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Por que razão nos salva, ainda, a nossa Fé?

Júlio Tavares Oliveira
Escritor

Quando comecei a pensar neste artigo não queria, nem pretendia, que fosse um artigo única e exclusivamente focado num espectro religioso, independentemente da religião em causa de cada um. A verdade é que, no campo da «Fé», podemos ter dimensões diversas; vários tipos de «Fé» e, portanto, várias dimensões de crença, de Fé, de espiritualidade, seja num Deus, seja num profeta, seja num símbolo ou numa marca puramente comercial ou desportiva.

Pretendia, antes, focar-me, não no sentido religioso da «Fé», mas no sentido puramente restrito e estrito da palavra «Fé», e redimensionar este meu artigo para a orientação puramente ideológica da palavra: que sentido tem a Fé, seja ela qual for e para onde for direcionada, nas nossas vidas?

A fé é uma força. Impele quase sempre em frente; nunca vimos uma fé impelir alguém a dar um passo atrás, senão para a sua própria salvaguarda, ou prudência, ou segurança, talvez. A fé é, talvez, um instinto, um âmago de emoções, ou, diria eu, quando a nossa inteligência emocional não consegue percecionar ou capitalizar, de forma eficiente, a eternidade e torna-se incapaz de filtrar o divino, entrando no campo do puro, e insondável, mistério.

A fé não pode ser senão um mistério que nos faz mover num sentido ascendente. A fé torna-nos maiores; nascentes; e torna-nos melhores. A origem da fé somos nós mesmos, não está na origem dos símbolos, das religiões ou dos magmas em torno da qual se move e se simboliza ou idealiza. Ela nasce de dentro e de nós, e de dentro de nós se torna semente, fruto e se cristaliza.

Nas horas de maior provação, na vida ou na doença, na dor e na perdição, a fé aguenta-se como uma lamparina, um pêndulo de luz, um sorriso por dentro da noite, um sol nascente, um último andaime, que nos faz ter esperança num dia novo. Isso, precisamente, porque, essencialmente, e como disse, a fé é sempre ascendente; vem de entro, torna-nos maiores e melhores.

Ter fé é capitalizar uma dívida. É prometer que se cumpre. E, na maior parte dos casos, quem tem fé não perde o caminho da fé; apenas adianta-se cada vez mais nele, pois a sua fé só tende a aumentar com o aumento das provações que a fé acomoda e enfrenta.

A fé salva-nos. Não é mentira nenhuma; e, porquanto tenhamos ainda fé, seja no Senhor Santo Cristo dos Milagres, no Sport Lisboa e Benfica, ou no Amor, o importante é que não percamos, de facto, essa luz nas nossas vidas, e que sejamos sempre fiéis a ela, independentemente do seu vértice de importância. A fé ocupa um espaço, um espaço intransmissível e inexorável. Que reconheçamos a sua importância nos dias, na pesada herança das noites, e que possamos, enfim, acomodar-nos com a sua esperança, com a sua alegria e com a sua luz.

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