência, tem acontecido também habitação degradada que é uma forma de dar maior dignidade às famílias com base também no regulamento. Claro que nos apercebemos que está tudo mais caro e percebemos que as pessoas estão um pouco receosas com aquilo que se prevê devido a essa conjuntura. 

DL: Falou aqui na habitação, o que é que o concelho está a fazer para a fixação de jovens?
O concelho tem a população envelhecida, e claro que as pessoas sem condições de emprego, sem condições de habitação acabam por atrasar, para mais tarde, ter filhos e constituir família. No entanto, atendendo a essa situação e dentro daquilo que nós podemos fazer, aprovamos um regulamento que pode ir até 2.500 euros para adquirir casa permanente, cá no concelho, que é transversal a todas as pessoas dependendo da idade. Vai desde os 1.500 euros aos 2.500 euros. Neste preciso momento, temos já aprovado e já foi realizada a escritura de cinco habitações, também aprovado — e está em concurso —, já foi adjudicada a construção de mais três e estamos a preparar mais uma candidatura de seis. E, também, já estamos a pedir documentação para mais sete ou oito.

DL: O Nordeste foi dos primeiros concelhos a ter um campo sintético, há algum investimento previsto nesse sentido?
Neste preciso momento, fizemos o investimento e melhoramos toda a iluminação, já pedimos o orçamento e sabemos qual é o custo do relvado sintético do campo municipal, no entanto este será um objetivo a médio prazo.

DL: Como está a situação da piscina coberta do Nordeste?
Neste preciso momento o processo está parado. Inicialmente fiz várias reuniões com a Caixa Geral de Depósitos em que estiveram a ver qual era a melhor possibilidade de venda e aquisição. No entanto o valor que nos foi transmitido é incomportável, aquilo não é nosso e não houve nenhum custo que fosse imputado aos nordestenses, porque era uma empresa que depois acabou por falir e está em massa insolvente. Nós tínhamos uma empresa que estava na perspetiva de aquisição do respetivo imóvel e, depois, fazer o arrendamento à câmara mas que pelos valores que me foram transmitidos nós teríamos que recorrer a um montante elevado de financiamento. Nós não temos essa expetativa porque íamos começar de novo em termos da questão do reequilíbrio e não é isso que se pretende.

Eu acredito e sinto que o Nordeste está na moda,
não só pelas condições que tem, mas também
pela forma como as pessoas do Nordeste recebem”

ANTÓNIO SOARES

DL: Há um crescimento do turismo no Nordeste?
Há um crescimento do turismo, não só através do alojamento local, mas espaço em turismo rural. O hotel tem tido o nosso feedback e tem tido uma taxa de ocupação bastante interessante. Isso tem a haver, não só com as medidas que o governo tem proporcionado, nomeadamente nas condições que tem proporcionado, mas da nossa parte temos procurado fazer vários eventos com algum peso de forma a atrair as pessoas para o Nordeste. Temos, para além da aposta nesses eventos, belíssimos trilhos que temos procurado manter em condições para que a população e o turismo que venha cá se sinta bem e que venham para um turismo de natureza pois temos vistas lindíssimas.

DL: O Nordeste está na moda?
Eu acredito e sinto que o Nordeste está na moda, não só pelas condições que tem, mas também pela forma como as pessoas do Nordeste recebem. São pessoas simples, trabalhadoras e que procuram sempre dar o seu melhor a quem os visita e isto tem sido um fator de sucesso, a forma como se recebe e a forma como as pessoas se sentem recebidas cá no nosso concelho.

DL: Relativamente ao futuro, pensa recandidatar-se?
Ainda não está definido porque, como sabe, ainda estamos a meio do mandato, há vários ponderadores que terão de ser confirmados. Nós temos que auscultar não só as pessoas internamente, mas do exterior, numa perspetiva de saber se efetivamente me recandidato ou não. Portanto, ainda não está nada decidido. 

DL: E enquanto nordestense, o que lhe diz o coração?
Acho que isto acaba por ser uma missão, não é fácil não só também a nível familiar, mas percebo que este projeto e estas funções são uma forma de servir o nosso concelho. Acho que todas as pessoas deviam ter esse espírito, um espírito de missão e de servir a população e o concelho. O que é gratificante quando as coisas estão a correr bem e quando vemos que as pessoas estão satisfeitas com o nosso trabalho, acaba por ser muito, muito, gratificante. E isso só tenho a agradecer a toda a população. A minha proximidade com as pessoas facilita por um lado e dificulta por outro. Procuro responder a todas as pessoas, seja por telefone seja pelas novas tecnologias, pelo Facebook, eu respondo a toda gente. Procuro fazer parte da solução e não do problema. Julgo que as coisas têm vindo a correr bem e quem sabe depois aí, no final deste mandato, há de se decidir o que será daqui para a frente.

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Clife BotelhoDiretor

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Comentários

  1. avatar Bruno 19-04-2023 21:09:28

    O Nordeste nao podia tar em melhores mãos parabéns ao presidente por tratar tao bem o nordeste

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