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“Estas eleições autárquicas foram muito mais desafiantes do que há quatro anos”

Presidente reeleita do município de Lagoa quer continuar a atrair investimento privado, melhorar os números do abandono escolar e reforçar as respostas sociais no concelho. Cristina Calisto defende ainda ciclovia entre Lagoa, Ponta Delgada e Ribeira Grande

Cristina Calisto assumiu o seu novo mandato no passado dia 11 de outubro © D.R.

Aos 45 anos assume a sua segunda presidência à frente dos destinos da Lagoa. Nas últimas autárquicas, 62,63 por cento dos eleitores votaram em Cristina Calisto para presidente da Câmara Municipal de Lagoa.
Numa entrevista presencial de quarenta e quatro minutos ao Diário da Lagoa (DL), Cristina Calisto confessa as dificuldades da última campanha, o que quer para a Lagoa e afasta qualquer pretensão política, pelo menos para já, de suceder a Vasco Cordeiro na liderança do PS/Açores.

DL: Vamos recuar um pouco no tempo. Onde e como nasceu o interesse pela política?
O meu sonho desde pequena era tirar o curso de comunicação social e trabalhar nessa área e foi isso que fiz no meu percurso académico. O gosto pela política nasceu da atividade realizada na câmara municipal. Em 2000 venho trabalhar para a autarquia e logo após um ano de estar a trabalhar diretamente com o engenheiro Martins Mota, fui convidada para sua adjunta. Depois veio o engenheiro João Ponte, fui sua adjunta, mais tarde chefe de gabinete, portanto isso deu-me uma proximidade aos assuntos que a gestão autárquica trabalha e nessa altura foi nascendo este gosto pela política.

DL: A corrida autárquica deste ano contou com a presença de duas novas forças políticas e uma coligação. Foi uma campanha mais desafiante?
Estas eleições autárquicas foram muito mais desafiantes do que há quatro anos, mais difíceis, obviamente, mas também a vitória teve um sabor mais apreciado do que há quatro anos. Se virmos bem concorriam sete forças partidárias à câmara porque a coligação em si representava três. Por isso, ter conseguido manter as vitórias alcançadas na câmara, na assembleia municipal e nas juntas de freguesia, naturalmente que para mim, enquanto cabeça de lista à câmara municipal, me dá um gosto especial e a acrescida responsabilidade.

DL: O PSD acusou hoje, 18 de outubro, o PS de começar mal o mandato referindo que se aumentou em 50 mil euros os custos da vereação na Lagoa. Esse aumento deve-se a quê?
Se nos reportarmos ao início do mandato anterior, nós só temos de diferença em relação a outubro de 2017 o equivalente a meio vereador a menos do que temos atualmente e não a situação que o PSD reporta. Obviamente que quatro anos é muito tempo e isso é sempre muito dinâmico, e aconteceu que nós de uma situação em que tínhamos três vereadores a tempo inteiro e um vereador a meio tempo, passamos depois para três vereadores a tempo inteiro e um apenas no regime de reunião de câmara. Não quer dizer que neste mandato autárquico essa situação também não venha a ocorrer, isso foi explicado em reunião de câmara.

Neste momento eles [vereadores] são todos precisos, se quisermos repensar, reavaliar o que temos e aperfeiçoar as respostas que damos nos vários domínios de atuação.

“O segundo grande desafio
que tenho entre mãos é melhorar os
indicadores na educação. (…)
têm melhorado mas ficam aquém
daquilo que são o meu desejo e expetativas”

Cristina Calisto

DL: Quais são as prioridades do executivo camarário para o novo mandato?
Nós temos alguns desafios que são determinantes. Um deles tem a ver com a captação de investimento e aqui a revisão do PDM, paralelamente a outros instrumentos como o “Lagoa Investe” serão determinantes para continuar a fazer essa jornada. O segundo grande desafio que tenho entre mãos é melhorar os indicadores na educação. É algo que já falei muitas vezes mas que não vou deixar de falar. Não é porque as coisas não estão bem que vou escondê-las, não. Temos feito um caminho, os indicadores têm melhorado mas ficam aquém daquilo que são o meu desejo e as expetativas.

Temos o Auditório Ferreira da Silva, em Água de Pau, como sendo o grande investimento dos próximos tempos do município. Tivemos o azar do primeiro concurso ficar deserto. Espero que nesta segunda fase tenhamos mais sorte e alguma empresa se mostre interessada.

Se queremos ter pessoas no mercado de trabalho temos que aumentar a nossa rede de ATLs no concelho. Se há problema hoje que mais toca as famílias, é a questão das dependências e isso tem implicações na comunidade em geral em termos coletivos. Portanto, não pode somente haver uma carrinha para a metadona no concelho, tem que haver outro nível de tratamento e apoio a essas famílias.

E, por fim, evidenciar a questão da Fábrica do Álcool. Não descuro a possibilidade de ser vendida para um investimento privado, de natureza turística, não somos contra essa situação, desde que não coloque em causa o património, a história e a memória coletiva dos lagoenses. A alternativa é precisamente a possibilidade da cedência da Fábrica do Álcool à câmara com o devido enquadramento, nem que seja no novo quadro comunitário de apoio para a sua reabilitação.

Independentemente das ideologias partidárias de cada um, temos construído uma boa relação entre autarcas. Até hoje temos trabalhado cada um por si, quando é altura de apresentar candidaturas a fundos comunitários, mas acho que tem que haver cooperação intermunicipal. Na área da cultura identifiquei a conservação dos Fortes e isso junta Vila Franca do Campo, Lagoa e Ponta Delgada. Na questão da mobilidade, acho que o desafio era Ponta Delgada, a Lagoa e a Ribeira Grande se unirem e fazerem uma candidatura conjunta que permita a interligação das nossas ciclovias.

DL: A Lagoa é o concelho com a taxa de abandono escolar mais alta dos Açores, de 4,22% (censos 2011). O que tem falhado e que soluções tem para resolver este problema?
Nós estamos integrados no programa do ProSucesso e, portanto,essa é uma temática que tem uma abrangência muito maior do que a do concelho da Lagoa. Não são números que me dêem algum tipo de satisfação. Estão aquém daquilo que são as nossas expetativas. Uma das orientações que nós tomamos para a promoção do sucesso escolar foi colocar todos os alunos em pé de igualdade. Aquilo que era prática era distinguirmos apenas os alunos que tinham melhores notas. Agora distinguimos aqueles que se evidenciam pela prática desportiva ou por um ato cívico, de natureza ambiental, enfim. Para além desta situação que evidenciei nós temos feito outros projetos complementares, os intercâmbios escolares, as bolsas para os “Jovens à descoberta” na Escola Secundária, na componente científica. O papel do município na educação é na educação não formal, naquilo que nós potenciamos através do setor cultural e educativo da câmara.

DL: A requalificação da baía de Santa Cruz acabou por ser um dos temas quentes da campanha eleitoral. Está prevista alguma intervenção de fundo em termos de saneamento a curto/médio prazo?
Eu acho que foi mais ruído do que outra coisa. Nós fizemos a valorização da Baía de Santa Cruz, devolvendo este espaço à comunidade. Obviamente que a oposição aproveitou isso a todos os níveis, mas eu acho que a resposta foi dada no ato eleitoral. Se houve duas freguesias onde a derrota da coligação foi maior, foi no Rosário e em Santa Cruz. A meu ver, se há uma leitura a fazer não serviu de nada estarem a tentar manchar o trabalho do município na Baía de Santa Cruz, nem denegrir o Tecnoparque. A questão dos esgotos, nós estamos a falar num bypass que toda a estação elevatória tem, seja aqui, seja na ilha das Flores. Quem está a par dos assuntos de saneamento básico sabe disso, é uma estrutura que tem que existir, portanto não serviu de nada tanta crítica. Nós temos que ter aqui na Baía de Santa Cruz a mesma preocupação que temos que ter em qualquer outra zona balnear do concelho da Lagoa. Quando nos parece que a situação aos nossos olhos não está em condições para a prática de banhos, temos que interditar a praia, assim como aconteceu há algum tempo na Baixa d´ Areia, em Água de Pau.

DL: Relativamente ao Tecnoparque. O HIA já está operacional, o hotel está em andamento e teremos também o novo edifício do Nonagon além de alguns apartamentos. Há mais alguma novidade sobre projetos para o local?
Nós vamos recebendo investidores que têm interesse em fixar-se ali, mas tem sido prática do município não divulgar até termos as coisas confirmadas e asseguradas. Parece ser a posição mais correta a ter para não criar expetativas falsas nos nossos munícipes.

DL: Mas há interesse por parte de investidores?
Há interesse por parte de investidores no concelho da Lagoa e no Tecnoparque.

“Conto fazer o meu mandato até ao final,
aliás acho que iria desiludir
a população se assim não fosse”

Cristina Calisto

DL: Há quatro anos prometeu que cumpriria o seu mandato até ao fim e o facto é que cumpriu. Faz a mesma promessa para os próximos quatro anos?
Faço, faço a promessa para os próximos quatro anos. Conto fazer o meu mandato até ao final, aliás acho que iria desiludir a população se assim não fosse.

Há quatro anos atrás essa foi a mensagem principal que se passou, ou seja, que eu seria presidente apenas por seis meses, mas o tempo provou que eu estava certa quando disse que levaria o mandato até ao fim e me recandidatei.

“Não tenho mais nenhum objetivo
na vida para além do desafio
que tenho na câmara municipal”

Cristina Calisto

DL: As vitórias do PS na Lagoa coincidiram nas últimas décadas com a governação socialista do Governo regional, exceto este ano. Na sua opinião, a que se deve o resultado do partido nestas autárquicas?
Temos de saber reconhecer o que de bom fizemos e o que de menos bom fizemos. No último mandato havia já sinais de que a população estava descontente com alguns dossiers que foram muito fraturantes para o Partido Socialista (PS). O PS, a reflexão interna que tem feito, e terá que continuar a fazer, é perceber o que tem corrido mal neste tempo e como podemos reverter essa situação.

DL: Considera que a liderança de Vasco Cordeiro está fragilizada com os resultados das últimas autárquicas?
Não, não está fragilizada com a liderança do Vasco Cordeiro. Para já ele foi o vencedor das eleições regionais, mas obviamente que temos que saber fazer a leitura a outro nível dos resultados e efetivamente fazer uma reflexão interna. A liderança em si não está posta em causa. Agora, todos os socialistas têm que se mobilizar e de forma honesta trabalharem para melhorar essa situação. Se calhar, reorientar políticas e formas de atuação.

DL: A liderança do PS/Açores precisa de renovação?
O Dr. Vasco Cordeiro é a pessoa mais bem posicionada para se candidatar às próximas eleições regionais nos Açores. Há contudo que ter a consciência de abrir o partido, dar espaço para a participação política de outras pessoas que também queiram dar os seus contributos sem com isto achar que está em causa a liderança do presidente Vasco Cordeiro.

DL: Teve o segundo melhor resultado do PS em São Miguel e o segundo melhor resultado nos Açores. Considera vir a suceder a Vasco Cordeiro?
Essa situação não está em cima da mesa de todo. Nem a minha vida pessoal o permitiria, pois neste momento, como todos sabem, tem muitas limitações. Nós temos que saber equilibrar a nossa vida profissional com a nossa vida pessoal. Eu não descuro nunca, enquanto presidente da câmara, o meu papel de mãe e portanto nessa matéria esta situação está perfeitamente afastada da minha vida. Quero fazer este mandato com total tranquilidade, servindo os lagoenses da melhor maneira e da forma que eles esperam que eu atue. Não tenho mais nenhum objetivo na vida para além do desafio que tenho neste momento na câmara municipal mas estarei, até mesmo como militante, sempre pronta a ajudar o Partido Socialista em tudo e na medida em que me for possível.

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Clife BotelhoDiretor

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