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Pai de jovem acamado lança pedido de ajuda devido à suspensão das sessões de fisioterapia

Tiago Pacheco sofreu um acidente em 2018 que lhe roubou a mobilidade. Desde então está preso a uma cama 24 horas por dia. Ao Diário da Lagoa (DL) diz que não suporta mais a sua condição. Está impedido de fazer fisioterapia há quase um ano

Tiago (à esq.) e o pai, José Pacheco (à dir.) passam 24 horas juntos, sete dias por semana © DL

É numa manhã de chuva que chegámos à casa de José Oliveira Pacheco, 48 anos, na freguesia dos Fenais da Luz, concelho de Ponta Delgada. É aqui que vive com a mulher e o filho Tiago, de 22 anos. José vê e cuida do filho 24 horas por dia, sete dias por semana. Encontra-se preso a uma cama há quatro anos. “Era um jovem perfeitamente normal, sem problemas nenhuns de saúde”, garante José. “O Tiago no dia 20 de abril de 2018 teve um acidente de mota, despistou-se numa curva e bateu contra um muro de pedra”, começa por contar entre pausas para suster as lágrimas na conversa que tem com o DL.

“Eu estava a trabalhar e quem recebeu a primeira notícia foi a minha esposa”. A esposa é empregada doméstica, enquanto José deixou de trabalhar na área da construção civil, como trabalhador independente, depois do filho passar a precisar de cuidados continuados na sequência do acidente. 

A longa lista de lesões de Tiago quase ocupa uma folha A4. José conta que o filho esteve “praticamente um mês” em coma com seis meses de internamento hospitalar. Depois teve de fazer fisioterapia. José Pacheco explica ao DL que atualmente já não recebe Rendimento Social de Inserção que lhe foi cortado depois de vários avanços e recuos no processo. Garante que o que a mulher recebe, bem como a pensão a que Tiago tem direito não chegam para tudo.

Em casa, Tiago passa os dias deitado a ouvir música mas já não frequenta a fisioterapia, uma componente essencial para, pelo menos, não piorar a sua condição. O pai diz que por vezes “agride-se a si mesmo” e que, por isso “tem de andar sempre com a mão esquerda imobilizada”. 

“Ajuda-me, não aguento mais viver assim”

Já foram duas vezes a Alcoitão e uma vez ao Porto mas sem grandes melhorias. Em São Miguel, ainda antes da pandemia, Tiago tinha feito fisioterapia no Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada. Depois deram-lhe a possibilidade de escolher uma clínica privada. “O Tiago sempre se deu super bem com a fisioterapeuta, uma rapariga jovem mas que dava tudo por tudo, e para mim era das melhores que lá estava. Ela foi transferida para o hospital novo da Lagoa”, começa por explicar José Pacheco. “Teve uma certa altura, não sei o que aconteceu, em que ele deu um estalo na cara dela e desde aí ela não quis. O hospital tem protocolos com o Danefisio. Têm a sua clínica na Ribeira Grande e também ficaram com a fisioterapia no Hospital Internacional dos Açores (HIA). Como ela foi transferida para o HIA, eu ia lá”, diz. Mas José Pacheco conta que tudo mudou quando o proprietário da clínica ligou a informar que “ ia suspender a fisioterapia com o Tiago”.

José não desistiu. Foi ao HDES falar com a fisiatra do filho mas sem sucesso e sem qualquer solução para a ausência das sessões. “O meu filho precisa de ajuda neurológica primeiro e só depois da fisioterapia. O meu filho já está há praticamente um ano sem fazer fisioterapia. Não sou fisioterapeuta, mas já assisti a muita fisioterapia e refaço o que via. Até tenho máquinas que eu fiz aqui em casa. Só que ele não colabora comigo”, lamenta o pai. José Pacheco diz que este é “um pedido de ajuda” porque o filho necessita dos tratamentos que não faz.

Programa de reabilitação foi suspenso diz HDES

O DL contactou as três instituições de saúde envolvidas no caso de Tiago Pacheco. Nos esclarecimentos que remeteu por escrito ao jornal, o HDES diz que Tiago, “por alterações comportamentais graves, sequelas do acidente, com períodos constantes de auto e heteroagressão para com as equipas terapêuticas, não reúne condições para manter o tratamento, motivo pelo qual foi suspenso o programa de reabilitação e não recusado”. O HDES, onde Tiago é seguido na consulta de Medicina Física e de Reabilitação, diz que “retomará o tratamento” assim que “reúna as condições necessárias”, não especificando quais nem quando. 

Contactada pelo DL, a Danefisio disse apenas que “não se pronuncia em nome do HIA – Hospital Internacional dos Açores pelo que este tema deverá ser remetido para a Direcção de Marketing e Comunicação do Hospital”, não respondendo às diferentes questões colocadas pelo DL. 

O Hospital Internacional dos Açores (HIA) diz que “o utente recebeu o tratamento adequado ao seu quadro clínico, não existindo em nenhum momento, recusa à prestação do mesmo. Inclusive, não foi recebido nenhum pedido por parte do cuidador, para continuidade das sessões de fisioterapia, desde junho de 2022”.

Preso à mesma cama, dia e noite, Tiago, falou como pôde com o DL. “Ajuda-me, não aguento mais viver assim”, suplicou-nos com dificuldade e a chorar, enquanto nos pedia um abraço.

Tiago tinha 17 anos quando teve o acidente de mota a 20 de abril de 2018 © DL

O que diz a lei portuguesa?

De acordo com a Lei n.º 15/2014, de 21 de março, alterada pelo Decreto-Lei n.º 44/2017, de 20 de abril, no artigo 4º, primeiro ponto, pode ler-se que: “o utente dos serviços de saúde tem direito a receber, com prontidão ou num período de tempo considerado clinicamente aceitável, consoante os casos, os cuidados de saúde que necessita. O segundo ponto do mesmo artigo diz que “o utente dos serviços de saúde tem direito à prestação dos cuidados de saúde o mais adequados e tecnicamente mais corretos”. No terceiro e último ponto do referido artigo, plasmado em Diário da República, lê-se que “os cuidados de saúde devem ser prestados humanamente e com respeito pelo utente”.

Sem fisioterapia há quase um ano, a condição física de Tiago piora a cada dia que passa. O pai não sabe a que mais portas bater. Bateu à do DL, desesperado, com a esperança de encontrar ajuda para a situação dramática que vive, dentro de quatro paredes, com o filho.

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