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Check-Mate: O consulado dos EUA, o impacto das exportações e os açorianos deportados

Na estreia desta rubrica, que vai distinguir a verdade da mentira, abordamos os impactos nos Açores da administração americana de Donald Trump

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Frase: “Consulado dos EUA nos Açores será fechado”, The Portugal News.

Contexto: Donald Trump já prometeu racionalizar o departamento do Estado (equivalente ao ministério dos Negócios Estrangeiros em Portugal), o que deverá passar por uma redução da presença diplomática dos Estados Unidos em vários locais do planeta. Em março, o jornal Político revelou que o consulado em Ponta Delgada estava na lista das representações a encerrar pelo novo Departamento de Eficiência Governamental, liderado por Elon Musk. Em abril, o New York Times teve acesso a um memorando interno do governo americano que colocava o consulado em Ponta Delgada na lista de 10 embaixadas e 17 consulados a encerrar. Contudo, até ao momento ainda não existiu uma decisão oficial. Também os governos da República e dos Açores anunciaram não ter qualquer informação sobre um possível encerramento e o consulado americano em Ponta Delgada tem-se limitado a apresentar a seguinte resposta às questões dos jornalistas: “O departamento do Estado continua a avaliar a nossa postura global para garantir que estamos bem posicionados para enfrentar os desafios modernos em nome do povo americano”.

Veredicto: Impreciso. Apesar de várias informações oficiosas que colocam o consulado americano em Ponta Delgada na iminência de vir a ser encerrado, não é possível, para já, encarar o fecho daquela representação diplomática como um dado consumado, uma vez que ainda não existiu uma posição oficial sobre o assunto.

Frase: “Foi durante o primeiro mandato de Donald Trump que menos emigrantes açorianos foram deportados para os Açores em comparação com Obama”, Paulo Estêvão, secretário dos Assuntos Parlamentares e Comunidades.

Contexto: Com o novo governo americano a prometer deportações em larga escala, existe o risco de a região receber uma grande vaga de emigrantes. O Governo Regional, inclusive, criou uma rede internacional de organizações de serviço social dos Açores e diáspora para responder à integração de emigrantes. 

Olhando aos números divulgados em relatórios internos da direção regional das Comunidades, com dados desde 1992, constata-se que no primeiro mandato de Trump (de 2017 a 2021) foram deportados 74 emigrantes açorianos, abaixo dos números registados durante a administração Obama (177 no primeiro mandato e 76 no segundo). No tempo de Joe Biden apenas foram registadas 12 deportações. O pico de repatriamentos aconteceu na vigência George W. Bush (214 no total dos oito anos), mas o número mais elevado de deportações num ano, 80, decorreu em 1999 com Bill Clinton na presidência (214 no total do mandato).

Veredicto: Verdadeiro. Na primeira administração americana de Donald Trump o número de deportados açorianos foi inferior a qualquer um dos dois mandatos de Obama.

Frase: “Estados Unidos são um mercado com impacto nas exportações da região”

Contexto: Donald Trump cumpriu uma das bandeiras da campanha eleitoral e anunciou a aplicação de taxas aduaneiras a 60 países. No caso da Europa, a tarifa aplicada será de 20% – a fazer fé no anúncio do presidente americano -, afetando produtos portugueses e açorianos exportados para a América. As tarifas de Trump motivaram resposta por parte dos países afetados. As consequências económicas da guerra tarifária ainda permanecem imprevisíveis e no caso dos Açores deverá prejudicar, sobretudo, a exportação da madeira, de queijo e restantes laticínios. Em 2024, o valor das exportações açorianas no seu conjunto foi cerca de 159 milhões de euros, 9,6 milhões dos quais via Estados Unidos. 

Veredicto: Falso. O mercado americano representa apenas 6% do total das exportações dos Açores. A economia regional vai ser atingida pelas tarifas de Trump, mas os Estados Unidos não são decisivos para a balança comercial da região, sobretudo porque as tarifas não deverão impactar o turismo, setor fundamental para as exportações da região.

Lagoa deverá ter primeiro cabo submarino que liga diretamente EUA e Portugal

Sessão de apresentação do projeto decorreu hoje e contou com a presença do diretor-geral da Google Portugal, Bernardo Correia

© DL

A cidade da Lagoa, na ilha de São Miguel, deverá ter a amarração do primeiro cabo submarino que liga diretamente os Estados Unidos da América (EUA) a Portugal. A informação foi avançada esta sexta-feira, 26 de julho, pelo presidente do Governo regional dos Açores, no Palácio da Conceição, onde decorreu a apresentação do projeto. 

Em declarações aos jornalistas, José Manuel Bolieiro disse que “temos um Parque Tecnológico que é muito significante e que cada vez vai ter mais impacto e que é o Nonagon. Vamos aproveitar parte da capacidade instalada, mas as decisões definitivas são da Google. De qualquer forma também tivemos a oportunidade de apresentar de forma competitiva o potencial que temos para a escolha desta amarração aqui nos Açores e não noutros espaços”.

Questionado se a amarração será feita na Lagoa, José Manuel Bolieiro disse: “sim, tendencialmente será na Lagoa”.

O presidente do Governo regional referiu, também, que o investimento representa “o futuro, a esperança, a dimensão real e verdadeira da posição geocêntrica dos Açores no mundo moderno da ciência, da tecnologia e da dimensão marítima e espacial que o arquipélago tem”.

José Manuel Bolieiro declarou ainda que o Governo regional manteve “sempre com sigilo” as conversações com a Google para a amarração nos Açores do cabo que vai ligar os Estados Unidos à Europa.

O novo cabo submarino de fibra ótica tem 6.900 quilómetros de extensão e passa também pelas Bermudas. A Google, empresa promotora do projeto, não avançou o valor do investimento. A amarração do novo cabo só deverá ficar concluída depois de 2026. 

Presentes na sessão, para além do diretor-geral da Google Portugal, Bernardo Correia, estiveram a presidente da ANACOM, Sandra Maximiano, a cônsul dos Estados Unidos nos Açores, Margaret C. Campbell, e vários autarcas da ilha de São Miguel, entre dezenas de outros convidados.