DL: Há novos apoios para a agricultura e o Governo dos Açores vai investir 78 milhões de euros no setor. As reivindicações foram atendidas?
Sim, temos de registar, com a verdade, que as reivindicações feitas pela Federação Agrícola dos Açores têm tido eco neste Governo regional, por via do seu presidente. Obviamente que os anúncios que foram feitos têm por base as nossas reivindicações, concertação e articulação com os parceiros sociais. São poucas as reivindicações que não têm sido aceites. Este é um sinal positivo e, para além da credibilidade das nossas reivindicações, bem como a importância que o setor tem, tendo em conta as nossas necessidades, o setor é visto pelo Governo regional como vital para a nossa economia, não só pela parte económica e financeira, mas também pela coesão económica e territorial, bem como pelas questões ambientais e toda a envolvência que a agricultura tem na potenciação de outros setores.
DL: Que expetativas tem o setor agrícola para 2025?
Na minha perspetiva, claramente que o ano de 2025 poderá ser melhor do que 2024, mas isso é tudo uma incógnita. Da parte do Governo regional, os acordos que estão inscritos em termos de parceria e que não foram totalmente cumpridos são muito poucos. Por exemplo, no caso das últimas intempéries, o Governo regional ainda não fez o pagamento de 630 mil euros. Penso que há falta de disponibilidade financeira, porém acredito que essas situações ficarão resolvidas no início de 2025, pois os compromissos têm sido cumpridos. Por outro lado, com o aumento do plano na ordem dos 10 milhões de euros em 2025, este também poderá ajudar a reforçar algumas situações na ilha de São Miguel e no Pico, pois são as duas ilhas com a pior situação em termos de caminhos. E, igualmente, no reforço do abastecimento e armazenamento de água na ilha de São Miguel, que é uma ilha que tem muita água disponível, mas que tem muito pouco armazenamento. Também existem outras ilhas como Santa Maria e Graciosa que são problemáticas na questão da falta de água. A expetativa — para além daquilo que são os anúncios e disponibilidade do governo — é de que os agricultores possam melhorar o seu rendimento por via das suas receitas. Houve ligeiras subidas no preço do leite em 2024, os consumidores já estão a pagar mais e se estão a pagar mais, isso também tem que se refletir no produtor, não deve ficar só a margem para a distribuição e indústria, é preciso que essa divisão seja feita da melhor forma para que todos na fileira também se sintam equilibrados.
DL: E em relação à produção no setor da carne?
Tem vindo a melhorar ao nível do preço, embora exista expetativa em relação aos acordos da União Europeia com o Mercosul, em que todos os setores esperam ganhar. A carne continua a ser uma aposta na Região Autónoma dos Açores, o problema é ser preciso uma melhor distribuição. Há ilhas em que a sua grande produção agrícola está assente na carne e não em outras produções, essa transformação já se começa a notar, pois houve alguma reconversão do leite para a carne, por várias razões. Primeiro, pela insegurança e pela descrença dos produtores, depois porque as indústrias não conseguem acompanhar o preço do leite de forma a que os agricultores possam ter margem suficiente para continuar a sobreviver. Mas, para mim, o maior problema é a questão da mão de obra.
DL: A falta de mão de obra na agricultura continua a ser um problema?
Claramente, no setor do leite é problemático e nos outros setores de atividade também, mas no setor do leite não há nada pior do que a falta de mão de obra, porque tem que se alimentar as vacas e fazer a ordenha todos os dias. Por isso é que, se calhar, muitas pessoas estão a abandonar o setor, apesar das boas infraestruturas e condições. E, também, porque nem todos os filhos querem dar continuidade às explorações da família.
DL: No âmbito do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum, o prémio para a primeira instalação de jovens agricultores será de 55 mil euros, abrangendo todos os setores agrícolas. Haverá também um incentivo de 15 mil euros para jovens que optem pela agricultura a tempo parcial. Foi uma proposta da Federação?
Sim. Até porque o valor era de 40 mil e nós sugerimos e reivindicamos junto do secretário regional da Agricultura que concordou. Temos de criar incentivos para os jovens, depois temos a questão da Segurança Social e da tributação a nível de impostos, ou seja, ver qual é a forma de se conseguir reduzir esses impostos aos jovens agricultores. E, mais do que isso, tem que haver mais formação também, mais incremento, mais incentivos. Os concursos são por si só já muito importantes para a cativação de jovens, homens e mulheres. E, na minha opinião, mais do que isso ainda, será essencialmente a questão das novas tecnologias e da agricultura de precisão. São os jovens que vão agarrar isso quando perceberam que podem fazer diferente dos pais, marcar a sua posição pelo conhecimento. Por isso, há cada vez mais formação. E os jovens, para as novas tecnologias têm outras aptidões que os mais antigos já não têm. Isso pode ser um novo incremento no próximo quadro de apoio, ou seja, investir nos robôs, nos drones, na mecanização das explorações, na monitorização dos solos. Há todo um trabalho a ser feito.
DL: A 10 de janeiro há novas eleições na Federação Agrícola dos Açores. Vai recandidatar-se?
Sim, vou-me candidatar para mais um mandato.
DL: Tem alguma promessa?
Não, apenas trabalho, dedicação, paixão, gosto por aquilo que faço, sempre, sempre e sempre em prol dos agricultores dos Açores.
Os leitores são a força do nosso jornal
Subscreva, apoie o Diário da Lagoa. Ao valorizar o nosso trabalho está a ajudar-nos a marcar a diferença, através do jornalismo de proximidade. Assim levamos até si as notícias que contam.
Deja una respuesta