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Tofu no feminino

Maria Chaves Martins

Qual é o partido que não é de esquerda, nem de direita, e nem é carne, nem é peixe, mas é tofu? Apesar de sincrético, está num espetro político de centro progressista – uma bússola para o centro progressista, moderado num ecossistema de radicalismos.

Dúvidas não restam de que o PAN é um partido de causas e não de ideologias rígidas, posicionando-se como uma alternativa moderada, sobretudo num cenário de crescente polarização política.

Provas estão dadas de que não é só a causa animal, mas também a ambiental e a social, especialmente no que respeita ao combate à ideologia de género.

O PAN é “o” partido da causa animal, o partido que mais defende os direitos dos animais, ponto.

Não obstante, numa altura em que é óbvia a aproximação dos partidos à direita ou à esquerda, em que os radicalismos fazem caminho para a normalização das condutas, ter um partido – outrora intitulado de fundamentalista – com uma postura moderada na defesa das causas, é solução equilibrada para as políticas públicas.

Os desafios climáticos não são um argumento ideológico, mas uma realidade com reflexos em matéria de justiça social, que não devem ser utilizados como uma conveniente falácia que extremos exploram para amealhar votos. O incumprimento do crédito climático vai ser executado, com juros altíssimos e uma taxa de esforço imensurável. Temos de estar conscientes.

Investir no clima é investir na prevenção e resiliência social. Ao executar políticas ambientais, estão a evitar-se crises de saúde pública, como a pandemia COVID, a apoiar-se uma alimentação diversificada e adequada através do cultivo de alimentos apropriados às características e necessidades, fomentando a soberania alimentar, reduzindo a dependência externa, consumindo produtos locais, ajudando a economia local e diminuindo a pegada ecológica.

Para além disso, a eficiência energética e térmica das habitações são também medidas climáticas que reduzem a emissão de gases com efeito estufa e a dependência de combustíveis fósseis. Parece simples, e é.

Nunca será excessivo recordar que as mulheres são um grupo vulnerável ao impacte das alterações climáticas e ao extremismo vindo da direita, o que, por si só, deve motivar as mulheres a reforçar o seu ativismo político.

A crescente reação contra as políticas da igualdade de género reflete-se no sucesso eleitoral de grupos populistas de extrema-direita. O desmantelamento dos direitos das mulheres integra o núcleo das células dos movimentos de extrema-direita. Daí que o voto feminino e no feminino seja uma importante arma democrática, sob pena de as necessidades femininas não serem atendidas, produzindo-se políticas que desconsideram o género.

A existência de figuras femininas na política pode ser garante da igualdade de género. A violência física, psicológica e on-line contra as mulheres deve ser combatida, pois são tentativas para deslegitimar as propostas políticas tendo por base o facto de ser mulher.

É isto que deve mobilizar o voto feminino no feminino.

“Temos de colocar a qualificação dos açorianos como prioridade”

Em entrevista ao Diário da Lagoa, Francisco César fala sobre o seu percurso, que esteve desde cedo ligado à política, e sobre os desafios que os Açores enfrentam

Presidente do PS Açores e deputado na AssembleIa da República coloca a qualificação dos açorianos como prioridade © PS AÇORES

Desde cedo ligou-se à política por ser a política o assunto mais falado em casa. Francisco César, 46 anos, nasceu em Lisboa e veio para São Miguel com três anos. É economista, adepto fervoroso do Sporting, presidente do PS Açores e deputado na AssembleIa da República. Numa breve história pelo seu percurso, conta-nos o que pensa do presente e do futuro da região, não esquecendo o passado.

DL: O seu pai está ligado à política, sempre viveu num ambiente familiar ligado à política. Como é que foi crescer nesse ambiente?
Desde que me lembro, atuo neste ambiente. Eu cresci no meio de campanhas políticas, desde miúdo. O meu pai e a minha mãe conheceram-se na política. A minha mãe trabalhava no PS Nacional e o meu pai estava aqui no PS regional e conheceram-se. Nas reuniões, eu ficava na reunião, sentado, a ouvir, caladinho, na altura. Fiz um estúdio de rádio na minha casa em que eu lia os manifestos políticos do partido e gravava, compunha música. Gravava tempos de antena e a minha mãe gozava comigo, porque eu chamava aquilo de rádio Feteiras, porque na altura os meus pais tinham uma casa nas Feteiras.

 DL: E era lá que fazia isso?
Sim, a política acabou por ser uma coisa natural. A minha casa sempre foi uma casa cheia de livros. E hoje, tanto que assim seja, também, para o meu filho.

DL: Nunca se sentiu obrigado a ler?
Antes do contrário, eu gostava. Eu até acho que os meus pais preferiam que eu não me tivesse metido nisso. Eu acho que é o sentimento de qualquer pai, porque eu próprio, eu olho para o meu filho, que vai fazer 13 anos, e vamos ver… Isto da política tem a sua graça, mas dói, não é fácil. A política implica nos sujeitarmos a um escrutínio e a uma apreciação da parte de terceiros, que é, ao mesmo tempo, gratificante, mas é também muito cruel.

DL: Como é que se protege a família disso?
Isto é um processo. Os meus pais, e eu, fui particularmente afetado pela questão da família na política. E isso dói, ou seja, as pessoas fazem uma valorização dos outros com base em pressupostos ou preconceitos que as pessoas têm em relação aos outros. E nós somos sempre julgados. Tento proteger a minha família, através de um bom núcleo familiar. 

DL: Quem é o homem por detrás do político?
Essa é das perguntas mais interessantes, mas, no entanto, das mais difíceis. Eu verdadeiramente gostava de ter sido economista. Economista, ou seja, praticar. Eu sou muito impaciente. Mas eu sou profundamente normal nas minhas coisas. Gosto de ler, gosto de sair, até gosto de cantar. Mal. Eu sou muito distraído, as pessoas não sabem. Eu, às vezes, desligo. É uma das coisas boas que consigo. E estou no meu mundo, com o meu filho, a fazer a minha vida, com a minha família. Gosto de fazer praia, gosto de fazer boxe, gosto de fazer exercício físico, gosto de ir ao supermercado. Gosto de fazer aquilo que as pessoas normais gostam de fazer. E gosto de experimentar coisas novas. 

DL: Quais são os principais desafios da região?
O primeiro desafio que nós temos é o desafio do conhecimento, da qualificação. Eu costumo dizer, o comboio da competitividade já saiu. Há muito tempo, nestas regiões, e a locomotiva dos Açores ainda está no apeadeiro. E, portanto, para nós conseguirmos lá chegar, temos que colocar a qualificação dos açorianos como uma prioridade. O mercado interno é bom que funcione, mas não dá para sobreviver. O meu receio é que as grandes empresas não apostam no internacional. Como é que isso é possível? Em primeiro lugar, nós temos de ajudar as nossas empresas a apostar. Tem que haver uma sensibilidade. Nós temos de lhes diminuir o risco da aposta. Mas, sobretudo, nós temos de trazer empresas para cá.

DL: O mar é o futuro?
O mar é um dos setores. O mar, a energia. O primeiro de todos é o conhecimento. Porque a única forma é que nós não temos continuidade territorial. A região pode entrar numa situação quase de insolvência ou de resgate financeiro. Eu acho que se apostar na economia e se tiver cuidado com o orçamento, eu acho que isto é possível resolver.

DL: Qual é a posição do PS face ao hospital modular?
A opção neste momento é o da  construção de um hospital novo, mas o que é um hospital novo? É alterar 80% do que está e acrescentar mais outro tanto. Quem paga isto? Quem sustenta? Nós neste momento não temos capacidade financeira para suportar o atual Serviço Regional de Saúde. Não temos. Todos os hospitais são subfinanciados. Quem o diz é o Governo, não sou eu. Todos os hospitais são subfinanciados. Portanto, se nós duplicarmos o tamanho do hospital, alguém acha que ele vai ficar mais barato?
As decisões que são tomadas, são tomadas em nome do povo, porque nós somos os seus representantes. Quando tomamos uma decisão que poderá comprometer o Serviço Regional de Saúde, ou pelo menos, tem um impacto tão grande do ponto de vista do Serviço Regional de Saúde na comunidade. Isto não pode ser discutido por técnicos. Os técnicos dão os seus pareceres, mas quem decide são os políticos. Porque os políticos são os únicos num sistema democrático que estão mandatados para o fazer. Porquê? Porque aos técnicos ninguém vai pedir contas. Os estudos técnicos podem achar muita coisa, mas é a democracia quem decide, são os responsáveis políticos e representantes do povo. Mas tenho esperança, senão eu não estava aqui.

Ai Portugal, Portugal, de que é que tu estás à espera?

Carlos Caetano Martins
Dirigente Iniciativa Liberal – Açores

Portugal vai novamente a votos, pela quarta vez em pouco mais de cinco anos. Desde 6 de outubro de 2019, temos ido às urnas, em média, a cada 1 ano, 10 meses e 15 dias — uma frequência superior à observada durante a Primeira República. Esta elevada rotatividade eleitoral reflete a instabilidade política que o país tem vivido nos últimos anos, marcada por divisões acentuadas entre forças políticas e pela ascensão de movimentos radicais e populistas que se apresentam como alternativa aos partidos tradicionais, mas que, ao longo do tempo, têm gerado mais conflitos do que soluções.

Esse partido deve ter tido génese no provérbio português “Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz”, pois não se apresenta como uma alternativa séria, carece de capacidade para agregar consensos e está marcado por casos criminais e comportamentos antidemocráticos — desde condução sob influência de álcool, acusações de assédio e furto qualificado até casos de pedofilia. Aqueles que prometeram “limpar” o país demonstram comportamentos que nos levam a questionar seriamente a sua integridade e a exigir uma análise mais profunda da ética e da responsabilidade de quem escolhem para ocupar cargos públicos.

Neste contexto, é essencial refletir sobre um princípio fundamental da democracia: a importância da estabilidade política. Sem estabilidade, é difícil implementar reformas estruturais e fazer avançar um país que se quer afirmar como uma potência europeia e global. A história portuguesa já nos ensinou que períodos de grande instabilidade conduzem a graves consequências, como as que se registaram durante a Primeira República e que acabaram por resultar no autoritarismo da ditadura do Estado Novo. Não podemos ignorar os riscos de uma instabilidade política prolongada e as suas repercussões para a democracia.

Então o que podemos fazer para reduzir esta instabilidade?

Em primeiro lugar, é necessário reduzir a elevada taxa de abstenção. A abstenção é um reflexo da desilusão e do cansaço dos eleitores com um sistema político que, por vezes, parece estar mais interessado em disputas partidárias do que em solucionar os problemas reais do país. O combate à abstenção exige um empenho genuíno dos partidos para apresentarem propostas concretas e para evitarem recorrer a retóricas polarizadoras, que apenas afastam os eleitores e reforçam o clima de divisão.

Em segundo lugar, é urgente promover uma reforma da lei eleitoral. Pessoalmente, sou um defensor do estabelecimento de um círculo de compensação nacional, semelhante ao que já ocorre nas eleições regionais açorianas.

A título de exemplo, nas últimas eleições legislativas, mais de 670 mil eleitores (aproximadamente 10% do total) viram o seu voto não ter qualquer efeito na distribuição de mandatos. Este é um sinal claro de que o sistema eleitoral precisa de ser revisto para garantir uma verdadeira representatividade na composição do parlamento. O modelo do círculo de compensação permitiria garantir que os votos nas regiões mais pequenas ou em partidos menos representados tivessem um impacto real no resultado final, contribuindo para uma representação mais justa e equilibrada.
Em complemento, considero que a revisão da lei eleitoral deveria inspirar-se em exemplos internacionais que já demonstraram sucesso em contextos similares. Há modelos interessantes na Grécia, na Alemanha e nos países nórdicos que podem servir de referência para uma adaptação ao contexto português. Sem querer avançar com a solução definitiva, é importante que o sistema político português faça este exercício de análise para identificar possíveis caminhos que conduzam a uma maior estabilidade e eficácia governativa.

Portugal não pode continuar refém de ciclos políticos instáveis e de um sistema que, em muitos casos, não reflete de forma fiel a vontade dos eleitores. A reforma política e eleitoral é essencial para garantir que todos os votos contem e que o país tenha condições para implementar reformas estruturais de longo prazo. É hora de os nossos políticos demonstrarem coragem e visão estratégica para concretizar o nosso Fado de liderar na Europa e no mundo!

A queda do duplex de Montenegro

Alexandra Manes

O Parlamento português fecha as portas. Está interrompida a reunião de plenário. Pelos corredores do pequeno poder, circulam os assessores e estagiários, numa correria interminável, para imprimir mais papelada, levar recados e trazer ameaças, justificando-se por ali existirem.

À noite estão no sofá, de cabeça entre as pernas, a desejar nunca ter escolhido tal inglória carreira, mas esperançosos num futuro ambicioso que nunca chegará.

O Parlamento está interrompido. Pedro Nuno Santos desce da sua bancada parlamentar devagarinho, e contempla duas portas por onde pode sair. Ao centro, nada de novo, para além de mais umas quantas teias de conservadoras aranhas. Na direita, estão dois matulões, com cara de ladrões de malas, prontos a recebê-lo. Pedro não sabe por onde ir, mas sabe que não irá por aquela portinha pequenina, à esquerda, onde para lá passar teria de despir uma série de casacos.

Com o Parlamento interrompido, Hugo Soares corre apressadamente em direção ao gabinete do chefe. Passa à frente a qualquer estagiário que se preze, demonstrando bem os motivos que o levaram aonde está. É o estagiário-mor, primeiro na linha da frente para repetir até à exaustão todos os argumentos que lhe impingirem, mesmo que não os perceba, nem sequer deseje perceber. O que interessa é defender, com razão, ou sem ela.

Hugo alcança a porta de Luís e bate regularmente à porta da capela. Do outro lado, Nuno Melo, completamente fardado em trajes militares decorados com a bandeira de Olivença, entreabre uma frecha. Tudo a postos para a sua entrada, caro colega.

Montenegro aguarda, silenciosamente, no topo de um estrado, de mãos entrelaçadas.

Numa primeira impressão, poderia parecer que o ainda primeiro-ministro medita sobre a sua precária situação. Observadores mais atentos poderão reparar na garrafa meio vazia, que esconde o nervosismo e tapa as rugas. Talvez consequência de algum comportamento urbano-rural, já denunciado pelo professor Marcelo? Nunca saberemos, agora que o presidente perdeu a voz num trágico acidente de choque de imoralidades. Luís Montenegro ergue o olhar na direção de Hugo Soares. Estará tudo perdido? O estagiário abana a cabeça e jura que ainda conseguirá negociar com Nuno Santos.

Recorda ao seu patrão os tempos das Jotas, onde tudo se negociava à porta fechada e nunca era preciso ir a eleições, sem ser para formalizar o que já se sabia. Relembra que ele próprio sempre foi um dos grandes caciques da sua época, e que não era agora que ia perder tudo, só porque jogavam em frente a mais câmaras. Esperava-lhes uma estrondosa vitória, ao lado do futuro presidente Marques Mendes, vencendo nas câmaras municipais de todo o país e com André Ventura a tirar cafés na sede do PSD da Malveira.

O ainda primeiro-ministro suspira. Está cansado daqueles “casos e casinhos”. Também ele foi das Jotas e estagiário-mor de Pedro Passos Coelho. Mas está grisalho. Com filhos crescidos e uma empresa bem-criada para alimentar. O sol já não lhe nasce com calor, e parece cada vez mais verde. Tudo o que Hugo lhe diz sabe a uma emoção de desconfiança. Pega na garrafa e enche mais um trago. Na etiqueta pode ler-se a marca branca: «SpinumViva Melhor», produto original da futura presidente de Portugal: Cristina Ferreira.

Pedro Nuno Santos passa à porta do gabinete do seu adversário. Pondera entrar. Já citou Sá Carneiro. Daí até ao bloco central é só um passinho de gigante. Ventura espreita ao fundo do corredor e lambe os beiços, de forma quase tão perniciosa quanto, alegadamente o seu colega de partido terá feito, enquanto acariciava crianças menores de idade. O líder do PS avança para a maçaneta, mas há qualquer coisa que o demove.

Será chuva? Será vento? Vergonha não foi certamente, mas há autárquicas no final deste ano quente, e é preciso mostrar alguma fibra. Fernando Medina, preso no teto por dois papagaios cor-de-laranja, solta uns impropérios e voa para longe, de regresso à torre do feiticeiro do Cavaquistão.

Os trabalhos no Parlamento retomam a sua força e eis que se dá o momento esperado. Montenegro, já tombado pelo remanescente da garrafa, aceita o seu destino de forma turva, enquanto Hugo Soares rasga as vestes e afirma que ainda irão vencer as eleições, e cada vez que abria a boca, mais me fazia relembrar Rabelais, no Rebanho de Panurge, “Panurge, sem mais dizer, atira ao mar o carneiro gritando e balindo. Todos os outros carneiros, gritando e balindo no mesmo tom, começaram a atirar-se ao mar logo a seguir, todos em fila. Cada um procurava atirar-se antes dos outros seus companheiros. Era impossível impedi-los, pois vós sabeis ser natural no carneiro seguir sempre o da frente, seja para onde for que ele vá.”.

Quase que aposta, mas deixa isso para quando for visitar os outros patrões ao casino. Portugal apanha mais uma gripe, e como é um país de grandes patriarcados, sofre daquele problema já bem diagnosticado por Lobo Antunes: a constipação masculina.

Neste caso, não sabemos se haverá pachos suficientes para curar esta febre toda, e a Lurdes está de férias, que não lhe pagam o suficiente para isto. Vamos para a primavera e, com o nevoeiro a levantar, talvez Sebastião não cavalgue entre as brumas cheganas, nem traga uma bandeira da Argentina liberal. Em quem é que se vota, até vos posso recomendar. Mas talvez o Tiririca tivesse razão. Pior que está, dificilmente fica.

Vamos morrer a combater as guerras erradas

Alexandra Manes

Apanhei a frase que serve de título a esta crónica pelas redes sociais a fora, e pareceu-me ser aquela que melhor descreve a atual rota de navegação da nossa, cada vez mais, frágil Humanidade.

Nas últimas semanas, muitas foram as pessoas que assistiram com espanto e choque ao regresso da política diplomática musculada que Trump gosta de promover. Ofenderam-se profundamente com a forma como o líder dos Estados Unidos tratou desumanamente o presidente ucraniano, sentado na Sala Oval – Casa Branca, alegado bastião da liberdade e democracia.

Houve até quem tenha rasgado vestes e batido no peito três vezes, com total estupefação, por não esperarem tal coisa dos ditos americanos, eternos aliados.

Não perderei muito tempo a desmontar a ridícula figura que fizeram essas pessoas, ultrapassada há décadas. Deixo apenas uma referência aos senhores liberais que recentemente traçaram longos elogios a Javier Milei, a Musk e ao seu lacaio Trump. Não vale de nada estarem agora muito indignados com os resultados que apoiaram. Guardem a hipocrisia para vocês. Cá fora, há trabalho real a fazer.

Com os resultados dessa tal política externa obscena, tudo indica que o mundo está em vésperas de uma guerra mundial. Aguardamos, com o coração preso, a utilização de armas de destruição maciça, mas temos já a certeza das novas movimentações militares em solo europeu, acrescendo a forte possibilidade de conflitos diretos no território americano e até na própria Gronelândia.

A Europa reuniu-se para declarar a militarização apressada. Estima-se mais 1.5% do PIB dos países, para a guerra e para o armamento, que será certamente comprado às grandes indústrias bélicas. Ganham-se bilionários. Perdem-se vidas. Proceda-se em conformidade. É o realizar de um antigo sonho da criação de um exército europeu.

A guerra é, neste momento, inevitável. Poderia ter sido minorada ou até mesmo totalmente bloqueada, noutra época, se os Estados Unidos e a União Europeia tivessem avançado com medidas diplomáticas verdadeiras e com outro tipo de políticas internacionais, de proximidade e pressão, junto da Rússia e dos seus satélites. Agora, com um aliado de Putin em Washington, é tarde.

Avança-se com um conjunto de ameaças e tarifas, contra tarifas, que só terão impacto nas carteiras das pessoas. Preparam-se retiradas estratégicas, despedimentos coletivos e reestruturação de pactos de regime. Dizem os bastidores que será provável a extinção do centenário consulado americano nos Açores. Só não nos levam a Base das Lajes porque lhes dá jeito a eles, e a nós só dá problemas, embora haja quem, subservientemente, recuse o corte umbilical com tal infraestrutura.

Cá dentro, a guerra é outra. Luís Montenegro trabalha para conseguir a proeza de ser o pior primeiro-ministro da história da democracia, congregando em si todas as piores caraterísticas de Cavaco, Santana, Sócrates e Coelho. Depois de ter sido descoberto o seu estatuto de trabalhador-estudante, onde durante o dia estudava política e de tarde jogava golfe com os patrões da Solverde, Montenegro deu uma conferência de imprensa para esclarecer o que se passava. Ladeado pelo executivo governamental, como se fosse Kim Jong-un a anunciar um novo corte de cabelo, o primeiro-ministro de Portugal baralhou-se todo, tendo confessado que havia conflito de interesses enquanto negava que havia conflito de interesses. Passou a tal empresa para o nome dos filhos, mas teve de assinar o papel, o que pareceu ser uma confissão para alegadas quebras no regime de exclusividade. Nem valerá a pena imaginar o tráfico de influências que existiu antes de ele ser primeiro-ministro, mas depois de já ser candidato a tal.

Tudo indica que, graças às trapalhadas do menino Luís, lá vamos nós outra vez a eleições. Mais duas este ano e já completamos o cartão de brinde. Para o ano deveria haver eleições de graça. Os partidos colocam-se já em bicos dos pés na casa de partida, mas constatamos que a realidade é bastante tenebrosa, ao nível de possibilidades de escolha. O regime está profundamente enfraquecido, e as pessoas cansadas de votar. Há brechas abertas para a ascensão de Ventura e do seu gangue. Precisamos, mais do que nunca, de fazer campanha contra a abstenção e a favor da democracia e da liberdade. Estas poderão ser as últimas eleições durante uns tempos valentes.

Foram guerras evitáveis. No mundo, como em Portugal. E nem tempo teremos para falar nos Açores. Isto porque o propósito deste texto era o de falar noutra guerra. Na verdadeira guerra de extermínio da Humanidade, e que já perdemos. Todos os observatórios ambientais dignos desse nome e de validade científica voltaram a registar números assustadores para o começo de 2025.

O mundo como o conhecemos está literalmente a acabar, e os nossos regimes estão mais preocupados em armar pessoas, empobrecer sociedades e abrutalhar a política. Esta sim, parece ser a guerra para terminar todas as guerras. Caminharemos para a alteração climática final, afogados em glifosato de marca branca, e entulhados em votos de abstenção e desinformação.

Há que ter esperança e não baixar os braços. Custa muito, mas é preciso continuar a acreditar na ciência. Pressionar os nossos líderes. Exigir mais dos movimentos de sindicância e libertação das massas. Obrigar-nos à massa crítica. Quebrar as grilhetas do patriarcado e do conservadorismo. Não sobreviveremos como antes, mas podemos continuar a viver num mundo novo. Há potencial de crescimento. Não podemos acreditar que acabou. Venham daí e tragam um amigo e uma amiga, também.

PS Lagoa diz estar “focado na defesa dos interesses dos lagoenses”

Reação surge após PSD Lagoa ter acusado autarquia lagoense de propaganda e de “falta de respeito” para com os bombeiros de Ponta Delgada

© PS LAGOA

O PS Lagoa lamentou este sábado, 8 de março, que a Comissão Política Concelhia (CPC) do PSD Lagoa “tente transformar um assunto sério, como a criação de uma Secção Destacada de Bombeiros no concelho, numa manobra de pré-campanha eleitoral assente em demagogia e desinformação”, pode ler-se em nota enviada às redações pelo partido.

Na nota de imprensa enviada ao nosso jornal, o partido argumenta que “desde o início do atual mandato, o executivo socialista da Câmara Municipal de Lagoa tem sido claro: a prioridade sempre foi estabelecer uma Secção Destacada em articulação com a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada e Lagoa. Apenas se essa solução não fosse viável se equacionaria a criação de uma nova Associação, sempre com a preocupação de garantir uma gestão eficiente dos recursos disponíveis”.

O PS refere, ainda, que o objetivo “deve ser comum a todos” e que deve passar por “assegurar uma resposta rápida e eficaz às emergências no concelho, colocando o interesse dos cidadãos acima de qualquer disputa política”. 

“Como já afirmou publicamente o Presidente da Câmara, o Município mantém uma estratégia responsável e equilibrada, aberta a soluções alternativas caso se justifiquem”, reitera o PS Lagoa.

Por fim, os socialistas lamentam “que o líder da Comissão Política do PSD-Lagoa, Rúben Cabral, tenha optado por iniciar a sua pré-campanha com ataques pessoais, o que evidencia a ausência de um verdadeiro projeto para Lagoa”, e prometem que “o PS-Lagoa continuará focado no essencial: defender os interesses da população lagoense, sem espaço para demagogias ou críticas destrutivas”.

PSD Lagoa acusa autarquia lagoense de “falta de respeito” para com os bombeiros de Ponta Delgada

Rúben Cabral acusa presidente da autarquia de propaganda e defende que, a haver investimento, deve ser na criação de uma associação de bombeiros da Lagoa

© PSD AÇORES

O presidente da Comissão Política Concelhia (CPC) do PSD Lagoa, Rúben Cabral, repudia a “falta de respeito da Autarquia para com a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários e mantém firme a necessidade de criar um corpo próprio para o Município”, pode ler-se em nota enviada às redações pelo partido.

O social-democrata considera que o atual autarca “está a tratar esta delicada matéria como uma caça à popularidade e com várias contradições”, a qual condena, entendendo que “está a usar o assunto como propaganda própria e do Partido Socialista”.

Rúben Cabral elenca assim o que diz serem “contradições com que o atual autarca da Lagoa tem encarado o processo”, dando como exemplo a “intenção de alterar a denominação da Associação de Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, adicionando a Lagoa”, enquanto recorda a entrevista ao Diário da Lagoa, dada pelo presidente da autarquia, em “não coloca de parte a hipótese de se fundar uma Associação de Bombeiros da Lagoa”.

Rúben Cabral entende assim que “permitir que os sócios da AHBVPD tenham em discussão e votação a anexação da Lagoa na sua denominação, ao mesmo tempo que evidência a vontade de criar a própria associação de bombeiros da Lagoa é uma verdadeira e infeliz falta de respeito por esta centenária e valiosa instituição que tem vindo a servir e a socorrer os lagoenses com o mesmo empenho e profissionalismo que serve os habitantes do seu próprio concelho”.

O social-democrata, reforça ainda que a Câmara Municipal da Lagoa “já comunicou a aquisição de dois terrenos na zona do parque de máquinas para a construção de um centro de formação de bombeiros, algo que não irá resolver a questão de fundo: o prejuízo de 7 a 10 minutos que os lagoenses têm pelo seu socorro urgente partir de Ponta Delgada”.

Por outro lado, diz ainda que “o presidente da Câmara reforça a vontade de criar um posto avançado dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, o que representaria um custo significativo para a AHBVP, o que não é, de todo, justo”.

O presidente do PSD Lagoa acrescenta que “o atual presidente da Câmara Municipal da Lagoa, além de ser mais um presidente socialista por sucessão, sem ir a votos, recebeu também a máquina de propaganda do partido socialista e com o mesmo propósito: caça à popularidade”.

Em suma, o PSD Lagoa realça que “o PS não tem uma ideia definida para a Lagoa e não espera ser eleito para governar, ao invés, governa para ser eleito”.

O social-democrata defende que a “haver investimento na Lagoa, não deve ser somente para formação de bombeiros e transporte não urgente, mas sim na criação da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Lagoa, com as suas próprias instalações e recursos e assim melhorar o socorro dos lagoenses e corrigir as lacunas existentes”, concluiu.

A pesca nos Açores

José Paulo Sousa
Deputado do CHEGA Açores

Desde o início dos anos 2000 que temos nos Açores um declínio acentuado na captura de goraz. Anos melhores, anos piores, mas sempre a descer, e com isto a quota também. Como comparação, em 2003, ano em que foi implementada pelo Conselho de Ministros das Pescas da União Europeia, a quota atribuída para esta espécie na Região era de 1.160 toneladas, um valor bastante razoável, mas em 2024 foi de apenas 600 toneladas, tendo sido capturadas apenas 508 toneladas, apesar do número de embarcações atualmente ser sensivelmente o mesmo que em 2010. Algo de muito errado se passa aqui.

Para este ano de 2025, temos apenas 276 toneladas de quota para o primeiro semestre, e para o segundo há de ser o que Deus quiser (depende de um parecer técnico-científico e dos relatórios elaborados pelo Comité Científico, Técnico e Económico das Pescas da Comissão Europeia), o que traduzindo por miúdos quer dizer um corte garantido!

A sustentabilidade do setor das pescas nunca passou do papel, tal como a sua restruturação tarda em sair, pois quem tem definido as regras fá-lo sempre a jeito de alguns, nem que prejudique todos os outros. Interessa é empurrar os problemas “com a barriga para a frente”, prometer muito e garantir os votos em cada ciclo eleitoral. Nunca houve nos Açores uma política proativa virada para a produção, para o desenvolvimento, para o aumento da capacidade instalada, para a dinamização da cadeia de valor. O que houve no passado e mantém-se no presente é a navegação a sopro dos tecnocratas de Bruxelas.

Quando se pensava que já tínhamos assistido a tudo, eis que vem o Governo Regional restituir as quotas por ilha – mais um erro grosseiro, que não resolve problema algum e só atrapalha, gerando apenas mais revolta no setor, nomeadamente nas ilhas com menor frota de pesca.

A sobre-exploração desta espécie levou inevitavelmente à queda do stock disponível e a um declínio acentuado do peixe disponível na maioria das ilhas, onde em alguns pesqueiros, outrora abundantes, estão como se diz na gíria da pesca “rapados”. Quem vive do mar sabe e diz “já não há peixe como antigamente”, pelo menos para a pesca local que está muito limitada em termos de alcance, e será ainda mais escasso se nada for feito.

As medidas adotadas nos últimos anos para combater esta autêntica calamidade, até à data, não resolveram absolutamente nada e todos os anos se repete o mesmo problema. Há regulamentações que deveriam estar em vigor há muito tempo, as quais devem ser devidamente explicadas e ajustadas à realidade para evitar dúvidas e controvérsias desnecessárias. Mas, uma vez mais, a incompetência e a falta de coragem imperam, numa região que gasta milhões e milhões de euros em estudos marinhos, mas que não consegue tirar dessas resmas de papel uma medida adequada ao setor. Como diz um amigo meu, por acaso pescador, FÉ! Pois de facto as atuais políticas de pescas são atos de fé não consubstanciados na realidade concreta e afastada dos problemas dos pescadores.

Uma dessas medidas que há muito deveria ter sido implementada é o aumento do tamanho mínimo de captura. Um goraz de 33 centímetros não tem o mesmo valor comercial que um de 40 centímetros. Capturar menos pode significar lucrar mais, mas tal mudança exige tempo e compensações adequadas. Mas quem nos tem governado, nomeadamente o PS que governou os Açores durante 24 anos, limitou-se a gerir o definhamento do setor, deixando ao abandono equipamentos portuários, não tomando medidas concretas que invertam este ciclo de empobrecimento da pesca.

Outra medida tem a ver com o período de defeso durante a época reprodutiva, o qual está a ser desconsiderado nas políticas de pesca. Atualmente, captura-se peixe que, na sua maioria, ainda está a reproduzir pela primeira vez. Estão a matar o peixe de hoje e o de amanhã, pois entram nestes dias em lota toneladas de gorazes carregados de ovas – um atentado ecológico e económico. Esta medida restritiva da captura na época da reprodução para ser implementada tem de estar associada a mecanismos de compensações e de garantias de rendimento.

Os pescadores são o parente pobre do Governo, quando se trata de apoios, incentivos ou compensações – basta comparar com o que se passa na agricultura onde não há rateios ao POSEI, onde diariamente existem portarias de apoios ao setor cooperativo quase todo falido, compensações por calamidades, apoios diversos, etc. Não é que os agricultores não mereçam, a questão é que os pescadores ficam sempre esquecidos.

Temos de ter governantes que fazem política para as próximas gerações e não para as próximas eleições. Não podemos desmantelar o setor das pescas esperando que mais tarde os stocks sejam repostos e as quotas aumentem, pois sem barcos e sem pescadores, essas quotas irão parar a outros países. O desmantelamento do setor das pescas é algo irreversível pois não se consegue de um dia para o outro arranjar novos barcos e novos pescadores e sejamos honestos e realistas: O que os nossos concorrentes querem e desejam é que os mares dos Açores sirvam de viveiro para os outros países pescarem!

As pescas não podem acabar nos Açores. Se isto acontecer, não só iremos perder um dos nossos setores mais estratégicos do ponto de vista económico e social, como será mais uma prova de que as políticas europeias são erráticas, promovem a subsidiodependência e servem interesses obscuros que não os interesses dos Açorianos.

Não há dinheiro

Alexandra Manes

Nenhuma pessoa, no seu perfeito juízo, poderia esperar de um governo regional a capacidade de manter uma dívida a zero, muito menos fazê-lo sem consequências negativas para o restante arquipélago. Contrariamente ao que se lê por aí nas missivas encomendadas, o conservadorismo económico não é, nem nunca foi, uma política de cautela. É, acima de tudo, uma estratégia de valorização dos grandes grupos económicos, em paralelo com o espezinhar dos mais fracos e enfraquecidos socialmente. Trata-se de conceder mais privilégios a quem vem de fora comprar empresas públicas, fajãs e outras coisas que tal, e dar muito menos a quem cá vive e só gostava de ter dinheiro para pagar uma renda no centro da sua cidade. Trata-se de privilegiar quem mais tem e que, num Estado Social, deve contribuir conforme os seus rendimentos.

José Manuel Bolieiro assumiu essa realidade, finalmente, no rescaldo de uma recente reunião com os representantes dos conselhos de ilha. Foi um momento histórico, por ter trazido a terreiro aqueles que, pelo menos em teoria, falam por cada uma das ilhas, para um debate com o líder político em grau mais elevado no nosso arquipélago.

Deveria ter sido espaço para promover novas maneiras de encarar as imensas dificuldades que enfrentamos. Mas isso implicaria uma representatividade mais legítima nos conselhos de ilha, que aparentemente não temos. Não me parece justo que os menos favorecidos estejam a ser supostamente representados por quem nunca lhes quis reconhecer.

Seja como for, Bolieiro disse que não havia dinheiro para tudo, nessa reunião. Não se sabe se houve mudanças estruturais nos gabinetes de comunicação deste governo, até porque eles decidiram extinguir o organismo que deveria servir para o efeito e cuja designação foi somente alterada.

Ainda assim, é inevitável reconhecer que, ultimamente, os líderes políticos começaram a assumir que não há dinheiro. Após anos a cativar verbas em todos os departamentos públicos. Depois de memorandos, circulares e diretrizes internas para alcançar a dívida a zeros. E após tantos discursos conservadores, promotores do grande capital e da iniciativa liberal, por parte do senhor secretário das finanças, Bolieiro assume que não serviu para grande coisa. Não há dinheiro na mesma.

Pois bem, se não há dinheiro para tudo, é preciso pensar na forma como se vai aplicar o que existe. Desde logo, porque continua a chover dentro de departamentos públicos. E porque esses problemas continuam a agravar-se, de dia para dia, temporal em temporal, onda de calor em onda de calor. Nos museus, os edifícios tornam-se ruínas, sem capacidade de se sustentar, e a solução do Governo Regional foi mudar o nome do responsável, que deixou de ser chefe de serviços do património e passou a ser promotor cultural.

Nas escolas, os funcionários desdobram-se entre o trabalho de ajudar as nossas crianças, e o sacrifício de serem empregados de limpeza a tempo inteiro, esvaziando baldes de água da chuva, limpando goteiras arcaicas e sobrevivendo sem saber como vai ser o dia de amanhã. Há secretarias onde demora tanto tempo a ligar o computador que mais valia irem buscar as velhinhas máquinas de fax às reservas museológicas, não fosse o problema de elas estarem estragadas porque também chove lá dentro.

Bolieiro disse que não havia dinheiro para a manutenção das infraestruturas, desculpando-se com a falácia dos fundos comunitários, quando o objetivo desses nunca foi a manutenção, tentando um lavar de mãos. Mas, senhor presidente, há dinheiro para algumas coisas, convenhamos. Enquanto as escolas estão a cair de podres, parece haver dinheiro para um gabinete pessoal, na secretaria da Educação. E enquanto se faz esse gabinete, há ainda uma nova obra no edifício ao lado, para poder ter ali um espaço provisório. Ou seja, são duas empreitadas seguidas, que servem a senhora cujos valores serviriam os professores, os museólogos e todas as pessoas que trabalham em cultura e educação que continuam a apanhar baldes.

Pode não haver dinheiro para tudo, mas para isso devia haver.

No desporto, já se atiram pedras aos telhados de vidro da nova equipa dirigente, com problemas na própria organização da mesma. Na saúde, a vida corre como sabemos. António Ventura não sabe bem onde se enfiar, depois de tantos banhos de glifosato, mas sabe que a tourada é para manter. Até se dão subsídios adicionais de 10.000 euros aos ganadeiros, vejam bem. E falam em subsídio-dependentes? Não há dinheiro é para o que não querem.

Não sabemos que soluções existem no futuro deste governo. Até ao momento, permanece uma nuvem negra por cima de vários dos seus dirigentes. Fazem-se promessas num dia, para uns meses depois vir desmenti-las. As pessoas votaram nisto, é certo. Menos certo é perceber se votaram com conhecimento do que viria a acontecer.

Não há dinheiro, senhor presidente. Mas há dinheiro para muita coisa. Entendam-se as prioridades, ou mudemos de cor, antes que afundemos o pouco que falta para salvar.

O Novo Paradigma

Russell Sousa
Presidente da JS Açores
Deputado do PS na ALRAA

I

O atual Governo Regional dos Açores tem revelado a sua incapacidade em cumprir com os compromissos financeiros, sendo este mais um reflexo da falta de planeamento e de uma gestão ruinosa para o futuro da nossa região.

O próprio Presidente do Governo Regional tem o desplante de afirmar que “não há dinheiro” para a manutenção das infraestruturas. Como é possível que, após quatro anos de governação, não tenham sido capazes de gerir as contas da região e garantir que os açorianos não sejam prejudicados?

Para piorar, o Vice-Presidente do Governo defende que a República deveria assumir os custos da Educação e da Saúde nos Açores. Em que ponto ficamos então com a Autonomia? Lutámos durante décadas para conquistar o direito a decidir o nosso futuro e agora querem abdicar dessa responsabilidade? A Autonomia não pode ser tratada como moeda de troca por um governo que se revela incapaz de governar.

II

Enquanto no restante território nacional os preços dos combustíveis e do gás registam descidas, nos Açores assistimos precisamente ao contrário. Como se já não bastasse o custo de vida elevado e os desafios adicionais que enfrentamos por sermos uma região insular, agora somos forçados a pagar ainda mais caro pelo essencial.

A questão é simples: o Governo Regional está a usar esta subida para angariar impostos e tentar tapar o buraco nas finanças da região. É um sinal claro de desespero e de falta de visão estratégica. Quando um governo recorre à exploração fiscal como solução para os seus problemas financeiros, é porque falhou redondamente na sua missão de governar com responsabilidade.

Mais uma vez, quem paga a fatura são os açorianos. O peso da má governação recai sobre as famílias, sobre os trabalhadores, sobre as empresas locais que já lutam diariamente contra os custos acrescidos de viver e operar numa região ultraperiférica.

III

A forma como os líderes políticos encaram os seus cargos diz muito sobre o seu caráter. Quando surgiu uma nuvem de dúvida sobre o anterior Primeiro-Ministro, António Costa, este não hesitou: colocou o país em primeiro lugar e pediu a sua demissão. A mensagem foi clara: quem ocupa cargos de responsabilidade tem de ser imaculado e não pode estar envolvido em qualquer suspeição.

Em contrapartida, o atual Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, que na altura exigia a cabeça de António Costa, agora agarra-se ao seu lugar com unhas e dentes. Perante uma situação onde o seu nome aparece envolvido, em vez de agir com a mesma responsabilidade que exigiu ao seu antecessor, prefere ignorar o próprio discurso e fazer de conta que nada se passa. É um claro exemplo de como há quem coloque os seus interesses pessoais acima do bem comum.

A diferença de postura é gritante. Quando a política se torna um jogo de conveniência, quem sai prejudicado é sempre o povo. A credibilidade das instituições depende da conduta de quem as lidera, e um Primeiro-Ministro que se recusa a enfrentar as suas próprias incoerências apenas contribui para o descrédito da política nacional.