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Património Religioso esteve em debate na Lagoa

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O Cineteatro Francisco d’Amaral Almeida recebeu no dia 7 de maio a 3ª conferência do II Ciclo de «Conversas na Lagoa», cujo tema principal versou sobre o “Património Religioso”. 

Ana Maria Fernandes, representante do Museu Carlos Machado na Comissão Diocesana dos Bens Culturais, abordou a questão da “Arte Sacra – a preservação do património”, tendo manifestado preocupação face à conservação dos bens da Igreja. Para esta importante missão, que diz respeito a todos, pequenas tarefas podem dar bons frutos; para isso há que transformar em rotina boas práticas de higienização, segurança e conservação preventiva. 

Ana Maria Fernandes adiantou também ao Diário da Lagoa que, no dia-a-dia, vê-se muita boa vontade das pessoas em colaborar, dispondo do seu tempo livre para trabalharem nas igrejas. No entanto, por desconhecimento, isso muitas vezes não é feito das formas adequadas, pelo que por vezes se chega até a praticar ações bastante lesivas para o património. Assim, é necessário estreitar mais a colaboração entre estes voluntários e os especialistas. 

Por seu turno, Duarte Chaves, do Centro de Estudos de Aquém e de Além-Mar, pertencente à Universidade Nova de Lisboa e à Universidade dos Açores, falou sobre “São Francisco de Assis, questões em volta da hagiologia e da iconografia de um santo mendicante”, onde destacou o rigor existente na elaboração das pinturas e esculturas nas igrejas. Recordou que havia um critério estabelecido, com tudo regulamentado desde o séc. XIII, em textos escritos depois da morte de São Francisco, descrevendo o aspeto físico deste de modo a fazer a sua representação, e o mesmo acontecia para outros santos franciscanos. 

Duarte Chaves destacou a Ordem Terceira da Penitência, que em muitas localidades só tinha leigos que queriam viver de acordo com os ideais de São Francisco de Assis mas que na Lagoa chegou a ser composta simultaneamente por elementos das três Ordens da Família Franciscana: a dos Frades Menores, a das Irmãs Clarissas, e a dos leigos. Esta Ordem era a organizadora das procissões quaresmais, como a conhecida por “procissão de cinzas” que acontecia no primeiro domingo da quaresma em todos os concelhos dos Açores, à exceção da ilha do Corvo (onde não houve Franciscanos). Atualmente apenas a Ribeira Grande da ilha de São Miguel mantem a realização desta procissão há 350 anos, sendo uma das mais antigas do arquipélago; nas outras localidades estas procissões entraram em decadência na segunda metade do séc.XIX, embora algumas delas ainda tenham chegado ao princípio do séc. XX. 

Ora, segundo explicou o investigador ao Diário da Lagoa, os Irmãos Terceiros organizavam estas manifestações com vários andores, nalguns casos mais de 20, por sua vez compostos por diversas imagens que representavam os Santos Franciscanos e também os momentos mais marcantes da vida de São Francisco de Assis. Tratava-se de uma encenação teatral em que os “atores” e as “atrizes” eram as esculturas, que representavam a vida franciscana. 

Por sua vez, Margarida Sá Nogueira Lalanda, professora do Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores, tratou o tema “o que sabemos e o que julgamos saber do património religioso feminino?”. Começou por reflectir sobre o “religioso feminino”, isto é, particularidades das vivências das mulheres no campo da religião, como o facto de serem habitualmente as mães quem ensinam as crianças a rezar, uma forma de transmitir com amor o património cultural religioso. Salientou a este propósito que no concelho da Lagoa a maioria dos templos é da invocação de Nossa Senhora, um contorno especial daquilo que é religioso e feminino. 

Passando para a junção de “religioso feminino” a “património”, esta docente e investigadora centrou-se na realidade histórica dos conventos de freiras para abordar três entendimentos diferentes da expressão “património religioso feminino“. Na lógica de quem recebe, trata-se de tudo aquilo que é próprio das religiosas e por elas é oferecido: as constantes orações pela sociedade, as requintadas doçarias, as admiráveis manualidades que são verdadeiras obras de arte e exigem tempo, esforço, dedicação, todas elas formas de amor. Na lógica material e de quem possui, a expressão refere-se aos edifícios, terras, rendimentos, dinheiros, esculturas, pinturas, livros de texto ou de música, têxteis, peças da sacristia e do culto que pertencem às monjas e aos mosteiros. Uma terceira percepção, complementar das outras, é a que respeita a todo o património cultural, tanto imaterial como físico, que tem o cunho específico das freiras; é disso exemplo a música religiosa, diferente consoante se destinava a ser executada na igreja dum convento feminino ou noutro espaço, e que, além disso, tinha a particu­la­ridade de poder incluir vozes masculinas (de homens que cantavam do lado exterior das grades do mosteiro, uma vez que não podiam entrar na chamada “clausura”, a zona exclusiva das religiosas e da qual elas não podiam sair). 

Na síntese que fez para o Diário da Lagoa, Margarida Lalanda disse ser desejável que haja mais estudos sobre todos os tipos de património religioso feminino e que que é preciso despertar o interesse das pessoas neste sentido, porque o património é algo muito próprio de uma comunidade: se a comunidade não o conhecer ou não o valorizar, ele não só não se transmite como deixa de existir.

DL

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