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Conselho Mundial das Casas dos Açores reúne esta semana em São Jorge

© GRA/SRTMI

O Conselho Mundial das Casas dos Açores (CMCA) reúne a sua assembleia geral presencial de 2024, esta semana, na ilha de São Jorge, segundo comunicado do Governo regional.

A 26.ª reunião anual do órgão de articulação das Casas dos Açores tem lugar na Vila das Velas, de 11 a 13 de outubro, por iniciativa da Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades, através da Direção Regional das Comunidades.

A reunião magna do CMCA arranca com a sessão de abertura agendada para as 19h00 do dia 11 de outubro, no salão nobre dos Paços do Concelho das Velas de São Jorge, pode ler-se,

Participam nesta sessão o secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades, Paulo Estêvão, o presidente da Câmara Municipal de Velas, Luís Silveira, o diretor regional das Comunidades, José Andrade, e a presidente em exercício do CMCA, Suzanne Cunha, da Casa dos Açores do Ontário.

No dia seguinte, 12 de outubro, realiza-se a primeira sessão plenária do CMCA, pelas 10h00, na Casa Museu Cunha da Silveira, com uma ordem de trabalhos que prevê a revisão do regulamento do CMCA e a admissão formal da Casa dos Açores do Espírito Santo, no Brasil, bem como um debate sobre os principais desafios que estas instituições enfrentam atualmente, explica a mesma nota.

Na tarde de sábado, o programa prevê uma sessão conjunta entre os presidentes das Casas dos Açores e um grupo de jovens dos Estados Unidos da América, Canadá, Bermuda, Brasil, Portugal continental e Uruguai, “que assistem ao CMCA na qualidade de observadores e que visitam a região no âmbito de um encontro para jovens líderes comunitários promovido pelo Governo dos Açores”.

No dia 13 de outubro, a partir das 09h30, num terceiro painel realizado na Casa Museu Cunha da Silveira, as Casas dos Açores vão dar a conhecer o essencial da sua atividade ao secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades e aos deputados que representam a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

A sessão de encerramento da XXVI Assembleia Geral do CMCA realiza-se no domingo, 13 de outubro, às 12h00, no salão nobre dos Paços do Concelho das Velas de São Jorge e é presidida pelo presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro.

Esta sessão inclui a apresentação das conclusões da assembleia geral e a entrega das distinções do CMCA, com a indicação do produto açoriano de qualidade, este ano atribuída ao Queijo de São Jorge, e com as Medalhas de Mérito que distinguem três emigrantes açorianos em Toronto: António “Tabico” Câmara (a título póstumo), Cidália de Sousa e Grinoalda Pavão.

Na mesma oportunidade, lê-se ainda, na mesma nota, vai ser ainda realizada a transmissão formal da presidência anual do CMCA, que passa da Casa dos Açores do Ontário, no Canadá, para a sua congénere da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos da América.

O Conselho Mundial das Casas dos Açores, constituído em 1997, tem como objetivo promover e desenvolver atividades que contribuam para a afirmação dos Açores e da sua diáspora no mundo e para o desenvolvimento de relações sociais, culturais e económicas entre o arquipélago e as regiões de implantação de cada uma das Casas dos Açores.

É composta, atualmente, pelas Casas dos Açores de Lisboa, Rio de Janeiro, Califórnia, Quebeque, Norte, São Paulo, Nova Inglaterra, Ontário, Winnipeg, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai, Bermuda, Maranhão e Madeira.

Nesta assembleia, a Casa dos Açores do Espírito Santo vai ser oficialmente admitida e as Casas dos Açores da Região Centro e da Região Sul do continente português assistem aos trabalhos na qualidade de observadoras.

Lançamento do livro “Somos Açores” de Ígor Lopes celebra o papel das Casas dos Açores no Brasil

Jornalista reúne em livro entrevistas aos presidentes das Casas dos Açores no Brasil com o objetivo de revelar os contornos que levaram à criação das entidades açorianas no maior país da América do Sul. Apresentação do livro acontece este mês em diversas ilhas açorianas

Ígor Lopes colabora com o Diário da Lagoa há alguns anos e vai estar na Lagoa para participar de uma tertúlia no próximo dia 17 de outubro © D.R.

Entre os dias 10 e 17 de outubro, o jornalista e escritor luso-brasileiro Ígor Lopes vai estar presente no arquipélago açoriano para apresentar a sua mais recente obra. “Somos Açores – Um Arquipélago Vivo pelas Ações das Casas dos Açores no Brasil” será lançado em diversas ilhas do arquipélago: Terceira, São Jorge, Pico, Faial e São Miguel. Escrito no formato livro-reportagem, o livro oferece uma visão única sobre como as ilhas dos Açores são retratadas e mantidas vivas além-mar, com especial destaque para o papel das Casas dos Açores em vários Estados do Brasil, como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Maranhão, Bahia, São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina.

O projeto literário foi apoiado pelo Governo regional dos Açores, através da Direção Regional das Comunidades, e editado pela Amazon.

“Somos Açores – Um Arquipélago Vivo pelas Ações das Casas dos Açores no Brasil” conta com José Andrade, diretor Regional das Comunidades, e Adélio Amaro, escritor e responsável pela BibliRuralis, como prefacistas. Também José Manuel Bolieiro, presidente do governo regional dos Açores, participa com uma mensagem aos açordescendentes.

Ao longo de 122 páginas estão entrevistas aos presidentes das Casas dos Açores no Brasil, num período entre 2022 e 2023, com o intuito de revelar os contornos que levaram à criação dessas entidades açorianas no maior país da América do Sul. É também examinado o importante trabalho dessas instituições que, há décadas, preservam e promovem a cultura açoriana no Brasil, fortalecendo os laços históricos e culturais entre o arquipélago e a nação irmã de Portugal. Ao ler este livro, mergulhamos na rica história dessas casas, explorando as suas ações e contribuições para fortalecer os laços culturais entre os açorianos e os seus descendentes em solo brasileiro.

Dar voz à resiliência da cultura açoriana”

Segundo o autor, “ao escrever “Somos Açores”, senti-me com uma grande responsabilidade de dar voz à resiliência da cultura açoriana longe do seu território de origem”.
“As Casas dos Açores no Brasil são guardiãs de uma identidade coletiva que sobrevive ao tempo e à distância. Espero que este livro inspire um novo olhar sobre a importância dessa preservação cultural. “Somos Açores” faz o caminho inverso de “Açores em Cores”. Este último, lançado em diversas cidades, procurou mostrar o arquipélago para o mundo, com foco também nos lusodescendentes. Agora, “Somos Açores” cruza o oceano saindo do Brasil para desembarcar nos Açores com boas novas. Sim, a açorianidade está viva em outras muitas paragens”, afirma Ígor Lopes.

Lançamento em diversas ilhas do arquipélago açoriano

A apresentação de “Somos Açores – Um Arquipélago Vivo pelas Ações das Casas dos Açores no Brasil” estará integrada no âmbito do programa do XXVI Conselho Mundial das Casas dos Açores e do VII Encontro Açores Brasil.

Agenda:

10/11 – Angra do Heroísmo – Salão Nobre da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, pelas 20h00, evento promovido pela Câmara Municipal local;
13/10 – Velas de São Jorge – ilha de São Jorge, pelas 18h00;
14/10 – Biblioteca Municipal da Madalena – ilha do Pico, pelas 18h00;
15/10 – Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça – ilha do Faial, pelas 18h00;
16/10 – Atelier Angela Fernandes – ilha de São Miguel, pelas 18h;
17/10 – Sede da Filarmónica Estrela D´Alva, na Lagoa – ilha de São Miguel, pelas 11h00, durante tertúlia promovida pelo Diário da Lagoa.

 

Coimbra testemunha criação da quarta Casa dos Açores no continente

Primeiros passos da Associação serão a elaboração de um plano de atividades, além de um programa sócio cultural para dinamizar a divulgação da cultura e tradições açorianas junto da população local. Nova entidade pretende viabilizar sede em Coimbra

Casa dos Açores da Região Centro é a quarta associação agora existente em território português, sendo 19 o número de Casas espalhadas pelo mundo © GRA

No último dia 19 de setembro o antigo Convento São Francisco, em Coimbra, testemunhou o nascimento da Casa dos Açores da Região Centro. Uma cerimónia marcada pela presença do presidente do Governo regional dos Açores, José Manuel Bolieiro; o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva; o presidente do Turismo do Centro, bem como outras autoridades locais. Alexandre Linhares Furtado, um dos mais ilustres açorianos residentes em Coimbra e entusiasta da ligação entre a zona Centro do país e a região autónoma dos Açores, também marcou presença no evento, que teve espaço para um concerto açoriano protagonizado pelo Coimbra Gospel Choir e pelo Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, encerrando com uma prova de produtos da Marca Açores.
“Esta iniciativa, de um grupo de açorianos residentes na região centro de Portugal, fez por completar o último reduto geográfico do país que ainda não tinha a sua Casa, a zona Centro. Por outro lado, este era um sonho desde há muitas gerações e que agora, finalmente, se conseguiu cumprir”, adicionou Francisco José Simões Coelho Gil, presidente da direção da nova entidade açoriana, recordando que a Casa ainda não tem espaço físico para a sede.

Durante a cerimónia, foi assinado um protocolo de cooperação entre o Governo dos Açores, por meio da Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades, e a Associação Casa dos Açores da Região Centro, que visa “promover e assegurar uma ligação entre a Associação e o Governo da Região, disponibilizando experiência, contactos, influências, etc.”, referiu Francisco Gil, que disse a presença de açorianos na região Centro “não está quantificada, mas a percepção é de que é vasta”.

“Logo à partida existe uma população flutuante, por força dos estudantes colocados em instituições do ensino superior na região centro, não só em Coimbra, e dos doentes e acompanhantes deslocados em consultas e/ou tratamentos, esses sim, essencialmente em Coimbra. Depois, todos os açorianos que ao longo dos anos se instalaram e desenvolveram as suas vidas na região, seguramente estaremos a falar de números a rondar os milhares, considerando, como referiu, os açorianos e açordescendentes”, afirmou este responsável, que acredita que existam cerca de 400 estudantes dos Açores na região.

Os primeiros passos da Associação serão a elaboração de um plano de atividades, além da elaboração de um programa sócio cultural para dinamizar a divulgação da cultura e tradições açorianas junto da população local.

“Pretendemos realizar uma semana cultural açoriana, algumas sessões/palestras histórico culturais e também alguns espectáculos musicais”, disse Francisco Gil, que considera ser importante criar condições para que a sede seja em Coimbra, num perímetro compreendido entre o eixo baixa da cidade/universidade/Centro Hospitalar Universitário.

“Esperamos que a população açoriana residente em Coimbra consiga cada vez mais ter nesta associação uma maior proximidade à sua terra Natal ou uma menor sensação de distância, afastamento, saudade”, adiantou Francisco Gil, que nasceu em Angra do Heroísmo, em 1979, tendo vivido toda a sua infância e juventude na ilha Terceira.

“Os principais objetivos da associação são a ligação e ajuda aos estudantes, aos doentes e acompanhantes, à “diáspora” local e aos habitantes da zona Centro que pretendam aproximar-se da realidade açoriana; claro que exerceremos com todo o orgulho e dignidade o papel de embaixadores “informais” da açorianidade e para tal contaremos desejavelmente com a interligação e colaboração do Governo regional”, avaliou Francisco Gil, que espera que a Casa seja “um legado para as gerações futuras de açorianos que venham a trilhar os mesmos caminhos que outrora trilhamos”, mas que sintam que têm “outro tipo de apoio” e “outro Porto de abrigo que nós não tivemos”.

“Este não era só um desafio, era essencialmente um sonho, meu e de todos os que constituem este grupo fundacional. Definimos que este projecto iria ver a luz do dia, que iria vingar”, finalizou Francisco Gil.
Segundo apurámos, Francisco Coelho Gil (Presidente), Nuno Freitas (Vice-presidente) e Ana Goulart (Secretária) constituem a primeira direção da associação. A assembleia geral será composta por Paula Amaral (Presidente), Antonieta Reis Leite (Vice-presidente) e Idalino Rocha (Secretário), enquanto Paulo Fernandes, Pedro Moniz e Sónia Garcia integram o Conselho Fiscal como presidente, vice-presidente e vogal, respetivamente.

Na opinião do presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, é uma “alegria (…) ver que um sonho se tornou numa boa expetativa e o projeto, numa realidade”.

“A Casa dos Açores da Região Centro e todas as Casas dos Açores e os seus dirigentes são verdadeiramente uma embaixada dos Açores e da açorianidade”, afirmou Bolieiro, que acredita ser “relevante o resgate das origens”.

Presença nacional e mundial

A Casa dos Açores da Região Centro é a quarta associação agora existente em território português, sendo 19 o número de Casas espalhadas pelo mundo.

De acordo com José Andrade, diretor regional das Comunidades, “a criação da Casa dos Açores da Região Centro é importante para a afirmação estratégica da presença açoriana no território nacional”.
“Já tínhamos as Casas dos Açores de Lisboa, Norte e Madeira. Agora, temos a Casa dos Açores da Região Centro, com sede em Coimbra, e, provavelmente ainda este ano, teremos a Casa dos Açores da Região Sul, sedeada em Faro e correspondente às regiões do Algarve e Alentejo”, reiterou.

“Todo o território português exterior à Região Autónoma dos Açores ficará assim coberto por instituições vocacionadas para a promoção e dinamização da açorianidade”, conclui José Andrade.

Portugueses integram grupos de ajuda à população do Rio Grande do Sul

Há uma importante movimentação de portugueses e lusodescendentes a tentar salvar vidas na região do sul do Brasil que vive cenário “catastrófico e desastroso”. Casa de Portugal de Porto Alegre abriu as suas portas para que a população tenha abrigo e acesso à água potável

© D.R.

A tragédia que está a assolar o Estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, depois das cheias provocadas pelas fortes chuvas nas últimas semanas, soma já mais de uma centena de mortes, num contexto em que se verificam cidades inteiras destruídas e num momento em que mesmo a logística local foi alterada, sobretudo, na região serrana e na capital, Porto Alegre.

Em poucas horas, entre o final de abril e o início de maio, choveu o equivalente a três meses no Rio Grande do Sul. Os rios chegaram a níveis históricos. Segundo dados do governo do Rio Grande do Sul, em constante atualização, o número de mortes provocadas pelas enchentes chega a 157. Já o número de municípios atingidos pela tragédia chegou a 464. O número de pessoas afetadas pelos temporais também subiu: são mais de dois milhões de moradores do Estado atingidos. Mais de 76 mil pessoas estão em abrigos desde o início das chuvas no final de abril. Foram também resgatados mais de 12 mil animais.

No campo estrutural, barragens estão sob pressão, o sistema de contenção de cheias está sob stresse, diversos hospitais foram atingidos, os serviços essenciais foram interrompidos, aeroportos estão paralisados, estradas, cortadas e várias pontes desabaram. Esta é considerada a maior catástrofe climática do Estado, o que levou o governo do Rio Grande do Sul a iniciar o Plano “Marshall” de reconstrução do Estado, juntamente com a Autoridade Estadual para Emergência Climática, com foco, segundo apurámos, em promover “Assistência, Restabelecimento e Reconstrução”, além de “Prevenção e Resiliência Climática”.

Desde o início da tragédia, existe também uma importante movimentação de portugueses e lusodescendentes para tentar salvar vidas na região. A nossa reportagem conversou com António Davide, conselheiro das comunidades portuguesas eleito no Brasil por Curitiba e Porto Alegre. Vive na cidade de Bento Gonçalves, na zona serrana, a 120 km de Porto Alegre. Segundo ele, praticamente 52% do Estado está com “destruição total”.

“Cidades ribeirinhas estão praticamente destruídas, assim como cidades pequenas que tinham as suas populações, as suas empresas”, disse este responsável, que conta que a cidade de São Leopoldo, por exemplo, que fica a cerca de 30 km de Porto Alegre, está “totalmente debaixo de água” e que “em todas as localidades há casas que sumiram, que foram por água abaixo. Devido a força das águas, há morros que desapareceram”.

Este responsável revela que, onde vive, não há relatos de membros da comunidade portuguesa em perigo. Já com relação aos negócios geridos por empresários da comunidade portuguesa, o comércio terá sido o ponto mais afetado pelas cheias. As zonas do centro de Porto Alegre, onde esses empresários têm as suas lojas e empresas, conta com grandes prejuízos, segundo António Davide, como é o caso no tradicional mercado público de Porto Alegre, onde as pessoas estão à espera de ver o nível da água baixar para calcularem os estragos.

Existe ainda o problema dos assaltos e saques que estão a acontecer um pouco por todo o Estado. Há inclusive assaltos com recurso a barcos ou em jet-skis a mercados locais abandonados durante a enchente. E, nas estradas, o cenário é de assaltos aos condutores quando estão no trânsito a tentar deixar a região metropolitana de Porto Alegre.

Antonio David recebeu uma mensagem de José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, a dar apoio para a comunidade e para toda a população do Estado do Rio Grande Sul.

Entrevistamos também o lusodescente Marcos Neto, guia de turismo, sommelier e vice-presidente do Rotary Club de Canoas Industrial. Ele vive na cidade de Canoas, um dos locais mais atingidos pelas chuvas.

Marcos conta que o grande volume de água na região acabou por destruir muitas cidades também no vale do rio Taquari, na Serra Gaúcha, onde houve o rompimento parcial de uma barragem. Além disso, esse volume de água desceu em direção à capital do Estado, Porto Alegre, o que fez com que o nível da água na cidade subisse, em muitos lugares, mais de 30 metros.

Somente em Canoas, cerca de dois terços da cidade estão debaixo de água. Mais de 150 mil pessoas tiveram que deixar as suas casas e, quem não conseguiu sair rapidamente, teve de ser resgatados por helicópteros desde os telhados das casas.

“Algumas pessoas chegaram a ficar mais de três dias nos telhados de casa sob frio, chuva, a espera do resgate, que está a ser feito pelas forças armadas brasileiras”, contou Marcos, que atesta que existe hoje uma autêntica “operação de guerra”, pois “todos os serviços essenciais foram literalmente destruídos, a maior parte da cidade está sem energia elétrica e a produção de água potável foi suspensa, uma vez que as bombas ficaram debaixo d’água. As estradas foram totalmente destruídas”.

Cenário “catastrófico e desastroso”

© D.R.

Segundo Marcos, há muitos voluntários no terreno, o que faz com que o cenário não piore em virtude dos esforços desses grupos. Os trabalhos concentram-se em tentar dar comida, medicamentos e albergar as pessoas em abrigos e escolas. Existem peditórios públicos dos rotarianos locais que destacam que tudo o que puder ser enviado para a região será “bem-vindo”, como medicamentos, alimentos, água, roupas e colchões.

Dezenas de famílias residentes na cidade de Rio Grande, no Estado do Rio Grande do Sul, estão a receber o apoio de diversos voluntários após ficarem desabrigadas. Uma dessas entidades que está a prestar um apoio fundamental à população é a Cruz Vermelha de Rio Grande, que, de forma voluntária e gratuita, acolhe mais de 200 pessoas num galpão que conta com diversos serviços sociais e de saúde, mas também com estrutura para as pessoas realizarem a sua higiene, se alimentarem e dormirem em segurança. Na liderança dessa iniciativa, está o português Júlio César Pereira da Silva, presidente da unidade local da Cruz Vermelha de Rio Grande. Além de advogado, este responsável é vereador nessa cidade brasileira há 25 anos, estando já no quinto mandato, o que lhe permite melhor conhecer os desafios da região e a sua população. É também neto de portugueses, preside ao Conselho Deliberativo do Centro Português do Rio Grande, e integra ainda, como voluntário, outros movimentos associativos e da organização civil na região, um trabalho que ganha agora novos contornos em virtude da catástrofe climática que atingiu o Estado. Segundo apurámos, o objetivo das ações dos voluntários é salvar vidas.

Um dos restaurantes portugueses mais tradicionais do Brasil, “Gambrinus”, é um dos estabelecimentos fortemente atingidos pelas enchentes em Porto Alegre. O restaurante está localizado no mercado público na capital gaúcha e é considerado o mais antigo do Rio Grande do Sul e um dos mais antigos do país, sendo conhecido pela aposta na gastronomia portuguesa e internacional. Fruto de herança familiar, João Alberto Cruz de Melo, de 45 anos, é hoje proprietário do local, que conta com cerca de 20 funcionários. Este empresário nasceu em Porto Alegre, mas é filho de portugueses. O seu pai, natural de Pedaçães, no norte de Portugal, próximo à Águeda, no distrito de Aveiro, deixou Portugal em 1951, trazendo a família, os irmãos, para esse país sul-americano. Chegaram primeiro ao Rio de Janeiro e, depois, foram para o Rio Grande do Sul. Este empresário pretende “iniciar uma limpeza, avaliar os prejuízos e reprogramar a abertura, contratar todo mundo e tentar voltar a vida”.

Outro exemplo desse movimento para tentar diminuir o caos e a dor das famílias é o trabalho que está a ser feito pela Casa de Portugal de Porto Alegre, que abriu as suas portas para que a população tenha abrigo e acesso à água potável, uma vez que o local conta com uma fonte de água mineral fruto de um poço artesiano. No local, as pessoas podem tomar banho e utilizar casas de banho.

“Os diretores da Casa de Portugal estão envolvidos nas suas comunidades e todos estão a ajudar da maneira que podem”, é o que garante Fernando Lopes, presidente da Casa de Portugal de Porto Alegre, que adicionou que, desde domingo, “a Casa de Portugal viu que tinha um recurso (água potável) que estava a faltar para diversas cozinhas de voluntários que fazem marmitas e comida para os desabrigados”.

E as pessoas têm procurado cada vez mais o clube, conhecido na região por valorizar as tradições portuguesas. Fernando conta que chegam pessoas que foram resgatadas há dias e que ainda não haviam tomado banho. Para evitar doenças, elas podem fazer a higiene no local. Muitas outras levam recipientes para levar água para casa. Há filas na porta.

Ajuda luso-brasileira

© D.R

Este responsável garante que há muitos portugueses utilizando recursos da Casa neste momento, como pegar água potável e etc., e que este público conta com um horário extra para as suas necessidades, além do público em geral.

A nossa reportagem conversou também com Filipa Mendonça, vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, que explicou que, “infelizmente, nesta situação de calamidade pública decretada no Estado, temos que aguardar com muita calma o desenrolar dos acontecimentos”.

“Até ao momento ainda não conseguimos reabrir as nossas atividades normais, o que me preocupa. As previsões climatéricas para os próximos dias também não ajudam a que se consiga retomar de imediato. No seio da comunidade portuguesa vamos nos mantendo em contacto e, até ao momento, apenas a lamentar a perda de bens materiais”, afirmou esta responsável, que sublinhou que “o espírito de solidariedade do povo gaúcho é louvável e ímpar, no entanto, há a registar que existem regras e condutas próprias a seguir, e há que se respeitar a integridade das instituições”.

A situação preocupou também o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, que emitiu uma nota a dizer que o governo de Portugal “está solidário com o povo brasileiro”, e mostrou apoio às iniciativas do presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, e do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Através das redes sociais, a embaixada de Portugal no Brasil disse estar a acompanhar “com preocupação” a tragédia no Rio Grande do Sul.

José Cesário, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, confirmou à nossa reportagem que, “até ao momento, não há informação sobre vítimas portuguesas”.

Grandes prejuízos e tempo para recomeçar

© ÍGOR LOPES

A Casa dos Açores em Lisboa realizou, no dia 19 de maio, o tradicional “Almoço da Festa do Divino Espírito Santo”, um evento importante do ponto de vista cultural e religioso na agenda açoriana. Mas, este ano, esta entidade resolveu dar uma demonstração ainda maior da força e da solidariedade açoriana, ao divulgar os cartazes “SOS Rio Grande do Sul” que apelam a “doações internacionais” para a auxiliar a população residente nesse estado brasileiro.

A Casa dos Açores em Lisboa justifica esta incitava solidária e afetiva com o facto de que “os primeiros açorianos chegaram ao Estado do Rio Grande do Sul em 1752; que vive hoje neste Estado uma grande comunidade de açordescendentes; que há dois anos foram celebrados os 250 anos da fundação açoriana da cidade de Porto Alegre; que Gravataí é cidade irmã de Horta (ilha do Faial) e Porto Alegre, cidade irmã de diversas outras cidades, entre elas, Ribeira Grande (ilha de São Miguel) e Horta”.

Outros movimentos pelo Brasil, incluindo entidades luso-brasileiras, como a Obra Portuguesa de Assistência no Rio de Janeiro, e instituições em São Paulo, como a Associação Portuguesa de Desportos, e a comunidade brasileira em Portugal estão a reunir doações que visam auxiliar as famílias neste momento.

O que sabemos é que as enchentes causaram um grande impacto na indústria e na produção de alimentos e produtos na região. O presidente do Brasil garantiu que não faltarão recursos para recomeçar a reconstruir as cidades e que está a enviar dinheiro e integrantes das forças armadas para auxiliar nos resgates. A reconstrução de rodovias federais custará mais de um bilhão de reais, cerca de 200 milhões de euros, segundo cálculo inicial do ministro dos Transportes do Brasil.

Uma triste realidade num Estado brasileiro que faz fronteira com a Argentina e o Uruguai, que conta com a imponente Serra Gaúcha, onde está a região vinícola do Vale dos Vinhedos e inclui cidades turísticas de estilo alemão como Gramado e Canela, famosas pelas paisagens naturais. Porto Alegre, a capital, é um grande porto com estruturas clássicas como o Mercado Público e a Catedral Metropolitana, no centro histórico.

Agora, o grande volume de água e as alterações climáticas podem alterar esse percurso e essa história.

“Festa do Divino” em Lisboa conta com solidariedade açoriana para com Rio Grande do Sul no Brasil

© ÍGOR LOPES

A Casa dos Açores em Lisboa realiza este domingo, 19 de maio, o tradicional “Almoço da Festa do Divino Espírito Santo”, um evento importante do ponto de vista cultural e religioso na agenda açoriana. Mas, este ano, esta entidade resolveu dar uma demonstração ainda maior da força e da solidariedade açoriana, ao divulgar os cartazes “SOS Rio Grande do Sul” que apelam a “doações internacionais” para a auxiliar a população residente nesse estado brasileiro, que foi duramente atingido por enchentes causadas pelas fortes chuvas que se fizerem sentir nas últimas semanas.

Dados recentes da Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul mostram que o número de mortes provocadas pelas enchentes voltou a subir. Agora são 151 óbitos. O número de municípios atingidos pela tragédia chegou a 458. O número de pessoas afetadas pelos temporais também subiu: são 2,2 milhões de moradores do Estado atingidos de alguma maneira. Mais de 77 mil buscaram abrigos desde o início das chuvas no final de abril. Nas últimas horas, 619 pessoas precisaram ir para abrigos montados no estado.

“Porque este é também um tempo de partilha e de solidariedade, a Casa dos Açores solidariza-se com a Casa dos Açores e o Estado do Rio Grande do Sul. Venha participar na Festa da partilha e da solidariedade”, frisaram os responsáveis pela entidade açoriana na capital portuguesa.

A Casa dos Açores em Lisboa justifica esta incitava solidária e afetiva com o facto de que “os primeiros açorianos chegaram ao Estado do Rio Grande do Sul em 1752; que vive hoje neste Estado uma grande comunidade de açordescendentes; que há dois anos foram celebrados os 250 anos da fundação açoriana da cidade de Porto Alegre; que Gravataí é cidade irmã de Horta (ilha do Faial) e Porto Alegre, cidade irmã de diversas outras cidades, entre elas, Ribeira Grande (ilha de S. Miguel) e Horta”.

“Em situações de catástrofes e de dificuldades da vida, é ao Espírito Santo que o povo ilhéu sempre recorre. (…) Vamos colaborar! Num momento de infortúnio como o que se verifica no Estado do Rio Grande do Sul, toda a ajuda conta para suavizar o sofrimento de tantos açordescendentes”, mencionaram os responsáveis pela Casa dos Açores.

Dos açorianos também é a hospitalidade que o gaúcho herdou”

© ÍGOR LOPES

Segundo informações contidas num estudo compilado numa cartilha distribuída na Escola Estadual de Primeiro Grau Osório Duque Estrada, no Brasil, pela professora Ana Luiza Jaskulski, natural de Canoas, no Rio Grande do Sul, mas descendente de imigrantes alemães, a imigração açoriana na região do Rio Grande do Sul merece destaque, pois, “com a penetração portuguesa no Rio Grande de São Pedro, havia a necessidade de casais para povoar e colonizar as terras, assegurando, assim, a posse da região. O pedido da vinda de casais para o sul do Brasil foi feito desde a fundação da Colónia do Sacramento, mas poucos casais para vieram, sendo, na sua grande maioria, de portugueses e brasileiros vindos de Laguna, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e São Paulo. (…) A erupção vulcânica na Ilha do Faial, nos Açores, flagelou os seus moradores, que foram transferidos para outras ilhas do arquipélago. A superpopulação das ilhas, a falta de terras para o plantio, os muitos flagelos da natureza e a miséria em que viviam levaram os açorianos a pedir novas terras ao rei. Em 1746, foi ordenada a vinda de casais em grupos de 60, que seriam distribuídos em cada povoado a ser formado. Os colonizadores homens não poderiam ter mais de 40 anos, e as mulheres, não mais de 30. Assim, deu-se início à propaganda para atrair os novos colonizadores, sendo-lhes oferecidos diversos atrativos: dinheiro, passagem gratuita até a nova morada, ferramentas, armas, sementes, alimentação por um ano, isenção do serviço militar, áreas para plantar (as chamadas datas), duas vacas, uma égua, quatro touros e dois cavalos, sendo os touros e os cavalos para uso de mais de uma família”.

Este mesmo estudo refere, porém, que “essas promessas, no entanto, não foram devidamente cumpridas, pois as datas demoraram muito a ser repartidas e doadas. No início do ano de 1748, chegaram a Santa Catarina os primeiros casais açorianos, os quais enfrentaram uma longa viagem, na qual passaram fome, ficaram doentes, enfrentaram epidemias como o escorbuto e conviveram em más acomodações. Vários morreram na travessia do Atlântico, principalmente crianças. As outras viagens que aconteceram, trazendo mais casais açorianos, não foram diferentes da primeira. Em 1752, começam a chegar a Rio Grande, no Estado do Rio Grande do Sul, os primeiros casais açorianos que haviam desembarcado em Santa Catarina. Os açorianos seriam levados para a região Missioneira, mas, enquanto não se cumpria o tratado de Madrid, foram conduzidos a vários núcleos que viriam a ser por eles povoados, como Rio Grande, Viamão, Porto do Viamão (Porto Alegre), Triunfo, Santo Amaro e Rio Pardo. Depois da invasão espanhola, os casais que habitavam Rio Grande foram para o Uruguai, e outros fugiram para o Norte, povoando Estreito, Taquari, Santo Antônio da Patrulha, Mostardas e Cachoeira. Alguns dirigiram-se à região da campanha, adquirindo sesmarias, dedicando-se à pecuária e povoando, assim, a campanha gaúcha”.

Ainda de acordo com a professora Ana Luiza Jaskulski, “o açoriano adaptou-se bem ao Rio Grande de São Pedro, dedicando-se à agricultura, plantando trigo, algodão, centeio, cevada, legumes, arroz, cebola, alpiste, melancia, cana de açúcar e uva. Povo católico, de princípio morais rígidos, os açorianos fizeram respeitar os seus lares e as suas famílias. Os índios, os castelhanos, os gaudérios, os aventureiros que se aproximaram dos povoados dos ilhéus assimilaram os seus costumes e as suas tradições. Dos açorianos também é a hospitalidade que o gaúcho herdou, hoje tão apreciada pelos turistas. As suas festas religiosas, como Terno de Reis, Festas Juninas, Festa do Divino, assim como as procissões, as novenas e os presépios, ajudaram a formar a tradição gaúcha. A arquitetura portuguesa das nossas primeiras construções, bem como o uso do tamanco e do chapéu de palha, são costumes que se somaram na formação das tradições do gaúcho”.

“Na culinária gaúcha, os açorianos contribuíram com sonho, arroz de leite, os famosos doces portugueses e uma grande variedade de pratos com peixe. Na música e na dança tradicionalista gaúcha, os ilhéus deixaram a sua herança: o balaio, o tatu, o pezinho, a cana verde, a dança do pau de fita. O açoriano ainda transmitiu ao gaúcho a técnica de plantar pelo sistema do pousio (cultiva-se a terra por dois anos consecutivos e deixa-se que ela descanse por outros dois anos)”, explicou esta professora.

Festa e devoção

O programa da Festa do Divino Espírito Santo em Lisboa conta com Missa, pelas 12 horas, seguida de coroação de crianças, na Igreja da Lapa, sendo as cerimónias presididas pelo Padre Hermínio Vitorino, natural da ilha de São Jorge, além de Cortejo entre a Igreja da Lapa e a Casa dos Açores em Lisboa, onde haverá o Almoço tradicional com Sopas do Espírito Santo, Carne assada e massa sovada e Arroz doce e massa sovada.