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Rastreio de bactéria que provoca cancro de estômago tem alta adesão na ilha Terceira

Centro de Oncologia dos Açores, coordenador do projeto-piloto “Programa de Rastreio Oportunista de Helicobacter pylori”, diz que a adesão na Terceira está a superar expetativas. Iniciativa pretende prevenir o cancro gástrico

© D.R.

Arrancou a 4 de março, em 11 das 12 farmácias da ilha Terceira, o programa para a prevenção do cancro gástrico, através de um rastreio gratuito da bactéria “helicobacter pylori”, que representa um importante fator de risco para o cancro do estômago e está na origem de 80% destes casos.

O projeto-piloto, intitulado “Programa de Rastreio Oportunista de Helicobacter pylori (POHp)”, está a ser implementado a nível nacional,  através das farmácias, tirando partido da aproximação destes estabelecimentos aos utentes e prolonga-se até 5 de julho na ilha açoriana. A Farmácia São Bento, em Angra do Heroísmo, na Terceira, é uma das aderentes ao programa. 

Mariana Sousa Dias, farmacêutica substituta na Farmácia São Bento, defende que a proximidade da farmácia aos utentes pode aumentar a adesão aos rastreios e traz benefícios para a deteção da bactéria e implementação das respostas do programa. “Na farmácia, servimos como o ponto onde podemos interagir com o utente, para prepará-lo e informá-lo das vantagens do rastreio e para promover esta iniciativa”.

Mariana Sousa Dias é farmacêutica na Farmácia de São Bento na ilha Terceira © D.R.

Sobre a metodologia, Mariana Dias explica que quando o utente se desloca à farmácia, é abordado ao balcão sobre a eventualidade de realizar o rastreio. Podem realizá-lo utentes assintomáticos que estejam inscritos nos centros de saúde, maiores de idade e que cumpram alguns critérios. São excepção as grávidas, pessoas que tenham tido diagnóstico de cancro gástrico ou que tenham feito o teste há pouco tempo.

Posteriormente, “entregamos um kit para o utente fazer a recolha da amostra fecal, que depois é entregue na farmácia, para posterior recolha.” De seguida, a amostra é enviada e analisada no laboratório do hospital. “A partir daqui, a farmácia não tem qualquer tipo de ação no desenrolar da resposta do resultado”, explica a farmacêutica. No caso de ser confirmada a presença da bactéria, é prescrito ao doente o antibiótico para a erradicar.

“O que temos notado é que a passagem da palavra tem feito com que muitas pessoas, que não são utentes frequentes, nos procurem para também serem incluídos no rastreio”

Mariana Sousa Dias

Até àquela data, a Farmácia São Bento já tinha conseguido coletar e enviar para laboratório cerca de 100 amostras, sendo o balanço positivo: “Através da nossa conversa no balcão, conseguimos facilmente recolher bastantes utentes que são de presença frequente aqui na farmácia. O que temos notado é que a passagem da palavra tem feito com que muitas pessoas, que não são utentes frequentes, nos procurem para também serem incluídos no rastreio. Está a correr bastante bem”, conta a colaboradora da Farmácia São Bento.

A profissional de saúde apela à adesão: “Quanto mais cedo for diagnosticada a presença da bactéria, mais facilmente é erradicada. O tratamento desta infeção pode reduzir o risco de cancro gástrico em 46%. Não é um rastreio invasivo nem doloroso e é gratuito”.

O “Programa de Rastreio Oportunista de Helicobacter pylori (POHp)” resulta do trabalho desenvolvido pelo Grupo de Trabalho de Prevenção do National Cancer Hub PT, criado pela Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB) e pela Direção-Geral da Saúde (DGS), em linha com o Plano Nacional de Luta contra o Cancro 2021-2030. 

Na região dos Açores, é coordenado pelo Centro de Oncologia dos Açores Prof. Doutor José Conde (COA), em colaboração com a Associação Nacional de Farmácias e o Hospital de Santo Espírito da Terceira.

“Vamos alargar o número de potenciais utentes ao que estava previsto”

João Macedo, presidente do conselho de administração do Centro de Oncologia dos Açores © D.R.

João Macedo, presidente do conselho de administração do COA, revela ao Diário da Lagoa (DL) que a adesão ao programa tem sido maior do que o esperado: “Tem tido uma adesão bastante elevada, até superior ao que tínhamos estimado inicialmente. Vamos alargar o número de potenciais utentes ao que estava previsto. Tem estado a correr bem e está em curso no terreno”.

Realizar o programa através das farmácias vai permitir “testar se haverá uma taxa de adesão superior com esta abordagem, em comparação com a taxa de adesão das normais convocatórias para rastreios oncológicos,” clarificou João Macedo, que considera as farmácias um agente de saúde pública preferencial. “Há uma relação, não só de proximidade, mas também de confiança das pessoas pela sua farmácia”.